"A atual Seleção Nacional, como diz José Mourinho, faz duas equipas com aspirações ao Euro. Mas que dizer daquela de 1984?; Paulo Fonseca, a outra vítima de Kelvin; lesar é...
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Quando Portugal não era cliente das grandes competições, o Brasil era o meu plano B. Ainda hoje custa recordar aquele traumático 5 de julho de 1982, dia em que um hat trick de Paolo Rossi garantiu à Itália triunfo (3-2) que afastou a canarinha do Campeonato do Mundo de Espanha num Maracanazo no Sarrià de Barcelona.
Os transalpinos sagraram-se campeões à custa da Alemanha (3-1) mas, sem recorrer ao Google, dessa squadra azzurra lembrava-me de cabeça — afinal, não há Mundial como o primeiro de que temos memória — apenas de Zoff, Bergomi, Cabrini, Gentile, Tardelli (a expressão facial a festejar o golo que marcou aos germânicos é um hino à emoção pura), Bruno Conti e Rossi. Já o onze brasileiro continuava na ponta da língua, sem ajuda da internet: Waldir Peres, Leandro, Óscar, Luisinho, Júnior, Cerezo, Falcão, Sócrates, Zico, Éder e Serginho.
Moral da história: o Brasil de Telê Santana tornou-se património imaterial da humanidade futebolística, a Itália, essa, ergueu o troféu no Santiago Bernabéu. Os melhores jogadores nem sempre sorriem no fim, à atenção da Seleção, que parte como uma das favoritas — a par de França, Inglaterra e Alemanha, aqui fica o palpite… — à conquista do Euro que na terça-feira se inicia para as nossas cores diante da Rep. Checa.
Será esta a equipa das quinas com a maior quantidade de talentos, capaz de formar duas seleções favoritas, como sentenciou José Mourinho? Talvez seja, sim. Em qualquer posição, sobram boas soluções, algumas que até assistirão à prova no sofá, por lesão ou decisão de Roberto Martínez.
Ora aqui está uma boa oportunidade para viajar até 1984, o Euro de França, o primeiro para mim e para Portugal. Na sexta-feira fez 40 anos que nos estreámos em Europeus, nulo com a RFA, trajeto terminado com desaire aos pés de Platini e companhia nas meias-finais, outro trauma de infância. Por falar em fartura de opções, que dizer daquela seleção orientada por um quarteto de treinadores (Fernando Cabrita, José Augusto, António Morais e Toni), numa decisão da FPF que hoje pareceria uma anedota?
Bento, Damas, João Pinto, Veloso, Lima Pereira, Álvaro, Eurico, Sousa, Jaime Pacheco, Frasco, Carlos Manuel, Chalana, Nené, Jordão, Gomes ou Diamantino, no auge deles, lutariam por um lugar no onze em 2024. E não esquecer que Humberto Coelho, Alves, António Oliveira, Manuel Fernandes ou Futre, por diferentes razões, não foram a jogo. Estou a ficar velho...
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A seguir ao Benfica, Paulo Fonseca foi a grande vítima de Kelvin. O golo do brasileiro — ao minuto 90+1 mas que teimamos continuar a situar aos 90+2’ — encaminhou o FC Porto para um título que parecia impossível de alcançar e na preparação da época seguinte os dragões, iludidos pelo milagre, julgaram que Licá, Josué, Herrera ou Carlos Eduardo compensariam, por exemplo, as saídas de James e João Moutinho.
O novo treinador do Milan — não há português ao leme de clube mais titulado no mundo — substituiu Vítor Pereira naquele verão de 2013 e como reconheceria depois não estava preparado, digo eu, para alguns vícios. «Paulo Fonseca batia à porta para entrar no balneário, não abriam e diziam-lhe: ‘O treino é só às 10.30 h’. Eram muitos egos», contou, em 2023, ao Expresso, Tiago Rodrigues, antigo médio dos portistas.
Paulo Fonseca voltaria ao Paços de Ferreira, um passo atrás para dar desde então muitos à frente.
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A auditoria forense a transações de 51 jogadores do Benfica, entre 2008 e 2022, concluiu que a SAD encarnada não foi lesada, mas apontou lapsos e deixou recomendações. Após ler o documento, a definição de lesar no meu dicionário é estranhamente diferente..."
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