"Boa parte do meu percurso escolar decorreu em instituições ligadas à Igreja Católica. Cresci a ouvir falar de Deus, figura omnipresente, mas confesso que sempre me fez imensa confusão compreender como poderia alguém, por mais hábil que fosse, estar em toda a parte em simultâneo. Seria lá isso possível? Como!?
Aprendi o significado do termo, no entanto nunca fiquei totalmente convencido com a hipótese de alguém deter essa inimaginável perícia da omnipresença. Bem, pelo menos até conhecer o Florentino Luís. Só depois de assistir às exibições do Florentino na equipa principal tive a certeza de que as freiras não me andavam a enganar anos a fio: afinal, é mesmo possível alguém aparecer em todo o lado ao mesmo tempo. E esse alguém costuma vestir uma camisola muito bonita com o número 61 nas costas. Durante o jogo com o Marítimo, juro por tudo que vi o Florentino recuperar uma bola junto à área adversária enquanto recebia um passe do Ferro numa saída do Benfica a jogar. Até esfreguei os olhos para perceber se estaria a ver bem, e entretanto o Florentino já tinha coleccionado mais três desarmes e quatro passes certeiros. Há momentos onde nem se dá pela presença dele, mas depressa surge uma perna esticada desde o círculo de meio-campo até à linha lateral a interceptar uma bola, e percebemos que o Cavaleiro Silencioso - tal como Hélder Conduto o baptizou - está mesmo a jogar. No meio deste panorama, o que mais impressiona é a serenidade constante. Eu pareço mais nervoso quando estou deitado no sofá a comer estrelitas do que este puto de 19 anos com a bola nos pés diante de 50 mil pessoas.
O Tino joga com tanto tino, que eu até desatino."
Pedro Soares, in O Benfica
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