terça-feira, 28 de janeiro de 2025

LAGE E OS MIÚDOS À VOLTA DA FOGUEIRA (RUI COSTA INCLUÍDO)



 Presidente do Benfica continua a ser incapaz de sair em defesa dos seus nas horas mais difíceis ou então de tomar decisões mais radicais que protejam o clube. Sentou-se, mais uma vez, a assistir ao espectáculo como se nada fosse com ele.

Rui Costa chegou e sentou-se na primeira fila, como aliás faz quase sempre. Nem precisou de arranjar bilhete para o espetáculo (deprimente, ressalve-se). Tem connections.
Ao fazê-lo, voltou a dizer aos sócios e adeptos, ainda que não verbalmente, que aquilo não era nada com ele. Estava ali como todos os outros, um elemento estranho ao que se ia passar. Talvez tenha sido convocado por Lage, como os jornalistas.
Bruno Lage caminhava, até de forma alegre, quase infantil, para a fogueira. Muito do seu futuro no Benfica ardia ali, porém parecia não o saber.
Dois áudios tinham-no tramado. O que era mais ou menos privado, para dois grupos de adeptos, em momentos e locais diferentes, tornara-se público. Duas vezes. O que o tinham tornado público, de uma conversa muito maior, defendeu-se, não era bonito. Embora, com o devido contexto, de acordo o próprio, não tenha sido tão mau quanto isso.
Foi errado o que lhe fizeram, contudo Bruno Lage não tem, em nenhum momento, de se explicar a adeptos. No limite, terá de fazê-lo com o presidente, esse sim, sempre muito preocupado em como estes o têm em conta.
Os adeptos e associados são o apoio mais volátil do mundo. Não querem saber de explicações, logo porque não as conseguem entender. Querem, sim, resultados e títulos. Para serem os maiores nas conversas de café.
Mais. Bruno Lage não pode ainda pensar que tem retórica suficiente para explicar o explicável, quanto mais aquilo que não tem explicação. A conferência que quis dar foi uma absoluta confusão, de ideias feridas de lógica e sentido. E cheias de contradições.
A conclusão que tirou da falta de impacto das suas palavras no balneário por já as ter dito aos próprios e até antes na sala de Imprensa (aqui, talvez não tenha sido bem assim) é assustadora. Surreal. Não tem o técnico noção de que o problema é a exposição (agora pública) dos seus jogadores? Os que não saltam, não dão três toques seguidos e têm de jogar porque não serão vendidos pelo preço certo e depois não há dinheiro para comprar outros. O que é que o treinador tem que ver com isto? Deve estar limitado por isto?
Embora precisasse, após o fracasso no Botafogo, Bruno Lage não estava obrigado a aceitar um segundo convite para treinar o Benfica, depois de ter acabado a primeira passagem completamente isolado pelo mentor do atual presidente, também ele presidente.
Sabia que, ao chegar depois de o mercado fechar, não tinha talvez os jogadores certos para o que pretendia fazer. Aceitou essa condicionante assim que assinou contrato.
Sabe o técnico igualmente que não é num mercado de janeiro que se reestrutura um plantel, mesmo que sinta que lhe faltam jogadores e tempo. Porque jogar de três em três dias não lhe permite fazer evoluir a equipa e, além disso, não possui as peças certas. É altura de um ou outro ajuste. Como Manu pareceu ser.
Depois, aquela pergunta aos adeptos, quase ao jeito do «e o burro sou eu» de Luiz Felipe Scolari, sobre que culpa tem pelos problemas nas bolas paradas, pela incapacidade da equipa se associar e pelos erros na construção... Não deveria saber que tem toda? Exceto, claro, na escolha do grupo.
Infelizmente para Lage, a resposta passa por trabalho e por escolher bem entre o que tem.
Porque se só tiver jogadores para lançar, transportar e correr não conseguirá jogar em ataque posicional. Ou controlar os jogos com bola.
Se tira Tomás Araújo (e Aursnes, embora o tenha desgastado ao ponto de agora ter de o gerir com pinças) do onze, a equipa baixa naturalmente na capacidade de sair a jogar e o risco de errar aumenta (há quem ache que o melhor é bater na frente, espero que não seja o caso).
E se não consegue obrigar os seus jogadores a saltar nos cantos e livres então que líder é? Quem mais o poderia fazer?
Sinceramente, gosto de Bruno Lage. Acho que é um bom treinador, sobretudo no lado estratégico e planeamento do jogo. Acredito que seja boa pessoa. No entanto, está tão instável que esse lado explosivo afeta tudo o resto. Primeiro, pareceu algo a que se forçou, para se distinguir do antecessor. Agora, soa muito a desequilíbrio emocional. E não aparenta estar perto de voltar a cair em si.
Sem privilegiar o racional, as decisões estarão a ser as mais corretas? As escolhas? Será que Rollheiser e Prestianni não poderão mesmo ajudar a equipa? Ou outros, da equipa B? Está a mensagem a ser lúcida e a passar para todos? Os líderes em que confia serão os mais acertados?
Talvez tenha de querer menos e de simplificar. Acalmar-se.
Terá sobretudo de jogar com os melhores, sejam os seus ou não.
Deve esquecer o mercado e o que vem depois, pôr de lado alguma gratidão que sinta que deva e compromissos que queira assumir, concentrar-se no agora e nos objetivos que tem.
Embora, depois desta conferência, pareça ser tudo demasiado tarde.
O balneário está partido, o destino do técnico parece traçado e ser uma questão de tempo. Os Alpes tornaram-se ainda mais monumentais e difíceis de escalar. A não ser que Lage surpreenda tudo e todos, com algo que ainda não se viu nele.
Estejamos certos de uma coisa: num grande clube em que se pense como clube grande Bruno Lage não teria sobrevivido ao dia de ontem.
Mas também Rui Costa, que navega à vista, sem uma política desportiva há anos, que foi perdendo membros da sua estrutura e manteve aqueles que nunca foram capazes de o ajudar a escolher a direção certa e ao mesmo tempo, talvez não fosse o presidente. E se fosse outro e se o atual treinador tivesse, apesar de tudo, chegado até aqui, estaria sentado ao lado da única pessoa que estava à mão para substituir Roger Schmidt. A não ser, que o alemão não tivesse chegado sequer a esse momento. Muitas encruzilhadas. Realidades paralelas.
Lage prolongou a chicotada até ser primeiro e a equipa quebrou. Quando podia se assumir como principal candidato, tal como naquela visita ao Dragão na sua segunda época, todas as fragilidades camufladas até aí vieram à tona. Há poucas semanas, reinventou-se, Schjelderup deu-lhe fôlego, mas não percebeu o que tinha acontecido. Quando quis voltar ao plano A, este, ultrapassado, implodiu de vez, pelo menos no atual contexto. E já não chega dar um passo atrás.
Terá sobretudo de jogar com os melhores, sejam os seus ou não.
Deve esquecer o mercado e o que vem depois, pôr de lado alguma gratidão que sinta que deva e compromissos que queira assumir, concentrar-se no agora e nos objetivos que tem.
Embora, depois desta conferência, pareça ser tudo demasiado tarde.
O balneário está partido, o destino do técnico parece traçado e ser uma questão de tempo. Os Alpes tornaram-se ainda mais monumentais e difíceis de escalar. A não ser que Lage surpreenda tudo e todos, com algo que ainda não se viu nele.
Estejamos certos de uma coisa: num grande clube em que se pense como clube grande Bruno Lage não teria sobrevivido ao dia de ontem.
Mas também Rui Costa, que navega à vista, sem uma política desportiva há anos, que foi perdendo membros da sua estrutura e manteve aqueles que nunca foram capazes de o ajudar a escolher a direção certa e ao mesmo tempo, talvez não fosse o presidente. E se fosse outro e se o atual treinador tivesse, apesar de tudo, chegado até aqui, estaria sentado ao lado da única pessoa que estava à mão para substituir Roger Schmidt. A não ser, que o alemão não tivesse chegado sequer a esse momento. Muitas encruzilhadas. Realidades paralelas.
Lage prolongou a chicotada até ser primeiro e a equipa quebrou. Quando podia se assumir como principal candidato, tal como naquela visita ao Dragão na sua segunda época, todas as fragilidades camufladas até aí vieram à tona. Há poucas semanas, reinventou-se, Schjelderup deu-lhe fôlego, mas não percebeu o que tinha acontecido. Quando quis voltar ao plano A, este, ultrapassado, implodiu de vez, pelo menos no atual contexto. E já não chega dar um passo atrás.
Luís Mateus, in a Bola

Sem comentários:

Enviar um comentário