terça-feira, 3 de outubro de 2023

O "CIRCO" DE PEPE



 "Grande profissional não pode ser só o que continua a competir bem aos 40 anos


Escolheu o capitão do FC Porto, Pepe, reagir, com o destempero de qualquer adepto, ao clássico jogado, na Luz, com o rival Benfica, na noite da última sexta-feira. A inqualificável ilustração com que se exibiu numa rede social (julgando, como sempre, que coragem é dizer-se o que se quer atrás de uma cortina), classificando o clássico da Luz como se tivesse sido um circo, volta a manchar a responsabilidade do capitão do FC Porto (e um dos capitães da Seleção Nacional!), como aliás ainda recentemente se tinha voltado a ver quando, após ser expulso na Supertaça, também com o Benfica, não se coibiu de despir a camisola e de a exibir alto, num gesto claramente provocador.
Um grande profissional de futebol, como jogador, não é apenas aquele que se mantém, como Pepe, a competir ao mais alto nível e com enorme qualidade aos 40 anos. É inquestionável o sucesso de Pepe, é inquestionável a dedicação de Pepe, é inquestionável a prateleira dos títulos de Pepe, é inquestionável a força e determinação do trabalho de Pepe e é inquestionável a qualidade de Pepe, seguramente um dos melhores defesas-centrais que o futebol mundial viu nos últimos 20 anos. Mas é questionável muito do seu comportamento, nomeadamente no que diz respeito a algumas atitudes, gestos, ética competitiva, cultura desportiva e fair play.
Afirmar, como Pepe afirmou, que o Benfica-FC Porto de sexta à noite pareceu um «circo» merece um valente cartão vermelho. Pepe não é simplesmente um adepto. É um profissional que deve defender o seu clube, mas também a Liga portuguesa como indústria que lhe alimenta a vida. O seu comentário não foi nobre. Nobre é o circo. O comentário de Pepe foi jocoso. Como se fôssemos todos palhaços da sua indecorosa diversão. Só lhe fica mal!

A saída de Domingos Soares Oliveira
Outro dos temas da semana foi a saída de Domingos Soares de Oliveira da liderança da SAD do Benfica, que cumpria há quase 20 anos. Foi uma saída anunciada há meses e reclamada por muitas fações internas do clube praticamente desde que Luís Filipe Vieira foi forçado a deixar a presidência das águias. Os dois foram inseparáveis de 2004 a 2021, e para o bem e para o mal ficam indelevelmente ligados à maior recuperação alguma vez vista em Portugal numa grande instituição como é o Benfica.
É provável que muito venha ainda a ser analisado sobre o legado de ambos. Por agora, do lado dos críticos, parece inevitável a satisfação de ver chegado, por fim, o desejável ponto final no ciclo; do lado dos defensores, proclama-se certamente o ditado popular segundo o qual atrás de mim virá quem de mim bom fará. É sempre assim em cada divórcio e apenas o tempo se encarregará de escrever novos episódios.
A ida de Domingos Soares de Oliveira para um dos grandes clubes da Arábia Saudita remete-nos, por outro lado, para a discussão gerada pelo expressivo investimento que os sauditas fizeram este ano no futebol. Aos que insistem em comparar este fenómeno saudita com o que sucedeu na China na segunda metade da última década bastará talvez lembrar a paixão pelo futebol que se vive na Arábia Saudita.
Na Liga chinesa, a estratégia parece-me ter sido muito mais empresarial do que cultural. E entre os sauditas, o futebol é inequivocamente uma loucura. Será suficiente para fazer a diferença? Julgo que sim. Mais uma vez, só o tempo o dirá. A verdade é que os responsáveis pelo futebol saudita olham agora para o recrutamento de gestores, no sentido de dar melhor estrutura ao desafio de transformar a Liga numa das melhores do mundo. Não querem apenas estrelas em campo, mas cuidar da sustentabilidade do projeto. Com o dinheiro que a Europa não tem. Demorará o seu tempo, mas creio que a Liga saudita chegará onde não chegaram chineses ou norte-americanos. Quantos países no mundo podem dar-se ao luxo de gastar verdadeiramente o dinheiro que querem?!"

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