domingo, 12 de novembro de 2023

O SILÊNCIO DOS INOCENTES

 


"Depois de ganhar a Bola de Ouro, em 2019, Megan Rapinoe aproveitou os holofotes para lançar o desafio aos jogadores masculinos: que usassem o palco mediático e todas as plataformas de que dispõem para defenderem e promoverem a igualdade. E chamou-os pelos nomes: «Cristiano, Messi, Zlatan [Ibrahimovic], ajudem-me!». A norte-americana, consagrada então como a melhor jogadora do mundo, queria que as vozes dos homens se juntassem à sua, contra o sexismo no desporto, a homofobia, o racismo.
Até hoje, o que conseguiu? Rubiales beijou Hermoso sem consentimento e só Isco e Borja Iglesias apoiaram de imediato a jogadora espanhola. Josh Cavallo, Jake Daniels e Jakub Jankto assumiram a sua homossexualidade: um australiano, outro numa segunda divisão, o último com uma carreira despercebida na Europa. Atos de valentia individuais, sem repercussão ou apoio da tão poderosa máquina desportiva, que, citando Valdano, acabam por envergonhar o futebol masculino por ainda estar nesta fase. E Vinícius Jr., recém-vencedor do Prémio Sócrates, não se cala perante os insultos racistas que ouve, levando a que finalmente estes comecem a ter consequências.
Rapinoe explicou uma vez porque considerava que o futebol feminino estava muito à frente nestas questões: as mulheres que jogam futebol sentem mais a desigualdade, no salário, nas condições, no machismo, e daí protestarem mais contra isso. Os melhores futebolistas do mundo podiam fazer mais do que tirar fotografias com as colegas de seleção ou vencedoras da Bola de Ouro e entrar em campanhas genéricas? Sim, mas mais do que isso ainda parece perigoso para um jogador (que o digam os que andam a ter problemas nos clubes por apoiarem a Palestina). Porquê? Curiosamente, Megan deu parte da resposta em 2019: «Têm medo de perder tudo? Eles acreditam nisso, mas não é verdade. Quem iria apagar Messi e Ronaldo da história do futebol mundial por uma declaração contra o racismo ou o sexismo?». Da história do futebol nunca, mas pelos vistos os melhores de sempre ainda valem mais (dinheiro, patrocínios, seguidores nas redes sociais...) em silêncio."

1 comentário:

  1. Quando se fala de salários, as mulheres futebolistas quererem o mesmo salário que os homens seria o mesmo que os jogadores da liga do Burundi quererem o mesmo salário que os da Premier league. O problema não é o sexo, é a visibilidade da competição. O que o Ronaldo e o Messi podiam fazer, e que seria de valor, era estarem presentes nalguns jogos de futebol feminino. Falarem contra o sexismo apenas faria a maior parte das pessoas revirarem os olhos.

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