"Na semana passada partilhei a minha embirração pelos discursos, mais moralistas que moralizadores, no ocaso dos telejornais, proferidos por pivots imbuídos de um sentido de missão que, de tão sofregamente manifestado, já se confunde com insistência numa receita supostamente vencedora de audiências. Esses pivots, a continuarem assim, e tendo em conta as naturais limitações das redacções autores de livros de auto-ajuda para lhes escreverem o sermão diário...
Mas, na verdade seja dita, poderia ter referido outros casos como, por exemplo, o aproveitamento generalizado das marcas para, seja por comunicação directa, seja via publicidade, nos atolarem de mensagens pseudo-inspiradoras e alertas variados, além de, entretanto, nos lembrarem do que existem, claro está. Enfim, já não se pode cumprir uma quarentena em paz.
E, mesmo desligando a televisão ou evitando a publicidade, nem sequer se pode aguardar serenamente pelo fim da quarentena quando esta se revela terreno fértil para a hipocrisia.
Veja-se o jornal O Jogo, ao qual só lhe falta defender na sua primeira página, e mais valeria que o fizesse, que o título de campeão covid-10/20 tem de ser atribuído inapelavelmente ao FC Porto. Quase todos os dias, se não todos, merece destaque algo que indicie ser essa a única solução possível. A acontecer, o que seria um autêntico apito infeccioso, não surpreenderia por aí além. Nem também que o festejassem alegremente... Resta-me acrescentar que já não detectava tanto empenho do jornal O Jogo desde a última entrevista feita a Pinto da Costa, em que, miraculosamente, conseguiu evitar questionar o presidente portista sobre o estado financeiro da SAD e do clube a que preside."
João Tomaz, in O Benfica
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