"E o Benfica é campeão!
Depois de incontáveis emoções, desde a euforia ao sofrimento, o clube que tem na alma a chama imensa assegurou a conquista do seu 38º campeonato, cimentando a sua posição como o clube mais vencedor por terras lusitanas. O Glorioso termina como um campeão incontestado, tendo liderado a prova desde a 1ª jornada e finalizando com mais vitórias, mais golos marcados e menos golos sofridos do que qualquer um dos seus adversários. E tudo isto com uma ideia de futebol atacante, atrativa e que na maior parte da temporada chegou a roçar o brilhantismo.
Claro que os invejosos vão sempre arranjar desculpas, deméritos e lama para atirar a mais esta conquista do clube mais popular de Portugal. Para eles, o Benfica é alguma vez campeão com mérito? Mas pouco importa. Das coisas mais belas no Benfica é que vencemos sempre por nós e nunca contra ninguém. Nos festejos, seja no Marquês, ou no estádio, os adeptos nunca se lembram de Porto ou Sporting. Cantam sempre pelo Benfica.
Mérito seja dado a duas figuras incontornáveis do 38: o primeiro é Rui Costa. Na primeira temporada como Presidente, em que pode planear com tempo e cabeça fria, acertou em cheio em tudo. No treinador escolhido, nos jogadores selecionados e na vincada aposta desportiva. O Maestro deu tudo o que podia para este título. Não se desviou um milímetro a negociatas, à vertente financeira ou às cascas de banana que os rivais, principalmente os do norte, atiram.
Fugiu às vistas curtas de se achar que agora tinha sempre de se apostar num treinador português e identificou na Holanda um técnico com todos os atributos necessários para o sucesso. E que estaria sedento de vitórias, pois também o alemão sentiria que já merecia na carreira saltos maiores do que aqueles que tinha dado pela Alemanha, China, Áustria ou Holanda.
Falemos então de Roger Schmidt. No futuro se dirá que chegou ao aeroporto de Lisboa com uma frase histórica: "If you love football, you love Benfica". Entrada com o pé direito e o resto foi a competência do seu trabalho (e dos seus assistentes) a levar a águia a bom porto. Levou 39 jogadores a estágio, mas de forma fria e racional soube identificar os que interessavam e os que não interessavam. Fez uma pré-época 100 por cento vitoriosa, o que mostra como a sua mensagem rapidamente entrou no balneário.
O Glorioso foi de longe a melhor equipa em Portugal. E não fosse aquela semana trágica com Porto, Inter e Chaves, bem como uma época anormalmente longa (com duas pré-eliminatórias da Champions e um Mundial pelo meio), provavelmente teria sido campeão com muito mais à vontade. Mas tudo acaba bem quando termina bem.
E até fica a sensação de que com Enzo até ao fim e menos desgaste das figuras mais influentes na parte final, o Benfica podia ter sonhado com algo muito especial na Liga dos Campeões. Não que o que fez não tenha sido especial: a dupla vitória sobre a Juventus, os dois empates com o PSG, aquele incrível 6-1 ao Maccabi Haifa, o 1º lugar no grupo, o 7-1 ao Club Brugge em 180 minutos e até o empate em San Siro a três com o Inter.
Voou alto a águia na Europa. Que não nas Taças Nacionais, mas até aí fica o lamento de ter saído sem qualquer derrota e uma eliminação frente ao Braga num jogo de sacrifício, em que terminou com nove elementos em campo.
Festejámos e celebrámos o 38 com a dimensão que a conquista e o Benfica merece. Por todas as cidades, vilas e aldeias de Portugal o vermelho saiu à rua. Aliás, não só Portugal. Bastou ver os telejornais e os vídeos no YouTube para verificar que houve festa por toda a Europa, América e África.
O Benfica é um clube gigantesco, com uma dimensão popular enorme. O epicentro foi, claro, no Marquês de Pombal, com centenas de milhares de pessoas, numa tradição que veio para ficar.
Venha agora um merecido repouso a dirigentes, treinadores, jogadores e adeptos, mas rapidamente regressemos em força. Com o mesmo foco, a mesma determinação, porque no Benfica nunca se pode descansar sobre a Glória. Queremos sempre mais e mais e mais! Queremos o 39!
O Benfica já perdeu Enzo, perdeu Grimaldo, se calhar vai perder Otamendi e talvez algumas das suas joias do Seixal, como António Silva ou Gonçalo Ramos. Por isso, caro Maestro, nunca mais a épocas de desinvestimento, como Luís Filipe Vieira fazia! Rui Costa, tu já percebeste a fórmula: planta as sementes com um investimento forte e acertado no início da época e a componente financeira é recompensada mais à frente. Que continues sempre a olhar para o Benfica como o clube desportivo que é e menos como a empresa que também é.
Não consigo terminar a crónica sem, porém, um lamento: que as festas do Benfica se tenham tornado menos populares, espontâneas e livres do que eram. A repressão policial, o speaker que não deixa os adeptos tomarem a iniciativa, as colunas de som sempre aos berros tornam algo tão bonito, um pouco menos bonito. Um pouco menos especial. Em tempos a equipa do Benfica ia à festa do povo. Agora vai o povo fazer de figurante à festa organizada pelo departamento de marketing do Benfica.
Vamos repetir até à exaustão as palavras tão lindas: 'O Benfica é Campeão!' E que depois ecoe por todas as terras de Portugal e além-fronteiras: 'Benfica...Benfica...dá-me o 39!'"
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