sábado, 17 de maio de 2025

SEM FÉ E SEM FUTEBOL

 


Benfica precisava de fazer melhor resultado do que o Sporting para ser campeão, mas fezexatamente o contrário; Trubin foi segurando as coisas, até que Pavlidis resgatou um ponto para fechar o campeonato.

Um campeão não falha nos momentos decisivos e é precisamente por isso que este Benfica não podia ser o de 2024/25. Em Braga, a precisar do melhor resultado possível, as águias não foram além de um empate (1-1) que foi arrancado mais pela resiliência de um ou outro, do que propriamente por um futebol que merecia marchar sobre o Marquês.
Não era preciso os deuses estarem loucos para que pudesse haver uma mudança de líder no campeonato, na última jornada, mas a probabilidade de isso acontecer é tão diminuta em Portugal que só sucedeu uma vez em 90 anos de história. Era no futebol e nos seus milagres que os benfiquistas acreditavam e o jogo em Braga foi, praticamente, todo ele um ato de fé.
Trocando Aursnes (lesionado) por Barreiro e Di María por Schjelderup, o Benfica teve duas ocasiões flagrantes de golo. Era cedo no jogo e na jornada, os encarnados podiam passar ali, nem que fosse por instantes, para a frente da Liga, mas também ali Barreiro e Pavlidis atiraram para fora essa possibilidade.




Depois, o Benfica tropeçou. Como sucedera em tantas vezes que podia ter agarrado o destino nesta Liga, uma delas, precisamente, frente ao SC Braga, na Luz, no final da primeira volta. O lance de Araújo e Horta é quase exemplar da temporada. Como se houvesse sempre alguma coisa que puxasse esta equipa para trás neste campeonato. E, neste caso, um lance insólito, um acidente entre os dois jogadores, mas que levou Zalazar para a marca de penálti, pois o responsável da colisão fora o benfiquista. Aí, nesse momento, o Benfica ficou perdido.
Florentino recuperava bolas e mais bolas, mas seria Trubin quem sairia como figura do primeiro tempo. Se o Benfica ainda tinha fé, era pelas defesas que o ucraniano conseguira na compensação da primeira parte.
Ao intervalo, e com 0-0 em Alvalade, havia mais fé do que futebol do lado lisboeta na Pedreira e com Lage a mexer na equipa depois de uma hora de um futebol que praticamente não meteu em perigo os minhotos, Trubin ainda teve de negar o 2-0 a Zalazar. Era preciso agir. Já era antes, mas com aquele lance, tornou-se urgente.




Ora, Di María entrou. Tal como Bruma e Belotti. Ficou por lá Pavlidis, que numa combinação com o argentino empatou para os da Luz. O grego voltou a ser uma raridade futebolística numa equipa encarnada que precisava do melhor de todos, mas que só teve o melhor de Trubin e do ponta de lança.
A partir do 1-1, a fé aumentou, mas só essa. Porque nem com a expulsão de João Moutinho, o Benfica conseguiu sobrepor-se ao SC Braga. Houve perigo nas duas balizas, mas só uma das equipas tinha um jogador a mais . Curiosamente, a que tinha mesmo de ganhar, para, pelo menos, não perder a fé. Trubin ainda evitou a derrota, com o Benfica a tentar com a emoção, o que não conseguira com jogo inteligente e estratégico para ganhar o encontro a um SC Braga que, diga-se, podia perfeitamente ter vencido o duelo, partido por essa altura, jogado em transições.
É certo que de nada valeria um triunfo lisboeta, mas o insucesso não é igual para todos. O modo como se perde diz muito do que se foi. No desporto, para se derrubar um campeão, é preciso ser melhor do que ele. O Benfica podia, pelo menos, ser igual e fazer dos mesmos 82 pontos argumento para adeptos. Nem isso conseguiu, acabou a dois do eterno rival e vai tentar sararferidas no Jamor.
    
DESTAQUES DO BENFICA:
Trubin e Pavlidis impediram a derrota dos encarnados na despedida da Liga.
O melhor em campo:
Pavlidis (8) — Aos 14' recebeu de Schjelderup, trabalhou bem na área do SC Braga, mas errou o disparo, atirando fraco e ao lado. Competente a jogar de costas para a baliza e a rodar, a dar linhas de passe constantes aos companheiros. Ao minuto 48 fugiu à marcação, entrou na área em zona frontal e disparou, mas sem qualidade. Aos 63', sem rodeios, foi direito à baliza e fez um disparo violento, golo. Ainda serviu bem Belotti aos 70'. Nunca se entregou.
Trubin(8)-Primeira ação relevante, afastando por cima da trave bola cabeceada por Paulo Oliveira, logo ao minuto 10. A partir daí, não descansou: aos 20' voltou ao ativo para neutralizar cruzamento perigoso de Víctor Gómez, ao minuto 38 evitou o 0-2, detendo remate de Víctor Gómez bem perto da baliza e antes do intervalo, 45+4', ainda fez mais uma grande defesa, agora para impedir o golo de Roger. A segunda parte também foi trabalhosa. Aos 49' voou pa desviar disparo violento de Zalazar e aos 50' apanhou um susto, entregando mal com o pé — bem pode agradecer a Florentino, que resolveu o problema com belo desarme. Aos 62', porém, voltou a ajudar a equipa, com interceção importante a cruzamento minhoto. Evitou ainda o 1-2, mais uma vez perante Roger, e a acabar fez nova defesa de qualidade, travando bola de João Ferreira.
Tomás Araújo (4) — Com ou sem intenção, derrubou Ricardo Horta, quando lhe pisou o calcanhar. Cometeu penálti. Não esteve particularmente inspirado a defender e a atacar até deixar o jogo, na tal gestão física.
António Silva (6) — O central mais calmo do Benfica, capaz de não perder a cabeça mesmo com o acentuar da descrença. Defensivamente, foi importante, ofensivamente não se fez notar.
Otamendi (6) — O capitão foi dos últimos a desistir, ainda atirando de cabeça, com perigo, mas por cima da trave, já depois do minuto 90. A revolta do costume ao sentir que o resultado não era o desejado, o jogo físico e mental também a um nível relevante, mesmo quando as coisas não corriam bem aos encarnados.
Carreras (4) — Não era a sua tarde, do ponto de vista defensivo e ofensivo. Um toque a mais, uma escorregadela, um cruzamento mal tirado, as coisas raramente saíram bem.
Leandro Barreiro (5) — Ao minuto 6 perdeu oportunidade incrível, atirando ao lado do poste esquerdo quando estava isolado em plena área, só com Hornicek pela frente. Aos 28' reapareceu em zona de perigo, mas deixou escapar a bola anulando logo ali jogada prometedora dentro da área. Ficou na relva, após choque com Víctor Gómez, sem falta, Teve o mérito de manter o seu jogo vivo e a velocidade com que abordou os lances rendeu faltas à sua equipa, amarelos aos bracarenses e muitas dores ao benfiquista.
Florentino (5) — Bem resolvida a asneira com os pés de Trubin aos 50'. De resto, poucas notas altas ou baixas. Os mínimos.
Kokçu (4) — Organizador, em teoria, do jogo do Benfica, raramente teve espaço e raramente se libertou para passar com risco, com qualidade, para fazer um drible desequilibrador ou um remate. Até na marcação de um livre direto em zona frontal foi pouco feliz.
Akturkoglu (4) — Não é o mesmo jogador quando é obrigado a mudar para o lado direito. Perde a capacidade de fazer diagonais e disparar com o pé de dentro, o direito, o seu melhor pé. Mas Bruno Lage lançou Schjelderup em vez de Di María e quando é assim o turco é obrigado a deixar a esquerda. Esta questão não justifica, todavia, alguns erros primários cometidos na condução de bola ou no drible. Foi naturalmente substituído.
Schjelderup (5) — Belo passe para Pavlidis aos 14', momento alto de uma primeira parte em que esteve entre os mais capazes da sua equipa. No segundo tempo foi desaparecendo, até sair.
Di María (5) — Entrou aos 59' e esteve no golo de Pavlidis, no 1-1, com passe simples. Quis fazer algo de relevante a cada bola, mas está longe do pico de forma.
Bruma (4) — Entrou aos 59' e aos 67' encontrou espaço para o remate, mas errou a baliza. E foi (quase) tudo.
Belotti (4) — Entrou aos 59', esteve pouco depois no lance da expulsão de João Moutinho e atirou ao lado aos 70'. Curto.
Tiago Gouveia (5) — Entrou aos 73' e entrou com vontade, com velocidade, desequilibrando pela direita, como aos 80', com fuga e cruzamento de qualidade, e aos 90', com novo centro perfeito, direitinho à cabeça de Otamendi.
Arthur Cabral (5) — Foi o último a saltar do banco, minuto 87', mas esteve perto do golo, com bela cabeçada.

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