“Senhoras e senhores Benfiquistas, apertem os cintos, estamos agora a atravessar uma fase de grande turbulência e a aterragem pode ser extremamente dolorosa. Rezem!”
Em vez do monocórdico grave do comandante Rui Costa, fechado no “toilette” a fumar às escondidas indiferente ao alarme estridente e aflitivo, ouve-se uma gravação automática, muitas vezes passada, que prepara os passageiros para o pior, ao mesmo tempo que a tripulação se relaxa em volta de um “matero” e vai entremeando a degustação da sua infusão predilecta com uns “fernets com coca”, enquanto a “collita” e o “chorizo” não saltam da grelha.
Em pleno verão sul-americano, é torturante, “xenófobo” como agora se diz, obrigar os bons dos argentinos a viver as “fiestas” de Natal e Ano Novo na sensaboria de um bucólico campo de “papoilas saltitantes” a sul do Tejo. Por isso, a ponte aérea Seixal-Ezeiza está “overbooked” de Otamendis e Di-Marias de velha geração, esgotados de tanto “check-in” e desembarque, as ideias confusas pelos fusos horários destrambelhados, incapazes de dar um salto ou ganhar um “sprint”, como se vivessem permanentemente de “cinturones abrochados”.
Qualquer hospedeiro de terra vivendo nas nuvens, como Bruno Lage, nos dirá que o roteiro de um passageiro frequente de viagens transatlânticas é o complemento perfeito, espiritual e físico, para a vida pacata e desinteressante na Herdade da Aroeira, entre umas tacadas de golfe e umas ondas da Fonte da Telha. Ir ali a Buenos Aires e voltar a tempo do treino das dez faria subir a adrenalina e os “índices de concentração”, uma vez que se trata de adultos experientes e responsáveis.
O avião Benfica está habituado a voar com menos motores que os necessários, mas o problema é que as avarias provocam atrasos irrecuperáveis, desaproveitando as rajadas de feição que vão soprando na Segunda Circular desde que o piloto Amorim bateu as asas.
Aqueles golos do Braga na Luz remetem-nos para as tormentas do longo curso: pés pregados ao chão quando é preciso arrancar em velocidade, corpos a borregar por inércia quando o adversário ataca pelas alturas.
Na sala de espera, a multidão ansiosa canta “E salta Otamendi, e salta Di Maria” para acordar a tripulação perante a aproximação do desastre, mas eles já não podem mais, atingiram o limite de horas de voo, falta-lhes a “genica que a qualquer engrandece”.
Os controladores não respondem à chamada, este Benfica aborta a descolagem, é preciso traçar um novo rumo. Felizmente, estes são dias de azáfama no escritório da Agência de Viagens Mendes e nos “airshows” do Mercado de avionetas de aluguer.
Vêm aí novos destinos de sonho! E nem é preciso apertar os cintos…
João Querido Manha, in Facebook
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