quinta-feira, 19 de junho de 2025

BENFICA NO MUNDIAL DE CLUBES: HISTÓRICO



 Finalmente a estreia numa nova e engalanada competição (o Mundial de Clubes), logo contra um grande da América do sul. O início foi vivo e positivo, com ascendente claro, mas sem reflexo no marcador. No meu tempo de jogador do Benfica era costume dizer-se que a base das vitórias assenta em pelo menos igualar o esforço do adversário, porque em cada duelo, em cada lance, se podem ganhar ou perder jogos. Acho que a equipa cumpriu essa velha regra.

Ao contrário, faltou controle para não entrar no conflito que estas equipas promovem e em que são historicamente mestres. O Benfica jogou fora, tal o apoio argentino que chegava das bancadas. Agressividade, apoio e entusiasmo muitas vezes fazem milagres. Se o adversário então, marcar primeiro, está o caldo entornado e ampliadas as complicações. O coração bate mais, a dúvida emerge e a perna fraqueja. O adversário acredita e cerra fileiras. A confiança que a vantagem traz eleva o menor potencial de quem marca.
Na defesa, Dahl esteve nos golos adversários, certo, mas colocar o jogador mais baixo na última zona da estrutura defensiva é atualmente arriscado, porque é para lá que as equipas apontam muitos dos cantos diretos e a maioria dos indiretos.
No primeiro golo do Boca é verdade que o jovem sueco também perde o duelo aéreo, normal face à sua estatura, mas a deficiente cobertura de Florentino não é própria de um médio defensivo com a sua qualidade.
Foi um jogo muito lutado, com os golos da reação a surgirem da agressividade atacante de Otamendi.
Dahl é um jogador sólido, mas fica a dúvida se não teria resultado melhor Gouveia ou Leandro, já adaptados ao lugar. Bem sei que depois da aposta feita é sempre mais simples ajuizar...
Mundialzinho
Quem é que promove uma competição cujo desequilíbrio permite que o marcador possa chegar à humilhante diferença de dez golos? A quem serve tal espetáculo desolador a não ser àqueles que o patrocinam? Uma equipa amadora enfrentar uma das melhores formações da atualidade e a organização permitir-se denominar este evento de Mundial de Clubes, só por graça. Quem mais aproveitou terá sido a malta do Auckland que guardou memórias impensáveis para os seus netos. Com isto, lembrei-me do Campeonato do Mundo de 1986, no México, fase em que a organização da FPF era demasiado má. O primeiro jogo de preparação da nossa Seleção foi então contra uma equipa de funcionários de um hotel de Monterrey, cidade em que jogávamos...Tenho ideia que esta rapaziada do Auckland lhes conseguia ganhar e bem.
Arma secreta
Quem quer ser a arma secreta de uma equipa, sabendo que começa quase sempre no banco? Imagino que só alguém preguiçoso e que não goste de jogar mais tempo, o escolheria ser.
O caso de Amdouni, recém transferido do Benfica, fez regressar esta ideia já antiga, mas interessante. Se o rendimento de alguém vindo do banco é repetidamente feliz, compreende-se que essa opção seja mantida pelo respetivo treinador? Afinal, não se pode estranhar nem condenar a repetição de algo que dá certo. Mas o jogador em causa estará de acordo? Normalmente não. A não ser que se esquive aos grandes esforços ...É aceitável então, que alguém que tem influência marcante nos resultados espere ser premiado, sendo o prémio esperado entrar no onze no jogo seguinte. Amdouni, na perspetiva da equipa, constituiu um bem precioso dada a sua capacidade e versatilidade. Um tipo de opção que agrada aos treinadores ter no banco.
Contra ele também teve o sistema tático mais utilizado, que pede um avançado de maior referência (Pavlidis, Belotti ou Cabral) e a titularidade de dois dos bons alas de que o Benfica dispõe. A verdade também é que quem entra no decorrer do jogo representa uma dificuldade diferente para quem defende, relativamente ao adversário substituído. Por outro lado, o efeito dos substitutos também resulta da sua maior frescura e de poder tirar proveito do desgaste do alheio. Claro que essas vantagens teóricas só fazem diferença se a atitude dos que entram for a melhor e se a inspiração ajudar.
Democracia
Longe vão os tempos, e ainda bem, em que o belo recinto do Jamor quase resumia a sua atividade à final da Taça de Portugal. Felicito a FPF pela abertura do nosso mítico estádio às finais dos campeonatos nacionais secundários.
Passámos de um quase museu, ao qual se limpavam as teias de aranha anualmente, para um espaço mais democrático e útil, onde se escrevem histórias diferentes, mas sempre especiais. Lusitano de Évora e Vitória SC B, foram os brilhantes finalistas do campeonato de Portugal. Já subidos à Liga 3, procuravam juntar à desejada promoção a honra de levantar a Taça, num estádio onde já muito se viveu.
Excelente desafio, equilibrado e emotivo. O Lusitano acabou por vencer justamente, num jogo disputado com correção e um excelente ambiente criado pelos muitos adeptos das duas equipas. Dia de convívio, do popular piquenique, rematado com uma grande Final!
Na decisão por penáltis assistiu-se a algo, penso eu, inédito: duas penalidades seguidas ao estilo do famoso Panenka, convertidas pelo Lusitano (!). Pode ter piada quando a bola entra, mas e se não? É de gabar o sangue frio ou criticar a irresponsabilidade?
Formar e ganhar
Ganhar as competições dos três principais escalões é algo difícil de conseguir, e o Benfica consegue essa tripla conquista nesta época, pela primeira vez. Se a isso juntarmos a conquista da Taça da Liga Revelação e ainda a época muito positiva da equipa B na Liga 2, resulta uma excelente temporada dos jovens do Benfica.
Formar a ganhar sim, mas sem nunca esquecer os critérios de desenvolvimento dos atletas, independentemente das suas idades. Parabéns!
Rui Águas, in a Bola

Sem comentários:

Enviar um comentário