"Os jornais, os programas de comentário desportivo, os grupos de Whatsapp, o Twitter e a taberna rejubilam com o tema que faltava. Esta manhã seguia na direcção do café a tropecei numa pedra. Saiu de lá um especialista em factoring, um analista financeiro e um alcoólico que não conseguiria contar até 126. Todos juntos reuniram-se à volta de um pão de deus com fiambre, uma meia de leite morna, um café pingado e um moscatel, respectivamente, para elaborarem as mais diversas teorias sobre como é que o Benfica irá receber o dinheiro, se irá receber, o que fazer com este autêntico Euromilhões.
Há teorias para todos os gostos e quantificações de toda a espécie. Eu não percebo bem o que fazer a esta fortuna. O meu pessimismo diz-me que devíamos guardar a maioria para um dia chuvoso. O optimista fala em gastar tudo em reforços. O desiludido não se contenta com a comissão de 10%, por ele o Benfica ainda acaba a pagar a Jorge Mendes. O humorista com a tabuada decorada pergunta quantos daqueles reforços-que-não-são-bem-reforços poderemos nós adquirir para depois colocar a rodar por esse mundo fora. Rapidamente se chega a um consenso na taberna: vamos avançar para a compra de 40 Cádiz.
Sinto-me no mesmo espírito dessa discussão, mas com uma preocupação diferente. Surgiu assim que ouvi falar da Matilde, uma bebé de dois meses. É aqui que o assunto se torna sério. A Matilde é um bebé muito especial. Sofre de um problema de saúde chamado atrofia muscular espinhal de tipo I que ameaça a sua vida a uma velocidade assustadoramente galopante. Existe uma terapêutica que poderá salvar a Matilde. Custa cerca de 2 milhões de euros. A sua história apareceu um pouco por todo o lado nos media portugueses, bem como numa página de Facebook criada pelos pais, cujas publicações me deixaram com um nó na garganta, a mim e de certeza a muitos milhares de portugueses que não têm meios para, sozinhos, salvar a Matilde. Os donativos têm chegado tão depressa quanto é permitido aos portugueses, ou seja, muito depressa. É uma gente como poucas. Infelizmente, o objectivo a alcançar ainda está distante. Ontem a conta bancária criada para receber os donativos destinados a ajudar a Matilde tinha cerca de 395 mil euros.
Vai daí eu lembrei-me de uma engenharia financeira muito simples, uma daquelas de que nos lembramos sempre que nos imaginamos a tropeçar numa quantia de dinheiro obscena. Nunca sabemos bem por onde começar e damos por nós a gastar dinheiro em coisas inúteis. É provável que boa parte deste dinheiro acabe a ser utilizada em cruzamentos que saem pela linha lateral, remates para a bancada, ou empréstimos intermináveis ao Famalicão. Portanto, a minha ideia é muito mais simples: o Benfica chega-se à frente e gasta uns milhões no passe da Matilde. É agora que ela precisa de ajuda. Não sabemos quanto mais tempo ela tem. A seguir pode fazer o factoring que bem entender, a engenharia financeira que lhe aprouver, organizar jogos que reúnam a receita necessária para cobrir essa despesa. Mas a despesa, a acontecer, tem de ser feita agora.
Quem diz o Benfica diz todos os outros clubes, a federação, a liga, etc. Aquilo que sugiro está a uma ordem bancária de distância dos maiores clubes de futebol portugueses. Foi deles que eu me lembrei porque, pois bem, não se fala de outra coisa neste país. Assim sendo, que os programas de comentário desportivo e as redes sociais sejam inundadas com este repto. Depois logo se vê como será apresentado no relatório e contas. Que se danem os direitos desportivos. Esqueçam qualquer percentagem do passe da Matilde. Se tudo correr bem, a dívida dos pais será eterna e nós não quereremos aceitar um centavo de volta.
O futebol português passa tanto tempo na lama que às vezes se esquece da muita felicidade que nos pode trazer. Pois bem, está aqui uma baliza escancarada. Pediram-me um texto sobre o defeso e esta foi a única coisa que me ocorreu. Garantir a renovação da Matilde por muitas décadas. Não me custa nada tentar. E, sim, isto não tem nada a ver com futebol. Pois não. É muito mais importante. Se é demagógico? Que seja. Quero lá saber. Vale muito menos do que um Cádiz, mas valeria muito mais a pena. Se nada disto persuadir uma alminha que seja, cá estarão os outros portugueses todos para ajudar: PT50 0035 0685 00008068 130 56. Espero que a ajuda chegue a tempo."
Há teorias para todos os gostos e quantificações de toda a espécie. Eu não percebo bem o que fazer a esta fortuna. O meu pessimismo diz-me que devíamos guardar a maioria para um dia chuvoso. O optimista fala em gastar tudo em reforços. O desiludido não se contenta com a comissão de 10%, por ele o Benfica ainda acaba a pagar a Jorge Mendes. O humorista com a tabuada decorada pergunta quantos daqueles reforços-que-não-são-bem-reforços poderemos nós adquirir para depois colocar a rodar por esse mundo fora. Rapidamente se chega a um consenso na taberna: vamos avançar para a compra de 40 Cádiz.
Sinto-me no mesmo espírito dessa discussão, mas com uma preocupação diferente. Surgiu assim que ouvi falar da Matilde, uma bebé de dois meses. É aqui que o assunto se torna sério. A Matilde é um bebé muito especial. Sofre de um problema de saúde chamado atrofia muscular espinhal de tipo I que ameaça a sua vida a uma velocidade assustadoramente galopante. Existe uma terapêutica que poderá salvar a Matilde. Custa cerca de 2 milhões de euros. A sua história apareceu um pouco por todo o lado nos media portugueses, bem como numa página de Facebook criada pelos pais, cujas publicações me deixaram com um nó na garganta, a mim e de certeza a muitos milhares de portugueses que não têm meios para, sozinhos, salvar a Matilde. Os donativos têm chegado tão depressa quanto é permitido aos portugueses, ou seja, muito depressa. É uma gente como poucas. Infelizmente, o objectivo a alcançar ainda está distante. Ontem a conta bancária criada para receber os donativos destinados a ajudar a Matilde tinha cerca de 395 mil euros.
Vai daí eu lembrei-me de uma engenharia financeira muito simples, uma daquelas de que nos lembramos sempre que nos imaginamos a tropeçar numa quantia de dinheiro obscena. Nunca sabemos bem por onde começar e damos por nós a gastar dinheiro em coisas inúteis. É provável que boa parte deste dinheiro acabe a ser utilizada em cruzamentos que saem pela linha lateral, remates para a bancada, ou empréstimos intermináveis ao Famalicão. Portanto, a minha ideia é muito mais simples: o Benfica chega-se à frente e gasta uns milhões no passe da Matilde. É agora que ela precisa de ajuda. Não sabemos quanto mais tempo ela tem. A seguir pode fazer o factoring que bem entender, a engenharia financeira que lhe aprouver, organizar jogos que reúnam a receita necessária para cobrir essa despesa. Mas a despesa, a acontecer, tem de ser feita agora.
Quem diz o Benfica diz todos os outros clubes, a federação, a liga, etc. Aquilo que sugiro está a uma ordem bancária de distância dos maiores clubes de futebol portugueses. Foi deles que eu me lembrei porque, pois bem, não se fala de outra coisa neste país. Assim sendo, que os programas de comentário desportivo e as redes sociais sejam inundadas com este repto. Depois logo se vê como será apresentado no relatório e contas. Que se danem os direitos desportivos. Esqueçam qualquer percentagem do passe da Matilde. Se tudo correr bem, a dívida dos pais será eterna e nós não quereremos aceitar um centavo de volta.
O futebol português passa tanto tempo na lama que às vezes se esquece da muita felicidade que nos pode trazer. Pois bem, está aqui uma baliza escancarada. Pediram-me um texto sobre o defeso e esta foi a única coisa que me ocorreu. Garantir a renovação da Matilde por muitas décadas. Não me custa nada tentar. E, sim, isto não tem nada a ver com futebol. Pois não. É muito mais importante. Se é demagógico? Que seja. Quero lá saber. Vale muito menos do que um Cádiz, mas valeria muito mais a pena. Se nada disto persuadir uma alminha que seja, cá estarão os outros portugueses todos para ajudar: PT50 0035 0685 00008068 130 56. Espero que a ajuda chegue a tempo."
Um Azar do Kralj, in Tribuna Expresso
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