sábado, 29 de outubro de 2022

PARA JOGAR FUTEBOL DÁ JEITO SABER JOGAR FUTEBOL

 


"João Mendes é um médio do Chaves que joga muito. Mostrou a qualidade de sempre – às vezes é classe pura - no último jogo frente ao Gil Vicente e apenas foi mais notado porque desta vez marcou dois golos. Sempre que protagoniza um lance daqueles que só os melhores conseguem, elogiam-lhe, concretamente nas transmissões em direto, a “qualidade técnica”. É o chamado elogio parcial, como se essa qualidade, a técnica, não fosse a mais relevante e lhe faltem as demais, como se para jogar futebol o mais importante não fosse precisamente saber… jogar bem futebol. Consegui mesmo ler, num destaque de jornal que o elegia justamente como o melhor em campo, que apresentava mesmo assim uma “grande lacuna”: a falta de agressividade. Nunca vejo dizer de um jogador agressivo mas modesto tecnicamente que só é pena não ter mais habilidade.
João Mendes com João Teixeira são o segredo do sucesso do Chaves atual, a mentira boa de um plantel de recursos escassos, graças ao facto de o treinador Vítor Campelos, corajosamente, lhes permitir jogar em simultâneo. Escrevo o advérbio e questiono-me de imediato: estranho futebol este em que parece audácia rara essa coisa de colocar os melhores em campo ao mesmo tempo. Vale a pena ver o Chaves pela competência coletiva, mas que se alicerça sobre os “Joões” (o nome do ano por lá, que ainda há o Correia, igualmente com grande arranque de época). Juntos em campo, os médios garantem posse e critério, qualidade rara de jogo interior e competência de serviço aos atacantes, com suplementos de talento verdadeiro que ajudam a ganhar. A ambição de querer jogar já rendeu 15 pontos, com vitórias em Alvalade e Braga de permeio. Colocar os melhores disponíveis ajuda muito. E pensar que João Mendes quase nunca foi titular absoluto, nem sequer nas ligas inferiores por onde andou perdido.
E o que é verdade internamente também vale na Europa. Acredito que é na qualidade técnica que está parte essencial do desiderato histórico – à distância de um só ponto - que é o de virmos a ter três equipas portuguesas nos oitavos de final da Champions. Outros fossem os resultados e estaríamos a falar de falta de competitividade da Liga nacional, de diferença de andamento frente a ingleses ou espanhóis, da falta de capacidade de investimento que desautoriza qualquer equipa portuguesa de sonhar com brilho prolongado na Champions. Há sempre mais razões, mas desta não duvido: só é possível jogar ao nível que se tem visto porque a bola não chora, tanto nos pés de tecnicistas consagrados como João Mário, Edwards e Taremi como nos de alegados “operários”, Uribe, Florentino e Ugarte, até de defesas como Porro, Pepe e Grimaldo. Tem melhorado tanto o nível técnico das principais equipas portuguesas, ao ponto de ser difícil encontrar titulares regulares em que o esforço seja bem maior que o talento e as limitações técnicas ineludíveis. Podemos falar de Gilberto, Neto ou Fábio Cardoso, profissionais empenhados e úteis, mas apenas pontualmente são chamados. E está certo. Nos pés da esmagadora maioria a bola não chora e isso ajuda muito quando se defronta PSG, Juventus, Tottenham ou Atlético de Madrid. Do outro lado pode haver craques mais sonantes, mas depressa se percebe que as equipas aqui do retângulo montam a dimensão estratégica em cima de um jogar em que a posse também é reivindicada porque a técnica não é desprezada. As melhores equipas do mundo foram sempre as que trataram melhor a bola, mesmo que pontualmente não ganhassem. As principais formações portuguesas estão entre as melhores da Europa e à beira de um feito inédito. Também aqui não há coincidências.

PS: Ninguém consegue com certeza absoluta dizer se a bola defendida por Diogo Costa no último clássico entrou definitivamente ou deixou de entrar na baliza do Porto. Aceita-se naturalmente a decisão do árbitro e o resultado até atenuou qualquer controvérsia em concreto. O meu ponto é outro: depois de muitos milhões gastos em tecnologia, tanto investimento no VAR, com o “olho de falcão” testado (com sucesso) há anos, como é que ainda não se consegue esclarecer em Portugal uma questão simples mas decisiva que é a de saber se uma bola entrou ou não numa baliza?"

1 comentário:

  1. Carlos Daniel mais conhecido pelo Carlinhos de Paredes. O gajo fica uma barata tonta quando lhe chamam isso.

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