quarta-feira, 28 de maio de 2025

FESTA aVARIADA

 


Num Jamor colorido, o palco perfeito para a final da Taça, Lage voltava, surpreendendo, à versão já utilizada com sucesso de usar Carreras como jóquer tático, dando entrada a Dahl. O controlo de Trincão, um dos maiores perigos adversários, era conseguido pela proximidade e acompanhamento do defesa espanhol. Acrescentar um defesa-central reforça o setor defensivo e permite, com alguma segurança, a oscilação posicional de um deles, compensada pelos outros dois colegas do centro da defesa. O treinador do Benfica procurava — e conseguia — evitar as dificuldades que noutros jogos Trincão tinha representado, recebendo e virando-se para a baliza nas costas dos médios contrários. Curiosa foi também a opção pela troca entre Otamendi e António Silva, sendo este a ocupar o lugar central da defesa. Tentar confrontar um Otamendi mais físico face a Gyokeres terá sido a ideia.

A final foi marcada, no tempo regulamentar, por superioridade clara do Benfica, não traduzida no marcador e alterada, inesperadamente, por um momento de inacreditável excesso em zona de risco. Como abordar defensivamente um contra-ataque no último minuto de jogo? Florentino, primeiro, e António, depois, pecaram por defeito, mesmo sem estarem condicionados disciplinarmente. Quem viria a pecar mais à frente, pelo excesso fatal, seria o infeliz Renato, já em zona proibida. A grande área é como um campo minado e deve ser cuidadosamente pisado. A vontade de intervir não pode ser precipitada quando e onde o cuidado deve ser extremo. Toda a gente o sabe, mas no calor da luta muita gente o esquece. Mesmo com uma arbitragem próxima do horrível e com um VAR a condizer, para pior, o Benfica jogou mais e fez o suficiente para ganhar.
O futebol consegue ser especialmente surpreendente, desafiando a justiça. Sofrer um golo, quando já se pressentia a vitória, abalou decisivamente a equipa e os adeptos. Não devia, mas aconteceu. O prolongamento mostrou outra história e o choque sofrido ficou bem visível na incapacidade de reagir ao golo sofrido fora de horas. A superioridade nos noventa minutos tinha ficado irremediavelmente perdida. Fica a consolação que não ganha taças, mas que deve orgulhar a equipa, pela demonstração de qualidade, de absoluta superioridade, só não decisiva pela chocante cegueira do VAR pouco antes do empate.
Sem camisolas
Os adeptos gostam dos seus clubes e dificilmente fazem o juízo imparcial dos casos que sempre se discutem, sem nunca um acordo chegar. Na dúvida, beneficiam e defendem as equipas das quais gostam. Desta vez, é impossível ignorar o tema da arbitragem. Aquilo que se viu no Jamor, pouco antes do final, mancha o jogo, o resultado e, principalmente, responsabiliza quem pode ver e rever os lances capitais. Neste triste episódio, podemos e devemos tirar a camisola dos agressores e do clube que representam. Não são as cores dos clubes o que está em causa. Ante a clareza e a violência explícita das imagens, é como a polícia ver dois homens a agredir alguém deitado e virar as costas. A grande diferença, e que marcará para sempre quem fez que não viu, é que com milhões de testemunhas é impossível ignorar e passar impune.
Jogadores/treinadores
Nos meus velhos tempos acontecia, com alguma frequência e naturalidade, o jogador experiente da casa assumir a condição de jogador/treinador, quando o mister era despedido. A formação específica e a competência para os diferentes cargos representam hoje uma realidade incomparável.
A extensão do treinador em campo, como hoje se diz, era naquele tempo levada à letra. Era o próprio treinador que estava em campo e raramente se substituía.
Vem esta curta viagem ao passado, quando se confundiam competências, a propósito de Garnacho, jovem talentoso do Manchester United, que foi notícia não pelos seus dribles ou golos, mas pela sua despropositada incontinência verbal. Irreverente como parece, reagiu publicamente à sua não titularidade na final da Liga Europa. Na amargura da derrota haver alguém cuja preocupação principal é o seu tempo de utilização diz muito do seu egoísmo, colocando em causa o treinador e o seu colega escolhido para o onze.
Por cá, por outro lado, alguns jogadores do Sporting revelaram a sua influência no regresso do sistema tático da equipa aos tempos de Amorim. Deve o treinador insistir na sua opção tática, no rescaldo de um treinador marcante e de resultados convincentes? Ou, como aconteceu, ceder aos jogadores que comanda? Esta é uma situação de análise interessante. Na verdade, os jogadores é que jogam, mas quem lidera não são eles... Amorim e Borges, em casos diferentes que são tornados públicos, desafiam o normal exercício da liderança.
Rui Águas, in a Bola

Sem comentários:

Enviar um comentário