Presidente do Benfica continua a ser incapaz de sair em defesa dos seus nas horas mais difíceis ou então de tomar decisões mais radicais que protejam o clube. Sentou-se, mais uma vez, a assistir ao espectáculo como se nada fosse com ele.
Rui Costa chegou e sentou-se na primeira fila, como aliás faz quase sempre. Nem precisou de arranjar bilhete para o espetáculo (deprimente, ressalve-se). Tem connections.
Bruno Lage caminhava, até de forma alegre, quase infantil, para a fogueira. Muito do seu futuro no Benfica ardia ali, porém parecia não o saber.
Dois áudios tinham-no tramado. O que era mais ou menos privado, para dois grupos de adeptos, em momentos e locais diferentes, tornara-se público. Duas vezes. O que o tinham tornado público, de uma conversa muito maior, defendeu-se, não era bonito. Embora, com o devido contexto, de acordo o próprio, não tenha sido tão mau quanto isso.
Foi errado o que lhe fizeram, contudo Bruno Lage não tem, em nenhum momento, de se explicar a adeptos. No limite, terá de fazê-lo com o presidente, esse sim, sempre muito preocupado em como estes o têm em conta.
Os adeptos e associados são o apoio mais volátil do mundo. Não querem saber de explicações, logo porque não as conseguem entender. Querem, sim, resultados e títulos. Para serem os maiores nas conversas de café.
Mais. Bruno Lage não pode ainda pensar que tem retórica suficiente para explicar o explicável, quanto mais aquilo que não tem explicação. A conferência que quis dar foi uma absoluta confusão, de ideias feridas de lógica e sentido. E cheias de contradições.
A conclusão que tirou da falta de impacto das suas palavras no balneário por já as ter dito aos próprios e até antes na sala de Imprensa (aqui, talvez não tenha sido bem assim) é assustadora. Surreal. Não tem o técnico noção de que o problema é a exposição (agora pública) dos seus jogadores? Os que não saltam, não dão três toques seguidos e têm de jogar porque não serão vendidos pelo preço certo e depois não há dinheiro para comprar outros. O que é que o treinador tem que ver com isto? Deve estar limitado por isto?
Embora precisasse, após o fracasso no Botafogo, Bruno Lage não estava obrigado a aceitar um segundo convite para treinar o Benfica, depois de ter acabado a primeira passagem completamente isolado pelo mentor do atual presidente, também ele presidente.
Sabia que, ao chegar depois de o mercado fechar, não tinha talvez os jogadores certos para o que pretendia fazer. Aceitou essa condicionante assim que assinou contrato.
Sabe o técnico igualmente que não é num mercado de janeiro que se reestrutura um plantel, mesmo que sinta que lhe faltam jogadores e tempo. Porque jogar de três em três dias não lhe permite fazer evoluir a equipa e, além disso, não possui as peças certas. É altura de um ou outro ajuste. Como Manu pareceu ser.
Depois, aquela pergunta aos adeptos, quase ao jeito do «e o burro sou eu» de Luiz Felipe Scolari, sobre que culpa tem pelos problemas nas bolas paradas, pela incapacidade da equipa se associar e pelos erros na construção... Não deveria saber que tem toda? Exceto, claro, na escolha do grupo.
Infelizmente para Lage, a resposta passa por trabalho e por escolher bem entre o que tem.
Porque se só tiver jogadores para lançar, transportar e correr não conseguirá jogar em ataque posicional. Ou controlar os jogos com bola.
Se tira Tomás Araújo (e Aursnes, embora o tenha desgastado ao ponto de agora ter de o gerir com pinças) do onze, a equipa baixa naturalmente na capacidade de sair a jogar e o risco de errar aumenta (há quem ache que o melhor é bater na frente, espero que não seja o caso).
E se não consegue obrigar os seus jogadores a saltar nos cantos e livres então que líder é? Quem mais o poderia fazer?
Sinceramente, gosto de Bruno Lage. Acho que é um bom treinador, sobretudo no lado estratégico e planeamento do jogo. Acredito que seja boa pessoa. No entanto, está tão instável que esse lado explosivo afeta tudo o resto. Primeiro, pareceu algo a que se forçou, para se distinguir do antecessor. Agora, soa muito a desequilíbrio emocional. E não aparenta estar perto de voltar a cair em si.
Sem privilegiar o racional, as decisões estarão a ser as mais corretas? As escolhas? Será que Rollheiser e Prestianni não poderão mesmo ajudar a equipa? Ou outros, da equipa B? Está a mensagem a ser lúcida e a passar para todos? Os líderes em que confia serão os mais acertados?
Talvez tenha de querer menos e de simplificar. Acalmar-se.
Terá sobretudo de jogar com os melhores, sejam os seus ou não.
Deve esquecer o mercado e o que vem depois, pôr de lado alguma gratidão que sinta que deva e compromissos que queira assumir, concentrar-se no agora e nos objetivos que tem.
Embora, depois desta conferência, pareça ser tudo demasiado tarde.
O balneário está partido, o destino do técnico parece traçado e ser uma questão de tempo. Os Alpes tornaram-se ainda mais monumentais e difíceis de escalar. A não ser que Lage surpreenda tudo e todos, com algo que ainda não se viu nele.
Estejamos certos de uma coisa: num grande clube em que se pense como clube grande Bruno Lage não teria sobrevivido ao dia de ontem.
Mas também Rui Costa, que navega à vista, sem uma política desportiva há anos, que foi perdendo membros da sua estrutura e manteve aqueles que nunca foram capazes de o ajudar a escolher a direção certa e ao mesmo tempo, talvez não fosse o presidente. E se fosse outro e se o atual treinador tivesse, apesar de tudo, chegado até aqui, estaria sentado ao lado da única pessoa que estava à mão para substituir Roger Schmidt. A não ser, que o alemão não tivesse chegado sequer a esse momento. Muitas encruzilhadas. Realidades paralelas.
Lage prolongou a chicotada até ser primeiro e a equipa quebrou. Quando podia se assumir como principal candidato, tal como naquela visita ao Dragão na sua segunda época, todas as fragilidades camufladas até aí vieram à tona. Há poucas semanas, reinventou-se, Schjelderup deu-lhe fôlego, mas não percebeu o que tinha acontecido. Quando quis voltar ao plano A, este, ultrapassado, implodiu de vez, pelo menos no atual contexto. E já não chega dar um passo atrás.
Terá sobretudo de jogar com os melhores, sejam os seus ou não.
Deve esquecer o mercado e o que vem depois, pôr de lado alguma gratidão que sinta que deva e compromissos que queira assumir, concentrar-se no agora e nos objetivos que tem.
Embora, depois desta conferência, pareça ser tudo demasiado tarde.
O balneário está partido, o destino do técnico parece traçado e ser uma questão de tempo. Os Alpes tornaram-se ainda mais monumentais e difíceis de escalar. A não ser que Lage surpreenda tudo e todos, com algo que ainda não se viu nele.
Estejamos certos de uma coisa: num grande clube em que se pense como clube grande Bruno Lage não teria sobrevivido ao dia de ontem.
Mas também Rui Costa, que navega à vista, sem uma política desportiva há anos, que foi perdendo membros da sua estrutura e manteve aqueles que nunca foram capazes de o ajudar a escolher a direção certa e ao mesmo tempo, talvez não fosse o presidente. E se fosse outro e se o atual treinador tivesse, apesar de tudo, chegado até aqui, estaria sentado ao lado da única pessoa que estava à mão para substituir Roger Schmidt. A não ser, que o alemão não tivesse chegado sequer a esse momento. Muitas encruzilhadas. Realidades paralelas.
Lage prolongou a chicotada até ser primeiro e a equipa quebrou. Quando podia se assumir como principal candidato, tal como naquela visita ao Dragão na sua segunda época, todas as fragilidades camufladas até aí vieram à tona. Há poucas semanas, reinventou-se, Schjelderup deu-lhe fôlego, mas não percebeu o que tinha acontecido. Quando quis voltar ao plano A, este, ultrapassado, implodiu de vez, pelo menos no atual contexto. E já não chega dar um passo atrás.
Luís Mateus, in a Bola
Sem comentários:
Enviar um comentário