Apoiar uma equipa como o Benfica 2024/25 até ao último minuto de cada jogo tem sido uma prova de resistência — umas vezes gratificante, outras desesperante. O trajeto da equipa pediu-nos que suspendêssemos o ceticismo, e foi isso que os adeptos fizeram: apoiar sem reservas até ao final, incluindo após o triste desfecho em Braga. A verdade é que esta equipa nunca se encontrou verdadeiramente: ora venceu de forma esclarecedora, ora se deixou empatar e derrotar na mais improvável das circunstâncias. Pelo caminho, muitos jogadores utilizados e poucas certezas de valor inequívoco e constante. Muitos jogos separaram o empate na Vila das Aves dos pontos perdidos em casa frente ao Arouca, mas o fio condutor esteve sempre lá. Faltou competência e maturidade em momentos decisivos.
terça-feira, 20 de maio de 2025
OS BENFIQUISTAS MERECEM MAIS
Mais do que triste ou resignado, sinto-me um pouco irritado com aquilo que vi no sábado e nos dias anteriores. Enquanto a maioria antecipava uma espécie de batalha campal entre Sporting e Vitória de Guimarães, fiquei com a sensação de que ninguém se lembrou de confirmar se, porventura, o Benfica já tinha ganho o seu jogo frente aa SC Braga, tal foi a convicção com que se ignorou esse adversário. Compreendo que os adeptos façam a sua parte nas redes sociais e que tentem acicatar os ânimos provocando um sentimento de desrespeito aos adeptos do Vitória, mas, voluntária ou involuntariamente, terão contribuído para despertar igual reação nos adeptos e na equipa do SC Braga, que se apresentou em campo pronta para competir de igual para igual e acabou por ser superior ao Benfica em muitos momentos do jogo — incluindo em inferioridade numérica.
A ideia original não era má, mas esbarrou num pequeno obstáculo. Se entrássemos de forma decidida em Braga, garantindo uma vantagem madrugadora, poderíamos alimentar o nervosismo do Sporting em Alvalade, como já se viu contra o Gil Vicente. O Sporting parecia fazer a sua parte, tropeçando nervosamente nos seus 67% de posse de bola ao longo da primeira parte. Acontece que nós fomos para o intervalo a perder e, pior que isso, parecemos incapazes de empurrar o adversário da forma que este jogo pedia. Ninguém gosta de perder um título, muito menos na última jornada frente a um adversário que está ao nosso alcance, mas o amargo de boca é maior quando observamos que o plano de jogo para um novo momento decisivo voltou a ficar aquém do desejado. O balanço da reta final do Benfica no campeonato é muito pobre: em 4 jogos, 3 empates e 1 vitória arrancada a ferros no Estoril. A equipa acabou por ser pouco competente, revelando fragilidades e pouca mentalidade de campeão.
É impossível aceitar que o investimento realizado pelo Benfica nas últimas 4 épocas se tenha traduzido em tão poucos troféus conquistados. De um total de 16 troféus internos em disputa — entre Liga, Taça de Portugal, Supertaça e Taça da Liga — o Benfica soma apenas 3 troféus em 1460 longos dias. Na melhor das hipóteses, se vencer no próximo domingo, chegará a uma taxa de sucesso de 25% nas competições nacionais. Trata-se de um balanço extremamente negativo, e começa a ser oportuno identificar as causas. É claro que podemos enquadrar nessa discussão outras variáveis que prejudicaram a equipa em determinados momentos, mas o grande denominador comum não pode ser encontrado nas arbitragens contra nós ou a favor de outros. Seria um grave engano pensar-se que só as arbitragens privaram o Benfica de conquistar mais títulos durante este período. O problema foi mesmo a falta de competência apresentada em momentos-chave de cada época, pontuada por uma política desportiva muito habitual em clubes com alguma capacidade financeira e pouca ou nenhuma visão estratégica. Despeja-se dinheiro para cima dos problemas na esperança de que estes, milagrosamente, se resolvam.
Ainda assim, fez mal a comunicação do clube em não ser vocal em relação aos erros que prejudicaram o Benfica, especialmente quando estávamos num bom momento; como fez mal em reagir tardiamente — e de forma tímida, quase comprometida — em momentos da temporada que pediam músculo. A fraqueza de espírito desta presidência teve o efeito que se pode esperar em qualquer liderança fraca numa organização de grande dimensão: tornou-se um vírus alojado no clube, que foi alastrando ao longo de 4 anos e produziu uma cultura propensa à derrota e à tibieza.
Diz-se que as grandes equipas começam os jogos a ganhar por força da sua mentalidade vencedora, da sua capacidade de imprimir pressão nos pontos certos. O Benfica de Rui Costa avançou de forma titubeante na direção contrária. A prioridade elencada pelo atual presidente de fazer deste um «mandato desportivo», só possível por alguém que se autointitula entendedor do futebol, foi aquilo a que, na gíria, se chama um monumental flop. Produziu 4 anos sem uma visão clara para o projeto do futebol, em que foram mais as declarações sobre a necessidade proverbial de «assumir responsabilidades», que caíram sempre em saco roto, do que os títulos conquistados. Entre contratações falhadas, equipas remendadas e um despesismo sem precedentes, o Benfica está hoje mais fraco em todas as frentes — e nada me leva a crer que alguma coisa venha a mudar com esta liderança. Está na hora de fazer o que falta: vencer a Taça de Portugal e fazer o melhor Mundial de Clubes possível. Depois disso, será tempo de garantir um novo futuro. O Benfica é muito maior do que aquilo que vimos ao longo destes 4 anos. Os Benfiquistas merecem mais e melhor.
Vasco Mendonça, in a Bola
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