"O caminho de Trubin da aceitação pelos adeptos e da confiança dos companheiros, essencial para o sucesso, está quase todo feito
Ultrapassada a fase dos guarda-redes estrangeiros pioneiros, que começou em 1924, no FC Porto, com o húngaro Mihaly Siska, e prosseguiu com Jaguaré, em 1935, no Sporting, e Janos Biri no Boavista, para ter com Bèla Andrasik, cinco anos depois, nos dragões, um ponto final (que não parágrafo), que durou quatro décadas, foi com o húngaro Ferenc Meszaros, campeão no Sporting de Allison em 1982, que se iniciou uma moda de recorrer a guarda-redes internacionais por outros países. Nomes como os de Joseph Mlynarczik ou Michel Preud’Homme são incontornáveis na história do nosso futebol, Ivkovic ou Rodolfo Rodríguez não podem ser esquecidos, bem como Marco Aurélio ou Acácio.
A partir do início deste século, o mercado brasileiro - que passou a fornecer goleiros de grande fôlego, com uma relação qualidade/preço imbatível -, passou a ser o alvo preferencial dos nossos clubes. Helton, que chegou ao nosso País via Leiria, foi uma referência do FC Porto, até que a filosofia passou a ser de contratar guarda-redes já feitos, em fim de carreira: assim, Artur Moraes ou Júlio César chegaram ao Benfica, Marchesín ao FC Porto e, mais recentemente, Adán ao Sporting. Pelo caminho, através de uma aposta séria e bem conseguida na prospeção, o Benfica foi capaz de recrutar Oblak e Ederson, ainda muto jovens, dois dos melhores guarda-redes da atualidade, virando a seguir agulha para outra via quando contratou Odysseas Vlachodimos ao Panathinaikos por 2,4 milhões de euros. E foi nessa mesma senda, de ir à procura de guarda-redes jovens com grande potencial que chegou à Luz Anatoliy Trubin, 22 anos, por dez milhões de euros, ficando o Shakhtar Donetsk com 40 por cento das mais-valias de uma possível futura venda.
Internacional pela Ucrânia desde os 19 anos, Trubin apresenta grandes parecenças, no estilo e na compleição física, com o belga Thibaut Courtois. Escolha de Rui Costa e Roger Schmidt, que queriam um guarda-redes que desse mais do que aquilo que Vlachodimos podia entregar, especialmente no jogo com os pés, os primeiros tempos de Anatoliy Trubin na Luz não foram fáceis. A mudança de realidade marcou-o, a situação particular do seu ex-clube e do seu país, a do Shakhtar periclitante, com a casa às costas, a da Ucrânia, dramática, dificultou mais ainda as coisas, e o jogo com o Salzburgo na Luz, onde mostrou grande intranquilidade, deixou dúvidas quanto ao acerto da sua contratação. Porém, uma grande penalidade decisiva defendida em Portimão, deu-lhe a confiança de que necessitava e acelerou-lhe o processo de integração. Muito forte debaixo dos postes (tal como Vlachodimos), ganha ao grego, em parte, graças a uma envergadura impressionante (e a uma boa técnica), que tapa a baliza, nos lances de um-contra-um, precisa ainda de evoluir na abordagem aos cruzamentos, departamento onde o entrosamento com os seus defesas é fundamental, e é francamente bom a jogar com os pés, vendo-se ainda, neste aspeto, uma grande margem de evolução.
Finalmente, a cereja no topo do bolo de Trubin no Benfica, a defesa, já em tempo de compensação a um remate de Banza, que daria o empate ao SC Braga, merece ser vista com sintonia final. Anatoliy Trubin tinha o peso todo sobre a perna esquerda (estamos a falar de 1,99 m de guarda-redes) e mesmo assim foi capaz de evitar o golo arsenalista defendendo, de recurso, in extremis, com o pé direito. Sem ter a espetacularidade de outro tipo de intervenções, foi uma defesa que, além de ter acrescentado dois pontos à conta dos encarnados, quase impossível, porque desafiou as leias da física, onde revelou reflexos apurados e agilidade surpreendente. Haverá, por certo, jogos em que Trubin será mal batido (toca a todos), mas o caminho da aceitação pelos adeptos e da confiança dos companheiros, essencial para o sucesso, está quase todo feito..."
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