segunda-feira, 23 de abril de 2018

UMA LIGA QUE FAZ INVEJA AO MUNDO


Antes da jornada deste fim de semana, nas quatro grandes ligas, só o campeonato italiano continua a ter interesse, porque a diferença pontual do líder Juventus para o 2.º classificado, que é o Nápoles, é de quatro pontos e tudo pode acontecer. Os adeptos de futebol alemães, espanhóis e ingleses já estão de ‘férias’ e a pensar que chegue rapidamente o Mundial, já que as suas ligas estão resolvidas. À parte deles, muitos adeptos de outros campeonatos não tão fortes estão igualmente de ‘férias’, como por exemplo os franceses ou holandeses.
Por isso, os adeptos portugueses são alvos de inveja de meia Europa, porque antes deste fim de semana faltavam quatro jogos para o fim do campeonato e matematicamente quatro equipas ainda podem ser campeãs. Quem conseguir o título ganha a lotaria e, este ano, o 2.º lugar também dará um prémio espetacular, porque o clube que o conseguir jogará as eliminatórias da Champions League. Mas para as equipas que ficarem em 3.º e 4.º lugar será um fracasso total. Tudo pode acontecer. Vão ser jornadas emocionantes para todos os amantes de futebol, e impróprias para cardíacos para os adeptos de FC Porto, Benfica, Sporting e Sp. Braga. O nervosismo e ansiedade que sentem os jogadores nestes momentos é fora do normal. Aguentar esta pressão e tensão sem perder um único ponto não é nada fácil e é para campeões. Além de que ainda falta o dérbi que pode decidir muita coisa entre Sporting e Benfica. Muito mais inveja vão ter os amantes do futebol de meio Mundo, porque o campeonato português está uma autêntica loucura e ao rubro.
Vejo como está este campeonato e penso naquelas últimas duas loucas jornadas da época 1985/86. Tive vários momentos destes na minha carreira, mas nunca nada tão forte como naquele ano. Nessa altura a vitória ainda valia apenas dois pontos e, na penúltima jornada, o Benfica tinha dois de vantagem. Nós, FC Porto, tínhamos o confronto direto a nosso favor. Os encarnados jogavam com o Sporting na Luz e nós jogávamos em Setúbal. Os sportinguistas fizeram um jogo incrível e venceram 2-1. Um golo de Morato e outro do meu grande e querido amigo Manuel Fernandes colocaram o Sporting a vencer por 2-0 ao intervalo. Manniche, o ‘gigante’, ainda reduziu na segunda parte mas os benfiquistas já não conseguiram o empate. No nosso caso estávamos fisicamente no Estádio do Bonfim mas ao mesmo tempo com a mente na Luz. Ganhámos ao Vitória por 1-0, com um golo que nunca esquecerei, pois fui eu que marquei. Recordo-me que o nosso jogo terminou uns minutos antes do dérbi e ficámos todos dentro do campo à espera do apito final na Luz. Quando acabou, começámos a festejar juntamente com os nossos adeptos a conquista do título. Um autêntico erro.
Era normal que tivéssemos aquela confiança fora dos limites. Nos três anos em que estive no FC Porto só perdi uma vez no mítico Estádio das Antas – foi na Taça de Portugal, contra o Sporting, e já no prolongamento. Aquela mítica equipa que acabou por vencer a Taça dos Campeões Europeus um ano depois, em 1987, era imbatível em casa. Por esta razão nem nos piores pesadelos podíamos imaginar que naquele último jogo da época estivéssemos a perder 2-1 na segunda parte com o último classificado do campeonato. Mas assim foi. Quando o Sp. Covilhã deu a volta ao resultado aos 59 minutos, foi dos piores momentos, ou mesmo o pior, que passei dentro de um campo de futebol. Hoje, 32 anos depois daquele minuto, ainda sinto calafrios cada vez que me vem a imagem do segundo golo dos Leões da Serra. Faltavam 30 minutos para acabar o jogo e o campeonato. Tínhamos meia hora para sermos heróis e, se falhássemos, tínhamos de ir viver para outra cidade ou mesmo outro país. Seria um descalabro total. Felizmente não falhámos, mas tivemos de meter a ‘sexta’ para dar a volta àquela situação inesperada. Nos minutos 61 e 64, o grande Fernando Gomes (bibota de ouro) fez dois golos e o Elói fez o 4-2 aos 76’. Finalmente fomos campeões, mas não ganhámos para o susto. Que sofrimento, um final de época de loucos! Este ano vai pelo mesmo caminho e tudo pode ser decidido na última jornada e no último segundo. Vai ser emocionante. Cada vez mais detesto o clima de terror do futebol português fora das quatro linhas, mas por outro lado cada vez mais amo o futebol português dentro das quatro linhas.
Caldeirada da semana - Neymar sem cláusula
Para muitos merengues, já havia acordo entre o pai de Neymar e o Real Madrid. E o brasileiro seria jogador dos madrilenos assim que o clube pagasse a cláusula ao Paris Saint-Germain. Mas para todos eles, mais do que uma caldeirada, foi uma deceção e um balde de água fria quando leram a entrevista o presidente da Liga francesa, Didier Quillot, à ‘Marca’ esta semana. "A única possibilidade para que Neymar deixe o PSG passaria sempre por um acordo entre os clubes, porque em França não há cláusulas de rescisão", avisou. E se Neymar e o PSG tivessem um contrato privado? "No contrato que está registado na Liga não há nenhuma cláusula que libere Neymar em nenhum momento. Em segundo lugar, estas cláusulas são ilegais no futebol francês", vincou.
Nós lá fora - O 'King' do Wolverhampton
Na semana passada, a quatro jornadas do fim do Championship, o treinador português Nuno Espírito Santo conseguiu algo maravilhoso: subiu o Wolverhampton à Premier League, o máximo escalão inglês, onde já não estava há vários anos. Com este feito, o Nuno provocou que na cidade de Wolverhampton se instaurasse a ‘Nunomania’. Com camisolas, chávenas e outros objetos decorados com a imagem do técnico português. O Nuno Espírito Santo hoje é o ‘King" de Wolverhampton. Muitos parabéns, Nuno!
Álbum de recordações - A minha Taça do Rei
Ontem, em Madrid, no Estádio Wanda Metropolitano, jogou-se a final da Taça do Rei entre Barcelona e Sevilha. Quando chega este momento recordo sempre as duas finais que joguei como jogador do Atlético Madrid e que ganhei no país vizinho. A primeira foi em 1991, frente ao Maiorca, e foi o meu primeiro título em Espanha. E em 1992, foi contra o Real Madrid, no seu Estádio Santiago Bernabéu, por 2-0, e máxima felicidade que sentimos naquele dia – eu, os meus companheiros, a equipa técnica comandada pelo sábio Luis Araganes e toda a ‘afición’ colchonera – foi de loucura total. Hoje, quando encontro algum adepto do Atlético Madrid, ainda ouço esta frase "Não trocava aquela Taça por nenhuma Champions". Aquela Taça foi, é e sempre será muito especial para o mundo colchonero.
Paulo Futre, in Record

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