"Na hora da derrota final, Pinto da Costa limitou-se a entrar no carro e a desaparecer na noite da Invicta
É (e será para sempre) indiscutível o legado de conquistas e vitórias que os 42 anos de poder de Pinto da Costa deixaram no FC Porto. Os números são indesmentíveis: mais de 1.300 troféus, dos quais 68 no futebol!
Serão, por isso, mal-agradecidos os 21.489 sócios (80,2 por cento dos que foram votar) que escolheram um novo rumo para os azuis e brancos com André Villas-Boas? Naturalmente que não. Não haverá um portista que não reconheça no agora ex-presidente do clube o mais relevante motor de conquista da história de um clube que, antes da sua chegada, vencera sete vezes o Campeonato e, depois, o celebrou em mais 23 ocasiões e que, em 1987 e 2004, se sagrou campeão europeu.
Porém, não são cegos, surdos e mudos os sócios que, após quatro décadas, decidiram que era hora de retirar o poder a quem, segundo os próprios, o foi perdendo para interesses e influências que o beneficiavam mais a ele do que ao histórico emblema da Invicta.
A gota de água, para quem, eventualmente, se recusava a ver por dentro aquilo que há muito já era visível de fora, foi o clima de violência e ameaças que se viveu na assembleia geral extraordinária de 13 de novembro de 2023 e, sobretudo, a forma leviana como Pinto da Costa a ela se referiu: «Não foi ninguém para o hospital…» E, como dias depois, na sequência da Operação Pretoriano, se solidarizou com o líder da claque SuperDragões, um dos detidos.
A maioria, até agora silenciosa, sentiu que era hora de pôr fim ao medo e à coação, que era hora de libertar o seu amado clube da presença demasiado poderosa de figuras que nada de positivo trazem à sua imagem e cuja principal função não foi mais do que perpetuar alguém no poder.
A campanha eleitoral, sobretudo nos seus derradeiros dias, tornou ainda mais evidente o desespero de Pinto da Costa para se manter na liderança, assinando uma série de decisões em cima do instante final, numa cadeia de acontecimentos que só podia ter por finalidade deixar campo minado para quem lhe sucedesse – sim, porque só à luz de ter conhecimento do que aí vinha (a tal diferença 80/20) se entende as medidas desesperadas das vésperas da assembleia eleitoral no Dragão. O resultado foi muito claro.
E, nem na hora da despedida, Pinto da Costa conseguiu ter um discurso de união. Um discurso que, na verdade, nunca teve, pautando, ao invés, os 42 anos de poder por uma atuação populista e de divisão com o intuito, quiçá, de endeusamento perpétuo... Na noite da derrota, da mais pesada das derrotas, simplesmente entrou no carro e saiu, em silêncio, desaparecendo na noite da Invicta. Um triste fim no dia em que a democracia ditou o seu adeus."
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