segunda-feira, 16 de dezembro de 2024

DESAPARECIDOS SEM COMBATE



Benfica domina primeira parte e foi dominado na segunda. Fim da série de oito vitórias seguidas e a prova de que não há bem que nunca acabe. Agravam-se sinais preocupantes dos dois jogos anteriores.
O Benfica volta a tropeçar no campeonato, põe fim à série de oito vitórias seguidas na competição, prova de que não há bem que nunca acabe, e já não pode chegar isolado ao dérbi com o Sporting, mesmo que vença, quinta-feira, na Madeira, o Nacional, no que resta do jogo em atraso.
Se é verdade que pelo pouco que produziu, especialmente na segunda parte, até pode dar-se por satisfeito por ter conquistado um ponto, não é menos verdade que a má exibição deixa insatisfeitos adeptos, corrói algumas convicções que nasceram com a recuperação da equipa e alimenta dúvidas que pareciam esquecidas ou esmagadas. Foi uma noite má e na qual houve desaparecidos sem combate. Sim, no Benfica.
O Benfica dominou e controlou o jogo na primeira parte, quase sem contestação, mesmo sem ser intenso ou colérico, mesmo sem criar muitas oportunidades. Com o Aves SAD muito recuado, jogou quase sempre em ataque posicional, sem a urgência de quem quer resolver depressa as coisas para ficar descansado. Sentiu-se confortável.
Bruno Lage trocou Otamendi, Carreras (castigado), Florentino, Di María e Pavlidis por António Silva, Beste, Leandro Barreiro, Amdouni e Arthur Cabral e recuperou o 4x2x3x1 de Roger Schmidt, adaptando a tática aos recursos. Kokçu, ao lado de Barreiro, voltou à posição de que disse não gostar.
Depois de uma oportunidade clara do Aves SAD — António Silva comprometeu a sair a jogar e Mercado nem à baliza foi capaz de disparar (10') — o Benfica tomou conta do jogo, repetindo uma e outra vez a fórmula — Akturkoglu, Amdouni e Aursnes faziam uma linha entre os defesas e os médios do Aves, permitindo a projeção dos laterais (nunca houve, porém, profundidade no jogo da equipa) e, sobretudo, servindo de apoio a Kokçu e Leandro Barreiro para combinações ofensivas, em toques curtos e com a bola a rolar depressa.




Foi num desses lances, no qual participaram Bah, Aursnes, Akturkoglu e Amdouni que marcou — disparo de Amdouni com o pé esquerdo à entrada da área depois de serviço de Akturkoglu.
O golo não animou o Benfica. A equipa deixou-se andar em velocidade de cruzeiro, por não sentir ameaça do lado contrário. Foi um Benfica demasiado conformado e sem imaginar o que lhe iria acontecer. Até porque o Aves SAD não voltou a criar perigo até ao intervalo.
A segunda parte foi completamente diferente da primeira. E não foi preciso muito a Daniel Ramos para mudar o jogo. Só obrigar a equipa a começar defender mais à frente no terreno, a partir da área do Benfica. E, como aconteceu com o V. Guimarães e o Bolonha, os encarnados, pressionados, não encontraram linhas de passe para sair a jogar.
Aos 71' Bah, sem espaço para progredir e sem companheiros livres para receber a bola, desesperava e abria os braços. Naquela imagem estava toda a dificuldade que o Benfica sentiu e da qual não foi capaz de se libertar.
Antes já Daniel Ramos tinha lançado Nenê e Vasco Lopes. O jovem avançado de 41 anos esteve duas vezes perto de marcar, disparando uma vez nas costas de António Silva para defesa de Trubin (63') e cabeceando ao poste (66'). Neste último lance Fernando Fonseca obrigou o guarda-redes ucraniano a grande intervenção. Vasco Lopes também entrou com o dedo no gatilho e pronto a disparar. Em 16 minutos o Aves SAD rematou seis vezes! E o Benfica já só defendia. Mal.
Bruno Lage sentiu o perigo e, aos 74', trocou Kokçu e Akturkoglu por Rollheiser e Florentino, voltou ao 4x3x3 para tentar recuperar o controlo do meio-campo e da bola. A ação do treinador foi mais de contenção de danos. E menos para matar o jogo. Só uma vez voltou à baliza do Aves SAD, num pontapé de Trubin para a frente, desviado por Pavlidis e que Andreas Schjelderup aproveitou para marcar. Estava fora de jogo.
O Benfica tinha, então, desaparecido do jogo e sem combate. O Aves SAD, emocionalmente por cima, procurou o empate que surgiu, no tempo de compensação, num cabeceamento de Devenish (marcado por Rollheiser!) após livre lateral.
DESTAQUES:
Lage revolucionou onze e deu atestados de confiança, mas faltou correspondência... Águia controlou 1.ª parte e caiu a pique na 2.ª. Amdouni disse presente, Barreiro cumpriu, Beste deixou saudades de Carreras, e António SIlva e Arthur Cabral deixaram a desejar.
Melhor em campo: Trubin (7)
Passou de mero espectador na primeira parte, durante a qual pouco ou nada teve para fazer, a mouro de trabalho na segunda, traído pelo deixa-andar que se apoderou dos colegas de campo, que permitiram que o ucraniano se tornasse num alvo gigante para os avenses ao longo dos últimos 45 minutos. A verdade é que o 1-1 não aconteceu mais cedo por obra e graça de Trubin. Susteve remate do veterano Nené aos 63', viu este acertar em cheio no poste direito aos 65' e negou o golo a Fernando Fonseca no seguimento desse mesmo lance. Aos 69' amarrou remate do empertigado Vasco Lopes, teve boa saída a punhos aos 83' e aos 86' voltou a ser testado por Vasco Lopes. Parecia uma muralha entre os postes, mas lá diz o ditado que água mole em pedra dura tanto bate até que fura... e Devenish furou mesmo!




Bah (5) — Com Beste com carta branca para ficar mais projetado no flanco oposto, foram raras as vezes em que ajudou à profundidade. Controlou defensivamente a ala até ao intervalo com Piazón à ilharga, mas depois, tal como o coletivo, passou por dificuldades e a fatura chegou perto do fim.
Tomás Araújo (6) — Foi claramente a melhor unidade defensiva das águias nos 90', esclarecido nas ações, sem precipitações, com pouca vulnerabilidade, até no período de maior aperto dos avenses, mas no final pagou o laxismo da equipa.
António Silva (5) — Após quatro jogos consecutivos no banco (não jogava desde o 7-0 ao E. Amadora, na T. Portugal), avançou para o onze com a braçadeira de capitão, ao invés de Otamendi. Fez exibição irregular. Aos 10', má receção na área fez o Aves causar perigo. Piorou na segunda parte. Deixou Nené rematar com à-vontade aos 63', dois minutos depois também não esteve bem no lance em que Nené acertou em cheio no poste. Isento de culpas no 1-1.
Beste (4) — De volta à posição de raiz, deixou os adeptos com saudades de... Carreras. Pouco aproveitamento ofensivo numa primeira parte controlada pelas águias e desnorte defensivo na segunda parte, perante Vasco Lopes e companhia. Não foi lateral, nem extremo...
Leandro Barreiro (6) — Ajudou ao controlo da primeira parte. Pouco pressionado, mostrou raio de ação mais alargado que Florentino e quando foi rendido aos 61' foi pior a emenda que o soneto, porque os encarnados nunca mais conseguiram segurar o corredor central.
Kokçu (5) — Jogou ao lado de Barreiro, mas com o Aves mais recuado teve espaço para conduzir e transportar a bola e pisar os espaços que mais gosta. Ainda assim, só se destacou nas bolas paradas, surpreendendo num livre lateral (35') a fazendo a bola passar a rasar o poste direito de Bertelli num livre direto (45+1). Pedia-se mais...




Aursnes (6) — Encostado à direita no tridente de apoio a Arthur Cabral, mas a interiorizar muitas vezes, voltou a ser fiável como não tinha sido com o Bolonha e não surpreendeu que boa parte do jogo ofensivo fosse ancorado pelo seu lado, do qual surgiu o 1-0, numa bela jogada coletiva que ajudou a desenhar. Quando foi para o meio após a saída de Barreiro a águia começou a cair a pique.
Amdouni (7) — Foi a melhor unidade dos encarnados até Trubin desatar a fazer defesas na segunda parte. Deu o primeiro sinal de perigo aos 11' e confirmou a ameaça aos 17', fazendo o 1-0, que demonstrou a facilidade de remate que tem.
Akturkoglu (5) — O que ficou na retina foi a dificuldade para ligar jogo no último terço e combinar bem com os colegas, sendo que o lance do 1-0, em que assistiu Amdouni, foi a exceção à regra.Pelo menos tem o condão de arriscar e de não ter medo de falhar quando outros querem jogar pela certa. Tentou três remates (29', 45+3' e 48'), nenhum de jeito.
Arthur Cabral (4) — Uma hora em campo, zero oportunidades. Mas numa equipa cujo fio de jogo não tem como objetivo final servir o '9' é injusto fazer dele bode expiatório de todos os males...
Pavlidis (3) — Acrescentou zero. Sem bola ou chances.
Di María (4) — Não conseguiu dar novo fôlego ofensivo quando a equipa tanto precisava, nem ajudou a reduzir o ímpeto dos avenses pelo seu lado.
Florentino (4) — Entrou com a equipa às aranhas para parar o Aves e não conseguiu ser o sinal STOP que Lage pretendia.
Rollheiser (2) — Tem menos 20 centímetros que Devenish e marcou-o no canto do 1-1. De quem foi a culpa...? Pois...
Schjelderup (5) — Golo anulado aos 88 ' por posição irregular

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