Para as novas gerações, que busca sensações próximas do epicentro, ver o jogo no conforto do lar, pela televisão, deixou de ser a prioridade e passou a ser a alternativa…
Há um fenómeno que merece reflexão, por desafiar a lógica. Em julho do ano passado, embalado pelo título da época anterior, por uma campanha europeia prestigiante, e pelo regresso, que entusiasmou os adeptos, de Angel Di María, o Benfica viu esgotarem-se, num ápice, os Red Pass, e de repente ficou com uma lista de espera de 14 mil candidatos ao título de época. Em 2024, depois de uma época futebolisticamente pobre, que nada acrescentou ao prestígio europeu, apenas ‘disfarçada’ pela Atalanta, cujo sucesso abriu as postas da entrada direta na Champions aos encarnados, marcada ainda por alguma convulsão social, os lugares anuais, que subiram de preço, voaram a uma velocidade ainda maior, e a lista de espera subiu dos 14 para os 17 mil. Lembrei-me então de uma viagem que fiz em 2008 a Manchester (onde entrevistei Durão Barroso, então presidente da Comissão Europeia, num camarote de Old Trafford) e de me ter deparado com uma fila que dava a volta ao Teatro dos Sonhos. «É para garantirem bilhetes?», perguntei, ao que me responderam: «Não, é para se inscreverem na lista de espera para os lugares anuais que já vai em 80 mil.»
Aqui chegados, deparamo-nos com uma realidade, relativamente nova entre nós, mas que já tinha chegado a Inglaterra há várias décadas, que é a da valorização crescente que as gerações mais recentes dão ao espetáculo ao vivo, na medida da partilha, da imersão na sensação de pertença, na busca por sensações tão próximas quanto possível do epicentro. Ou seja, ver o jogo pela TV, no conforto do lar, deixou de ser a prioridade e passou a ser a alternativa. É preciso que todos os clubes (e alguns já o entenderam) percebam esta mudança e ajam em conformidade, captando, e não afastando dos estádios aqueles que são o seu público-alvo. Estamos no início de mais uma temporada e este é o tempo certo para que sejam tomadas as medidas adequadas, mesmo que difíceis, para ter as bancadas cada vez mais cheias. Quem não perceber isto tem um grande futuro atrás de si…
José Manuel Delgado
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