Melancólico perante o cúmulo de deceções europeias e inapelavelmente apreensivo face ao que têm sido as suas periclitantes prestações nacionais, o Benfica volta amanhã a Guimarães dez meses depois de lá ter estado pela última em vez e de lá ter saído num estado de espírito muitíssimo mais do que confiante. Era Janeiro de 2017 e o Benfica saía de Guimarães literalmente eufórico, coberto de insuspeitos elogios tal era a dimensão do seu futebol, a naturalidade do seu ímpeto e a sucessão imparável de bons resultados. Estava-se no princípio do ano e nem a breve pausa natalícia beliscaria a saúde dos então tricampeões nacionais obrigados a jogar por duas vezes em 72 horas no sempre complicadíssimo terreno do Vitória Sport Clube.
Não houve lugar a lamentos pelas maldades do calendário, houve simplesmente dois jogos em Guimarães e duas vitórias por 2-0. Com 1 golo de Jonas e outro de Mitroglou no desafio a do campeonato e com 2 golos de Gonçalo Guedes no compromisso que se seguiu para a Taça da Liga. O mesmo Gonçalo Guedes seguiu ele próprio, rapidamente, para o Paris Saint-Germain ainda antes de Janeiro terminar. E lá se foi o jovem Guedes que, até aí, andara com a equipa às costas suprindo com o seu futebol todo ele virado para a frente – "se va cuando quiera", dizem agora dele os espanhóis – as ausências dos demais colegas avançados que baixaram todos à vez inoperacionais à enfermaria, lembram-se? Não é propriamente uma grande novidade na Luz esta da salvação vir da formação. Já um outro jovem, Renato Sanches, andara com a equipa às costas em 2015/2016 quando a equipa mais precisava de alguém suficientemente temerário que a transportasse para a frente depois de um arranque muito insuficiente da temporada. E a coisa acabou por correr lindamente.
Depois do arranque insuficiente da atual temporada leva o Benfica amanhã para Guimarães, e tudo indica que serão titulares, outros dois jovens jogadores vindos da formação, Rúben Dias e Diogo Gonçalves. São ambos prometedores sendo que Rúben Dias em minuto algum comprometeu o Benfica nos dois jogos com o Manchester e que Diogo Gonçalves foi o autor dos dois únicos remates realmente a sério do Benfica em Old Trafford. Mas não será, certamente, por mera superstição que o Benfica lança os seus miúdos às feras quando se vê apertado pelas contingências. Ainda que seja legítima – e até romântica – aquela fé de sempre se ir encontrando o próximo pote de ouro no fim do próximo arco-íris.
Se a realidade se apresenta inóspita e se é pelo sonho que vamos, então, vendo João Félix jogar pela equipa B e na Youth League, só se pode desejar ardentemente que o seu dia, o dia de Félix, não tarde a chegar. Faz 18 anos para a semana o João Félix, 18 aninhos. O que é isso para nós?
Leonor Pinhão, in Record
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