"Ao contrário dos últimos 40 anos, não é possível ter certezas quanto ao vencedor
É legítimo dizer-se que Pinto da Costa foi vencedor na última assembleia geral do FC Porto para aprovação de contas. Mas não existirá a mesma legitimidade em concluir que o presidente do FC Porto tem, como desde há quarenta anos, a sua eleição assegurada.
Em primeiro lugar, porque uma assembleia geral de clube é, por tradição, um órgão institucional de difícil acesso a gente mais jovem, que já não tem a mesma ideia de sentido do dever de participação associativa; depois, porque as contas foram votadas num pequeno universo de menos de um milhar de pessoas, muito longe do número de associados que tinham estado na primeira sessão e que pelos mais diversos motivos, entre os quais, o menor não será o de evitarem meter-se em sarilhos, não marcaram presença; ainda porque as contas foram aprovadas por cerca de cinquenta e três por cento dos sócios presentes, sendo que 434 votaram a favor e 385 ou votaram contra, ou decidiram-se por uma abstenção que não deixaram de significar reservas.
Estes são números mais do que suficientes para apoiar a direção portista, mas nem são os números arrasadores de outros tempos, nem são sequer números que garantem grande margem de confiança aos atuais dirigentes.
Até abril, altura em que se realizarão as próximas e já muito participadas eleições, o comportamento desportivo da equipa de futebol será, como sempre, determinante, mas a principal novidade é que, ao contrário das últimas quatro décadas, não é possível, por agora, ter certezas quanto ao vencedor.
Pinto da Costa parte de uma posição privilegiada. É obviamente o favorito, até porque na altura de votar é provável que muitos portistas lhe perdoem erros e sinais de cristalização do poder à conta dos muitos títulos que construiu no clube. Porém, nunca, como agora, surgiu um candidato de oposição tão popular e tão forte. Villas-Boas tem por si um portismo igualmente inquestionável e a vantagem de simbolizar ar fresco e mudança de um regime que, como todos os longos regimes absolutistas, perdeu a noção da realidade e da sua própria mortalidade.
Percebe-se, pois, que a dúvida maior no que respeita a uma mudança inevitável é apenas o tempo que levará a concretizar-se e na forma como o poder ainda instalado se irá comportar."
Vítor Serpa, in A Bola
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