"Um Ruben Amorim que insiste em não emendar os erros lembra-me a “mulher do médico” de Saramago que fingia ser cega para poder acompanhar o marido no sanatório - neste caso, o universo dos adeptos e sócios do Sporting que ficaram sem vista para os títulos.
Houve um outro campeão leonino com coração alheio, adoptado como o jovem treinador, que um belo dia proclamou sobre um inédito ‘hat trick’ o que Amorim parece estar a sugerir sobre o seu enorme sucesso de há dois anos: “se viram, viram, se não viram, não voltam a ver”.
Amorim sabe muito bem quais são os problemas da equipa, mas finge que não vê o afunilamento tático, a incapacidade física, o desprezo pela criatividade, a renúncia aos finalizadores, para manter-se no seu posto de guia de um clube de crédulos num futuro de grandes triunfos.
E, ao mesmo tempo, também não quer ver o caos a ameaçar reinstalar-se na família leonina, com os adeptos entregues ao desespero, à beira de se virarem uns contra os outros e na direção oposta do ideal “onde vai um vão todos”. Num blog leonino muito popular, uma espécie de “velho da venda preta” define a loucura que alastra no mundo leonino como “aquele que faz a mesma coisa e espera um resultado diferente”.
Ruben Amorim já tinha comprovado a perda de eficácia do seu sistema de táctica única, muito previsível e nada impositivo, já se tinha baralhado com avanços e recuos de emergência com jovens demasiado “verdes” e conhece melhor que ninguém os efeitos de jogar sem um homem de área capaz de fazer golos. No futebol, quando nada se transforma, tudo se perde.
Quem é que não vê que a equipa do Sporting não tem consistência nem consegue controlar os jogos, mesmo quando constrói um bom número de oportunidades para fazer golo ou até se adianta no marcador e acaba a perder? “Joguem à bola” na voz das arquibancadas cegas de paixão entende-se como um “abram os olhos” no sanatório de Saramago.
“Maior cego é quem não quer ver”.
Desde a direção aos adeptos, passando pelo treinador, ninguém quis ver que seria impossível melhorar sem Matheus Nunes, sem Palhinha, sem Sarabia, em cima de não dispor de um homem-golo nem de um processo de jogo próprio de equipa grande.
Como diria a protagonista do “Ensaio”, nesta “epidemia do mal branco”, que não permite ver golos, nem vitórias, nem pontos, e que hoje abandonou o Sporting à sorte do milagre de Marselha, “já ninguém se pode salvar, cegueira também é viver num mundo onde se acaba a esperança”.
Uma cegueira tão visível que até parece ensaiada."
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