"Do jogo que o Benfica (não) está a jogar ao jogo político que se joga no FC Porto
Como pode a equipa do Benfica voar sem asas? Como vai encontrar solução para a sua evidente fragilidade atlética? Como vai encontrar melhor ligação em campo tendo tanto jogador em má condição? Como descobrir forma de compensar com o espírito o que o corpo não oferece?
Parece impossível, mas é difícil esconder que o Benfica que lidera a Liga portuguesa é o mesmo que na Europa tem feito a figura apagada que tem feito e o mesmo que não tem conseguido jogar o futebol que os adeptos esperam.
Parece realmente a águia estar perante o maior dos desafios: precisa de ver mais limpa a cabeça dos jogadores (há evidentes bloqueios mentais, falta de confiança e ansiedade) e bem sabemos como o futebol, jogando-se com os pés, está todo dentro da cabeça dos atletas. Acrescente-se a maior das dúvidas: será Roger Schmidt um treinador capaz de encontrar as soluções que a equipa claramente ainda não mostrou? Conseguirá Schmidt ter na equipa e nos jogadores o impacto suficiente para lhes mudar a roupa da alma e pô-los a jogar mais e melhor do que aquilo têm jogado?
Não tem o Benfica apenas um evidente problema coletivo (nem podia deixar de o ter jogando sem laterais de raiz e não tendo extremos para dar, por exemplo, outra largura ao jogo); sofre igualmente de claros problemas individuais, porque jogadores-chave como João Mário, Rafa ou Dí Maria não têm tido rendimento elevado e estão, parece nítido, muito abaixo da forma que normalmente os deveria notabilizar. Tudo junto, o Benfica vai perdendo o norte muito para lá dos resultados, sejam eles mais positivos (competições internas) ou negativos (jogos europeus); se teimar em ignorar o problema, então dificilmente Schmidt elevará a equipa a outro nível de jogo.
Ponto prévio: têm os responsáveis encarnados razões para se sentirem prejudicados com os evidentes erros de arbitragem neste Benfica-Inter (curioso como nos últimos três jogos com os italianos, a águia foi sempre prejudicada pela arbitragem).
O que continua a parecer estranha é a posição do treinador encarnado sobre a videoarbitragem, quando está tão fresca ainda a vitória no dérbi, sobre o rival Sporting, graças à videoarbitragem.
Pode, e até deve, qualquer treinador lamentar e questionar como se cometem ainda tantos erros graves de arbitragem tendo a arbitragem o auxílio da melhor das tecnologias. Mas como pode um treinador com a responsabilidade que tem um treinador de um grande clube como o Benfica defender publicamente que a videoarbitragem está a matar o futebol? Não será gritante a incongruência?!
Mais do que o sentido crítico sobre o lado estruturante da arbitragem, o que esperam os adeptos do Benfica é que Roger Schmidt seja capaz de encontrar soluções para as dificuldades da equipa e lhe dê estrutura para jogar melhor futebol do que tem vindo a jogar praticamente desde o início da temporada. Em quatro meses de competição, não se viu ainda nas águias qualquer exibição de encher o olho, ao contrário, porém, do que apregoa o treinador alemão, incapaz de reconhecer qualquer dos mais que visíveis problemas da equipa.
Perguntarão certamente os adeptos encarnados se consegue mesmo Roger Schmidt conviver bem com o estado atual de jogadores que continuam a tomar um estranho número de más decisões, que revelam tanta insegurança e falta de qualidade no passe, que perdem a maioria dos duelos sempre que eles exigem luta física, que raramente desenvolvem bem a chamada transição atacante, que parecem ressentir-se em campo da falta de largura no jogo e da falta de profundidade atacante.
Se Roger Schmidt persistir na ideia de que o comportamento dos jogadores «é fabuloso» pode vir a dar-se mal, porque o campeonato é longo e é muito difícil. Para já, vai o treinador alemão deixando criar a perceção de estar no banco à espera que alguma coisa aconteça em vez de tentar fazer acontecer. Poucas coisas criam maior desconfiança no futebol do que isso.
Foi, realmente, o Benfica penalizado, na noite europeia de quarta-feira, por erros de arbitragem. Mas reduzir a infelicidade encarnada a isso não é mais do que continuar a querer tapar-se o sol com uma peneira.
Chegou o Benfica à surpreendente vantagem de três golos graças a muito mérito do seu jovem ponta de lança (creio que Tengstedt pode mesmo vir a tornar-se um caso sério como atacante se tiver a sorte de dispor de continuidade no jogo) e não tanto ao mérito da equipa. Com tudo o que vale como jogador, João Mário fez três golos, sim, mas qualquer deles suficientemente oferecidos para quase não ter precisado de grande esforço ou competência. Não se dirá que caíram do céu porque isso seria muito injusto para a determinação e qualidade do trabalho do jovem avançado norueguês.
Mas devem os responsáveis do Benfica olhar mais para a inacreditável incapacidade de segurar essa vantagem e para o modo tão inconsequente como o treinador assistiu, impávido, do banco às crescentes dificuldades da equipa e ao repetido insucesso em campo das ações de Rafa ou Dí Maria, de quem Schmidt (lá está a perceção) parece estar sempre à espera que consigam um milagre. Mas pode o Benfica viver tanto disso?
Chega a demagogia do presidente do FC Porto ao ponto de apenas acusar André Villas-Boas de nunca ter ido, até agora, às assembleias gerais do clube, como se fosse normal um profissional de futebol, como foi André Villas-Boas durante pelo menos 20 anos, ter estado presente nas assembleias gerais do clube.
Nem se trata, agora, de saber se Villas-Boas será ou não um bom candidato à presidência do FC Porto. Os sócios do FC Porto que o avaliem. Trata-se de compreender o modo como Villas-Boas tem, pelo menos, afetado o atual líder do clube, que à falta de melhor argumento aponta o dedo ao candidato a adversário com a mais absurda das razões. Só agora ter estado numa assembleia geral.
Não há muito tempo, porém, numa entrevista de 2020, o presidente portista reconhecia a existência de alguns nomes no universo portista com os quais não teria qualquer preocupação caso viessem a candidatar-se à presidência do clube. «O António Oliveira é um deles, como o Vítor Baía, o André Villas-Boas ou o Rui Moreira», afirmava, apenas há três anos e meio, sensivelmente, o líder dos azuis e brancos. «Qualquer um deles, se se candidatasse, seria prestigiante para o clube. Com eles, estaria tranquilo, nem me candidatava, mas se o fizesse sentia-me prestigiado em concorrer com pessoas com um passado no FC Porto», acrescentou na mesma entrevista.
Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, e hoje, para o presidente dos dragões, Villas-Boas é já claramente visto não apenas como um adversário, mas também como alguém capaz de tocar nas principais feridas da gestão do clube e com isso incomodar a liderança vigente.
Acusando o toque, não tem sido o líder do FC Porto capaz de argumentar no mesmo plano ou de responder na mesma moeda. Joga com o passado e com o pretoriano apoio do Super Dragões, realmente pouco preocupados com as contas e muito menos com os negócios que trouxeram o FC Porto ao preocupante cenário financeiro do presente.
Para atacar André Villas-Boas, não teve o histórico presidente portista mais do que a farpa das ausências em assembleias gerais. É pouco? Não. É absolutamente nada! Talvez por reconhecer a dificuldade de responder ao antigo treinador portista.
Incapaz de justificar, ou explicar, o caos financeiro em que SAD portista se encontra, incapaz de reconhecer os erros, incapaz de qualquer autocrítica, agarra-se o líder portista aos troféus do museu. São muitos, são a história do clube, são mérito de quem os conquistou e de quem dirigiu, é inegável, mas uma discussão séria em torno do estado estrutural do FC Porto não pode resumir-se à história do sucesso desportivo. E Villas-Boas sabe disso.
Pelo que já se viu, não parece ter o presidente como rebater as críticas ou as acusações de gestão ruinosa. E quem não tem como se defender, ataca com o que aparece à mão.
Quanto à guarda pretoriana, mais uma vez elogiada pelo número 1 do FC Porto na figura do líder da principal claque do clube, ela, a guarda, que tanto parece movimentar-se na defesa do atual estado de coisas, que tanto defende, a qualquer custo, o presidente, é a mesma que ataca o atual treinador, o desafia, o critica e põe em causa sempre que o resultado de um jogo é desfavorável à equipa.
Claro que depois do que sucedeu na assembleia anterior, não tinha como não correr bem a sessão plenária desta semana. Seria absolutamente grotesco que se repetissem as lamentáveis cenas de há duas semanas. Ao fazer o presidente portista tanta questão de destacar o ambiente normal em que decorreu, agora, a reunião magna dos dragões, saberá, lá no fundo, que não fez mais, afinal, do que reconhecer o momento particularmente tenso em que vive a grande instituição portista, obrigada a um intervalo na guerra norte-sul sempre tão estimada pelo presidente, porque a guerra, por agora, é mesmo só a norte!"
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