segunda-feira, 30 de dezembro de 2024

DAR DE AVANÇO NUNCA DEU RESULTADO



Avassaladores, os primeiros 45 minutos do Sporting deixaram o Benfica atónito; na segunda metade, encarnados fizeram pela vida mas faltou-lhes eficácia. O dérbi da estreia feliz de Rui Borges foi emocionante até ao derradeiro segundo
Este foi um dérbi com várias histórias dentro do resultado que perdurará nas estatísticas, e que dá conta da vitória do Sporting por 1-0 sobre o eterno rival. Comecemos pela assimetria: os leões vestiram fato de gala na primeira parte, foram muitíssimo mais intensos que o Benfica e tiveram ocasiões para sentenciar a partida, não fora a grande oposição feita por Trubin a Catamo (17) e Gyokeres (40). A equipa de Bruno Lage, que se apresentou no habitual figurino, apenas com Amdouni, mais móvel, no lugar que costuma ser de Pavlidis, foi amplamente subjugada por um ‘novo’ Sporting, que entrou em campo decidido a exorcizar definitivamente o fantasma de Ruben Amorim.
Os jogadores responderam positivamente à ‘chicotada psicológica’ e adaptaram-se bem ao 4x4x2 que Rui Borges não quis deixar para depois, independentemente de ter tido apenas três treinos para implementá-lo. Mas, bem vistas coisas, em muitas dinâmicas os leões tiveram ou Quaresma ou Matheus Reis a jogar por dentro, descendo para fazer o cinco da defesa Catamo ou Quenda, como no antigamente. O que se alterou radicalmente face a um passado recente foi a intensidade colocada no jogo, na primeira parte de tal forma asfixiante que deixou o Benfica quase KO e os leões de língua de fora no segundo tempo, até Rui Borges mexer na equipa, sem alterar a tática, com as entradas, para dar pulmão, primeiro de João Simões, Maxi e Fresneda (72) e depois de Harder (81).
Em suma, os leões pagaram com alguns sustos e com a necessidade de entregarem o comando do jogo às águias, o esforço que fizeram na metade inicial. Nesse período, com Florentino e Tomás Araújo a denotarem um inesperado nervosismo (o central foi batido de forma demasiado fácil por Gyokeres, devido a uma abordagem ao lance em que usou mal o corpo, na assistência que daria o único golo da partida, e o trinco perdeu várias bolas comprometedoras, em lances que podiam ter acabado pior para a sua equipa) houve muito pouco Benfica, com dificuldade em sair a jogar com bola, com uma tremenda incapacidade em segurá-la a meio-campo, tendo tudo isto como consequência o deficiente municiamento dos avançados.
LAGE MEXEU BEM
Após o intervalo, Barreiro foi a jogo e Florentino ficou na cabina, pensando-se que o internacional luxemburguês iria atuar na cabeça da área. Porém, essa missão, a que se juntava a de pautar o jogo, coube a Kokçu e a partir daí o Benfica reencontrou-se, Di María passou para a esquerda, ficando a direita para Aurnses, Bah e Carreras começaram a fazer mossa nas alas, e o golo começou a rondar a baliza de Israel, que na primeira parte apenas se tinha aplicado num livre de Kokçu.




O que os encarnados começaram então a fazer em termos de pressão foi suficiente para muitos fantasmas regressarem a Alvalade. Sentia-se que a equipa verde-e-branca estava cansada – um lance caricato (68) em que um pontapé de baliza para o Sporting acabou em canto para o Benfica é disso prova – e Rui Borges fez, aos 72 minutos o que, provavelmente devia ter feito por volta dos 60: tirou Morita, em perda, Quaresma, com cãibras e Quenda, esgotado e sem mexer no 4x4x2, que se transformava em 4x2x3x1 quando Trincão baixava no terreno, refrescou os setores com Fresneda, Maxi e João Simões. A partir daí, embora o sinal mais fosse do Benfica, os leões passaram a respirar melhor e até tiveram oportunidade de ensaiar alguns contra-ataques perigosos, com Catamo e Gyokeres como protagonistas.
Bruno Lage ainda reforçou a presença na área contrária, quando, aos 84 minutos, juntou Arthur Cabral a Pavlidis, que substituíra Amdouni (75) no mesmo instante em que Beste foi para a vez de Arkturkoglu. Mas, num contexto em que podia ter marcado – teve três oportunidades – o Benfica ficou-se pelo quase, e o Sporting não teve complexos em baixar linhas e até recorrer a uma evidente queima de tempo para garantir que não só os três pontos ficavam em Alvalade, mas também que Rui Borges teria a estreia com que que certamente sonhara, ao mesmo tempo que dava um pontapé na crise.
Em conclusão, sem querer recorrer a lugares comuns, a vitória do Sporting não é injusta, embora ficasse a sensação de que o Benfica levou menos do que merecia, pelo que fez nos últimos 45 minutos. Mas, mais uma vez, viu-se a importância, muitas vezes desvalorizada, de meter a bola na baliza do adversário. Ganharam os que o fizeram…
DESTAQUES:
Guarda-redes encarnado foi decisivo, com intervenções de grande nível, para atenuar a apatia da equipa na primeira parte. Florentino saiu e quase toda a equipa cresceu numa segunda parte onde Kokçu liderou. Notas negativas para a precipitação de Tomás Araújo e o 'apagão' de Akturkoglu.
A figura do Benfica: Trubin (7)
Muralha. Quase intransponível. Começou a noite com uma hesitação (2’) a um cruzamento de Geny Catamo, é verdade, mas a partir daqui… foi sempre a subir. Com muitas ações determinantes. Sobretudo na primeira parte onde evitou golos a Trincão (6’), Quenda (17’, sem dúvida a defesa do jogo, brilhante), Gyokeres (40’) e Trincão (42’). 45 minutos de trabalhos forçados nos quais, à exceção do golo no qual sai ileso de culpas, foram brilhantes. Na segunda parte, em que esteve bem mais tranquilo, voltou a ser determinante nos muitos desequilíbrios do Benfica que ia procurando o golo. Nota, sobretudo, para a defesa a Gyokeres (88), num remate à entrada da área que obrigou o ucraniano a voar. E a brilhar.




Bah (5)
Responsável. No preenchimento do corredor, nas movimentações de Quenda, equilibrando também em zonas centrais do setor defensivo. Quase marcou, aos 56’, num cruzamento/remate que Israel defendeu, corte fundamental aos 82’ a Geny que se preparava para assistir Gyokeres. Muito atento, exibição regular.
Tomás Araújo (4)
Precipitado. Com um deslize fatal, no lance que originou o golo, na tentativa de antecipação a Gyokeres. O avançado sueco foi mais inteligente (e forte…) no duelo oferecendo o golo a Geny. Aos 40’ mais um passe negligente colocando a bola nos pés do sueco que quase marcou. Brechas que os leões poderiam ter aproveitado. Na etapa final, justiça lhe seja feita, acertou marcações, mais concentrado, cresceu e empurrou a equipa com qualidade. Não apagou a mancha, foi penalizado por esse decisivo lance, mas deu outro brilho, na etapa final, a uma exibição que, no global, ficou abaixo da média.
Otamendi (5)
Racional. Eficaz na leitura do jogo, atento às movimentações de Trincão, não acusou desgaste (das recentes viagens à Argentina). Com fulgor, agressivo na recuperação, quase marcou de cabeça, aos 67’, na sequência de um pontapé de canto.
Carreras (5)
Corajoso. Calhou-lhe a ‘fava’… Um Geny Catamo inspirado, criativo, veloz, que nunca permitiu arrojo ofensivo ao espanhol. Conseguiu subir no terreno, pela primeira vez, aos 42’, sem sucesso. Os duelos eletrizantes com o moçambicano foram nota dominante deste dérbi. Perdeu mais do que ganhou nesse confronto individual, mas subiu muito de rendimento na segunda parte. Mais solto, mais perigoso, esteve ligado a vários lances de perigo nesse período.




Aursnes (5)
Passivo. Foi prejudicado pela apatia quase coletiva do primeiro tempo, demasiado lesto (e subido…) nas zonas de pressão ao adversário, abrindo espaços ao leão numa zona central. Face a esse posicionamento também foi aparecendo aqui e ali, mas longe das zonas de decisão. Um remate (43’) para as contas, pouco para este norueguês que tem vindo a perder fulgor nos últimos jogos.
Florentino (3)
Desastrado. Sem chama, pouca bola, um deserto de ideias num meio-campo que foi sempre ‘engolido’ pelo adversário. Não passou a linha de meio-campo, perdido nas zonas de pressão, nunca foi o elo de ligação que a equipa precisou durante os primeiros 45 minutos. Uma exibição cinzenta, penalizada também por Bruno Lage, pois foi o primeiro preterido ficando nos balneários ao intervalo.
Kokçu (6)
Transfigurado. Ganhou nova vida assim que Florentino saiu de jogo. Da posição 8, como médio interior, onde esteve apagado, sem influência, passou para uma zona mais central, como médio defensivo e mudou a forma de jogar dos encarnados. A equipa passou a ter mais critério, muito maior qualidade na saída, no transporte. Na primeira parte ainda criou perigo, com um livre muito bem executado (26’) que Franco Israel brilhou com uma das defesas da noite e na segunda parte, ofereceu o golo a Amdouni (60’) que o suíço desperdiçou.
Di María (6)
Vigiado. Sempre que levantava a cabeça estava lá Hjulmand. Morita… Quenda. Ninguém deu um palmo de terreno ao argentino. Mesmo com marcações mais apertadas foi aquele que deu o toque de classe e qualidade ao jogo ofensivo das águias, seja de bola parada (de livre, aos 59’ colocou a bola na cabeça de Barreiro) ou de bola corrida, criando desequilíbrios (como ficou evidente num lance aos 67’ que obrigou Diomande a um corte arrojado).
Amdouni (6)
Impulsionador. Uma das imagens do suíço: aos 34’, desesperado, a pedir para a equipa subir no terreno que se manteve encolhida e presa de movimentos na etapa inicial. Muito dinâmico, sempre à procura de espaços ‘mortos’ para receber a bola, deu luta aos defesas leoninos. Na primeira parte correu muito, na segunda, aos 60’, teve a melhor ocasião do jogo, num remate que saiu por cima.
Akturkoglu (4)
Indiferente. Passou ao lado do jogo. Sem influência no jogo exterior, foi sempre (bem) manipulado pelos alas leoninos. Alguns pormenores, longe da baliza, sem aquelas diagonais que muitas vezes desequilibram os adversários. Apático, com e sem bola, acabou por sair aos 75’… e pareceu tarde dada a noite apagada.
SUPLENTES
Leandro Barreiro
Fresco. Deu outro fulgor e qualidade ao meio-campo do Benfica e foi esta entrada, logo no arranque da segunda parte, que levou o Benfica a crescer e a estender-se no campo. Muito possante fisicamente (a ganhar muitos lances aéreos), em zonas mais adiantadas (jogou na posição 6 foi um dos trunfos positivos saídos do banco.
Beste (5)
Valente. Entrega-se ao jogo com facilidade (e naturalidade) colocando intensidade nos corredores. Faltou-lhe maior assertividade na construção e definição, mas, ainda assim, também deu novas (e boas) ideias aos encarnados da segunda parte.
Pavlidis (4)
Pacato. Em demasia… Começou no banco e entrou no melhor período da equipa, quando jogou mais perto da baliza de Franco Israel, mas raramente criou perigo.
Arthur Cabral (5)
Esforçado. Ninguém lhe pode apontar falta de empenho. Entra sempre com ambição, vontade de mudar o jogo, de marcar e ser figura principal. Entrou aos 84’, bem perto do final, mas arriscou o remate em duas ocasiões (88’ e 90’) a última das quais com muito perigo.

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