"No encontro da imaginação frente à mecanização, Bento foi decisivo a defender e decidiu a marcar
Em 25 de Novembro de 1953, Inglaterra e Hungria jogaram uma partida amigável que ficou conhecida como o 'jogo do século'. Antes do encontro, a nação inventora do futebol mostrava-se (excessivamente) confiante, por ter perdido apenas uma vez em casa, contra a Irlanda, estando invicta havia quatro anos. A arrogância inglesa desvanecer-se-ia ao longo dos 90 minutos. Os magiares, campeões olímpicos, foram superiores a todos os níveis, física, técnica e tacticamente, vencendo por 6-3. A marcação 'homem a homem' e a forma como potenciavam o colectivo em detrimento das individualidades seriam replicadas daí em diante. As equipas do Leste europeu tornaram-se eximias a jogar nesse modelo.
Passados quase 22 anos, o Benfica produtor de um futebol fantasioso em que se destacava o tecnicista Chalana, orientado pelo inglês John Mortimore, começou a campanha europeia de 1877/78 frente ao Torpedo de Moscovo, conhecido pelo seu pragmatismo. Em 14 de Setembro de 1977, na 1.ª mão da 1.ª eliminatória da Taça dos Clubes Campeões Europeus, a equipa russa, 'marcando os jogadores do Benfica de forma obstinada, não lhes conhecendo tempo' nem espaço, conseguiu neutralizar o processo ofensivo benfiquista e manteve o nulo no marcador. O resultado era benéfico para o Torpedo, que dessa forma ficava com a decisão da eliminatória no seu terreno. A imprensa, admirada com a inércia e ineficácia ofensiva dos encarnados, pôs em causa a passagem: 'Em Moscovo só um milagre poderá salvar 'este Benfica'!'
Na 2.ª mão, numa 'insólita noite fria de Setembro', dois estilos antagónicos defrontaram-se durante 120 minutos, 'a inteligência sobre a força, a argúcia sobre o pragmatismo, a imaginação viva e criadora sobre a rigidez fria das coisas planificadas a computador', sem que qualquer dos conjuntos conseguisse inaugurar o placard.
Por forma a encontrar-se o vencedor, a partida seguiu para a marcação das grandes penalidades. Bento, que vinha a destacar-se na partida, por 'não ter cometido nenhum deslize do princípio ao fim', voltou a estar em foco. Defendeu um penálti e assumiu a responsabilidade de marcar a penalidade decisiva, fazendo o 4-1 que garantiu o apuramento dos encarnados. Os media ficaram rendidos à sua prestação: 'Bento confirmou-se como 'o maior' destas duas horas (e picos...) de Moscovo'. Diz-se que a melhor defesa é o ataque, e o guarda-redes foi soberano em ambos os sectores.
Bento, apesar da baixa estatura para a posição, tinha reflexos apurados, uma agilidade felina e uma coragem desmedida, sendo considerado um dos melhores guarda-redes portugueses de sempre. Saiba mais sobre a carreira deste fantástico jogador na área 23 - Inesquecíveis, do Museu Benfica - Cosme Damião."
António Pinto, in O Benfica
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