terça-feira, 31 de dezembro de 2019

A ENTREVISTA DO HOMEM DO ANO


Distinguido como Homem do Ano, Bruno Lage, treinador do Sport Lisboa e Benfica, é um livro aberto numa conversa longa com o jornal A Bola e A Bola TV. Faz uma retrospetiva de 2019 e olha para o futuro.
Agradece o prémio que lhe foi atribuído e dedica-o aos pais e à estrutura do Clube; recorda o momento em que pegou na equipa e a mudou para 4x4x2; explica a abordagem no Dragão que deu a liderança e… a Reconquista; revela como são os seus dias e da equipa técnica no Seixal, e como prepara os jogos; partilha a sua vida pessoal, fora dos holofotes do futebol e não esquece o Canal Panda.
Qual o significado deste prémio Personalidade do Ano atribuído por A Bola? Tem alguma dedicatória?
É um significado enorme. Quem anda neste mundo e tem oportunidade de ver o vosso trabalho, a capa de 31 de dezembro reflete o trabalho de cada um. A atribuição deste prémio nos últimos anos a José Mourinho, Cristiano Ronaldo, Jorge Mendes, Jorge Jesus e Sérgio Conceição, com um trabalho fantástico que fez quando era campeão. Sabendo que há um ano eu era treinador da equipa B e agora chego a esta capa... é motivo de orgulho, inesperado, mas fruto das oportunidades. Agradeço reconhecerem o que fizemos neste ano, é com orgulho que recebo este prémio. Não tinha pensado em dedicar a alguém em particular. Mas nunca nos esquecemos das pessoas que nos ajudaram... E foram muitas ao longo destes 20 anos. Tenho algumas pessoas que são muito importantes para mim. O míster Jaime Graça, o Carlos Carvalhal, o José Rocha, com quem comecei, e o presidente Luís Filipe Vieira pelas oportunidades e por ter acreditado em mim, também o Rui Costa e o nosso diretor Tiago Pinto, por todo o apoio que sempre deram. Mas este prémio não é só sobre futebol. Tem a ver com a minha carreira e educação com 43 anos de vida. Por isso a dedicatória tem de ser para os meus pais. De tudo fizeram para que tivesse bons princípios, uma boa educação. Fizeram tudo o que os pais fazem pelos filhos, e que agora tenho de fazer pelos meus. A minha dedicatória vai para os meus pais pelo que fizeram por mim e pelo meu irmão.
Se, há um ano, lhe dissessem que seria a próxima Personalidade do Ano, ia acreditar?
Não. E por várias razões. Sou uma pessoa que gosta de ter o meu tempo para pensar, refletir e projetar a vida. As minhas decisões vão pelo meu lado profissional. E a partir do momento que fui pai, foi também pelo lado pessoal e do bem-estar. Tenho boa memória e lembro-me do que pensava há um ano. Há um ano estava a treinar, a fazer um balanço do que tinha sido a época até aí na equipa B. Estava feliz, a equipa já se treinava com a dinâmica e intensidade que eu pretendia. Tínhamos acabado de fazer o melhor jogo da época, na 13.ª jornada, curiosamente em Famalicão [22 de dezembro de 2018]. Empatámos, mas a equipa fez um jogo extraordinário. No final do jogo até falei um pouco com o guarda-redes adversário [Rafael Defendi], ele aguentou o resultado (0-0]. O balanço era esse. Eu ia retirar a bota ortopédica para recomeçar a andar. Para quem não sabe tinha sido operado ao tendão de Aquiles [lesionou-se no curso de treinadores]. O trabalho estava em andamento. Aqueles cinco meses tinham sido muito duros, mas foram o suporte para que este ano tenha sido extraordinário. Eu e a minha equipa técnica trabalhámos muito. Entrávamos às 8 horas e saíamos às 20 horas. Estava a começar um projeto de treinador principal e queria que todos pensassem sobre as minhas ideias. Quando estávamos a preparar o treino e o jogo seguinte, estávamo-nos a preparar, em diferentes áreas. Eles tinham de ser independentes e autónomos, saberem as missões e tarefas de cada um para o trabalho fluir, para que não dependessem de mim. Tínhamos algum tempo livre, trabalhávamos de semana a semana, e começámo-nos a preparar. As coisas estavam a funcionar no terreno a nível de treino e de jogo, já trabalhávamos com enorme independência nas funções de cada um. Já me preparava para ter algum tempo livre, ter uma ou outra tarde para ir buscar o meu filho à escola, brincar um pouco com ele, ler, pensar e refletir. Mas tudo mudou uma semana depois. Passámos para a dimensão da equipa A. As coisas aconteceram com naturalidade, sem tempo para olhar para trás e perceber o que fizemos. O que era o nosso trabalho? Jogar de três em três dias, preparar o próximo jogo e tentar vencer.
Ainda nessa fase, e quando as coisas já estavam a correr mal com Rui Vitória, deu consigo a pensar o que mudaria no lugar dele?
Nunca fiz esse raciocínio. É muito injusto. Sou treinador e tenho que me preocupar com o que é a minha equipa. Não estava por dentro das situações. Há muitas decisões que os treinadores têm de tomar que as pessoas não entendem porque não estão por dentro das decisões. Não as vivem. Li recentemente – não sei quem disse – que só se conhecem verdadeiramente os jogadores quando se treinam. A análise ao jogador, o que o jogador é e o contributo que dá à equipa é diferente do que nós achamos. Eu vejo um jogador mais musculado, as pessoas veem um jogador mais técnico. Ou eu vejo um jogador mais técnico e as pessoas veem um jogador mais musculado. Por isso nunca fiz esse raciocínio. Já tive pessoas e adjuntos que trabalharam comigo e, quando queriam dizer alguma coisa de A, B ou C diziam: "Sei que não gostas deste tipo de análises, mas devia-se, em determinada equipa, fazer assim, assim e assim." Contraponho sempre, sou advogado do diabo e digo que não vemos o treino, nem o que se passa ou a forma como o outro treinador vê. A arma do treinador nas análises é fugir das minhas ideias e pôr-me na cabeça do outro. Foi isso que fizemos, por exemplo, com o treinador do Lyon [Rudi Garcia], em que fomos olhar para o treinador e percebemos que ele tinha jogado em vários sistemas, e que o podia fazer connosco. Quando o treinador não usa um determinado sistema ou linha de raciocínio, e analisando a equipa pelas minhas ideias, vou fazer uma projeção errada.
Quando assume a equipa, já ia com a sua ideia de jogo definida ou fez uma transição para tentar perceber o que a equipa fazia e se, gradualmente, ia ao encontro da sua ideia...
Olhem, tive a noção que ia assumir a equipa, tinha acabado de chegar a casa, quando recebi uma chamada para reunir-me com o presidente. Percebi logo o que se estava a passar. O Tiago Pinto ligou-me para me apresentar no Seixal e teve uma frase curiosa: "Olhe, o que você mais temia vai acontecer. Vai deixar de beber o seu cafezinho descansado, tem que se apresentar e tomar conta da equipa. Venha cá para falar com o Presidente." Assim foi. Quando vou a caminho, o que pensei – e já vos disse – foi o de passar a jogar em 4x4x2.
Mudou logo o chip?
Sim. Não fui jogador, mas na formação, a minha equipa da geração de 89 jogava sempre em 4x4x2 losango, em função das características dos jogadores. Jogava com o André Carvalhas e Bruno Parreira na frente, Miguel Rosa atrás dos avançados. Sentia que era um jogo sempre divertido. Com dois na frente, teria sempre dois homens para tabelar. Dava sempre imensas soluções. Quando venho para os iniciados, jogávamos em 4x3x3, mas senti que não era a mesma coisa. Gosto de ter gente mais à frente para servir de parede, para tabelar. Dá mais soluções para haver ligação e dinâmica. A dada altura começámos a jogar de forma assimétrica. Tínhamos um ala, o Hélder Costa, um ponta de lança, o Bakary ou o Ba e tínhamos o Diego Lopes atrás para tabelar com essa gente toda. Foi o que fizemos em Inglaterra, com o Carvalhal. Jogámos num 4x4x2 clássico. Dois pontas de lança dão uma ligação maior ao jogo, porque dá-nos gente entre linhas para ligar o jogo, como dá para atacar a profundidade. Na equipa B tínhamos algo semelhante, jogávamos com um ponta de lança, o Saponjic ou o Benny, com o Jota por dentro, muita gente entre linhas. A minha primeira ideia foi essa, tentar mudar para um 4x4x2. Tinha visto dois ou três jogos do João [Félix] muito interessantes. Senti que o Rui Vitória a qualquer momento ia dar-lhe essa oportunidade. Há uma boa fase do João Félix, não sei se por dentro ou a vir da esquerda, mas depois lesionou-se e esteve muito tempo parado. Por isso a minha primeira ideia foi passar para 4x4x2 com o João [Félix] na frente e depois acertámos a equipa da melhor maneira. Ali percebemos quem podia jogar, manter toda a gente confortável nas posições e quem interpretasse melhor o 4x4x2. Por isso fomos com aquela equipa para o Rio Ave.
Quem foi a primeira pessoa com quem falou depois de saber que a vida ia mudar?
Não sei se fui eu a comunicar, ou toda a gente a comunicar comigo. Ia no carro a caminho, já a meio da ponte e era dado como certo. Acho que foi o meu irmão [Luís Nascimento, agora adjunto no Rio Ave] quem me ligou. Disse-me que o comunicado já tinha saído e que estava decidido.
Nem teve tempo para falar com a sua mulher?
Sim, estávamos em casa e foi a primeira pessoa a saber. Disse-lhe que tinha de voltar ao Seixal. Nesse dia, cheguei a casa por volta das 20 horas, recebo o telefonema e, passados dois ou três minutos, já os jornais sabiam.
Nessa altura houve alguma mensagem que o tenha sensibilizado particularmente?
Há uma mensagem do Carlos Carvalhal, pela experiência e amizade que temos. Foi aquilo que ele disse publicamente. "Estás pronto, estás preparado, vai confiante e as coisas vão correr bem." Não me recordo se falámos logo nessa noite ou no dia seguinte, mas foi essa força e confiança de alguém que, primeiro, reconheceu-me potencial e convidou-me para trabalhar com ele e, depois, durante três anos, foi-me orientando a este nível. Estou-lhe grato por tudo, somos amigos. Pelo que foi o meu percurso na formação, nunca quis entrar no futebol profissional sem ter esta experiência como adjunto. E vivi com alguém que não poderia ser melhor: pela pessoa e treinador que é. Conhecemo-nos há imenso tempo, tivemos oportunidade de escrever um livro juntos e passámos pela experiência fantástica no futebol inglês, no Championship e na Premier League, que me deu bagagem para perceber como as coisas funcionam a este nível e a forma de lidar com jogadores de top e com diferentes idades.
No jogo com o Rio Ave, o Benfica está a perder 0-2 aos 20 minutos. Pensou alguma vez algo do género 'isto não é para mim'?
Não, antes pelo contrário. Por acaso há uma imagem disso, daquilo que pensei: Quando sofremos o segundo golo, estou a acompanhar o lance, há o cruzamento e o golo, olho para o placard, vejo "20 minutos, 2-0" e penso o que é normal: "Se marcarmos um golo na primeira parte, temos capacidade para virar o jogo." E vencer depois de estar a perder era a melhor coisa que nos podia acontecer. No mesmo jogo, a equipa, com a mudança de treinador, ainda vai mais fundo, mas a energia que ganha com essa vitória pode levar-nos para um patamar de confiança e de rendimento difíceis de parar. Por vezes acontece isso. Vejam que ao longo dos ciclos das equipas há sempre momentos desses. Vivemos uma situação semelhante quando estávamos em Inglaterra, logo na primeira época, à quinta, sexta ou sétima jornada tínhamos uma vitória, há um jogo em casa em que estamos a perder, a equipa vira o resultado e, depois, passámos dois/três meses sem perder e colocámos a equipa nos lugares do play-off. Estas situações acontecem. Perder 2-0 e com muito tempo para jogar... senti que poderia acontecer isso.
Disse, ao longo deste ano, para não olharmos para o sistema e olharmos para as dinâmicas. Essas dinâmicas têm de ser sempre com base de dois avançados, com base no 4x4x2?
Gosto de jogar com dois homens na frente. Agora, a questão é que tipo de homens são. Eles é que têm de dar essa dinâmica. Porque podem ser dois avançados... as pessoas dizem "um joga atrás, outro à frente, jogam lado a lado". Depende do contributo à equipa. O João Félix, se calhar, era um segundo avançado, o Raul [de Tomas] é um primeiro avançado e o Chiquinho, se calhar, é um terceiro médio. O mais importante é perceber que tipo de dinâmicas e posicionamentos nos pode oferecer o jogador para projetar o nosso jogo. Qual é a ideia? A ideia é sempre, de forma geral e transversal, que a equipa tenha sempre uma transição defensiva muito forte, uma organização defensiva muito forte, que seja sempre pressionante, no meio-campo ofensivo e no meio-campo defensivo, que com bola tenha capacidade de organizar, de construir, de meter gente entre linhas e à largura, por ser importante ter o controlo de jogo com bola, de atrair no corredor e entrar nos espaços, de atacar a profundidade. Por vezes somos caracterizados de ser uma equipa de transição ofensiva. Acredito é em tudo. Prefiro olhar para a minha equipa e tirar partido das características dos meus jogadores e do momento. Se recuperar a bola numa determinada zona e o adversário oferecer um espaço para progredir e marcar um golo em dois passes, porque é que não hei-dei aproveitar isso? As pessoas confundem muito isso. Quero uma equipa competente nos vários momentos, incluindo os esquemas táticos. Depois, se é com dois homens na frente ou com um, depende muito da dinâmica dos nossos jogadores. Não nos podemos esquecer disto: quem joga e toma as decisões são os jogadores. Posso – e esse é o nosso trabalho – fazer uma análise, porque temos essa capacidade por estar fora e perdemos muito tempo nisso, e ver que há diferentes espaços para explorar em função do posicionamento adversário. Temos é que tirar partido disso. A ideia de jogo é sempre essa, olhar para o adversário, olhar para nós, colocarmo-nos da melhor maneira em campo, mas, depois, as decisões têm de ser dos jogadores. Podemos ajudá-los, mas todos eles tomam decisões diferentes. Daquilo que é funções e conhecimento do jogo deles, conseguem descobrir e fazer coisas que nós, por fora, nem conseguimos ver nem perceber. Por isso é que digo: há o nosso posicionamento, mas as decisões são deles e a partir daí temos de jogar.
Sentiu, de alguma forma, necessidade de mudar pelo facto de os adversários terem percebido como joga o Benfica da última para a época atual?
Não tenho essa ideia. Há várias razões para as coisas não terem resultado logo da melhor maneira. Mas vejam o nosso início de época. E a jogar praticamente da mesma maneira, com os mesmos jogadores e com o Raul [de Tomas]. Fizemos uma pré-época fantástica, a equipa apresentou sempre boas dinâmicas, até foi uma pré-época interessante porque jogámos nos Estados Unidos com três equipas com sistemas diferentes. Jogar com o Milan foi uma experiência muito interessante para nós, foi a segunda grande prova para o Adel [Taarabt], a primeira foi contra o Tondela, para perceber até que ponto poderia ser um jogador que nos podia ajudar. Temos um início de época que se conhece, por isso... Hoje, se fizermos dois ou três jogos, o treinador faz a análise que tem de fazer. As equipas observam-nos, sabemos o que nos vão fazer, sabemos que "isto" pode acontecer em determinado momento, mas acontece porque é o jogo, é aquele momento, aquela força de um momento contra o outro. Há várias razões para a equipa não ter jogado com a mesma dinâmica e com a mesma intensidade de início, mas não é essa de o adversário nos conhecer, porque um mês depois de começarmos a jogar, em fevereiro ou março, praticamente toda a gente sabia como jogávamos.
Então que razões são essas?
É a última vez que falarei sobre isso. Há uma razão que, em determinado período, nos condicionou ao máximo: o nosso relvado. Passou por uma situação em que não ficou nas melhores condições devido a avaria na rega durante um fim de semana. Na apresentação, com o Anderlecht, [estava em más condições] nunca mais recuperou. Começou a sentir-se na confiança dos jogadores andarem com a bola de pé para pé, via-se a bola a andar assim [saltitar], dois três toques e falhávamos a bola, depois nas lesões, que nos tiraram jogadores muito importantes e, curiosamente, na posição em que sentíamos que o Chiquinho poderia ser um elemento a entrar. Sofreu uma lesão raríssima e fica três meses de fora. Andámos depois, um pouco, a tentar encontrar a melhor solução e quando encontrámos ficámos sem o Rafa. Estava muito mais satisfeito ao sentir que o Rafa podia ser uma opção a jogar naquela posição do que ao marcar o golo [com o Lyon]. Depois de marcar volta a lesionar-se com o mesmo tipo de lesão [de Chiquinho].
Rafa estava preparado para ser um segundo avançado a partir daquela altura?
Estava. Nós tentamos procurar por vezes essas soluções e foi naquele jogo com o Lyon, pelas características que tinha como equipa – oferece muito espaço e a qualquer momento, qualquer bola entre linhas, a linha defensiva deles recuava muito – e colocando o Rafa numa posição orientado para a baliza adversária e de frente para os defesas ele é muito forte. A coisa correu muito bem, marcou o golo e equipa estava a fazer um grande jogo mas por volta dos 20 minutos ele lesiona-se. Essas duas situações e depois há outra que era o desgaste que provocava. A equipa a jogar de três em três dias e com o desgaste que provocava... quando o jogador travava, quando corria, a relva era mais pesada, ao travar a relva deslizava e isso levava-nos a um desgaste enorme durante os jogos. Estas três situações pesaram imenso. Mas depois claro a confiança de um jogo para o outro também ficava afetada. Nos jogos fora de casa nesse período sentíamos a equipa a não trazer a confiança que devia trazer, ou seja jogar bem com qualidade, a sofrer um golo, ficar atrás e ter de ir à procura do prejuízo... são tudo coisas que no lado emocional pesam, na confiança pesa, e quando estes dois fatores não estão a 100 por cento podemos ter algumas oscilações de rendimento. E foi isso que senti. Mas só fizemos caso disso, internamente, e começamos a analisar a situação. Mas no jogo com o Lyon, e quando os jogadores do Lyon falaram sobre o assunto, o caso foi público. Com isto não estamos a fugir de qualquer responsabilidade, porque essa é não olhar para o problema e arranjar sempre soluções e foi isso que fizemos. Quem trata da relva, foi sempre incansável na tentativa do recuperar, nós sempre incansáveis na tentativa de preparar a equipa da melhor maneira e mesmo com isso, o facto de termos perdido dois jogadores mais o André Almeida, realmente foi um período que nos complicou um pouco.
Houve algum momento na época passada em que sentiram que o Campeonato estava ganho?
Nessas coisas sou muito cauteloso: só senti isso quando o árbitro apitou no final do jogo com o Santa Clara. Aí respirei fundo e vi que finalmente estava ganho.
Mas depois do jogo da vitória no Dragão não sentiram algo do género, já ninguém nos pára?
Não. Senti uma alegria enorme pelo dever cumprido, mas uma alegria enorme de termos feito aquele jogo. Por aquilo que os jogadores disseram no balneário, por termos feito aquilo a que nos tínhamos comprometido, chegar lá e não termos medo de nada, jogar olhos nos olhos, termos de ganhar o jogo e foi isso que fizemos. A melhor definição em relação àquele jogo foi a estratégia. Independentemente do ambiente, do adversário, tínhamos uma estratégia para fazer, um trabalho para cumprir e tinha de ser feito e foi isso que os jogadores entenderam e cumpriram. Por vezes quando estamos a falar em grupo, sobretudo nos momentos antes das entradas em campo, o Pizzi já abordou a forma como estivemos nesse jogo. Foi um jogo que o marcou de tal forma que faz referência a ele. É uma forma de dizer que temos de chegar a qualquer jogo e encarar o adversário olhos nos olhos, sem estar preocupados em defender o A, B, C ou D, preocupar apenas connosco, com o que temos de fazer e fazer o nosso jogo. Foi isso que nesse senti: alegria porque fizemos o nosso trabalho. E sentir, claro, que a partir daquele dia a responsabilidade aumentava, porque passamos para primeiro e a alegria que é do adepto benfiquista, depois de quase ver que o campeonato estava perdido, ali estar em primeiro... nós até final já não podíamos perder, por isso é que depois também disse que já não podíamos perder esse campeonato duas vezes.
Sentiu que esse foi o melhor jogo deste ano, 2019... foi aquele que lhe deu mais prazer enquanto treinador?
Não, houve muitos que me deram prazer... Os jogos como FC Porto são sempre desafios de enorme prazer para preparar. Do outro lado está um grande treinador, uma grande equipa técnica e uma grande equipa. E nós temos de estar preparados para tudo. Posso dar um exemplo que recordo desse jogo em particular: olhávamos para o adversário e para a nossa equipa estávamos sempre na expectativa como é que podíamos preparar os jogos e a nossa dúvida naquela altura era sobre quem seria o defesa-direito...
E preparou para Militão ou para Manafá?
Para as duas coisas. Mas mais para Militão. Como ele é central e como é normal num jogador com as rotinas dele, ele procurava defender um pouco mais o espaço interior. E então preparámos o Rafa para jogar sempre mais aberto, ou seja, assim que recebia a bola teria mais espaço para jogar e ter situações de um contra um, estaria mais vertical. Mas também tínhamos que estar preparados para aquilo que o Sérgio [Conceição] preparava do outro lado, podia entender que o Rafa não seria tão forte a defender e colocaria um lateral mais ofensivo para tentar tirar partido... é um jogo do gato e do rato a ver quem é que tenta enganar quem. E quando nós sabemos a equipa foi fazer um reset rápido e dizer ao Rafa "esquece tudo". E depois há a curiosidade de o golo dele nascer por dentro. Mas é este tipo de situações que temos sempre que preparar. Mas houve ali um período em que a equipa esteve muito bem, naquela sequência de jogos com Boavista, Marítimo, com o Nacional, o jogo em Alvalade... foram dois meses muito bons e também em particular esse jogo com o FC Porto.
Quer explicar um pouco como é o seu dia a dia e da equipa técnica? Para que horas tem o despertador?
Para as 7h30. Chego ao Seixal às 8h00, pequeno-almoço e depois começamos a preparar o dia de trabalho. Preparar treinos, continuar a fazer a análise da nossa equipa, recolher dados sobre os adversários e depois colocar essas duas situações para o treino. Os jogadores, entretanto, têm uma hora limite para chegar, há uma primeira reunião entre os adjuntos, principalmente o Alexandre e o Veríssimo com o nosso médico para perceber quem está disponível, para sentir um pouco o pulso ao estado de cada um deles. Entretanto já temos algumas ideias do que vamos fazer no treino. Começamos a treinar no campo às 10h45. Antes disso os jogadores ainda têm trabalho de ginásio e só depois é que vão para o campo por volta das 10h45... embora nem sempre no campo, se calhar 80 por cento dos treinos passam pelo auditório e começamos a trabalhar aí, a fazer a análise do nosso jogo ou a preparar o jogo seguinte. Para mostrar três ou quatro imagens, que são dois ou três minutos, há muito trabalho por trás. O trabalho de análise quer da equipa, quer do adversário leva muito tempo para trazer apenas o que é essencial para os jogadores. Mas temo-nos dado muito bem com isso, os jogadores têm dado uma boa resposta e a reação deles é positiva. Apresentamos os dados de uma forma tranquila, nunca apontando o dedo a ninguém, percebendo o que estamos a fazer bem e menos bem para continuar a evoluir. Tem de ser uma relação aberta de dizer a A, B ou C com a equipa toda a ver, o que não é fácil, nem sempre quem está do outro lado gosta de ver... quando está a fazer bem porreiro, mas quando está a fazer menos bem não é fácil, mas a equipa tem tido essa capacidade, com muito trabalho da nossa parte dizendo que não estávamos a apontar o dedo a ninguém, mas sim a perceber o que se estava a fazer para corrigir e melhorar. Depois treinamos, almoçamos por volta das 13h30, e às 14h30 estamos outra vez a dar continuidade ao nosso trabalho... E não vou mentir que muitas vezes ficamos a dormir no Seixal... mas o habitual é sair do Seixal por volta das 20 horas para chegar a casa, jantar e depois aí já não mando, a televisão já está no canal Panda e tenho de estar com o Jaime. Por vezes as pessoas podem pensar que digo isto de forma irónica para fugir a algum problema, mas não. Chegar a casa àquela hora e estar um pouco com a família, jantar e ver o que ele quer ver é também importante para nós. Depois depende também dos dias: há dias que me deito mesmo muito cedo, principalmente ao segundo dia após os jogos, é terrível... porque na véspera chegamos a casa sempre muito tarde, durmo sempre muito pouco pois os jogos são tarde e temos de levantar cedo e depois no segundo dia por volta das nove, nove e meia aparece o KO técnico e preciso mesmo de dormir para recuperar.
Em casa desliga realmente do futebol?
Nunca se consegue... Desligo muito do futebol, agora daquilo que é a minha equipa não consigo. As outras coisas passam-me completamente ao lado, às vezes nem sei quem é que está a jogar, mas a nossa preocupação é constante sobre o que é o nosso trabalho.
Já sabe tudo sobre o V. Guimarães nesta altura?
Já temos muita informação, até porque já jogámos contra eles e esporadicamente, quando estamos a observar outro adversário, também observamos o adversário deles, e por isso já temos muita informação do V. Guimarães. É uma equipa muito interessante, já o era no ano passado e continua a ser.
Como é que é feita essa distribuição e no caso específico do Veríssimo pode revelar um golo que tenha resultado de um lance que tenham trabalhado especificamente num treino?
Da mesma forma que gosto que os jogadores se sintam confortáveis em campo procuro o mesmo em relação à minha equipa técnica. Quando chegámos procurei perceber as competências de cada um, o que é que eles gostam de fazer. Idealizei uma forma de funcionar e apresentei a forma que entendia ser a ideal, isto ainda na equipa B, por isso é que vos disse que os cinco primeiros meses foram muito interessantes e a base do trabalho, porque chegar a este nível e levar com jogos de três em três dias... as coisas já tinham de estar em andamento e a dinâmica entre cada um de nós a fluir da melhor maneira. Naquilo que são as várias competências temos uma linha transversal desde o treinador e a partir daí cada um tem a suas funções. O Veríssimo não é apenas quem está com os esquemas táticos ou com as bolas paradas, é ele e o Alexandre Silva. São eles que fazem a análise daquilo que são os posicionamentos do adversário e depois preparam os movimentos defensivos e ofensivos para o treino. O Alexandre depois para além disso tem outras áreas de intervenção. Cada um deles tem a relação com outros departamentos e são autónomos para se relacionarem com eles. O Alexandre é quem faz a ligação com o LAB, todo o tipo de informações e estados sobre os jogadores é ele quem tem de recolher e depois levar para essa reunião inicial que temos para começar a preparar, e saber quem temos disponível para o treino. Ou seja, eles selecionam a informação e filtram tudo o que vem dos diversos departamentos. O Veríssimo faz o link com a formação, principalmente com a equipa B e os Sub-23, muito trabalho de análise de organização defensiva particularmente sobre a linha dos quatro defesas e o Jhony e o Marco fazem o trabalho de análise e a ligação com o DAO (Departamento de Análise e Observação] que é quem está a preparar o nosso terceiro jogo, enquanto o Jhony e o Marco preparam o segundo e eu e os outros dois adjuntos preparamos o jogo que se segue. Gosto de ver o trabalho final deles, mas também gosto de ver os jogos e vejo muitos jogos completos do nosso adversário para ter uma ideia do que é o jogo. Uma coisa é caracterização da equipa, mas gosto também de sentir o jogo dos nossos adversários. Isto não implica quando se está nesta fase de preparação que não haja questões que têm de ser partilhadas por toda a gente.
(...)
Sobre lances que tenham resultado em golo, há dois exemplos: um no jogo com o Marítimo na época passada, apontado pelo João Félix, que foi o nosso primeiro golo, que foi uma bola atrasada e o João marcou; e outro no jogo com o Eintracht, que foi curioso porque em Portugal não há muita marcação individual, é mais à zona, e temos esse adversário que marcava homem a homem. Estava a preparar o jogo e estava a ouvi-los a falar sobre o assunto e dei-lhes uma ideia que tínhamos visto em Inglaterra. A coisa funcionou bem e passava por colocar todos os jogadores em fila. Os jogadores estranharam aquele posicionamento, mas depois de experimentarem no treino sentiu-se que podia resultar e resultou, salvo erro é o Rúben Dias que faz um dos golos de bola parada ao segundo poste. Como estão à procura das referências individuais e de repente aparece um comboio de jogadores como é que faz a marcação? Sendo que depois todos eles têm movimentos diferentes e quando fogem a uma marcação individual, se a bola lá chega a probabilidade de dar golo é grande. E é claro, aprende-se muito é a analisar. E nisso posso dizer o seguinte: marcamos alguns golos de bola parada, mas não somos os melhores nisso, a melhor equipa a tirar partido disso sem dúvida que é o FC Porto. Pela qualidade dos executantes que tem a colocar a bola em zonas importantes e depois também pela qualidade dos homens que coloca na área, quer os pontas de lança, quer o Danilo, ou os centrais.
E também é mais difícil defender por causa disso?
Claro que sim. O Alex Telles tem uma capacidade fantástica de colocar a bola onde quer e isso é muito importante. Mais do que ter bons homens junto à área é ter também um homem que coloque a bola muito bem quer em cantos quer em livres e ele tem, de facto, essa capacidade e o FC Porto, e bem, tira proveito dessa capacidade e acho que o conseguem fazer melhor do que nós. É uma equipa que trabalha bem nesse aspeto e não só, é muito competente em várias vertentes.
Todo esse trabalho de laboratório é bem aceite pelos jogadores? Há um pouco a ideia de que os jogadores só pensam em bola e a parte estratégica pode ser, por vezes, uma chatice...
Tem a ver muito com a forma como se apresenta. Há dez, 20 anos fazer disto quase como uma aula a explicar as coisas não era, se calhar, bem recebido ou entendido. O jogador hoje está preparado para este tipo de trabalho porque já se faz isto na formação. E depois é a forma como se apresenta. Não vamos lá dizer que é assim, assim e assim... estamos a mostrar o que fizemos e primeiro estamos a fazer uma análise e o jogador o que é que ele sente? A vencer e as coisas a resultar ele sente que estamos no caminho certo e ele aceita o que mostramos. É a base fundamental para percebermos o jogador profissional: se ele sente que tira partido de determinada situação seja trabalho de ginásio, trabalho de análise, se sente que tira partido disso aceita fazer. E depois é também a nossa forma de provar que aquilo resulta. O primeiro golo que fizemos com o Famalicão é um bom exemplo do que é a análise ao adversário, o nosso treino e o que aconteceu no jogo. Se conseguirmos colar isso e transmitir aos jogadores que aquilo está a funcionar e que tirámos partido disso.
A jogada do primeiro golo ao Boavista também...
Sim, é uma coisa em que a equipa é muito forte nisso. Esta equipa consegue ir do jogo com o Nacional em que sai com a bola e dá mais de 20 toques à direita e à esquerda e entra e faz golo, até esse golo no Bessa em que dá dois, três toques após saída de pressão, Tomás, Adel e Pizzi que viram o jogo para o Vinícius e faz o golo. A equipa é muito forte nesse capítulo e eu tenho de tirar partido disso, da equipa a ganhar a bola e a sair ou na vertical ou de um corredor ao outro é muito forte.
Muita gente se questiona sobre a razão de Samaris ter perdido o estatuto de titular nesta primeira fase da época. Qual o motivo?
Temos 26 jogadores no plantel. E depois o importante é ter memória e olhar para o rendimento. Samaris deixou de ser titular, mas foi titular. Não joga na Supertaça, jogam o Tino e o Gabriel no primeiro jogo do campeonato com o Paços de Ferreira, joga ele e o Tino, porque o Gabriel tinha-se lesionado na Supertaça. Joga com o Belenenses e joga com o FC Porto. E a partir desse jogo, não gostei do rendimento... não é bem não gostar, a equipa não esteve no seu melhor realmente. E não foi só ele, fomos todos a começar por mim, aliás fui o principal a não estar bem. Como tal, entendi no jogo seguinte que a equipa precisava de ter um médio diferente. Estávamos a jogar com Tino e Samaris devido à lesão de Gabriel na época passada na Taça com o Sporting e por aquilo que o Samaris tinha feito então é ele quem começa os três primeiros jogos do campeonato. No jogo com o FC Porto ao intervalo senti que tínhamos de fazer uma alteração: tirar um dos médios. E optei por tirar o Samaris e meter o Adel que entrou muito bem. No jogo seguinte dei continuidade: o Adel entrou bem, o Chiquinho entrou bem, mas lesionou-se e por isso dei oportunidade ao Adel e fizemos um grande jogo em Braga com o Adel a ser considerado o melhor em campo. Depois foi a consequência do rendimento. O Samaris voltou a ter outras oportunidades, esteve com o V. Guimarães na Taça da Liga, curiosamente foi também substituído ao intervalo. E fez mais um ou outro jogo pelo caminho e também jogou com o Portimonense. Gosto de o ver jogar quando defrontamos uma linha de cinco porque ele tem uma coisa que gosto muito: coloca muito bem a bola nas costas e em profundidade e com a linha de cinco é fundamental e ele nisso é o nosso melhor médio. O exemplo disso é o primeiro golo que fazemos com o Desp. Aves na época passada, o primeiro golo que fazemos ao Santa Clara no último jogo do campeonato, em que ele coloca muito bem a bola no Seferovic. Mas depois é olhar para o rendimento e para o que a equipa vai oferecendo a cada momento. Temos o plantel enorme e temos de olhar não apenas para o Samaris, mas para toda a gente e o jogador, não estando no onze, no banco ou na convocatória, não perde as competências ou qualidade. Pelo facto de Fejsa, Tino ou Samaris não estarem agora a jogar não perdem qualquer tipo de competências ou importância para nós, assim como dentro do campo têm de ter rendimento. Independentemente de se falar no jogador ou de quem quer que seja, aquilo que os adeptos querem é que a equipa tenha rendimento. E é isso. Às vezes de uma forma abstrata pergunta-se: quem é o melhor? E quem está a jogar de três em três dias o melhor é aquele que está melhor em cada momento e no rendimento. Por isso é que disse no início da época que a equipa que estava a começar iria ser completamente diferente da que iria ser no final. E cinco meses depois temos várias alterações na equipa, ela vai-se transformando, vai-se moldando e vive muito – insisto nisto – do rendimento de cada um deles e eles sabem isso perfeitamente: quando têm oportunidade têm de mostrar rendimento.
Mas em janeiro equaciona perder Samaris, por exemplo?
Aquilo que temos de olhar... Vou dar-lhe um exemplo: vocês são três, um está a jogar, o que é que pensa o segundo? Agora imagine o terceiro daquela opção? Você a ter rendimento, o Rui está à espera da oportunidade dele e o Nuno o que é que está a pensar? Como está a treinar-se? E temos várias situações dessas. Neste momento temos três médios e nenhum deles está a jogar. Como é que está a cabeça deles? Temos de avaliar.
Sente os jogadores desanimados?
Curiosamente não. Porque o nosso ambiente é de tal forma que consegue criar uma boa dinâmica. Agora se olharmos bem... é o ideal termos para várias posições três jogadores? Tenho de dizer claramente que não. Temos essa situação também para o defesa direito, por exemplo. Temos três: André Almeida, Ebuehi e o Tomás Tavares. Quando queremos fazer um dez contra dez onde é que colocamos seis jogadores? Como é que um indivíduo sobrevive... sobrevive é uma palavra muito forte... como é que se motiva e se tem foco no trabalho? "Ok, o meu colega está a ter rendimento, mas a época é longa e a minha oportunidade vai chegar e eu vou estar pronto." Mas tenho de fazer com que o terceiro também pense assim. Depois com a agravante... que não é agravante nenhuma, antes pelo contrário, é uma qualidade fantástica que nós temos que é termos vários jogadores que podem desempenhar várias funções. É na minha opinião algo que temos de fazer para trabalhar melhor e também para os jogadores irem ao encontro da felicidade porque têm uma carreira curta e têm de procurar isso.
Que espera ainda de Raul de Tomas e que é que os benfiquistas podem esperar dele?
Espero tudo do Raul. Foi um jogador que nós acompanhamos e fizemos muita força para vir jogar connosco. Temos de esperar tudo de bom do Raul. O que ele tem de fazer é dar a volta, porque por vezes na vida há estas travessias no deserto e só nós é que temos a capacidade de dar a volta na nossa vida com aquilo que controlamos, que é o trabalho, muito trabalho. Disse em jeito de brincadeira, no final do jogo em Setúbal, mas é aquilo que os espanhóis costumam dizer: treinar que nem uma besta e ter muitas ganas de triunfar num clube com a dimensão do Benfica. Isto vale para o Raul como vale, por exemplo, para o Tino, que neste momento também está na mesma situação. É eles continuarem a trabalhar e em cada momento que lhes é dada uma oportunidade estarem presentes porque a equipa precisa de toda a gente. Amanhã surge uma lesão, surge um castigo e eles têm de estar preparados e só se consegue treinando bem. É uma garantia que eu dou: qualquer jogador que não treine bem... há logo muita gente que cai em cima deles e a mostrar-lhes os factos e como é o treino ideal. Felizmente não temos muita gente a não treinar bem, antes pelo contrário. Nós temos conseguido ir ao encontro daquilo que o jogador também gosta, criar o treino num contexto em que lhe estamos a dar o jogo que ele gosta de jogar e ao mesmo tempo algo que eles vão encontrar no jogo.
Quantos reforços pediu a Luís Filipe Vieira para janeiro? E se puder dizer quais são...
O fundamental é olharmos sempre para a nossa linha orientadora. Primeiro: olhar para o plantel de 26 jogadores. Segundo, olhar sempre para aquilo que é a nossa formação e a qualidade de jogadores que nós temos e a capacidade de um momento para o outro termos os jogadores a jogar. Na época passada esse foi o maior exemplo com os quatro reforços, um para cada setor [Zlobin, Ferro, Tino e o Jota]. E só depois é que é olhar para o mercado. E a nossa perspetiva de mercado é de fazer evoluir a equipa e também atentos a uma oportunidade de mercado como um clube como o Benfica tem de estar para atacar e convencer determinado jogador a jogar por nós. E, claro, em função das nossas necessidades. Por isso não há um número em particular, há sim uma estratégia para a concretizar. Já fizemos algumas coisas na pré-época e acredito quem em janeiro podemos fazer mais e melhor, é esse o caminho que temos de seguir.
Se olharmos para os médios do Benfica, o Taarabt é muito bom com bola e o Gabriel sem bola, o Florentino bom no jogo mais posicional. Faz falta um jogador que consiga juntar isto tudo e acrescentar valor à equipa?
Mas onde é que o Adel se tem destacado mais ultimamente?
Também sem bola, sim...
Pois... O nosso foco tem de ser esse, encontrar este tipo de jogadores que façam tudo e que sejam regulares e equilibrados, que é aquilo que mais gosto. E fazer crescer estes jogadores. Como o Florentino, ver uma ou outra questão em que ele pode melhorar; o Samaris, o Fejsa, o Gabriel, o Adel, o Chiquinho... é sempre ir à procura da perfeição e simultaneamente olhar para o jogador, as suas características, o que pode oferecer e o que nós podemos fazer para ajudar a crescer em determinado ponto que pode ser interessante para a evolução dele.
O anterior treinador de Raul de Tomas no Rayo Vallecano disse que se tivesse oportunidade pegava no carro e vinha ele mesmo buscar o jogador para o levar de volta. Era capaz de pegar no carro e ir buscar João Félix a Madrid?
Não. O João tem de ouvir muito o treinador dele, já não sou eu... Fico feliz por ele nas considerações que tem feito dar alguma importância ao seu ex-treinador, é sinal que realmente ouvia o treinador na altura. Para ter sucesso, o jogador tem de ouvir quem o está a orientar no momento. Segundo, o João tem de triunfar no novo clube. Não pode vir para a sua zona de conforto. Tem de triunfar lá. Senão não o estaremos a educar da melhor maneira.
Tem de o fazer com Raul de Tomas?
É a minha opinião. O mais fácil, quando não estamos na nossa zona de conforto, é querer voltarmos para ela. Mas não acredito muito nisso porque tenho-me dado bem na vida. Quando sinto que as coisas não estão no melhor caminho apesar de estar na minha zona de conforto, prefiro arriscar e às vezes fazemos travessias no deserto... e eu já fiz uma literalmente quando estive no Dubai dois anos [risos]. E foi uma travessia que depois me levou a cumprir todos os meus sonhos. Acredito muito nisso. Depende muito de quem nós somos, do que queremos ser e voltar à zona de conforto nem sempre é o melhor. Mas depende muito de cada um de nós, se temos ou não motivação, que tipo de carreira é que quero fazer. Independentemente de ser o Raul ou qualquer outro jogador, ou qualquer um de nós tem perspetivas de carreira para o seu futuro. Em determinada altura a minha perspetiva de carreira não foi regressar à zona de conforto, mas sim regressar para o meu espaço familiar e com 43 anos ser pai. As decisões que tomei em função do meu lado familiar, porque já tinha feito três anos em Inglaterra com Championship, Premier League e continuar era repetir e ainda não tinha sido pai. Tomei essa decisão e simultaneamente as oportunidades em termos profissionais surgiram de outra forma.
Continua a querer mais concorrência para Odysseas?
Para todos, para todos. O Ody, em primeiro lugar, é um indivíduo extraordinário, um enorme guarda-redes e tem tido evolução fantástica. E a evolução fantástica dele está relacionado com aquilo que é enquanto pessoa e profissional. O Ody está a treinar-se a seguir ao jogo, para evoluir. Temos sentido uma evolução muito boa nalguns aspetos que tinha de melhorar. Vejo sempre isso: a concorrência é muito interessante porque nos ajuda a crescer, a ser mais competitivos e até mesmo a aprender uns com os outros. Para qualquer um deles, sermos competitivos e termos concorrência é sempre muito interessante e isso é que faz a equipa funcionar e termos um plantel ainda mais rico. Por isso, não só para o Ody, mas para todos, é muito importante sermos competitivos.
Que motivos têm os benfiquistas para acreditar que podem ser felizes no Campeonato e na Liga Europa?
O maior motivo e o único que podemos oferecer é a nossa dedicação ao trabalho. Curiosamente, os sócios e os adeptos, nomeadamente os mais velhos, têm tido a oportunidade de ver isso. Diariamente há uma visita ao nosso centro de estágio. Está a começar-se por fases: sócios com 75 anos e 50 anos de filiação estão a visitar o centro de estágio para conhecer as instalações e podem ver até que horas a equipa técnica está a trabalhar. É isso que vamos sempre prometer: o nosso trabalho para que, na prática, as coisas continuem desta forma, com a equipa a jogar bem, com alegria. E, sempre que isso não aconteça, estar sempre gente com a perspetiva de se olhar para a situação não como um problema, mas para arranjar soluções para termos esta dinâmica e esta alegria.
Esta época, só há dois candidatos ao título?
Os candidatos são as equipas que vão conquistando pontos. E tem de se conquistar pontos. Não olho para candidatos. Há um conjunto de cinco /seis equipas que, realmente, pela qualidade dos seus profissionais, são muito competitivas e vão ganhar muitos pontos. Disso não tenho dúvidas. Depois, tem de se concretizar. Quem for mais equilibrado ao longo da época aproxima-se de uma situação de vencer. É um facto que, nos últimos anos, o campeonato tem sido disputado a dois, mas há um conjunto de equipas, quer pelos jogadores, quer pelo historial, que são candidatos. Vou dar um exemplo: por vezes coloca-se os jogadores a uma distância muito grande uns dos outros.
Como assim?
Ou seja, pelo valor, de onde veio, ou o que já fez. No fundo são 11 contra 11. Veja-se o que aconteceu com o Vizela [2-1, na Taça de Portugal] ou com o Covilhã [1-1, na Taça da Liga]. Já estive do outro lado e, por uma questão de mentalidade, encurtam-se distâncias com o adversário naquele momento. A maior explicação é o Chico [Chiquinho]. Já brinquei com os meus jogadores para perceberem isso. Serem jogadores do Benfica nada implica, porque vivem do rendimento. Como é que o Chico que vem do Moreirense faz o jogo que faz na Liga dos Campeões [contra o Zenit, na Luz]? Foi o jogador, de todos, nos últimos dois jogos, que teve mais ações e o que correu mais. Lá está, colocamos distância entre jogadores. Eu não coloco essa distância. Olho para o jogador e para o rendimento dele. Disse aos jogadores: "Pensem nisto: o Chico do Moreirense chegou aqui e fez este jogo da Liga dos Campeões." Às vezes coloca-se os jogadores a uma distância grande uns dos outros, para mais ou menos, e as coisas não funcionam assim. Acredito nisto: toda a gente tem oportunidades. Na prática, precisam de rendimento. Esta foi a maior lição que aprendi em Inglaterra. É também esta a lição, que não começou comigo, de encurtar distâncias entre o jogador da formação e o jogador da equipa A que o Benfica tem dado ao longo do tempo. E tem tido sucesso. Acredito muito nisto. Aprendi um bocadinho no Benfica, mas, fundamentalmente, naquilo que foi a nossa experiência em Inglaterra.
O Benfica pode tornar-se numa zona de conforto para si?
Não. É uma pergunta difícil para uma resposta rápida. A zona de conforto nunca existe no Benfica pela dimensão que o clube tem e por aquilo que temos que crescer. E eu sou o primeiro a não querer que o Benfica seja zona de conforto para quem quer que seja. Em jeito de brincadeira até já o disse ao nosso presidente e à nossa estrutura que nós oferecemos um enorme conforto aos nossos jogadores. E esse conforto é bem-vindo, em tudo. A estrutura do Benfica é muito profissional em que nada falta aos jogadores em que até o jantar é entregue em casa. É estrutura superprofissional, com muita gente para que não falte de nada e o jogador sente essa diferença quando sai do Benfica. Temos de deixar o jogador desconfortável é em perceber se vai a jogo ou não. E esse desconforto tem de o obrigar a trabalhar sempre melhor. E temos vários exemplos disso, vários jogadores que estão em zona de conforto e quando ir a jogo ou não os deixa desconfortáveis e depois aparecem com um rendimento muito superior. É esse desconforto que nós queremos porque temos muito para fazer. Ter uma equipa para uma dimensão europeia obriga-nos a isso, a sair da nossa zona de conforto e a querer sempre mais. Depois é o que é o lado histórico do clube, a exigência dos nossos adeptos: não podemos estar em zona de conforto com nada. Mas é também um pouco a minha forma de trabalhar, porque aquilo que me dá mais alegria é ver as pessoas contentes, sejam os nossos jogadores, gosto de os ver contentes a jogar o nosso jogo e muitas vezes quando o jogo não está a sair bem, estou no banco e não estou contente porque gosto de ver alegria, a bola de pé para pé com dinâmica, com boa circulação, chegadas à baliza e oportunidades de golo. E gosto de ver a alegria dos nossos adeptos ao sentirem-se realizados ao ver a nossa equipa a jogar. Nunca vai ser uma zona de conforto. Neste momento, como já estive fora de Portugal, tenho a maior das motivações para querer sempre triunfar no Benfica que é estar perto da minha família, não há maior motivação que essa.
O seu pai foi jogador e treinador. Conversa muito com ele sobre futebol e, por exemplo, sobre o Benfica?
[Pausa] Claro.
Ele ainda lhe puxa as orelhas?
Acho que nunca me puxou orelhas. O que é que posso dizer? Aprendi muito com ele sem saber. Como sabem, foi jogador, não me lembro de o ver jogar, mas lembro-me de vê-lo preparar os treinos [como treinador]. Trabalhava muito, preparava muito [os treinos]. Trabalhava na Setenave e ainda ia treinar. Preparava os treinos como ninguém, com tudo organizado e tudo preparado. Aquilo foi sempre algo que pensei fazer um dia. O meu primeiro sonho foi isso: tirar o curso de professor de Educação Física e, depois, ser um treinador como ele. Teve enorme sucesso ali no Distrito de Setúbal, no campeonato distrital, que naquela altura era muito competitivo. Via-o muito a preparar os jogos, os treinos e a fazer carreira. Há coisas semelhantes e um dado muito curioso: a primeira vez que foi campeão distrital é muito semelhante à nossa Reconquista. Ele tinha as continhas todas feitas: nos últimos dez jogos tinha de vencer nove e podia empatar um, no campo do Arrentela, uma equipa muito difícil. E nós foi a mesma coisa. Curiosamente, foi logo a seguir ao FC Porto [vitória no Dragão], empatámos com o Belenenses e não havia mais espaço. Também senti que o FC Porto estava muito forte naquela altura e que não ia dar mais espaço e tínhamos de fazer aquela caminhada. Mas, sim, são coisas que vão acontecendo pontualmente e continuamos a falar muito. Até porque quando tenho um dia de folga não são muitos – vou a Setúbal, almoço com os meus pais, levo o meu filho e falamos sempre sobre futebol.
Dava muito trabalho, com o seu irmão, aos seus pais ou era bem-comportado?
Fui sempre um rapaz muito reservado, ele [Luís Nascimento, adjunto de Carlos Carvalhal no Rio Ave] não. Ele era completamente diferente. Fui sempre muito sossegado, tranquilo, bem-comportado, sempre muito envergonhado. Quem comigo privou na minha infância e adolescência até estranha este todo à-vontade que tenho. Mas ainda hoje não me sinto muito confortável. As pessoas pensam que esta é uma zona de conforto, para mim não é. Estar perante câmaras, perante a comunicação social a falar, e o Nuno [Farinha, assessor de imprensa] sabe, não é, de longe, a minha zona de conforto. Onde me sinto bem e onde fico apenas concentrado no que se passa é no jogo e no treino. O estádio pode estar cheio e podem estar a acontecer tantas coisas, mas passa-me tudo ao lado porque estou realmente concentrado no jogo. Esse lado devo-o ao futebol: ser agora menos tímido, ter a confiança de entrar num sítio. Comecei a ganhar confiança quando entrei no futebol, no Desporto, a dar aulas. Sempre fui uma pessoa mais reservada e ainda bem porque isso me deu ferramentas que hoje são muito importantes, principalmente a capacidade de analisar pelo canto do olho. Quando as coisas nos aparecem à nossa frente, já estamos a vê-las há muito tempo. Ganhei isso na minha adolescência. Um indivíduo reservado nunca está ao centro da sala, está mais ao canto e está a controlar muita coisa [risos].
Gosta de outras modalidades?
Aí, gosto de tudo. Gosto de ver muita coisa. Principalmente, as modalidades coletivas: hóquei [em patins], basquetebol, voleibol, andebol. Se estiver a dar na televisão posso perder um bocadinho de tempo para ver. Até porque quando éramos miúdos imitávamos tudo, com sticks feitos de paus de vassoura, jogar andebol, basquetebol ou voleibol, fazíamos de tudo.
O Canal Panda já o convidou para alguma iniciativa?
Várias vezes [risos]. E com muita pena minha até perdi o último evento no dia 15 porque o trabalho foi tanto nestes últimos meses que nem consegui abrir o email e perdi o último convite do festival de Natal, que seria uma experiência muito gira para o meu filho. O Canal Panda surgiu em termos de brincadeira numa das conferências. Não que esteja a gozar com alguém. Na vida estamos tão preocupados com coisas sérias e depois, quando nos sentamos e olhamos para determinada situação de forma mais tranquila, começamos aperceber que, realmente, podemos aprender muito. Com a velocidade com que andamos na nossa vida – e vocês vivem esses tempos em que a notícia tem de ser o agora porque o que se passa a meio da tarde não é notícia amanhã de manhã – perdemos algum tempo para refletir. Quando chego a casa e o Jaime está a ver o Panda, se quero estar um bocadinho com ele, fico sentado ao pé dele, vejo e analiso. Realmente, esquecemo-nos o quanto os desenhos animados são educativos e a importância que têm na vida dos miúdos para lhes dar algum rumo na educação, especialmente na cooperação, no trabalho de equipa. Sabem que em criança o que mais somos é individualistas. E há essa preocupação pedagógica de olhar a vida e de perceber o trabalho de equipa, etc. São coisas que por vezes nos esquecemos e ali há uma oportunidade de recordar. E por vezes, quando estamos perante o grupo ou a comunicação social a falar de três em três dias, há momentos em que temos de sair daquilo que é o padrão normal para dar ideia do que queremos transmitir. Ele, entretanto, está quase a fazer cinco anos e começa a ver outros desenhos animados. Há outro desenho que tenho acompanhado ultimamente.
Já não são os Superwings?
Os Superwings também fazem parte da equipa. Mas tenho visto o Ruca. Vejam os valores que nos transmite. Estou ali com ele e começo a pensar no que era a minha infância. Às vezes não tenho tempo para pensar. É um menino que vive com os pais, é visitado pelos avós e que tem uma irmã. E que depois faz todo o tipo de tarefas: fazer a cama, os trabalhos de casa, ir à escola. Hoje em dia, e também me responsabilizo um pouco por isso, quase a trabalhar das oito às 20, a minha mulher também. Haver essa preocupação pedagógica [dos desenhos animados] ... é fantástico. Simultaneamente ele está a aprender, porque está a ver um bom exemplo, e eu estou ali... Ele está a viver aquilo de uma maneira e eu de outra, a recordar. Por exemplo, a visita dos avós. Fui criado pelos meus pais e os meus avós. Eh pá, e aquilo traz pensamentos que não temos hipótese no dia a dia. Dos meus avós, dos meus bisavós, os conselhos que o meu pai ou a minha mãe me davam, eu brincar na rua. Eh pá! E nós às vezes estamos tão preocupados com tanta coisa e eles dão-nos a oportunidade de recordarmos destas coisas que foram tão importantes e que nos marcaram. Não é que seja a coisa mais importante do mundo, mas são coisas que nos fazem pensar e, no momento certo, mexer com... Há um lado estratégico, há um lado tático, mas mexer com o lado emocional das pessoas... quer com jogadores, quer com quem está de fora para perceber a nossa forma de ver. Longe de mim estar a querer ensinar ou explicar a quem quer que seja. A minha preocupação é as pessoas entenderem aquilo que vejo e a forma como trabalho.
E o seu filho Jaime gosta de futebol? Quem é o jogador preferido dele?
É o João Félix. Fala muito do João Félix, fala muito do Pizzi. Acho que não tem muita noção daquilo que se passa. Não perde muito tempo a ver [um jogo], mas gosta de ter uma bolinha em casa e estar ali a brincar. É um menino com muita energia. O que gosta de fazer em casa é chutar a bola e vir a deslizar de joelhos a festejar o golo. O mais importante é que seja feliz, com o futebol ou com outra coisa qualquer. Se calhar, para a mãe, seria um grande desgosto ele ser treinador, mas o mais importante é ser feliz e que tenha uma boa educação. Essa é uma tarefa que me deixa preocupado: saber se tenho a capacidade de proporcionar-lhe aquilo que os meus pais me proporcionaram. Independentemente de haver dinheiro ou não para poder ter outro tipo de brinquedos, o mais importante é ele ser amanhã um homem sério, equilibrado, com boa memória e coerente.
A família aceitou bem a exposição que o cargo trouxe e a dedicação que ele implica?
Acho que sim. Somos pessoas muito reservadas. O meu pai é tranquilo, a minha mãe também, talvez seja a mais tranquila nessas situações. A Maria também. As coisas têm acontecido de forma tão natural. Há a pressão de ter rendimento no nosso trabalho, mas a pressão que coloco em mim é a de fazer sempre bem. Não sinto qualquer tipo de pressão, porque já a coloco no meu trabalho. As pessoas mais próximas de mim tiveram de manterem-se equilibrados. Nem sentirem que, quando se ganha está tudo bem, nem está tudo mal quando se perde. Termos esse equilíbrio e fugir dos focos dos meios de comunicação social. Fazemos a nossa vida de forma tranquila, vamos aos mesmos sítios, não sentimos grande diferença.
Olhando para esse prémio que está ao seu lado, sente que 2019 é irrepetível?
Não consigo perspetivar o futuro, não tenho essa capacidade. Será um ano inesquecível a todos os níveis, quer pessoais, quer profissionais. A maior riqueza deste ano são as experiências e aprendizagens ao longo deste caminho. Inesquecível, sim, mas sempre no sentido de continuar a evoluir e ir ao encontro da ambição e exigência do clube.
Gostaria de ter dito alguma coisa que não lhe tivéssemos perguntado?
A grande questão nesta entrevista, e tivemos oportunidade de falar sobre isso, não é uma preocupação minha, mas, já que faz uma retrospetiva do que foi o ano, seria interessante ver o trabalho e conhecer um pouco a pessoa. Não é algo que me incomode, mas uma coisa é fazer a análise do nosso trabalho, outra é olhar para a análise à pessoa. Acho que foi isso, de forma simples. Um indivíduo reservado nunca está ao centro da sala, está mais ao canto e a controlar muita coisa tranquila de ser, dar-me a conhecer. Sou um jovem de 43 anos, o que fica são as experiências e aprendizagens. Espero que o próximo ano seja assim. Há muito a aprender. E que as pessoas percebam o que pretendo quando estou a falar, pois as perguntas são vossas, mas as respostas são para os adeptos. E sempre de forma muito tranquila para que entendam a minha forma de pensar, não numa de quem está aqui a querer ensinar alguém. Vou explicando as minhas opções, quer em jogo quer em treino.

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