domingo, 9 de março de 2025

TORCI POR MANTORRAS, TORÇO POR RENATO

 


Tantos e tantos anos a ver futebol, primeiro na pele de adepto, depois como jornalista, e mesmo assim ainda é possível olhar para um jogador e ficar surpreendido, esfregar os olhos e questionar simplesmente: quem é este (futuro) craque?

Em tempos de portas abertas, certo dia tocou-me acompanhar o treino do Alverca, à data orientado por José Romão, e quando a bola começou a rolar numa série de exercícios sem grande ciência um jovem meio desengonçado abriu o livro com impressionante naturalidade, futebol de rua em esplendor na relva. 'Quem é este?', perguntei-me. Era o Pedro Manuel, o nome pelo qual era então conhecido um futebolista que passou à história por... Mantorras.
Nessa época de 1999/2000, aos 17 anos, o avançado angolano disputou seis partidas, antecâmara da temporada de sonho seguinte em que, sob o comando de Jesualdo Ferreira, especialista em lapidar diamantes, explodiu como titular e convenceu os mais céticos com uma exibição sublime diante do Sporting numa vitória do Alverca, por 3-1, em que marcou e foi decisivo nos outros dois golos.
Depois, rumou ao Benfica, chegou a ser comparado a Eusébio e poucos conquistaram o coração dos encarnados como ele. Não é por acaso que o título nacional das águias em 2004/2005 é associado ao efeito que, apesar de jogar ao pé-coxinho, provocava na equipa de Giovanni Trapattoni naqueles minutinhos em que espalhava magia. Torci por Mantorras... Como teria sido a carreira dele se constantes lesões nos joelhos não o tivessem derrubado?
Quando Renato Sanches substituiu Kokçu na passada quarta-feira, na Luz, aos 84', tentava o Benfica anular nova desfeita de Raphinha agora na primeira mão dos oitavos de final da UEFA Champions League, lembrei-me de Mantorras. Atormentado por inúmeras e sucessivas lesões musculares, o médio procurou pegar no jogo, dinamizá-lo, a receita original de Rui Vitória para fazer esquecer em definitivo Enzo Pérez (saíra para o Valência em janeiro de 2015) e lançar o Benfica para cruzar a meta na liderança do campeonato de 2015/2016.
Mas logo que entrou, num lance banal no meio-campo defensivo, sofreu um toque e abrandou a corrida enquanto coxeava, frações de segundo que me fizeram temer o pior. Torci por Mantorras, sem sucesso, infelizmente, torço hoje em dia por Renato Sanches, para que consiga voltar a mostrar o talento que me fez perguntar 'quem é este?' nas primeiras aparições com a camisola do Benfica em novembro de 2015, sobretudo num duelo da UEFA Champions League no Cazaquistão, frente ao Astana.
Pouco mais de meio ano bastaria para convencer Fernando Santos a dar-lhe papel de protagonista no Euro-2016 do nosso contentamento e para o Bayern investir 35 milhões de euros — além de €45 M por objetivos — na contratação de um jovem de 18 anos sem um sequer de profissionalismo de alto nível.
Que o peso da dúvida não se abata a cada recomeço incerto. Torço por ti, Renato.
Paulo Cunha, in a Bola

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