terça-feira, 31 de janeiro de 2017

UM AZAR DO KRALJ


O Luisão foi o jogador com mais remates do Benfica. Há grupos de ajuda para lidar com isso? (pergunta Um Azar do Kralj)
Os escribas do Um Azar do Kralj estão com dificuldades em lidar com o facto do central ter sido o jogador mais perigoso do Benfica no ataque, mas também com a performance artística de Rafa enquanto Dustin Hoffman e Jovic enquanto jovem sérvio perdido na noite de Setúbal na mais recente curta de João Salaviza

EDERSON MORAES

O facto de não ter feito uma única defesa digna de registo fez com que ocupasse a esmagadora maioria do tempo passado em campo a observar os colegas. Não merecia isso.

NÉLSON SEMEDO

Aos 39 minutos trocou de posição com André Almeida, uma alteração táctica que durou até ao final da primeira parte e deverá ser estudada durante os próximos anos. A meio da segunda parte, filmaram-no em close-up quando o jogo se encontrava parado e deu para ver alguma tristeza por ainda não aparecer nas instagram stories do Renato Sanches em Munique.

VICTOR LINDELÖF

Protagonista central da patuscada que resultou no golo do Vitória, num lance em que havia um jogador do Vitória para três do Benfica. Fica a sensação de que podia ter feito melhor, situação que aliás dura há 4 meses.

LUISÃO

Foi o jogador mais rematador do Benfica. Se alguém estiver a ler, digam-nos como é que se lida com isto. Há algum grupo de ajuda para lidar com a depressão causada por estatísticas desportivas?

ANDRÉ ALMEIDA

Pertence a uma espécie única de funcionários que, quando confrontados com a ansiedade de outro cidadão, tendem a responder “ó amigo, só tenho dois braços e duas mãos”. Ninguém diz o contrário, mas caramba.

LJUBOMIR FEJSA

É um clássico. Em todas as séries dedicadas à vida num hospital, dá-se aquele momento na história em que o médico se dirige ao familiar de um paciente em estado grave e lhe explica, antes da primeira visita, que o reencontro não será fácil, que a pessoa que ele conhecia já não é a mesma. Esperamos que alguém tenha tido esta conversa com o Fejsa antes do jogo de hoje. Um homem não é de ferro.

PIZZI

No Pizzi No Party ou JÁ NOS TOPARAM, AMIGOS. O momento do jogo que melhor resume a exibição de Pizzi aconteceu aos 49 minutos. O nosso Zidane recebe a bola com aquele jeito muito particular de quem tem sido vítima de terrorismo físico e psicológico, falha um passe aparentemente simples, faz uma falta escusada e consegue lesionar-se. Passam-se uns segundos, o jogo é retomado e uma câmara volta a filmar Pizzi. Vemo-lo coxear enquanto bate continência aos limites da condição humana. A perna esquerda acusa descrença, a direita indicia potencial desfalecimento. Lembra-nos uma vez no ISCTE em que fomos uns vinte alunos atrás de um colega coxo porque achávamos que ele sabia onde ia decorrer a aula. Devíamos ter desconfiado. Passados uns 100 metros que pareceram quilómetros, o rapaz vira-se para trás, algo incrédulo por tanta gente ter confiado nele, e diz-nos que está tão perdido como nós.

ANDRIJA ŽZIVKOVIĆ

Foi responsável, encostado à ala direita, por duas das melhores oportunidades da equipa nos primeiros 30 minutos, e foi um dos elementos mais esforçados nos 60 seguintes. Fez mal em ir ao Twitter durante o intervalo, onde alguns adeptos ligeiramente tocados escreviam coisas como “calma, Zivkovic resolve”, “isto vai acabar com hat-trick de Jonas e assistências do Zivkovic” ou ainda “eu punha o Celis”. A partir daí tentou cumprir a profecia através de algumas dezenas de cruzamentos, naquilo que foi uma espécie de glossário visual do cruzamento, do muito bom ao razoável, passando pelo conhecido “epá, este também faz sempre a mesma coisa”.

KOSTAS MITROGLOU

Nenhuma outra espécie na Terra tem a mesma capacidade de reinvenção que os seres humanos. Veja-se o caso de Kostas Mitroglou. Aos poucos vamos perdendo o futebolista, mas ganhamos um belíssimo homem-estátua. Por enquanto ainda parece ser um pouco das duas coisas. Muito bem aos 62 minutos a evitar o golo do empate após boa assistência de Jonas.

JONAS

Não esteve particularmente inspirado no capítulo do remate, mas é ainda assim um dos poucos jogadores que não parece sofrer de palpitações sempre que a bola lhe chega aos pés. A sua recepção de bola aos 91 minutos fez-nos lembrar aquele violinista que estoicamente continua a tocar enquanto o Titanic se afunda.

FRANCO CERVI

45 minutos em campo, nos quais se incluíram um remate perigoso aos 4’, uma excelente combinação com Zivkovic no minuto seguinte e um lance em que fez lembrar Bruno Basto.

RAFA

Um vírus desconhecido ameaça exterminar a população de uma pequena tribo do Alto dos Moinhos, no ano de 2017. Quando a situação parecia circunscrita, um novo foco da doença é identificado em Setúbal. Dustin Hoffman, aqui interpretado por Rafael Alexandre Silva, luta contra o tempo para descobrir um antídoto, mas as coisas não correm de feição. Alguns dos seus colegas cientistas no terreno começam a ficar impacientes com os excessos cometidos por Rafael, que parece querer resolver tudo sozinho. A história termina de forma anti-climática com a morte de todos os protagonistas.

CARRILLO

De cada vez que um realizador de televisão filma Carrillo, a expressão é a mesma. O peruano sorri. Não sabemos bem porquê: se é uma reacção estranhamente optimista à adversidade que é a sua carreira, se está nervoso, se porventura se estará nas tintas, se está de facto a achar piada a tudo isto, ou se padece de algum problema mental. Não excluímos nenhuma das hipóteses.

JOVIC

A nova curta-metragem de João Salaviza conta a história de um jovem sérvio que, sem explicação aparente, dá por si perdido numa noite de inverno em Setúbal. A narrativa, de contornos surrealistas, mostra-nos uma personagem perdida no labirinto da adolescência, a tentar descobrir quem é enquanto tenta lidar com as elevadas expectativas da sociedade moderna.

ARNALDO TEIXEIRA (AQUELE TIPO DE ÓCULOS)

Encolheu os ombros cerca de dezoito vezes enquanto descrevia calmamente os acontecimentos da noite de hoje, com a eloquência de quem já faz isto há muito tempo. Terminou dizendo de forma enigmática que “o futuro faz-se caminhando”, uma afirmação que não pareceu excluir a possibilidade de continuarmos todos a caminhar para trás.

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