O RELÓGIO DO BENFICA

 Faz todo o sentido ter um Ferrari com rodas.

Podemos ter o relógio mais sofisticado, com o melhor mecanismo que existe no mercado, que ele não funcionará sem ponteiros. Comprar um Ferrari topo de gama, a brilhar, de cavalinho rampante, que ele não servirá para absolutamente nada se não tiver rodas.

Também é possível formar um plantel e montar uma equipa de grandes jogadores, recheada daqueles que nos fazem sonhar com grandes golos e enormes conquistas, mas muito provavelmente tudo será apenas uma ilusão se não houver consciência do que é preciso para ela funcionar bem.

E o que uma equipa também deve ter para ser uma grande equipa são jogadores com características como as do médio norueguês que renovou na última semana pelo Benfica até 2029. Fredrik Aursnes não faz diferente, mas faz toda a diferença.

Foi contratado em 2022/23 por pouco mais de €14 milhões, que agora parecem poucos para ilustrar a importância dele. Já fez 116 jogos com a camisola do Benfica, 105 como titular. Tem uma personalidade pública, profissional, irrepreensível. Joga sempre, joga onde for preciso, quase nunca mal, e faz jogar e parecer melhor quem está à volta dele.

Talvez não faça sonhar o adepto, mas carrega o sonho da equipa. Mostra convicções, como por exemplo quando disse adeus à seleção do país dele para «aproveitar outras coisas além do futebol», mas vive-o de forma simples, correta, profissional e dedicada. Viu 11 cartões amarelos em mais de uma centena de jogos, só foi expulso uma vez, com um duplo amarelo. Aursnes faz todo o sentido.

Pedro Casteleiro, in a Bola