sábado, 24 de maio de 2025

ESTA FINAL NÃO É PARA TREINADORES

 


Porque o futebol não é jogado por futebolistas, mas por pessoas que jogam futebol, tal como diria o saudoso professor Manuel Sérgio, mais do que nunca a questão mental terá marcado a semana dos dois finalistas da Taça de Portugal, precisamente os dois rivais que disputaram o título de campeão nacional até à última jornada.

E não poderia ser mais contrastante o estado de espírito emanado para o exterior de Benfica e Sporting: as águias, derrotadas, naturalmente fechadas no seu ninho, assistindo à festa na noite do título, no dia a seguir ao título e às muitas manifestações públicas dos jogadores leoninos até ao dia de hoje. Numa arrojada decisão da SAD (que naturalmente se saúda embora admitamos ser parte interessada), os responsáveis sportinguistas permitiram que 16 elementos do plantel concedessem entrevistas aos mais variados órgãos de informação portugueses no espaço de poucos dias: Maxi Araújo, Rui Silva, Catamo, Gyokeres, Hjulmand, Debast, Quenda, João Simões, Diomande, Eduardo Quaresma, Nuno Santos, Pedro Gonçalves, Matheus Reis, Daniel Bragança, Trincão e Harder. Graças a isso foi possível perceber muitas dinâmicas de balneário e, na esmagadora maioria dos casos, aumentar os níveis de empatia, algo muito valorizado até do ponto de vista do marketing. É uma prática invulgar, pela quantidade, nos clubes portugueses (talvez um dia isso possa ser possível também noutros períodos da época) e pode até ser considerado por muitos um risco tendo em conta que ainda há um título importante por disputar, ainda para mais diante do velho rival.
De um lado tivemos, portanto, jogadores moralizados, libertando a pressão das mais variadas formas (verbalizar é uma delas) mas mantendo a disciplina, acreditamos, exigida por Rui Borges; do outro, um grupo a lamber feridas sob uma nuvem negra mas garantidamente acossado pelo que viu e ouviu nesta semana – uma situação em si mesma que se veste como fator motivacional e não por acaso nas finais anteriores entre campeão e segundo classificado venceu mais vezes o pior, como se pôde ler ontem nas páginas de A BOLA.
A equipa mentalmente mais saudável estará mais perto de vencer no Jamor. Resta saber o que é mais saúde: a autoconfiança ou o sentimento de honra ferida. Esta semana foi para os gestores de homens, não para os treinadores - ou a verdadeira dimensão de um líder de balneário.
Fernando Urbano, in a Bola

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