"Acredito que sim.
A geração mais velha está genericamente satisfeita com os formatos existentes atualmente no desporto pelo que a compatibilização com os desejos das gerações mais novas que tendem a sentir-se mais atraídos por espetáculos de ação curta e agitada combinada com entretenimento, animação e música, não se adivinha nada fácil de fazer. Além disso, os desportos emergentes, pensados e desenhados para as gerações mais novas, vão ainda criar uma pressão adicional para a mudança pelo que os próximos tempos serão de grande competição no mercado do entretenimento.
Olhemos agora para os exemplos do futebol, râguebi, ténis ou golfe que nos podem ajudar a ilustrar esta realidade e os desafios que enfrentam para o futuro. Sendo o futebol a maior modalidade do mundo também parece ser ao mesmo tempo a mais conservadora já que o jogo, regras e competições se mantêm praticamente sem alterações nas últimas décadas. Para além do VAR pouco mais se introduziu pelo que continuar a insistir em jogos de 90 minutos onde apenas se disputam cerca de 60 minutos com poucos momentos de emoção deviam deixar os responsáveis desta modalidade aterrorizados para o futuro.
No extremo oposto, vemos o râguebi a crescer de forma sustentada em praticantes, adeptos, receitas e popularidade através da introdução de tecnologia, transparência, conteúdos apelativos e novos formatos de competições. O ténis e o golfe vão ter que lidar de forma séria com a duração dos seus jogos e competições tendo, obrigatoriamente, que alterar regras, regulamentos, sistemas de pontuação e formatos de competição, sob pena de perderem protagonismo e atenção no futuro.
Esperam-se assim profundas alterações e introdução de várias novidades nas competições, cada vez mais pensadas para satisfazer os novos desejos dos novos consumidores. Imagine o campeonato ibérico de futebol. Imagine dois campeões de uma determinada modalidade numa época só. Imagine o torneio de verão e de inverno. Imagine o campeonato do Natal. Imagine jogos a partir da meia-noite para gerações mais novas. Imagine que o formato de playoff é substituído por um novo modelo. As possibilidades são infinitas e a criatividade dos gestores vai disponibilizar ao mercado soluções nunca antes vistas.
Por outro lado, a tecnologia vai empoderar o adepto que terá alguma margem para customizar o desporto à medida dos seus desejos. Podemos facilmente imaginar no futuro as gerações mais novas a exigir e consumir competições de robots contra pessoas, atletas híbridos, ou seja, pessoas com peças de robots ou até assistir a uma espécie de jogos olímpicos dos robots.
Ao mesmo tempo veremos o fenómeno crescente dos esports a chegar cada vez mais longe e a captar cada vez mais praticantes, adeptos e patrocinadores bem como ao crescimento dos desportos de fantasia onde os adeptos vão, por exemplo, poder gerir equipas de uma forma muito real. A possibilidade de ser dono de um clube sem ter de ser milionário vai estar disponível em plataformas digitais."
Daniel Sá, in Record
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