"O Benfica tem a formação mais valiosa do Mundo, num montante de 670 milhões de euros, atribuídos a 104 jogadores. 'Papoilas e girassóis', a opinião de Bagão Félix.
A sempiterna questão no futebol de como conciliar o desempenho resultadista, a exigência económica e o equilíbrio financeiro é — mal comparada — a de como deslindar se foi o ovo que veio primeiro que a galinha ou se foi esta que pôs o ovo.
Pondo de parte, por absurdas, as duas lógicas extremadas do exclusivismo da vertente desportiva ou da obsessão exclusiva das finanças, concentro-me no que se passa no meu clube. No futebol como na vida, nem sempre o que é caro é bom e nem sempre o que é barato é mau. Por outras palavras, não há uma relação automática e directa entre preço e performance. Percebo que é quase uma impossibilidade um clube português competir com o oligopólio dos clubes ricaços. Mas, a habitual justificação de que «é necessário vender» para equilibrar as contas pode acabar por ter um efeito boomerang. Adaptando uma frase de um conhecido político, um clube até pode ficar melhor, mas a equipa pode piorar. Vejamos apenas o caso paradigmático de Gonçalo Ramos (não falo de Enzo porque foi accionada a cláusula rescisória e de Grimaldo que quis mudar). O avançado saiu, prematuramente, por um preço irrecusável, mesmo descontando as estapafúrdias bulas comissionistas. A esse montante, porém, deve subtrair-se o preço de contratar um substituto (neste caso Arthur Cabral). O saldo entre o certo (a saída) e o incerto (a prestação futebolística de quem entra) começa por medir-se na diferença entre os euros que entram e os que saem (por alto, entre 30 a 35 milhões, não contando com a diferença salarial). Depois, mede-se na comparação do desempenho de cada um e nos efeitos gerados no colectivo da equipa. No final da época, saberemos certamente o que foi mais custoso (ou menos proveitoso). Para já, a não passagem aos oitavos da Champions e as quatro derrotas na fase de grupos anulam cerca de 2/3 daquele ganho. E já nem falo do risco — que espero não se concretize — de falhar a Champions na próxima época. Sei que, no futebol, não se pode parametrizar tudo e muito menos eliminar a incerteza. E sei que jamais se pode provar o contrafactual, ou seja, neste caso, o que teria feito o Benfica ainda com Gonçalo Ramos. Apenas dei este exemplo para evidenciar o círculo vicioso que pode resultar de um ganho monetário de uma venda poder ser, mais à frente, anulado ou fortemente diminuído, como resultante de piores resultados desportivos. E, por tabela, com menos capacidade para obter receitas de merchandising, bilheteira, publicidade, direitos televisivos, que variam em função do sucesso e das vitórias.
É fácil acertar nesta dilemática? Obviamente que não. Contudo, a primazia deveria ser a de retenção de talentos por mais algum tempo, quanto mais não seja para diminuir a imprevisibilidade de substituições apressadas ou menos enquadradas. Tratando-se de jogadores importantes e em posições-chave, está-se sempre, desportivamente falando, a ter de reconstituir e recomeçar. Reconheço que é praticamente uma inevitabilidade. Mas é desejável retardar o mais possível tal desenlace. Inquieta-me ver o Benfica como plataforma de warm-up negocial dos melhores jogadores. Nos últimos 10 anos foram os casos, entre outros, de Ederson, Ruben Dias, Gonçalo Guedes, João Félix, Enzo Fernández, Darwin, Nelson Semedo, Renato Sanches, João Cancelo, Bernardo Silva, Witsel, etc., que passaram pelo clube por escasso tempo (às vezes uns meses só). Temo que possa acontecer o mesmo com António Silva e João Neves, e até com Tiago Gouveia que tem tudo para ser um craque.
O Benfica tem a formação mais valiosa do Mundo, num montante de 670 milhões de euros atribuídos a 104 jogadores que passaram pelo menos três anos no Seixal, entre os 15 e os 21 anos. É notável. O Benfica é igualmente o campeão mundial dos últimos 10 anos em receitas brutas de vendas de passes de atletas: 1,23 mil milhões de euros! Valores sem dúvida cruciais para umas contas equilibradas. Mas, na minha inquietude benfiquista, pergunto-me se não gostaria de deixar de ter estes títulos financeiros para aspirar a outros troféus desportivos, como, aliás, Rui Costa verbalizou quando disse que tinha o sonho de voltar a ser campeão europeu. Em suma, sempre o dificílimo ponto de intersecção da (in)equação financeira e da equação desportiva.
E.T. O resultado do jogo contra a Real Sociedade foi lisonjeiro. Receei a hecatombe. Sem laterais (!!), sem um verdadeiro 6 e sem ponta-de-lança que dê golos e com jogadores dispensados de correr, não há milagres. Schmidt inventa e confunde-se."
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