Aconteceu o esperado: Boavista sem pernas para se opor ao Benfica. Um italiano, um grego e um turco marcaram os golos que permitem aos encarnados estarem, pelo menos até ao início do Aves SAD-Sporting, na liderança na Liga.
Os números não eram favoráveis ao Boavista. Perdera os últimos sete jogos da Liga e neles só marcara quatro golos. Além disso, entrava em campo com três homens que não jogavam há quase um ano: o guarda-redes Vaclik, o defesa Lystcov e o extremo Koné. O Benfica, por seu lado, a jogar em casa e após ter eliminado o Mónaco na Champions, estava moralizado. E relativamente fresco, pois Bruno Lage manteve apenas Tomás Araújo, Otamendi, Carreras, Aursnes e Kokçu como titulares.
A esperança axadrezada centrava-se em Lito Vidigal, o homem que pegou no leme após a saída de Cristiano Bacci, especialista em sacar pontos em casa de grandes. Porém, o Benfica desbloqueou relativamente cedo o golo (28) e, quando Reisinho foi expulso no início da segunda parte (51), dificilmente o Boavista entraria na discussão do resultado. Terminou 3-0, como poderia ter terminado com mais dois ou três golos encarnados. Vida difícil para Lito Vidigal e Bruno Lage, pelo menos durante cerca de 24 horas, volta a ver o Benfica no topo dos topos da Liga.
O Benfica teria de apostar na paciência para furar aquilo que se previa fosse um muro construído em redor da baliza adversária. E assim foi. O Boavista entrou em campo com estratégia bem definida: três centrais (Lystsov, Abascal e Fogning), dois alas bem encostados aos centrais (Agra e Joel Silva), quatro médios (Van Ginkel, Seba Pérez, Reisinho e Koné) e um avançado (Bozenik). Compreensivelmente, Lito Vidigal queria fechar o máximo de caminhos para a baliza de Vaclik e depois, se fosse possível, atacar a de Samuel Soares.
O Benfica teve paciência e, de início, poucas possibilidades de furar o muro. Leandro Santos e Carreras, sobre as alas, eram quase extremos puros, alavancando o poder ofensivo encarnado. Kokçu era o médio mais central, com Aursnes sobre a direita e Dahl no lado esquerdo. Na frente, Amdouni, Belotti e Bruma.
Só para lá dos 20 minutos, na sequêcia de paciência levada qo quase extremo, o perigo começou a chegar. Amdouni deu o primeiro sinal de golo e, pouco depois, foi a vez de Bruma aparecer. E apareceu para desequilibrar sobre a esquerda, cruzar na perfeição para o remate não menos perfeito de Belotti. Era o golo de estreia do italiano com a camisola das águias.
A parte final do primeiro tempo foi dramática para o Boavista. Aparentando falta de pernas para evitar as entradas de adversários, sofreu diversos remates muito perigosos, quase todos através de Belotti. A trave (36) e as mãos de Vaclik (38 e 42) evitaram que a diferença aumentasse.
O início da segunda parte consumou a quase certa oitava derrota seguida para o Boavista. Reisinho, na sequência de abertura de Kokçu para Bruma (remate rente ao poste direito), pisou com demasiada força a perna esquerda do turco e viu o cartão vermelho.
Reduzido a dez, a perder e em aparentes dificuldades físicas, como reagiria o Boavista a mais de 40 minutos de poder encarnado? Foi-se aguentando, com Vaclik a manter alto o nível exibicional. Até que, aos 68, Bruno Lage trocou Belotti por Pavlidis e Amdouni por Akturkoglu.
Gente fresca frente a gente cansada. E menos de dois minutos depois, após cruzamento rasteiro de Akturkoglu na direita, Pavlidis encostou para o fundo da baliza axadrezada, num golo muito idêntico ao primeiro, mas com intérpretes diferentes. O nome do vencedor estava, aparentemente, fechado.
Logo de seguida, 3-0, de penálti, após falta de Agra sobre Dahl. E a palavra aparentemente deixou, em definitivo, de fazer sentido. O único ponto de interesse dos últimos 10/15 minutos era saber se o resultado aumentaria. Lage, porém, não estava de acordo e ainda lançou Nuno Félix e Diogo Prioste, terminando o Benfica com cinco jogadores formados no Seixal: Samuel Soares, Tomás Araújo, Leandro Santos e ainda Félix e Prioste.
DESTAQUES:
Kokçu liderou equipa ligada à corrente frente ao Boavista, este sábado; ponta de lança e muitos outros lutaram muito por goleada.
MELHOR EM CAMPO - (8) Belotti
Não é o mais elegante ou habilidoso dos pontas de lanças, mas teve uma exibição gigante, à qual só faltaram mais golos. Fez aos 18' o primeiro remate enquadrado do jogo, aos 27' tentou de cabeça e aos 28' finalizou com competência um cruzamento de Bruma. Teve várias, muitas outras oportunidades para marcar de novo, surgindo veloz e com sentido de oportunidade em zonas de finalização, mas o guarda-redes do Boavista negou-lhe noite ainda mais vistosa. Aos 36', Belotti viu um remate dele ser desviado para o poste, e outros, perigosos, aos 38' e 61', foram defendidos. A esta fome, o italiano juntou grande disponibilidade para ajudar a defender, para recuperar bolas e também para servir os companheiros — aos 42' ofereceu chance de golo a Samuel Dahl e aos 67' a Bruma.
(7) SAMUEL SOARES — Mostrou segurança no pouco trabalho que teve. Aos 90+1' defendeu bem um remate de João Barros.
(7) LEANDRO SANTOS — Começou um pouco hesitante no momento defensivo, mas foi crescendo à boleia do bom jogo ofensivo, com cruzamentos de qualidade e que colocaram a bola em zona frontal à baliza, potenciando as ações dos avançados, principalmente de Belotti.
(7) TOMÁS ARAÚJO — Apagou alguns potenciais focos de perigo, de forma veloz e eficaz, sobretudo na segunda parte, com a entrada de Diaby.
(7) OTAMENDI — Ganhou todas as bolas pelo ar e lançou ataques com passes de qualidade, como o que fez para Dahl aos 12'.
(7) CARRERAS — Menos projetado no flanco e a funcionar quase como terceiro central, o espanhol fez um grande jogo. Sem lapsos na defesa, cruzou com muito perigo várias vezes e deixou Amdouni na cara do golo aos 54' com um passe fantástico.
(7) AURSNES — Faz tudo com uma simplicidade que contagia a equipa e foi importantíssimo no momento da circulação com bola e na pressão sem bola. Aos 47' rematou com perigo e ainda esteve em outros ataques prometedores.
(8) KOKÇU — Estar sempre de frente para o jogo, sem se preocupar demasiado com o que se passou nas costas dele, permitiu ao criativo turco ser o 6, 8 e 10 que a equipa precisou. Recuperou bolas e foi determinante na construção. Aos 70' fez um grande passe para Akturkoglu servir a Pavlidis o segundo golo; aos 73' viu o guarda-redes negar-lhe golo; aos 76' fez o passe no lance em que Dahl sofre penálti; aos 77' não tremeu e converteu o terceiro golo de penálti. Quis muito e conseguiu ser patrão das águias.
(7) SAMUEL DAHL — Muito sólido, equilibrado a defender e a atacar, com qualidade e muito em sintonia com a equipa, apesar de só ter sido contratado em janeiro. Combinou várias vezes com Belotti e Carreras. Aos 42' rematou com perigo, aos 43' ofereceu boa chance a Carreras. Aos 61' voltou a oferecer ao italiano oportunidade para golo e aos 76' sofreu falta para o penálti.
(7) AMDOUNI — Dinâmico e com muitas ideias, a partir do flanco direito para o centro. Tentou vários remates, que invariavelmente foram parados pelo guarda-redes. Também teve ponta de ineficácia, aos 54', isolado, apesar do mérito do guarda-redes, e aos 56', quando atirou por cima da trave. Cruzou no lance de Belotti ao poste, aos 36'.
(8) BRUMA — Da esquerda para o centro, a combinar com Dahl ou Belotti, Bruma colocou muita qualidade no ataque. Cruzou para o golo de Belotti, rematou ao lado da baliza, por cima dela e para boas defesas. Foi fantasista com capacidade para dar profundidade ao jogo da equipa encarnada.
(7) PAVLIDIS — Apenas dois minutos depois de entrar em campo fez o segundo golo, que colocou ponto final na incerteza em relação ao vencedor. Aos 73', batalhou e criou situação que deixou a bola à mercê da finalização de Kokçu, mas, como em tantas outras situações, o guardião Vaclik apareceu.
(7) AKTURKOGLU — Boa entrada em jogo do extremo turco, no sitio certo e com talento para fazer a assistência para o golo de Pavlidis. Teve outras situações para deixar a marca dele, mas os remates saíram-lhe desalinhados.
(5) ARTHUR CABRAL — Batalhou na área e também fora dela, mas não teve lances suficientes.
(6) NUNO FÉLIX — Foi inteligente a ocupar os espaços defensivos e mostrou qualidade com a bola no pé e passá-la para a frente.
(6) DIOGO PRIOSTE — Desempoeirado na forma como pediu e entregou a bola. O médio estreou-se a jogar pela equipa principal e, além de qualidade, não transpareceu nervosismo.
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