O ano que termina deixou-nos mais pobres pelas perdas, e mais ricos por novos paradigmas. 2025 será marcado por eleições para a FPF e COP. E Liga?
O ano de 2024 não teve coração quando levou tanta gente que me era querida, com quem tinha cumplicidades e uma amizade de décadas, tratando-se, ao mesmo tempo, de referências do futebol português. Em fevereiro partiu Artur Jorge, antigo companheiro no Belenenses, mais tarde meu treinador na Seleção Nacional BB e no Portimonense; março foi o mês do adeus a Minervino Pietra, durante meia dúzia de anos um sólido apoio afetivo que tive no Benfica; junho levou-nos Manuel Fernandes, um dos adversários mais recorrentes da minha carreira, com quem mantive sempre contacto próximo, nas várias curvas por onde a vida nos levou; e em agosto, depois da crónica de uma morte anunciada, foi a vez de partir Sven-Goran Eriksson, com quem tive a felicidade de me cruzar profissionalmente, e, à beira do fim, ter podido despedir-me dele pessoalmente.
Treinadores, companheiros, adversários, que importa? O importante é a relação criada, e um sentimento de partilha e comunhão que derrota a própria morte. Será coisa de outros tempo? Talvez. Ontem foi dia de dérbi (do qual faço a crónica na página quatro desta edição) e veio-me à memória um dérbi de 1982/83, em que o Benfica foi campeão nacional e recebeu o Sporting no jogo da consagração: no final da partida, os leões, liderados pelo presidente João Rocha, foram à nossa cabina apresentar cumprimentos e connosco partilhar uma taça de champanhe. Exemplarmente exemplar, suscetível de fazer corar de vergonha quem, a seguir, transformou adversários em inimigos, num caminho para o precipício que começa agora a dar alguns sinais de reversão. Se são ‘folhas’ caducas ou perenes (com um abraço a António Bagão Félix, excelentíssimo botânico amador, que durante muitos anos enriqueceu, com a sua inteligência, este jornal), o tempo dirá…
TREINADORES cientificamente escolhidos, planos, projetos, médio prazo, modelos-tipo, todos estes jargões têm feito parte do dia-a-dia do nosso futebol, mas nenhum resiste à ditadura dos resultados. O que fica bem num discurso não adere, a maior parte das vezes à realidade e o que é verdade hoje passa a ser mentira amanhã. A propósito, usando os 18 participantes na I Liga de 2024/25, procurei saber quem vai entrar no Ano Novo com o mesmo treinador que tinha a 1 de janeiro de 2024. As conclusões não andaram longe do esperado, na senda do que tem sido a (i)lógica do nosso futebol: apenas dois clubes apresentam o mesmo treinador, curiosamente dois emblemas promovidos da II Liga, o Nacional, com Tiago Margarido e o Santa Clara, com Vasco Matos. Todos os outros (é verdade que o Sporting não ia despedir Ruben Amorim, mas João Pereira, o sucessor designado, só durou 45 dias) têm técnicos diferentes, o que pode ser mote para uma tese sobre o comportamento das lideranças perante a pressão dos números.
MPOSSÍVEL acabar 2024 sem falar da mudança de administração no FC Porto. Algum dia Pinto da Costa haveria de sair, mas creio que ninguém terá previsto que o fizesse depois de ser derrotado nas urnas por André Villas-Boas por 80/20.
José Manuel Delgado, in a Bola
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