Da conferência de Lage aos inacreditáveis tiros nos pés do presidente da Assembleia Geral da SAD do Benfica é legítimo questionar se as águias ainda acreditam no título.... Já no Sporting, tudo o que acontecer em Alvalade resultará de uma simples pergunta a fazer segundos antes de entrar em campo.
Há dias, durante A BOLA da Noite, de A BOLA TV, Alemão descrevia o que passa na cabeça dos jogadores quando estão perfilados junto à entrada para o relvado segundos antes de entrarem em campo para um jogo que pode dar um título. O antigo guarda-redes do Sporting, também campeão em 2001/2002, até se emocionou ao falar do que se sente nesses momentos.
Naqueles segundos, enquanto aguardam que o árbitro diga «vamos lá», há uma espécie de transe. Um misto de nervoso miudinho, de concentração absoluta e de gestão emocional num contexto de momento histórico. A glória à distância de 90 minutos e a necessidade de se estar à altura da responsabilidade. Mas o decisivo mesmo é que naqueles segundos os jogadores fazem uma espécie de resumo mental da época. As dificuldades, os altos e baixos, o que viveram ao longo de 33 jornadas. As alegrias, o sofrimento, as lesões, as dúvidas, as gargalhadas em dias de vitória e a tristeza em dia de derrotas, as injustiças, os golos épicos, as conversas de grupo, as zangas do treinador, os gritos no balneário, o golo no último minuto que deu uma vitória.... Depois, concentram-se nos companheiros e há tempo para um último olhar antes da batalha. Nem precisam de dizer mais nada, sabem que contam uns com os outros e nunca como nesses momentos se sentem tão em comunhão.
Desta reflexão surge combustível para lutar, mas o sucesso também depende de uma pergunta específica: por que razão querem os jogadores ser campeões? Pode parecer uma pergunta de retórica, quiçá La Paliciana, mas, se pensarmos bem, é na profundeza da resposta que se encontram os motivos para se lutar...
No jogo da Luz, pela forma como entrou em campo e cerrou fileiras para aguentar o resultado, deu-me a sensação que os jogadores do Sporting encontraram mais razões para quererem o título. Desde o golpe da saída de Amorim, as desastrosas semanas com João Pereira, a inacreditável onda de lesões, a liderança que lhes fugiu duas vezes e por duas vezes a reconquistaram... Não me entendam mal, os jogadores do Benfica também querem muito ser campeões, mas não vi o mesmo sentido de urgência e o mesmo fogo nos olhos.
O que vi, no final do jogo, foi um Bruno Lage com um discurso que pode ser interpretado como de desistência. Não estou na cabeça do treinador do Benfica, não quero ser injusto, avalio apenas o peso das palavras. Assumir-se como responsável pelo empate e dizer que no Benfica não é suficiente não ser campeão pode ser interpretado como uma toalha jogada ao chão, por muito que também tenha dito que quer vencer em Braga. Terá sido a desilusão do momento. Talvez... Mas é de fogo nos olhos que a equipa mais precisa. Não de dar como previsível que o Sporting vença em casa o Vitória, por muito que seja favorito.
E que dizer dos tiros nos pés de Nuno Magalhães, que na Antena 1 se assumiu apenas como adepto desiludido e irritado e se esqueceu que é o presidente da Assembleia Geral da SAD do Benfica? Desancar em Schjelderup, acusar a equipa – a par do árbitro - se ser responsável por não ter vencido o Sporting, mostrar até desgaste porque nem parecia que o Benfica jogava em casa... Uma das mais absurdas intervenções que ouvi de um dirigente em semana de decisão, agora sim, de título. Uma vez mais só posso interpretar: são declarações de quem parece já não acreditar no título. E se a equipa não acreditar, não vai fazer nada a Braga...
No Sporting, o trabalho de Rui Borges, é controlar a euforia. Faz bem. O Vitória precisa da... vitória. O perigo mais eficaz e devastador esconde-se nas sombras para não ser visto. No fundo, tudo o que os jogadores leoninos vão ter de fazer é o balanço de uma época atípica e, segundos antes de entrarem no relvado, todos devem responder à mesma pergunta: por que razão querem ser campeões?
Jorge Pessoa e Silva, in a Bola
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