PRESENTE NATALÍCIO
Feito que foi o desejado acerto de calendário do Benfica, os mais otimistas esperavam uma tranquila e perfeita noite natalícia de acesso ao lugar mais alto da Liga. Para ajudar o cenário, o percurso do Estoril não era algo que questionasse a confiança dos adeptos. Afinal, a primeira parte deu um parceiro de festa incómodo que ameaçou em vários momentos, sendo um endiabrado Fabrício Garcia o seu principal e super-rápido protagonista.
Foi um Benfica quase atordoado pelo atrevimento alheio que se viu em repetidos apuros, mas que conseguiu, depois de acertar num poste, que a parceria Di María/Pavlidis desse em golo, já em fase de algum aperto. O domínio era então inesperadamente repartido, num confronto a meio campo em que João Carvalho era presença extra e influente no duelo entre os dois médios centro de cada equipa. Lage optou, desta vez, por subtrair um médio (Florentino) por um ala (Beste), com benefício para a presença central do atacante Akturkoglu.
No final, fica ainda por confirmar a boa coordenação dos dois médios escolhidos, Aursnes e Kokçu, depois deste complicado teste, mesmo com o jogador turco em plano destacado. A vantagem curta deu um início de segunda parte estranho, num estado de alerta do Benfica, entre o querer marcar e o cuidado que uma diferença mínima aconselha ter. Nesta dúvida, o Benfica acaba por arrancar, com a inspiração de Amdouni, uma meia hora de assalto final que confirmou a justa vitória. Com a desejada liderança alcançada, dados diferentes estão agora lançados na proximidade do dérbi. Olhar para cima ou para baixo será sempre diferente...
REPOSIÇÃO MADEIRENSE
O Nacional tem como casa um dos estádios com menor lotação do país, mas consegue ser simultaneamente o nosso recinto mais famoso. Quem diria? Nesta altura o nevoeiro local é já mais uma atração turística a juntar a outras pérolas da ilha.Podia chamar-se “A novela da Choupana”, um verdadeiro filme em reposição, este último regresso do Benfica à Madeira. A originalidade deste novo episódio começou logo com a determinação imposta pelo realizador (Liga), ao deixar bem claro: “se os escolhidos para os onzes há dois meses não jogarem de início escusam de vir porque nem no banco se sentam”. Como é provável que este fenómeno, infelizmente, se repita talvez fosse boa ideia rever as regras que agora vigoram e concluir se são as mais sensatas...
O tão esperado pontapé de saída acabou por ser dado antecipada e curiosamente fora de campo, com o valente susto da aterragem no Funchal, que só terá sido completa novidade para os recém-chegados à nossa Liga. Já a incerteza relativamente à efetiva realização do jogo colocou-se desde a véspera, mas ainda constituiu real ameaça durante a primeira parte do jogo de que novo adiamento podia ocorrer. Falando do jogo, a demora do primeiro golo foi a maior dificuldade que o Benfica enfrentou, tendo sido claramente dominador. O ator principal, Di María, protagonista de (quase) sempre, lá ditou a sua lei, numa cena já outras vezes repetida. Sofrido mas merecido o importante resultado alcançado. E da falta de emoções fortes o pessoal não se pode queixar.
INDIVIDUAL E COLETIVO
Bruno Lage, recentemente, em entrevista, referiu a vantagem que representa um jovem poder experimentar um desporto individual e um coletivo, para um mais completo e saudável crescimento quer pessoal, quer desportivo, tal a diferença enorme entre as duas realidades. Totalmente de acordo.
Como sabemos fala-se, cada vez mais, de saúde mental e da sua grande importância, mas as referências e estudos são, normalmente, relativos a realidades psicológicas individuais. É, sem dúvida, um meio muito interessante de estudo da natureza humana que vai crescendo.
Alargando a questão às equipas, esta análise é infinitamente mais complexa em função das obrigatórias diferenças entre cada um dos elementos que as compõem e, não menos importante, a dinâmica dos subgrupos, sempre existentes nos plantéis tanto quanto na sociedade civil. Falando em futebol como em outros desportos coletivos, há desde logo evidentes diferenças entre o bem-estar de quem é titular e a frustração de quem não é primeira escolha. Terão a maioria dos treinadores capacidade específica para gerir estas questões? Ou fará todo o sentido a participação de um terapeuta psicólogo quando as equipas técnicas são tão multifacetadas?
Rui Águas, in a Bola
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