sábado, 12 de novembro de 2016

NOVOS HORIZONTES SE ABREM PARA OS AMANTES DA F1


LIBERTY MEDIA PREPARA ‘STREAMING’ DA FÓRMULA 1 NA INTERNET

Os novos donos da Fórmula 1, a Liberty Media, podem estar a preparar-se para mudar por completo o paradigma dos adeptos “verem Fórmula 1”. Até aqui, Bernie Ecclestone sempre reservou para as televisões o ónus da questão e na última década foi reforçando a sua passagem da TV ‘aberta’ para as ‘pay per view’, como tem acontecido em Portugal, com a Sport TV e agora com o Eurosport 2XTRA. Mas isso pode mudar de algum modo, se a Liberty Media levar avante os seus planos de passar a oferecer o ‘video streaming’ como opção para ver F1 no futuro. Isso não significa, logicamente, que a F1 termine nas TV ‘pay per view’, pois estas complementam a sua oferta com bons programas antes e depois das corridas, tudo explicando ao espetador (é esse o caso do Eurosport hoje em dia) e para além disso, há imensos contratos em vigor que carecem duma transição ou eventualmente uma renegociação, pois com se a F1 decidisse abrir o ‘streaming online’ isso significaria desde logo um enorme rombo nas ‘pay per view’ em todo o mundo.
Imaginemos, por momentos, que a Liberty colocava de pé transmissões ‘streaming online’ do nível que faz a Sky F1 nos grandes Prémios, com os seus operadores e jornalistas constantemente a vaguear pelo paddock a produzir conteúdos, fazer entrevistas, andando sempre em cima do que está a acontecer na hora, e tudo isso a ser passado de imediato para o ‘streaming’, a quantidade de adeptos que, por todo o mundo ‘alinhava’ se o preço fosse razoável. Veja-se o que faz o MotoGP, que é caro, mas muito bom, agora imagine-se se a F1 fizesse algo do estilo, mas bem mais barato. Há muitas questões até que isso possa suceder, a primeira delas a necessária transição depois da decisão de avançar ser tomada, ou seja, pode demorar algum tempo, mas provavelmente é inevitável. É que a forma dos mais jovens consumir vídeo/TV mudou por completo, mesmo muitos mais velhos já quase só vão às ‘caixas’ das suas operadoras e veem o que querem, quando querem, basta ir à procura do que lhes interessa que deu nos últimos sete dias, e os que querem ‘live’, basta terem um smartphone e em qualquer lugar do mundo onde estiverem podem alimentar a sua paixão pela F1.
“Todos estamos muito excitados pela ideia de utilizar ‘toneladas’ de conteúdos de Fórmula 1 e ter um produto premium. Tendo em conta a fabulosa base de adeptos que temos em todo o mundo, ter um produto deste estilo é algo que faz grande sentido para nós. Como é que um produto deste tipo pode ser, exatamente, ainda não sabemos, pois esta é uma ideia que precisa de maturação” disse Greg Maffei, CEO da Liberty Media. Há dois anos, o AutoSport publicou um artigo que já referia uma solução para o problema da perda de adeptos na F1, recorde-o. Era titulado, “E a internet, Mr. Ecclestone?” e foi publicado em 2014.
Bernie Escclestone está preocupado com as audiências em queda da F1, deixando implícito que a culpa era do domínio de Sebastian Vettel e da Red Bull. Será que é mesmo assim ou simplesmente não estão a olhar bem para o problema?
Foram recentemente conhecidas as audiências de TV da Fórmula 1 em 2013 e as notícias não são boas para quem vive do fenómeno, já que os índices caíram 10% face a 2012, o que significa uma quebra de 50 milhões de espectadores.
As razões são várias e se é verdade que foi real a fraca competitividade da modalidade no ano passado, a questão depende muito mais da passagem de transmissões para canais pagos do que outra coisa qualquer. De qualquer modo, não se pode escamotear que depois de cinco pilotos terem vencido corridas na primeira metade da época (seis se não tivesse existido o famoso ‘Multi-21’ da Malásia), desde o GP da Bélgica até ao final da época – nove corridas – não houve outro vencedor que não Vettel. Ora, isto ‘mata’ qualquer desporto de alta competição. Ironicamente, atribui-se parte da culpa a um piloto e uma equipa que simplesmente fizeram o seu trabalho bem melhor do que os outros.
É também verdade que a época passada teve menos uma corrida do que o habitual, mas o que importa verdadeiramente analisar é onde e porquê as audiências caíram. Do lado positivo estão os Estados Unidos, onde os números cresceram 18% face a 2012, algo que se explica com a recente introdução da corrida de Austin no Texas. Na Grã-Bretanha e em Itália as audiências cresceram ligeiramente (no caso inglês houve uma pequena recuperação depois do enorme tombo de 2012, quando a BBC e a Sky passaram a partilhar a cobertura da F1), mas o problema é que sucedeu o contrário em países habitualmente muito fortes. Por exemplo na Alemanha, com uma queda de 10%, mesmo com quatro pilotos no plantel, entre eles o campeão do Mundo. A França, onde também já se tinha percebido o que a troca de TV estatal por pay per view fez às audiências, também teve quatro pilotos, mas o facto de ter como ‘ponta de lança’ Romain Grosjean não foi suficiente para que o interesse dos seus compatriotas tenha crescido. Em Espanha, o ‘efeito’ Alonso tem perdido algum gás. O Brasil, que por motivos óbvios sempre teve muita força, está há muito órfão dos grandes pilotos do passado, e não há como dar a volta a essa situação, já que por muito que Rubens Barrichello e Felipe Massa tenham feito, estiveram muito longe dos feitos de Ayrton Senna e Nelson Piquet, por exemplo. Em 2013 o Brasil voltou a cair 5% e no caso da China o facto de terem passado a ser TV regionais a transmitir a F1, ao contrário da TV nacional, levou a uma queda brutal. E quando se fala de chineses, os números são gigantescos, pois uma queda de 49 para 19 milhões é muito grande.
Este foi só mais um dos exemplos de como a saída da F1 das TVs generalistas para as ‘pay per view’ ou regionais afetou a relação dos adeptos com a disciplina máxima do automobilismo. De resto há ainda os casos dos japoneses, que nos tempos de Ayrton Senna eram absolutamente loucos pela F1, hoje em dia enchem Suzuka, mas no teste do algodão, a TV, os números caíram e muito. Por fim o estranho caso da Rússia, que foi muito sensível ao facto de ter deixado de ali ter um piloto a correr, com uma queda de 10%.Os políticos da F1 já estão a trabalhar neste assunto, e a juntar à entrada do GP da Rússia no calendário, entra também um piloto, Daniil Kvyat. Para mal de Portugal e dos adeptos portugueses, é tão fácil tomarem-se decisões olhando para critérios como o potencial do mercado de bebidas e de audiências de TV.
Internet como solução
A exemplo do que sucede com a imprensa, a F1 está numa encruzilhada complicada de resolver. Dizer que nunca como hoje a F1 teve tantos adeptos em todo o mundo, depois do que escrevemos até aqui, pode parecer um paradoxo… mas é a mais pura das verdades. O mesmo sucede com os jornais, que cada vez vendem menos e cada vez têm maior audiência global. E onde está ela? Na internet! Independentemente do que as novas regras de 2014 possam fazer pelo espectáculo, é bem possível que possam gerar muito maior interesse, basta ver o que sucedeu em Jerez, a verdade é que Bernie Ecclestone e companhia bem podiam ser muito mais cautelosos na passagem para TVs pagas e olhar com outros olhos para a Internet. O que faria pela F1 transmissões online da modalidade com cada utilizador a pagar uma quantia pequena, valor que podia, por exemplo ser gerido pelos fornecedores de internet de cada país ao invés de ficar nas mãos de operadoras de TV que ‘devolvem’ audiências irrisórias? A tecnologia está disponível, e para o comprovar basta lembrar o acordo feito o ano passado entre a a FOM e a Tata Communications. A capacidade atual de streaming através da internet está a crescer todos os dias, e a rede de fibra ótica é hoje capaz de levar as imagens aos quatro cantos do mundo. É claro que os portugueses não seriam capazes de pagar o mesmo que os chineses ou os alemães, mas cada país à sua escala poderia resolver duma vez só a questão das audiências e do valor que ganham Ecclestone e as equipas do Mundial. Então numa era em que a internet ganha todos os dias milhares de adeptos à TV, Mr. Ecclestone e seu pares não têm ninguém que lhes explique esta matemática simples? No caso português, quantos adeptos estariam disponíveis para pagar 2€ ou 3€ para verem a F1 na internet com boa qualidade? É que se continuam a apostar nas pay per view, qualquer dia só uma pequena franja muito endinheirada terá capacidade para ver F1 na TV e e se os patrocinadores sentirem que estão a chegar a muito menos gente (qualquer adepto precisa de ver as corridas, não pode seguir só através das notícias da internet), hesitam ou pura e simplesmente retiram-se da F1. Agora, com o poder multiplicador da internet…

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