"Cheguei ao aeroporto de Heathrow, Londres, mesmo em cima da hora para apanhar o voo de regresso a Portugal. Olhei para o quadro das partidas e chegadas e não encontrei a referência ao meu voo para Lisboa. Percorri com os olhos, várias vezes, a lista de destinos, confirmei a hora na minha reserva em papel e no telemóvel, e nada. Não havia voo para Lisboa às 10 horas da manhã, e eu tinha mesmo de estar em casa para um aniversário. Em bom português, 'passei-me'.
Fui direitinho ao balcão de informações e despejei toda a minha raiva na funcionária. Comecei por lhe perguntar o que se tinha passado com o voo das 10, e ela respondeu com lacónico: 'Não me lembro de que esse voo da manhã exista'. As minhas emoções estavam ao rubro. Mas como é isso possível, se eu tenho lugar marcado e check in feito para essa hora? Pedi para falar com a superiora da senhora, exigi que me metessem em contacto com alguém da companhia aérea, perdi as estribeiras e ameacei-os com um processo, com um pedido de indemnização e tudo o mais que me passou pela cabeça. Tinha a certeza de que a verdade estava do meio lado. Até que... Até que a zelosa funcionária do aeroporto de Heathrow me tirou o tapete: 'Tem a certeza de que o seu voo parte deste aeroporto?' A área metropolitana de Londres é servida por seis aeroportos internacionais Heathrow e Gatwick são os mais conhecidos, e, sempre que se marca uma viagem para a capital inglesa, há que levar em conta esse 'pormaior'. Eu não levei. Marquei a ida por Heathrow e o regresso através de Gatwick, e estava agora a fazer uma das miores figuras de urso da minha vida. Perdi a razão, a cabeça e o voo.
Deve ter sido assim que se sentiram os arautos da diferença e da verdade no desporto quando, no fim de semana passado, mostraram a sua indignação a quente contra um possível erro de arbitragem no futebol, disparando para todos os lados tentando salvar a sua honra. Sim, os erros existem, nós bem sabemos, como aquele que permitiu validar o golo do Paços de Ferriera no Estádio da Luz, mas temos sempre de ter a certeza do que dizemos e não nos amarmos em meninos mimados com a mania de que o mundo nos deve tudo e mais alguma coisa.
Eu meti a viola no saco quando percebi que tinha feito asneira, pedi desculpa e paguei mais quase 200 euros para marcar novo voo."
Ricardo Santos, in O Benfica
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