quarta-feira, 11 de dezembro de 2024

SEM ARTE E SEM ENGENHO...



 Se o Bolonha saiu com um empate a zero da Luz, deve-o ao seu guarda-redes, que evitou dois golos cantados. Encarnados demasiado expectantes na primeira parte, perceberam, na segunda, que eram francamente melhores.

Será que os dez pontos que o Benfica soma (e o Sporting, já agora) chegam para aceder ao playoff da Champions? Muito provavelmente, sim. Dois é que não vão chegar, e foi com esse ‘embrulho’ que o Bolonha saiu da Luz, onde só a vitória lhe interessava, tornando inexplicável a ‘cera’ que fez, com perdas de tempo do guarda-redes e simulações de lesões (toleradas por um árbitro sem personalidade), como se o empate fosse um objetivo importante.
Diga-se, desde já, que o Benfica fez mais do que o suficiente para ganhar, apesar da primeira parte timorata que assinou. Skorupski, internacional polaco (jogou na última vitória de Portugal em Varsóvia), esteve numa noite em que até o vento parou com as mãos, e irá engrandecer o seu álbum de memórias com uma defesa extraordinária a um remate à meia volta de Di María (41), e depois, aos 67 minutos, realizou uma parada impossível a remate de Pavlidis, quando o estádio da Luz já gritava golo. Além destes momentos, ainda se mostrou seguro no jogo aéreo (que salvou o Benfica no Mónaco) e teve outras defesas de que pode orgulhar-se. Foi ele o principal obstáculo entre o Benfica e os três pontos em disputa.




Com o seu figurino habitual, um 4x2x3x1 que muitas vezes passa a 4x3x3, e no momento de pressão alta a 4x4x2, o Benfica até começou o jogo em grande estilo, pois logo aos dois minutos Pavlidis meteu a bola no fundo das redes transalpinas, num lance que pareceu legal até as imagens televisivas mostrarem que o grego estava um pé fora-de-jogo. A partir desse minuto, e especificamente a partir de um passe suicida de Florentino para a zona central, que gerou uma situação perigosa (5), o Bolonha cresceu em confiança e o Benfica inexplicavelmente retraiu-se. A equipa de Bruno Lage passou a marcar à zona, muitas vezes recolhida no seu primeiro terço, deixando ao Bolonha espaço e tempo para mandar na partida, estabelecer ritmos e chegar ao intervalo com uma vantagem na posse de bola de 56 a 44 por cento. Contra uma equipa de Itália e dirigida por um treinador de nome Italiano, seria de esperar que o Bolonha não jogasse à italiana, cínico, a meter gelo no jogo, à espreita de uma nesga para levar o seu jogo de paciência a bom porto? Foi o pior período do Benfica, que em vez de jogar viu jogar, sem que houvesse quem desse um grito e acordasse as hostes, que só animaram com o pontapé-maravilha de Di María. Mas expliquemos um pouco mais em detalhe a razão de tanta posse de bola do Bolonha: a jogar em 4x2x3x1, os transalpinos juntaram muitas vezes o duplo pivot com o trio que atuava nas costas do ponta de lança, ficando com cinco elementos no meio-campo, onde o Benfica tinha apenas três (ou quatro, quando Arkturkoglu baixava). Daí que tenha tido períodos tecnicamente evoluídos, mas sem pressão encarnadaque obrigasse ao erro.




SORTE DO JOGO DE COSTAS
Para dar ideia da forma como as coisas se alteraram no segundo tempo, usemos os números. Nos derradeiros 45 minutos, o Benfica transformou a desvantagem na posse de bola de 44/56 numa vantagem de 52/48. Porquê? Apenas porque perdeu o medo, foi agressivo e virou o tabuleiro do conforto onde os italianos estavam a jogar. Bruno Lage só operou mudanças aos 72 minutos (Pavlidis e Arkturkoglu por Amdouni e Beste), reservando a última (Kokçu por Arthur Cabral) para os 80. É verdade que com sangue fresco encarnado os italianos passaram a sofrer muito mais, fosse pela tripla Bah, Aurnes, Di María, na direita, ou por Carreras e Beste na esquerda. Mas ainda antes das substituições já havia outro Benfica, e isso nada teve a ver com a tática ou com os jogadores (tudo igual), mas com a dinâmica e a intensidade, afinal duas condições que fazem toda a diferença no futebol moderno.
Acabou por ser quase cruel ver como uma equipa estava a ser tão melhor que a outra e a bola teimava em não querer entrar, talvez com os Deuses do futebol a castigarem o Benfica pelo tempo que desperdiçou numa primeira parte amorfa. Deste jogo, onde Di María foi o virtuoso do costume e Tomás Araújo deu à defesa a profundidade que precisava, Lage deverá tirar algumas ilações e questionar-se em relação a questões coletivas e individuais: do ponto de vista coletivo, a relação com o adversário a meio-campo carecerá de estudo aprofundado; no campo individual, apesar de toda a entrega de Pavlidis e da importância que tem no processo defensivo, talvez seja tempo de dar mais minutos a Arthur Cabral, capaz de maior letalidade na hora da verdade.
Em resumo, a Luz saiu de bem com a equipa, que atingiu momentos de galvanização na metade complementar. Seguem-se Barcelona e Juventus, já em 2025, mas o Benfica continua vivo na Champions…
DESTAQUES:
Di María jogou para vencer, mas desinspiração da equipa no momento da finalização penalizou argentino; Tomás Araújo, que luxo de central!
O melhor em campo: Di María (8)
Tanta magia e nem um coelho saiu da cartola. Começou cedo a mostrar a vontade de bordar a dourado o nome no jogo, com passe de golo para Pavlidis, que não valeu por fora de jogo do grego. Aos 29', porém, tentou ele próprio visar a baliza, mas não evitou um adversário e só ganhou o canto. Ao minuto 43 foi ainda mais perigoso e foi então Skorupski a evitar a vantagem encarnada. A segunda parte, porém, foi ainda melhor e à boleia do seu pé esquerdo a equipa foi crescendo no jogo. Passes de qualidade em todas as direções, dribles que faziam realmente a diferença para a sua equipa e uma tentativa de canto direto com o jogo mesmo a terminar foram notas altas, mas o argentino esteve muito bem em praticamente todas as ações. Não fez golos ou assistências, mas terá sido uma das melhores exibições desta passagem na Luz. Ou mesmo a melhor.
Trubin (6) — Ao minuto 10 fez uma bela mancha e desarmou Dallinga, é o que ficará para a história, mas errou claramente um segundo antes, quando hesitou e permitiu que o adversário chegasse primeiro à bola. Aquelas hesitações que eram a face negra do jogo de Vlachodimos. Não voltou, no entanto, a mostrar fraquezas, mas também só trabalhou seriamente mais uma vez, quando, ao minuto 51, aqueceu as mãos com bola forte de Dallinga.
Bah (6) — Iniciou a partida com muita cautela, face à forma corajosa como o Bolonha se apresentou na Luz, e não foi visto praticamente a passar a linha do meio-campo na primeira parte. No segundo tempo, então sim, envolveu-se claramente nas ações ofensivas da equipa e ajudou a criar desequilíbrios. E esteve perto do golo ao minuto 59, quando atirou à baliza o que poderia ter sido um cruzamento, quase surpreendendo.
Tomás Araújo (8) — Um passe de 50 metros ao minuto 36 foi das melhores coisinhas que foram vistas na primeira parte. Esteve em grande nas dobras, nas compensações, nos cortes, na velocidade em todo o jogo. Um luxo.
Otamendi (7) — Ultrapassado por Dallinga aos 51', foi rápido a recuperar e chegou a tempo de evitar a recarga. Ganhou quase sempre os seus duelos e foi inteligente a gerir os problemas disciplinares da equipa, atraindo a atenção do árbitro e desviando-a, por exemplo, de Kokçu, que estava a pedir sarilhos.




Álvaro Carreras (7) — Pouco inspirado ofensivamente na primeira parte... até aos 43', quando sacou lance espetacular, bola por um lado, espanhol pelo outro, antes de cruzar impecavelmente para Di María. Dois minutos depois assumiu a finalização, mas atirou contra um adversário, sinal, ainda assim, de que poderia ser um desequilibrador na segunda parte. E foi mesmo!
Aursnes (6) — Em boa posição aos 36', nem sequer tentou o drible, limitou-se a atirar contra o adversário, aos 40' errou passe, aos 41' uma receção falhada. Salvou-se o minuto 45, quando serviu bem Carreras. Subiu de rendimento na segunda parte, oferecendo a Di María uma ocasião para marcar (Amdouni talvez fosse melhor opção), mas pareceu, às vezes, lento e cansado.
Florentino (5) — Não entrou bem no jogo: primeiro cabeceou uma bola para a frente que poderia ter sido facilmente dominada com o peito e guardada, depois, ao minuto 5, mais grave, permitiu que Dallinga intercetasse passe mesmo em frente à área do Benfica. Teve sorte, pois o remate de Fabbian foi horrível. Foi aquecendo à sua maneira, mas nunca subiu de um nível médio.
Kokçu (5) — Aos 38', boa saída em drible, seguida de passe, mas esteve sempre muito amarrado na primeira parte. Com a equipa recuada, sente mais dificuldade, não é jogador de equipa defensiva. Depois, no segundo tempo, apesar de mais ativo e ofensivo, teve problemas disciplinares. Saiu com um amarelo... e o risco do segundo.
Pavlidis (4) — Finalizou com qualidade ao minuto 2, mas estava adiantado. Quando estava em jogo, não conseguiu marcar. Sente-se a aflição do grego, já nitidamente afetado pela pressão. Aos 16', fugiu pela esquerda e, sem apoio, atirou por cima, aos 24' precipitou-se, errando o passe depois de intercetar a bola no ataque, segundos depois viu amarelo. Aos 38', perdeu a bola depois de gesto tecnicamente imperfeito. Foi, todavia, à luta e aos 65' esteve bem perto de marcar. Dominou bola difícil, mas não evitou o voo de Skorupski.
Akturkoglu (6) — Aos 29', poderia ter isolado Di María, passe saiu comprido, aos 36' recolheu belo passe de Tomás Araújo e serviu Aursnes. Foi generoso, mas nunca teve a sua ocasião.
Amdouni (6) — Entrou aos 72' e esteve duas vezes perto do golo, Skorupski não o permitiu.
Beste (5) — Entrou aos 72' e manteve a energia no flanco.
Arthur Cabral (4) — Entrou aos 80' e mal tocou na bola. Mas não mostrou grande frescura

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