"A derrota de 2004 dói-nos bem fundo ainda a todos, mas acho que nenhum de nós troca, por nada, os momentos únicos que sentimos e vivemos naqueles meses de tanta alegria no País Triste.
GUAYAQUIL - Tenho a memória cheia de imagens marcantes recolhidas em todos os cantos do mundo sobre esta infinita dicotomia vitória/derrota que faz do futebol um campo aberto de emoções. A final da Taça Libertadores tinha chegado ao fim, os cariocas festejavam a conquista no Monumental Isidro Romero Carbo e Luiz Felipe Scolari, de braços cruzados, engolia uma derrota dura. Como diz o nosso Miguel sobre a final do Euro-2004: “Comemos fome!”. Nessa altura, os principais jogadores do Flamengo distrairam-se da sua justa felicidade e vieram, um a um, abraçar o Felipão. David Luiz, Gabigol, Filipe Luís... nenhum deles esqueceu a amizade e o respeito. Antes de correrem para a união coletiva da sua íntima satisfação, prestaram homenagem ao velho general que os comandou em batalhas antigas. Foi bonito de encher o peito e aquecer as pálpebras até ao luzir de uma lágrima. Luiz Felipe Scolari acabara de ver fugir-lhe a sua terceira Libertadores, mas não deixou de ser o centro das atenções dos que com ele trabalharam e conhecem a grandeza do seu coração. Durante os últimos dias, tenho como que servido de correio entre todo aquele conjunto de irmãos que formámos em 2004 e 2006, e que não quiseram deixar de lhe dizer que estavam mais uma vez do seu lado: Costinha, Postiga, Ricardo, Rogério Matias, Ricardo Costa, Jorge Andrade, Pauleta, Francisco Paraíso, António Gaspar, Miguel, Paulo Ferreira, Nuno Valente, Chico Ferreira, Boa Morte, Nuno Gomes, Petit, e mais e mais, todos aqueles que ainda agora, volta e meia nos juntamos num grupo enorme para almoçarmos no Porto Santana, em Alcácer, conversando durante horas, e comendo tudo (e bom) menos fome. A derrota de 2004 dói-nos bem fundo ainda a todos, mas acho que nenhum de nós troca, por nada, os momentos únicos que sentimos e vivemos naqueles meses de tanta alegria no País Triste. Outros vieram e ganharam por nós, orgulhamo-nos de ter ajudado a abrir esse caminho. Ainda estamos à espera do dia em que o nosso Chefe, Scolari, apareça para se sentar à mesa lá da Dália e rir connosco, como só ele sabe rir, o jeito brincalhão de contar histórias e recordar episódios mas sempre com um fundo de ternura na voz à moda de paizão. Ontem, eu e ele, trocámos mais um abraço dorido, que nunca é de adeus, mas de até já. E fico sempre certo de que mais do que um campeão no futebol ele é, sobretudo, um campeão na vida. E por isso não há derrota que o derrote."
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