quarta-feira, 27 de dezembro de 2017

TEMPOS DIFÍCEIS PRECISAM DE LIDERANÇAS INTELIGENTES


Um Feliz Natal e um Ano que seja NOVO na dignidade, na justiça, na transparência, na inclusão, na competência… No fundo, que nos permita ganhar o jogo do sentido da vida em sociedade, erradicando as diversas faces da miséria.
Amigo enviou-me no facebook uma frase que merece reflexão, ou não fosse o autor um dos “craques” do pensamento, Eduardo Lourenço:
- “Um tempo é todos os tempos. Não antecipa só o futuro. Recicla todos os passados.”
Com base em diversas leituras e análises sobre o tempo que vivemos, por paradoxal que possa parecer, vale a pena tentar descobrir exemplos, que merecem estudo.
A política pode ser um dos universos a melhorar bastante com essas aprendizagens e, consequentemente, o próprio país e a sociedade em geral.
É sempre tempo de parar mediocridades, estratégias de manutenção no poder a todo o custo, impunidades que nos penalizam e ainda procurar limitar acesso a quem é incompetente.
O treinador de futebol como personagem que se destaca na paisagem, porque consegue transformar coisas interessantes em importantes, revela aspetos que os diversos líderes (ou candidatos) deveriam meditar com muita atenção.
Naturalmente, as nossas opiniões são sempre fundamentadas, baseadas e escolhidas, nos desempenhos daqueles que consideramos como importantes referências (entre muitos outros Sérgio Conceição, Vítor Oliveira, etc.).
Algumas características que no futebol são evidentes e que podem contribuir para uma melhor governança:
1. Persistência: treinador que nunca desiste, que transforma uma falha em oportunidade, sabe construir êxito futuro. Interliga sempre todos os acontecimentos.
2. Valorização de “ativos”: treinadores que no início da época, sem jogadores “ditos de milhões”, repescando muitos emprestados (que estavam desvalorizados na própria casa), conseguem integrá-los, motivá-los, qualificando-os para atingirem dimensões de talento, de eficácia, de entrega ao jogo, imbatíveis e sempre prontos para assumir o que for necessário (cultura tática coletiva e individual ao mais alto nível), são bons exemplos.
3. Coerência: treinadores com decisões frontais, firmes, corajosas (algo que se torna um perigo para quem não quer mudar) desvalorizam o ruído exterior, a hipocrisia e conseguem blindagem segura e consciência grupal com forte unidade.
4. Comunicação: treinador que comunica com eficácia, eficiência, dizendo o que quer, quando quer, onde quer e como quer, segue o rumo definido por si e nunca pelos outros. Comunicação clara, nítida, transparente, diferencia a qualidade das lideranças.
5. Superação do erro: treinador que entende que deveria ter feito de outra forma, é o primeiro a “pedir desculpa”, independentemente da opinião pública externa, pois antes de decidir, investiga muito, analisa pormenores, reflete e decide com confiança. Por último, não dá seguimento a diálogos desviantes, debates aleatórios, provocações encapotadas, aleatórias e com eventuais interesses estranhos ao que o motiva. Saber corrigir é exemplo cada vez mais raro e elimina suspeições.
6. Simplicidade: treinador com uma imagem natural, não apresenta sinais de desperdício de tempo à volta do supérfluo, contradições, nem construções especializadas, mas antes muito trabalho sobre o essencial, nunca permitindo que lhe desviem a concentração do que quer fazer.
7. Emotividade: sendo o futebol (e a vida) um espaço de emoções fortes, contínuas, por vezes contraditórias, o treinador vive intensamente o jogo, notando-se, nos melhores, um reforço de técnicas de contenção e perante a imprevisibilidade do resultado, nunca se desliga da procura da vitória. Jogar sempre para ganhar, onde for, com quem for, até ao fim.
8. Criatividade: o talento e a genialidade carecem de muito esforço. A ideia falaciosa de que a inspiração é suficiente para alcançar as metas pretendidas não é valorizada por um treinador qualificado, pois a ideia que alimenta para todos os outros e para si, é considerar que mais importante do que a inspiração é a transpiração, o trabalho árduo, intenso, como a real chave do sucesso e da unidade da equipa.
9. Liderança: treinador assume, sistematicamente, riscos, decisões, alterações sucessivas no próprio jogo, descobrindo alternativas e essencialmente aplicando-as. Quando o sucesso não é o esperado não procura palavras ocas de desculpabilização, nem desviar o foco das atenções para lateralidades, mas reforça objetivos pretendidos e justifica se atingiram ou não os resultados aguardados.
10. Motivação: para o treinador é decisivo analisar o percurso dos jogadores do seu plantel (especialmente se for, como muitos insinuam: curto e inicialmente sem reconhecimento da qualidade), a avaliar o resultado dos seus desempenhos, o prestígio alcançado, para se entender que jogadores com uma liderança forte e competente, potenciam confiança e capacidades, ultrapassam limites e expectativas, e se afirmam certezas bem valiosas.
11. Mas qual a razão ou utilidade em analisar aspetos de liderança de um treinador de reconhecida qualidade e ambição?
Primeiro, porque se destaca como grande caráter e exemplo de coerência, de profissionalismo.
Depois, pelo exemplo de saber fazer e pela capacidade em motivar o envolvimento de uma equipa técnica e restante staff de nível muito elevado.
Numa altura em que no país a crise de liderança é enorme, a desconfiança nos decisores é muito grande e justificável em muitos casos (porque nas situações mais dramáticas falta quase sempre a decisão certa, a resposta da sabedoria), os treinadores são um bom referencial.
Por outro lado, nunca mais acabam os dramáticos e trágicos caos, porque há falta de vergonha e abuso de lóbis que dão a ideia de ter alcançado poder sem ser pelo trabalho intenso, mas unicamente por “favores ou amizades” sejam antigas, modernas ou raríssimas…
Mesmo quando se analisa o “confuso” universo do VAR, o treinador, que marca pela objetividade, usa as palavras com sentido, com verdade, sem receios e com uma clareza dificilmente contrariada… Fundamenta as suas opções.
O futebol pode ser útil a todos, inclusive também aos que não jogam, não assistem e nem gostam de ver…
Por exemplo, levar os decisores a pensarem no modelo de construção de liderança de um treinador que sabe subir a pulso, que não se perde em “mind games” ou “dislates linguísticos”, é uma excelente aprendizagem para a vida.
O treinador competente fala como tendo sempre a ambição de ser campeão, age dessa forma, mas sem cair em exageros ou devaneios irrealistas e, por vezes, ridículos porque surreais.
Que os responsáveis (incluindo governantes) pensem um pouco como conseguirem melhorar o seu desempenho e deixem a bola em paz.
Procurar aprender com quem sabe é uma atitude inteligente… Permite ainda errar muito menos.
Manter “jogos” de conduta que se dirigem ao precipício nunca dará bom resultado. O pior é que lideranças incompetentes custam muito ao país, aumentam a dívida pública e todos o sentimos na pele.
Aprender está ao alcance de todos. Basta começar pela humildade do querer e de reconhecer como e com quem se pode evoluir.
“Não chega ter ideias. Estas têm de ser implementadas e como tal sujeitas a um conjunto de operações que as vão transformar em realidades.” (Gustavo Pires, Agôn, Gestão do Desporto, O Jogo de Zeus, Porto Editora, 2007;298)
Pode ou não ganhar-se mas os resultados são sempre imprescindíveis para evoluir com sustentabilidade.
Campeões são sempre um grande exemplo, seja em que área for, não só pelos títulos mas essencialmente pela mentalidade e atitude perante a vida.
Aníbal Styliano, in a Bola

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