terça-feira, 30 de junho de 2020

CAPAS NEGRAS DESFRALDADAS AO SOL DE DEZEMBRO...


"Guilherme Espírito Santo era um homem modesto e quis uma festa modesta no dia em que disse adeus ao futebol do Benfica. Modesta mas belíssima. E comovente. Os seus amigos da Académica de Coimbra prestaram-lhe uma homenagem única.

Dia triste, esse Dezembro. São sempre tristes despedidas, e esta era uma despedida especial. Guilherme Espírito Santo resolvera abandonar o futebol, o desporto que era apenas um dos muitos que praticava. O campeão dizia adeus.
Tinha acabado de cumprir 30 anos. Nasceu no dia 30 de Outubro 1919. Estávamos em 8 de Dezembro de 1949.
Tinha um nome tão extraordinário como o desenrolar da sua carreira: Guilherme Baptista Santana Graça do Espírito Santo. Um halo de santidade em redor de um homem mágico? Era um daqueles divinos negros que atravessaram como cometas o céu do futebol em Portugal. Veio ao mundo em Lisboa, passou parte da sua infância em Luanda, regressou à capital e ao Benfica.
Houve, portanto, na sua despedida, um Benfica - Sporting. Em veteranos. Do lado dos leões, jogou Peyroteo, seu grande rival e amigo. Foi Peyroteo que fez o único golo do jogo, batendo Dyson com um remate poderoso. Em seguida, os jogadores de ambas as equipas fizeram a guarda de honra. Espírito Santo era um senhor. Homem da mais simples das educações, cavalheiro intrínseco. Passou com timidez por entre as alas dos jogadores que o aplaudiam com o respeito que se presta a um ser humano de inequívocas virtudes. No meio do terreno foi ovacionado, em pé, por todo o público presente. Depois, o tenente-coronel Ribeiro dos Reis proferiu um discurso em sua homenagem: 'A festa de hoje deve considerar-se como de consagração de todas as virtudes que Espírito Santo revelou ao longo da sua carreira'. E as palmas estralejaram por todo  recinto, proporcionado à Pérola Negra um momento de grande comoção.

Modesto
Foi modesto a tua festa, pá!, cantaria o Chico Buarque. Festa modesta porque Guilherme Espírito Santo assim o quis. Rodeou-se dos velhos companheiros e adversários que tanto o respeitavam: Gustavo Teixeira, Francisco Albino, Rogério de Sousa, Valadas e Domingos Lopes, Artur Dyson, João Jurado, Abrantes Mendes, Aníbal Paciência, Fernando Peyroteo... Pediu a José Travassos que fosse o árbitro do jogo das velhas guardas, quis ter presente a Académica, clube onde tinha profundas amizades.
O poder não falhou a sua presença. Salazar Carreira leu a Espírito o louvor da Direcção-Geral dos Desportos. Os academistas fizeram questão de se fazer fotografar com ele de capa sobre os ombros, em honra profundamente universitária.
As primeiras guardas do Benfica e da Académica defrontaram-se no jogo da tarde amena de um Dezembro frio. Tavares da Silva, um dos grandes nomes do jornalismo português, desafiou nas colunas do seu jornal umas frases comovidas: 'Muito fez Espírito Santo para merecer a festa que teve. Talvez, até, uma desta demasiado singela para um desportista que atingiu no nosso país um lugar de eleição. Mas Espírito Santo apareceu modestamente, e modestamente quis sair'. De 1936, quando se estreou de águia sobre o coração na primeira equipa dos encarnados, marcando um golo num jogo amigável frente ao Vitória de Setúbal (5-2), àquela tarde de 1941 que num dérbi contra o Sporting se viu obrigado a substituir Martins na baliza do Benfica e fez uma exibição de encantar todos os que a ela assistiram, Espírito Santo foi marcando o futebol e o desporto entre nós. Primeiro africano a jogar na selecção nacional, no dia 28 de Novembro de 1937, com 18 anos, numa vitória histórica em Vigo, frente à Espanha, foi campeão e recordista nacional de salto em altura (1,82), em 1938, uma semana antes de bater, igualmente, o recorde nacional de salto em comprimento (6,89), vindo também a ser recordista de triplo salto (14,15). Além do mais, foi um tenista de excelência.
Não havia desporto para qual Guilherme não tivesse queda. Atleta completa. Atleta feliz. Nessa tarde de Dezembro, Guilherme Espírito Santo vestiu pela última vez a camisola encarnada da sua paixão como jogador de futebol - continuaria a praticar outros desportos -, e o Benfica venceu a Académica por 7-1. Nem por isso os estudantes deixaram de erguer bem alto as suas capas, desfraldando-as ao vento. A sombra batia no relvado e abria em flor. Como se o sino da velha cabra da Universidade também tocasse em nome de Guilherme, o Espírito Santo."

Afonso de Melo, in O Benfica

O FACTOR RESILIÊNCIA EM TEMPOS DE DESISTÊNCIA


"Em 1937, depois de uma época 'brilhantíssima (...) talvez como nunca tivesse tido', o râguebi lisboeta ia 'de mal a pior'.

Quando a modalidade se iniciou no Benfica, em 1924, o râguebi era praticamente uma novidade entre os portugueses. Quase quinze anos depois, era 'considerado por muitos como um jogo violento'. O Benfica recomendava a sua prática a homens 'física e moralmente fortes', dando à execução do râguebi um espelho daquilo que pretendia reflectir se si próprio enquanto Clube.
Depois de alguns anos de desenvolvimento, a modalidade esteve às vésperas de se extinguir, em Lisboa. Para contrariar esse processo, o Benfica foi fundamental, fazendo 'o impossível para que tal não suceda'.
No final de 1936, disputou-se a Taça António Simões, no Campo das Amoreiras. Nesse campo competiram as quatro equipas inscritas: Académico SC, CF Os Belenenses, Ginásio CP e Benfica, que venceu a competição somando 120 pontos contra 10 sofridos, em três partidas.
Avizinhava-se o Campeonato de Lisboa, com grande expectativa. Para concretizar uma bela competição, o quinze do Benfica foi composto 'quási exclusivamente por estudantes', recrutados de escolas onde se praticava o râguebi. Parte da degradação da modalidade devia-se à incompreensão de alguns praticantes, degenerando 'em verdadeira batalha campal quando esses homens não possuem uma noção exacta do desporto'.
'Para surpresa de todos', apenas duas equipas se inscreveram: o Benfica e o Académico SC. O râguebi 'lisboeta, pelos vistos, vai de mal a pior', comentavam os jornais. O campeonato seguiria, com duas equipas, em 1.ª e 2.ª categorias, com datas marcadas para 4 de Abril e 9 de Maio de 1937, no Campo das Amoreiras. Mas, em todas as partidas, 'ao Benfica foram adjudicados os pontos regulamentares' por falta de comparência da equipa adversária, que 'seguiu as pisadas dos outros clubes'.
Nos jornais, as notícias de râguebi viram-se reduzidas a um parágrafo, sendo um 'campeonato sem jogos, sem história'. A imprensa criticou as equipas 'que fugiram à chamada'. Os clubes argumentavam que tinham 'falta de local para treinos'.
O Benfica 'adjudicado' campeão, recebeu uma taça com pouco mais de 15 centímetros, compatível com que a secção do Clube descreveu ser uma 'história tão triste, que é preferível pormos um ponto final no assunto'.
Este episódio é um exemplo fundamental de que impedir a realização do bonito espectáculo do desporto não é, nem nunca foi, uma decisão bem aceite. A resiliência do Benfica ao continuar 'a trabalhar para que não acabe tão belo desporto', face às acções e 'culpa única de alguns senhores que se julgam desportistas', valeu mais que o reflexo da prata que recebeu.
Saiba mais sobre a história do 'desporto da bola oval' benfiquista na Área 2 - Jóias do Ecletismo, no Museu Benfica - Cosme Damião."

Pedro S. Amorim, in O Benfica

PRIMEIRAS PÁGINAS: O FESTIM DOS PASQUINS TUGAS


segunda-feira, 29 de junho de 2020

DESCALABRO ATRÁS DE DESCALABRO...


O Benfica perdeu esta segunda-feira frente ao Marítimo, por 2-0, no Funchal, em jogo a contar para a 29ª jornada do campeonato nacional. Correa e Rodrigo Pinho apontaram os golos dos insulares que deixam o Benfica mais longe de revalidar o título.
A primeira oportunidade de golo do Benfica surgiu bem cedo no jogo logo aos três minutos. Valeu Amir Abedzadeh ao Marítimo. Depois de um cruzamento de Nuno Tavares, que lançou Chiquinho na frente, este apareceu na cara do guarda-redes do Marítimo da Madeira, mas este conseguiu defender.
Aos cinco minutos, o Benfica voltou a tentar a sua sorte com um remate fortíssimo de Chiquinho, que atirou do meio da rua, mas Amir afastou a soco. Os encarnados iam acumulando remates perigosos que iam ao encontro da facilidade dos homens de Bruno Lage de chegar ao último terço do campo adversário.
Aos 17 minutos, os encarnados voltaram a ameaçar a baliza do Marítimo. Na sequência de um passe rasteiro de Chiquinho para Vinícius, este apareceu sozinho na cara de Amir, mas este negou o que parecia ser um golo certo. O lance prosseguiu, Pizzi ainda tentou o segundo remate, mas o guarda-redes muito atento, voltou a defender.
Cinco minutos depois, os homens de José Gomes 'gelaram' o Benfica ao inaugurar o marcador. Rodrigo Pinho atirou para o fundo das redes de Odysseas, mas o lance acabaria por ser anulado por fora-de-jogo. Hélder Malheiro ouviu a confirmação do VAR e mandou seguir.
Depois de um período com vários oportunidades de perigo por parte do Benfica, os homens de Lage foram perdendo potência ao mesmo tempo que o Marítimo ia ganhando espaço. Aos 40 minutos surgiu um cruzamento de Chiquinho para a área, mas Vinícius não chegou e Cervi também não conseguiu finalizar. O lance acabou por ser anulado por falta ofensiva do brasileiro.
O nulo manteve-se até ao final da primeira parte. A segunda parte arrancou da mesma forma que a primeira, com um Benfica muito forte e chegar com relativa facilidade ao setor defensivo dos insulares.

Ao minuto 58, Bruno Lage tirou um cansado Samaris para dar lugar a Rafa e ainda Carlos Vinícius para a entrada de Haris Seferovic. Alguns minutos depois de entrar, o jogador suíço teve uma boa oportunidade de dar o primeiro golo ao Benfica. Depois de um cruzamento milimétrico de André Almeida, o avançado suíço apareceu ao segundo poste, ainda tocou na bola, mas não conseguiu finalizar.
Aos 73 minutos, os encarnados voltaram a sofrer alterações. Desta vez, Lage tirou Pizzi e Cervi para as entradas de Zivkovic e Dyego Sousa. Um minuto depois, o Marítimo marcou por Correa. Depois de uma grande jogada de Nanu, que passou por Ferro e Zivkovic, este meteu rasteiro para o segundo poste onde apareceu Correa a finalizar. Já quase sem ângulo, o argentino colocou a bola entre o poste e Odysseas e marcou mesmo.
A emoção não parou nos Barreiros e Nanu voltou a fazer das suas com um golo muito similar ao anterior. Depois de uma correria de Nanu, este voltou a meter rasteiro para o segundo poste onde desta vez foi Rodrigo Pinho quem apareceu a marcar.
O passar do tempo ia mostrando um Benfica cada vez mais fraturado e foi assim que Tagueu chegou ao terceiro dos insulares. Um passe longo lançou Tagueu, Odysseas saiu da área mas falhou a intercepção e o avançado dos insulares seguiu e atirou para o fundo da baliza vazia. Hélder Malheiro ouviu o VAR e o lance acabou por ser invalidado por fora-de-jogo.
Com esta derrota, a segunda consecutiva, os ‘encarnados’ somam 64 pontos, a três do líder FC Porto, que pode aumentar a vantagem no jogo de hoje em Paços de Ferreira, enquanto o Marítimo sobe ao 12.º lugar, com 31 pontos, confirmando a descida do Desportivo das Aves à II Liga.

DOIS LAGES NA MESMA MOEDA

"Quando um clube contrata um treinador.
Contrata uma ideia de jogo.´
Contrata um modelo táctico e posteriormente jogadores de acordo com esse modelo.
Contrata uma pessoa com um perfil e uma postura.
Mais ou menos agressivo nos diálogos com a imprensa.
Mais ou menos “atrevido” nas substituições e no risco que o jogo pede.
Tudo isso está bem patente.
Mais professor e estudioso ou ex-jogador e da velha guarda.
Aspas para todos estes termos que podem convergir.
O mercado tem de tudo.
O grande problema foi que Lage não estava no mercado.
Não se conhecia a forma nem o conteúdo. Lage era interino.
E como tal uma solução passageira para um clube que dava o campeonato como entregue. 
Surpreendeu tudo e todos.
Até ele se deve ter surpreendido.
E com resultados há paciência e há tempo.
Agora vamos ao outro lado.
Quando os adeptos veem a contratação de um treinador.
Esperam vitórias.
Ponto.
Não querem saber se jogam bem ou jogam mal.
Se a comunicação é assertiva.
Se falam bem ou mal.
Se as substituições são bem feitas ou não resultam.
Tudo isso pouco interessa para o adepto comum.
O adepto quer vitórias e títulos.
Quer ganhar.
Esqueçam o futebol bem jogado e as notas artísticas.
Futebol é para quem ganha.
Sempre foi.
E quem hoje dorme como herói.
Amanhã acorda como vilão.
Quando os treinadores não ganham.
Vem a magia e o feitiço da derrota.
A derrota transforma a educação em deselegância.
Transforma alguém que fala sobre tácticas e estratégias.
Em alguém que fala em almoços e favores.
O que quero explicar é o seguinte.
Não podemos esperar que Lage seja algo que não é.
Assim como Rui Vitória já não era.
Na hora da derrota.
Ser boa pessoa e bom pai de família vale o mesmo que ser parvo e órfão.
Já ninguém se lembra dos bebés de Lage.
Até porque os deste ano são embriões.
E os do ano passado já não são bebés.
E agora estão naquela idade que só fazem asneiras.
E lá está.
Este Pai não dá uma palmada quando é preciso.
E muito menos castigos.
É mais de conversa.
Lage só tem uma salvação.
E ela está a quatro pontos de distância.
E ele sabe disso.
Quem hoje o assobia e pede a sua saída.
Vai aplaudir e pedir a sua permanência.
E isso amigos.
Não se chama ingratidão.
Tem outro nome.
Chama-se futebol."

PRIMEIRAS PÁGINAS DO JORNALIXO TUGA


domingo, 28 de junho de 2020

VALE A PENA VER ESTES 8 MINUTOS À BENFICA

                       

JULIAN WEIGL: UMA LUZ NO MIOLO DA ESCURIDÃO ENCARNADA

"Julian Weigl protagonizou uma das transferências mais inesperadas da presente temporada, ao abandonar os alemães do BVB Dortmund pelo SL Benfica, a troco de 20 milhões de euros. O médio defensivo de 24 anos não era uma aposta regular na equipa alemã, pelo que decidiu que o melhor rumo para a sua carreira seria vir para Lisboa.
Julian chegou, viu e tem jogado, quase sem parar. Desde a sua chegada, em Janeiro, que o alemão é um titular indiscutível no onze encarnado, tendo já igualado ao serviço das “águias” o mesmo número de jogos para a liga (13) que tinha ao serviço do Dortmund.
No entanto, o alemão chegou numa altura em que os encarnados já se encontravam numa fase descendente no que à qualidade exibicional diz respeito, pelo que Weigl, quer pelo valor da transferência, quer por todo o peso que o seu nome tem, tornou-se num bode expiatório para alguns analistas/ fãs que tentam justificar a queda exibicional dos encarnados com a entrada do alemão no onze. A causa da queda exibicional começou no banco e nos camarote presidencial da Luz, mas isso é um tema que merece ser abordado com mais calma.
Continuando com o tema em análise, penso que é visível para todos que há dois “Julians” completamente distintos ao serviço dos encarnados: um Julian pré-paragem do campeonato, e um Julian pós-paragem do campeonato.
O Julian pré-paragem do campeonato era um jogador que, apesar de ter uma boa capacidade de construção e de passe, mostrava pouca agressividade na disputa de bola, sendo quase sempre superado pelos adversários no “1vs1”, algo que não é aceitável para um “trinco” que joga num clube da dimensão do Benfica.
O Julian que temos visto nos últimos quatro jogos tem mostrado mais à vontade a construir jogo, baixando no terreno e metendo-se entre os centrais, promovendo uma melhor circulação de bola. No entanto, o que é mais notório no alemão é a mudança na intensidade do seu jogo. Weigl tem mostrado muito mais agressividade na disputa pela bola, somando inúmeros desarmes e intercepções no miolo do meio campo das “águias”, o que me leva a crer que, num futuro próximo, poderá juntar-se a nomes como Matic, Javi Garcia ou Witsel, assumindo-se como mais um grande médio defensivo na história recente das “águias”.
Apesar de os encarnados estarem numa situação extremamente delicada – com inúmeras escorregadelas e instabilidade interna, mais propriamente ao nível do treinador -, Weigl tem mostrado de que fibra é feito, pelo que podemos assegurar que o Benfica tem no alemão um médio defensivo de enorme qualidade que, com as condições certas, pode ajudar o Benfica a chegar a patamares mais elevados."

5 DOS MELHORES REMATADORES DO SL BENFICA NO SÉCULO XXI

"O futebol português nunca teve a tradição física de outros, tornando-se famoso pelo futebol aveludado, mas inconsequente. O remate de longe, solução habitual noutras ligas do Norte europeu, nunca teve a mesma preponderância em Portugal, num futebol cheio de anões tecnicistas onde a procura do golo se fazia por trocas rápidas rumo à baliza adversária.
Houve claras excepções à regra, a mais vincada Eusébio da Silva Ferreira, mas nunca o futebol luso se desenvolveu nesse sentido; antes guiou a evolução técnica do futebol europeu, que abandonou as concepções do kick ‘n rush e se aproximou das ideologias ibéricas, com a bola no solo e circulação sem pressas.
No caso do SL Benfica, houve inúmeros rematadores de renome – Eusébio, Vítor Baptista, Carlos Manuel, até… Calado –, mas que foram escasseando em número e qualidade diferenciada na execução dos remates exteriores, num futebol cada vez mais descodificado e com preferência por outro tipo de acabamento.
O remate exterior era tentado muito mais regularmente no futebol de outrora, assistindo-se hoje quase à segregração do remate de meia distância como último recurso ou pronta solução quando a criatividade se ausenta. Os especialistas de bola parada escasseiam também, o que leva a que se assista cada vez menos a lances antológicos à distâncias, momentos primordiais no espectáculo da bola.
Por exemplo, em 2018-2019, a Primeira Liga portuguesa teve apenas 86 golos de fora da área em… 826, o que representa 10,4%; esta temporada, o número é ainda menor, com apenas 38 em 621, até ao fecho da jornada 28ª, o que representa apenas 6% do total.
Nesta lista, são relembrados cinco dos melhores rematadores deste século do SL Benfica. Desde 2000 e com direito a taxa de golos apontados de fora da área em relação aos golos totais, apresentamos os seus perfis e algumas das suas melhores bombas. De fora ficou Jonas, pela proximidade temporal, mas os seus números em relação ao tema aqui ficam: dos 137 golos apontados de águia ao peito, o brasileiro converteu 15 de longe, ou seja, 11%.

1. 20 golos pelo Benfica – 9 de fora da área (45%)
Anderson Talisca (2014-2016) – O brasileiro faz do remate à distância uma das suas principais qualidades, o que aliado à técnica prodigiosa e força física o tornam num perigo iminente em cada ataque da sua equipa.
No Benfica, jogando atrás do ponta-de-lança ou como segundo médio, nunca desaproveitou oportunidades para meter em prática o seu gesto técnico predilecto, valendo-lhe golos de antologia que se tornaram na sua imagem de marca.
As atitudes menos próprias não apagam os momentos de extâse que os adeptos sentiam ao verem-no puxar atrás a canhota, com a certeza de que aquela bola acabaria no fundo das redes. Com outro perfil psicológico teria sido um dos grandes nomes do nosso futebol e do contexto europeu, mas a instabilidade levou-o a ligas periféricas, onde o seu talento avassalador para a prática futebolística nunca teve os estímulos que merecia.

2. 172 golos pelo Benfica – 26 de fora da área (15%)
Óscar Cardozo (2007-2014) – Sempre foi adepto do porte de arma, e argumentava que essa era a segurança de que a equipa precisava e que só ele lhe conseguia dar em campo. Se as soluções de assalto ao golo não resultavam, lá vinha ele de arma no pé, em tiroteios letais que faziam da sua canhota como a autora de homícidios horrendos a zeros aborrecidos no marcador.
E tanto golo houve que é natural não ter a taxa de aproveitamento de outros, mas o melhor marcador estrangeiro da História benfiquista tinha tanta empatia com as redes que preferia movimentar-se na grande área, onde o seu instinto guiava rumo à bola perdida a pedir golo.
Só em casos específicos de dificuldade em chegar ao último terço é que ele era obrigado a recorrer à sua meia distância, vindo atrás pegar na redondinha e, abusando da força, fazer o favor de fuzilar o guarda-redes contrário. Mas nem sempre era dessa forma bruta: em Enschede, num play-off da Champions frente ao FC Twente, parte em contra-ataque no seu jeito descuidado na condução. Soluções de passe eram poucas, sem ser Aimar na procura do espaço; Óscar vê Mihaylov a querer controlar a profundidade e, com todo o cuidado, coloca-a em arco rumo ao buraco da agulha no canto inferior direito. Golaço.

3. 64 golos pelo Benfica – 31 de fora da área (48,4%)
Simão Sabrosa (2001-2007) – Engane-se quem via no seu tamanho pouca apetência para as bombas exteriores. Bombas com asas que descreviam trajectórias muitas vezes curvílineas e que só poisavam nos ângulos superiores da baliza adversária.
É até hoje o mais eficaz em bolas paradas a seguir a Eusébio, e isso por si só diz muito da técnica prodigiosa de Simão no remate à baliza. Ao movimento preferido – a diagonal a partir da esquerda finalizada com um remate em arco ao segundo poste – adicionava outros momentos impulsivos de tiros certeiros com o peito do pé, que, não tendo naturalmente a mesma força de outros, resolvia com a direcção e o timming perfeitos.
O golo em Penafiel, em 2005-06, é a maior prova da sua versatilidade enquanto rematador: um dos poucos livres da sua carreira que embate na muralha defensiva é concluído com uma recarga em força que só termina no ângulo da baliza de Nuno Santos.

4. 14 golos pelo Benfica – 9 de fora da área (64%)
Petit (2002-2008) – O estilo aguerrido e pragmático das suas equipas é consequência das suas melhores qualidades enquanto jogador – não era um tecnicista, mas sabia perfeitamente como lidar com a redondinha, o que ajudava quando a recuperava vezes sem conta, fruto da sua garra e capacidade de tackle.
Na sua zona de acção era tudo dele, calcanhares incluídos, postura que lhe valeu a alcunha de sempre: Pitbull. E se, apesar da robustez física do seu jogo, sabia perfeitamente a melhor maneira de entregar e progredir com ela colada ao pé, era também muito competente no momento da finalização à distância, aplicando força e direcção certeiras nos seus remates.
Também não se fazia rogado de experimentar em jeito e até picado, como Landreau tão bem se deve lembrar. Nessa noite, Petit fez o segundo nos 3-1 do SL Benfica de Fernando Santos ao PSG, em jogo a contar para a Taça UEFA, com muita finesse à mistura: o guarda-redes francês, certamente atento às decisões habituais do médio, viu a preparação na zona de tiro e adiantou-se para limitar ângulos. O português reparou, agradeceu e meteu-a por cima, com a classe dos predestinados.

5. 17 golos pelo Benfica – 7 de fora da área (41%)
Tiago Mendes (2001-2004) – Foi uma pedrada no charco quando chegou, parte integral de um pack valioso que o Benfica resgatou em Braga: o médio, Armando Sá e ainda Ricardo Rocha, que chegaria mais tarde.
As qualidades do jovem Tiago, saído das camadas jovens do SC Braga pela mão de Manuel Cajuda, revolucionaram um meio-campo a precisar de qualidade. Um ‘8’ moderno, de fino recorte técnico e com chegada à área – Tiago associava-se eficazmente com os homens da frente, naquele seu jogar de pantufas que depois convenceu Mourinho a levá-lo consigo para Inglaterra.
Se o adversário não permitia as tabelinhas, Tiago tinha no seu repertório a técnica de remate necessária para ser perigoso à distância, como mostram os golos no último derby no velhinho Alvalade ou no 4-3 de Milão, frente ao Inter. Carreira fora, continuaria a mostrar dotes de bombardeiro, tornando-se inesquecíveis alguns golaços, como o que marcou pelo Chelsea FC em pleno Old Trafford."

CONFERÊNCIA DE IMPRENSA | ANTEVISÃO #CSMSLB

                                           

PRIMEIRAS PÁGINAS DOS MÉRDIA JORNALEIROS TUGAS


sábado, 27 de junho de 2020

HUMILHANTE


"Não podemos esconder a realidade. As decisões têm de ter em conta o futuro. Este presente não tem futuro.

O Benfica perdeu em casa com o Santa Clara, o que por si só já seria uma má notícia para os adeptos. Mas este é apenas um de uma série de resultados que não podem ser aceites nem por adeptos, nem por atletas, nem por dirigentes do Benfica. A pior série de resultados em casa desde 1937. Já nem posso perguntar ao meu pai como foi da última vez, porque não era nascido. Só o meu querido e falecido avô, que me fez benfiquista, me poderia dizer o que é viver algo assim.
Este Benfica pós-Covid-10 foi a pior pandemia que o universo benfiquista poderia receber. Isto não tem explicação, não é aceitável e exige uma resposta.
Fulanizar em Bruno Lage pode ser simplista e injusto. No fundo, é o mesmo treinador que nos deu o improvável campeonato da última época, a Supertaça por 5-0 na pré-época e uma primeira volta quase imaculada neste campeonato. No futebol, é o treinador o primeiro responsável pelos resultados, e estes são desastrosos, muito para lá do que a dor benfiquista consegue suportar.
Os 3-4 contra o Santa Clara são um episódio de um deplorável caminho. Não podemos esconder a realidade. Quando pensamos que vimos o pior, o jogo que se segue mostra um cenário mais escuro. Sem meias palavras, este campanha é humilhante. O plantel tem qualidade, há bons jogadores, mas o azar não explica metade do que tem acontecido. Faltam seis jogos e sobretudo uma final da Taça de que não podemos abdicar.
As decisões têm de ter em conta o futuro do Benfica. Muito mais do que fazer caça às bruxas ou procurar justificações pouco lisonjeiras para quem serve o Benfica, há que cuidar já do futuro. Mas com a mesma clareza digo que este presente não tem futuro. Cada jogo que se aproxima é mais um penoso desafio se não se inverter o caminho. Quando vemos o rival a jogar tão mal ainda sublinhamos mais a nossa incapacidade de fazer diferente. Só o futuro interessa, só as vitórias e a forma de as conseguir são agenda. Neste momento desvalorizamos bons jogadores, pomos em causa trabalho positivo de muitos e metemos uma massa adepta em depressão sem necessidade nem justiça.
Nesta altura, termino como Régio nos Poemas de Deus e do Diabo:
Não sei por onde vou.
Não sei para onde vou.
Só sei que não vou por aí!
Viva o Benfica."

Sílvio Cervan, in A Bola

OBSERVADORES DE SOFÁ


"1. Não sou treinador de futebol. Sou apenas um especialista de bancada. E como, para já, nem isso nos deixam ser, estou apenas reduzido - como todos estamos - à condição de observador de sofá.
2. Ora, o sofá dá-nos isso: dá-nos capacidade de observação. E concede-nos essa faculdade com uma acuidade acrescida. Isto é: vemos os jogadores no grande momento da verdade - ou seja, a jogar, a exercerem os seus desempenhos singular e colectivo, que, afinal, é o que mais interessa para as questões da classificação e dos campeonatos.
3. A capacidade de observação de um analista de sofá é, mesmo, do melhor. Disso não há dúvidas. Com as maravilhas da técnica, até lhe dão a ver a coisa de vários ângulos, em repetição, uma e outra vez e sem faltar o ralenti. Nunca falha nada. Nem os erros escandalosos dos árbitros, nem as vergonhas dos vares. Nem as diversas e soezes durezas da maldita realidade dos factos.
4. Um observador de sofá não precisa de saber de treinos, nem de preparações, nem de palestras técnicas, nem de massagens. Dispensa, o conhecimento dos dados físicos, fisiológicos, técnicos, etc... que advêm do uso dos elásticos de GPS, do mapa das tomas de banhos de gelo ou do cumprimento rigoroso do regime alimentar dos atletas. Prescinde até de conhecer a que horas comem eles e o que é que comem. Um observador de sofá pode ignorar olimpicamente se eles dormem a sesta quando não há jogo; mas, seja do sofá ou da bancada, não haverá ninguém como ele, para destrinçar quem vai a jogo para passar pelas brasas...
5. Tem ainda outra coisa, assim que o jogo começa, com a primeira apitadela do árbitro: ele vê tudo, como ninguém; e, se não é à primeira, é à segunda; ou, se não for à segunda, à terceira será. Mas, falando por mim, ceguinho seja eu se - com os anos da prática de ver, da bancada e da televisão (desde o tempo dos canais a preto-e-branco...) - não tenho obrigação de ver tudo melhor e mais depressa do que qualquer especialista, sentado que ele esteja, seja lá em que cadeira for do estádio. Era só o que faltava.
6. A gente, com a televisão (e mesmo com o som da sport tv desligado) dispõe daquele dom especial (acrescentado pela experiência histórico de cada um) de olhar ao longe, de enxergar ao longe, de saber ver bem ao longe e de observar ao perto e ao pormenor, melhor e primeiro e mais depressa do que a generalidade dos melhores experts do mundo todo condenados a ver ao vivo.
7. Esse, aliás, é o crédito que todos os mais encartados peritos de futebol, eles próprios sem excepção, nos atribuem a nós, os especialistas de bancada ou analistas de sofá, sempre que lhes ouvimos afirmar que nós - os adeptos (.... e todos os adeptos são, cada um à sua maneira e conforme os casos, ou treinadores de sofá ou analistas de bancada, porque senão, não iam à bola...) - fazemos, realmente, muita falta ao jogo, não é verdade?
8. Resumindo. Por muito contraditória que a minha conclusão de hoje possa mostrar-se, às vezes, até parece que seja a nós que o futebol jogado como deve ser - com arte, talento e entrega - faça mais falta...."

José Nuno Martins, in O Benfica

"ESPECIALISTAS" E "ENTENDIDOS"...


"Ao longo dos últimos anos, assistimos a uma multiplicação de programas de debate e opinião sobre o futebol jogado dentro das quatro linhas e, em especial, sobre o que o rodeia. E não é fácil escapar-lhes, basta ligar a televisão, et voilà. Em consequência, multiplicam-se igualmente os 'especialistas' e 'entendidos' na matéria.
Podemos argumentar que é um exagero; mas, se é verdade que ocupam horas e horas nas nossas televisões, também é certo que há um público sedento de os consumir. E nunca a questão será um tema, porque existem alternativas para todos os gostos. A questão, bem mais grave, é de outra ordem.
Muito do que ali se diz e afirma é feito sem qualquer escrutínio, sem qualquer contraditório. Vale quase tudo. A coberto da liberdade de expressão (e de imprensa) - que, naturalmente, compreendo, respeito e defendo -, para alguns é simples, banal mesmo promover a incoerência, adulterar factos, deturpar informações e sonegar a verdade.
Num patamar seguinte, estão aqueles que, cada vez que dizem algo, o fazem pela negativa. Tudo é mau. Sempre. Nunca têm a hombridade nem a seriedade de falar das boas decisões, dos resultados positivos, dos sucessos obtidos ou dos títulos alcançados.
Diz a sabedoria popular que só não se sente quem não é filho de boa gente. Ser-se criticado, de forma construtiva, é uma coisa: a crítica bem-intencionada, que nada tem de odiosa, deve ser bem-vinda, e é útil lidar com ela. Todavia, ser-se criticado sem fundamento, injuriado ou caluniado, com recurso sistemático e habilidoso à mentira, é outra coisa bem diferente.
E este não é um problema exclusivo das televisões. Diariamente, assistimos a comportamentos similares nas colunas dos jornais e no universo digital.
Vem tudo isto a propósito das 'opiniões' e contradições de alguns desses comentadores - nomeadamente de um conhecido velhaco, a quem não se conhecem dotes de bailarino...
Dizer-se hoje que o plantel do Benfica é fraco, desequilibrado e mal planeado quando, há uns meses, tendo como referência o mesmo plantel, se dizia que em Portugal havia o Benfica e depois havia os outros tal era o fosso qualitativo entre plantéis, revela o quê? Falar de transferências de jogadores, de uma forma extremamente grave, sem o cuidado de procurar, previamente, junto de quem saiba, o contraditório, que deitaria por terra qualquer especulação, é o quê?
Outros dizem que, depois de superar com distinção o teste do sucesso financeiro e das infraestruturas, o Benfica chumbou na cadeira do sucesso desportivo. Mas ganhar cinco dos últimos seis campeonatos não é sucesso desportivo? Conquistar o primeiro tetra da história do Benfica, o primeiro bicampeonato em 31 anos e o primeiro tricampeonato em 39 anos não será sucesso desportivo? Tomar o lugar de outro clube no trono da hegemonia do futebol nacional, ou conquistar todos os títulos que o nosso clube conquistou na última década, facto superado apenas pela dourada década de 60, não é sucesso desportivo? Se não é, o que será então? Uma década com duas finais europeias e o 11.ª lugar no coeficiente de clubes da UEFA, pesando embora as enormes diferenças entre ligas, bem como entre os orçamentos dos clubes europeus, será o quê? Uma década em que apenas quatro clubes marcaram sempre presença na Liga dos Campeões: Barça, Real, Bayern e ... Benfica.
Basta puxar um pouco pela memória e procurar perceber as reais motivações de quem critica. No caso de muitos dos tais 'especialistas' e 'entendidos', não seria difícil darmos com as agendas pessoais de cada um - eles próprios são quase sempre os primeiros a contradizer-se e a deixar soltas as pontas do rasto de invejas e ódios, de histórias passadas, de raciocínios toldados pela síndrome de clubite aguda ou, até mesmo, bem explícitas as verdadeiras razões que hoje lhes ditam determinados comentários.
Resta-nos avaliar factos e, sobretudo, recusarmos alinhar no 'ouvi dizer que'. Mas, no limite, talvez na valha a pena lembrar Churchill, que dizia que era bom ter inimigos - era um sinal de que, em determinado momento da nossa vida, lutámos por qualquer coisa de muito significativo."

Nuno Costa, in O Benfica

SEMANADA...

"1. Votação do Orçamento. O Benfica tem hoje uma “Assembleia Geral” que não fosse a situação do covid-19 seria um momento certamente muito quente. No entanto, não quer dizer que não seja um momento de interesse. Há algumas coisas a dizer sobre esta “Assembleia Geral”: (1) foi estranho todas as voltas que se deu. Primeiro Luís Nazaré queria uma AG toda online e a Direcção queria uma AG presencial. Luís Nazaré acabou por se demitir, mas a AG acaba por ser um híbrido. Parece mais que os maus resultados fizeram com que o Benfica quisesse ter uma AG assim; (2) O resultado não serve para nada. Ontem li os Estatutos e tentei-me informar sobre o assunto. Aparentemente, caso os sócios chumbem o Orçamento, este Orçamento é posto em prática na mesma. O que é só mais um exemplo do quão anti-democrático é o Benfica de Luís Filipe Vieira; (3) A votação electrónica permite muitas coisas. É compreensível que exista votação electrónica, mas deveria haver um sistema mecânico que assegurasse o resultado. A solução ideal é uma máquina electrónica que cuspa um papel com os votos do sócio que acabou de votar e esse sócio depois coloca o papel num caixa de voto normal. Votos contam-se electronicamente e caso seja necessário há recontagem com os votos das caixas de voto; (4) É muito importante ir votar hoje na mesma. O voto na verdade não vale para nada. Visto que nada acontece se o Orçamento for chumbado. Mas todos os votos têm um significado. É muito provável que o orçamento chumbe hoje. E caso isso aconteça, é um sinal importante dado à Direcção que os sócios estão fartos desta política desportiva.
2. A situação do Futebol. Na minha opinião não se despede um treinador de projecto. Se um treinador provou no passado que se encaixa naquilo que o clube pretende, esse treinador deve ficar independentemente dos resultados. Para além disto, com que lata é que o LFV, Rui Costa e Tiago Pinto se vão virar para o Bruno Lage a dizer:"Tás a ver aquele segundo avançado que pedias e nós demos-te um PL? E o Bruno Guimarães? E a confusão que fizemos com o lateral direito? E o Plantel curto? Pá, tinhas razão... Já agora, estás despedido". Posto isto, a maneira como a imprensa sabe de tudo o que passa na cabeça da “estrutura” do Benfica e publica coisas antes de estar tudo definido impressiona-me. Aparentemente Bruno Lage ia mesmo sair ontem. Mas ninguém quis o lugar já, nem sequer Renato Paiva, como tal, Bruno Lage afinal fica. Já não é a primeira vez que o Benfica quer muito algo e depois quando não consegue afinal já não era preciso. Foi assim com o guarda-redes, queríamos muitos, tentámos 3-4 diferentes. Mas depois já não era preciso. Foi assim com Bruno Guimarães, que era muito preciso (e era mesmo) mas depois foi para o Lyon e afinal já está tudo bem. 3. Jardel recuperou a titularidade. Entretanto já a perdeu, mas Jardel foi titular nos primeiros dois jogos na retoma e neste jogo contra o Portimonense deu para perceber porquê. Já antes da retoma estávamos a sofrer mais golos pelo lado esquerdo do que pelo lado direito. Isso acontece, não é necessariamente culpa do Ferro. Mas nas bolas paradas tem sido consistentemente culpa do Ferro e também de uma organização defensiva estranha - tem sido costume termos 4 ou 5 jogadores na zona do primeiro poste e só 2 na zona do segundo poste. O Benfica tem uma estatura média relativamente baixa no seu onze inicial. Metade do onze inicial está abaixo do 1.80m (Grimaldo, Rafa, Pizzi, Cervi e Taarabt). Ferro até dos mais altos, mas tem perdido duelos aéreos que é uma coisa assustadora e isso valeu ao Portimonense o primeiro golo há umas semanas. Jardel neste aspecto dá outro tipo de segurança. Esta titularidade também lança algumas questões sobre o plantel da próxima época. Se Jardel for de facto titular daqui para a frente, Ferro continua a ter qualidade para ser um central do Benfica - provou-o no ano passado apesar desta segunda metade menos boa. Luís Filipe Vieira já elogiou Cristian Lema e disse que poderia regressar. Há também Morato, que ainda assim, deve fazer mais uma temporada na equipa B. No entanto, não parece haver muito espaço para mais um central. A menos que alguém esteja de saída...
4. Ricardo Martins Pereira candidata-se a Presidente. É um antigo jornalista, que fundou a NiT e que trabalha agora na MAGG. Acho que a profissão de alguém acaba sempre por criar uma percepção a todos de forma errada. Luís Filipe Vieira há uns 40 anos era vendedor de pneus. É assim tão relevante Ricardo Martins Pereira ter um blog? O que importa para mim são as ideias. RMP para já diz que ainda não é garantido que se vá candidatar já em 2020 ou se vai só nas eleições a seguir, mas que quer criar já a sua plataforma para debater assuntos que, no seu entender (e no meu, já agora), têm que ser falados. Esses assuntos são a credibilização do futebol e da instituição Benfica (nomeadamente o facto do clube estar semanalmente nas capas dos jornais envolvido em mais um caso) e, a violência e o clima de ódio no Desporto (onde na sua opinião o Benfica não fez o suficiente para evitar esta escalada). O discurso é dos melhores que tenho visto no passado. Vamos ver quais serão as ideias.
5. Scottie Lindsey e o Basquetebol. Anthony Ireland e Anthony Hilliard estão de saída da equipa de Basquetebol. Depois de Gary McGhee, são as primeiras duas confirmações. Mais deverão seguir-se. Estas três saídas abrem no imediato espaço para pelo menos dois reforços no Basquetebol - nós tínhamos um americano a mais no último ano. O primeiro já é conhecido. Chama-se Scottie Lindsey. É um extremo americano de 24 anos. Fez quatro anos de College na Northwestern, uma escola da Big Ten Conference. Os últimos dois como titular. Com médias de 15 e 14 pontos, percentagens de lançamento de 3pts nos 32-36%, alguns ressaltos, assistências, roubos de bola e desarmes de lançamento. Depois esteve dois anos na G-League, primeiro com a equipa de Detroit, depois com a equipa de New Orleans. A sua média na G-League foi de: 45 GP 16 GS; 34.5% de 3P%; 3.58 TRB; 1.40 AST; 0.91 STL; 0.24 BLK. 10.42 PTS. Parece ser um shooter puro mas com algumas ball-skills. Este tipo de aposta é sempre arriscado. Já tivemos o Quentin Snider que não deu em grande coisa. Este tem um pouco mais de experiência. Se vier motivado pode ser uma aposta interessante.
6. Sergey Hernandez e o Andebol. A equipa de Andebol anunciou o seu primeiro reforço. É um dos guarda-redes da Selecção Espanhola. Tem 25 anos e chega do Ciudad Logroño, que na última época ia em 3º lugar na Liga ASOBAL. É grande, muito flexível e inteligente. À partida será um excelente reforço para a nossa equipa. Vai ser uma parelha interessante com Gustavo Capdeville.
7. Novidades no Desporto Feminino. No Futsal Feminino e no Hóquei Feminino também se confirmaram os primeiros reforços. No Futsal contratámos a Leninha que estava na Nun'Alvares/IESFafe. É uma ala de 18 anos que tem sido apontada como uma da grandes promessas no Futsal Feminino português. No Hóquei contratámos a Flor Felamini, uma argentina de 22 anos, apontada por muitos como uma das melhores jogadoras do mundo."

MENOR RENDIMENTO: A EXPLICAÇÃO


"Não percebo o espanto que tem percorrido as redes sociais, jornais, rádios e televisivos com a quebra de rendimento dos candidatos ao título. Esta perda de força era uma consequência expectável tendo em conta as condicionantes impostas para que o campeonato pudesse ser retomado. Sem adeptos e com eventuais intervenientes infectados de fora, tanto o Benfica como o FCP ficaram privados de elementos preponderantes na luta pelo título. A ausência de benfiquistas nas bancadas tem afectado imenso o Benfica; os constantes testes positivos de Fábio Veríssimo ao coronavírus têm abalado o FCP.
Nenhum destes afastamentos pode ser colocado em causa, a saúde é o bem mais precioso das nossas vidas e tem de estar salvaguardada. Temos de compreender. Ainda assim, é doloroso ficar longe quando fazemos tanta falta - a mim, custa-me só poder gritar com a malta para cruzar a bola para a área desde o sofá porque desconfio de que eles não me conseguem ouvir. Não tenho a mínima dúvida de que os benfiquistas estão cheios de vontade de encher os estádios para apoiar o Glorioso,  e imagino que a Fábio Veríssimo também lhe custe estar ausente, não vá o FC Porto sofrer um golo idêntico ao que o Pizzi marcou na Taça da Liga no ano passado e não haver ninguém para o invalidar. Um sentimento de impotência que toma de nós, reforçado por uma inveja que se transforma em revolta, causada por quem a possibilidade de ajudar o seu clube mas menospreza essa oportunidade. Os benfiquistas e o Fábio Veríssimo querem, mas não podem. O Nakajima pode, mas não quer. Já dizia o velho ditado: Taarabt dá nozes a quem não te dentes."

Pedro Soares, in O Benfica

É O QUE TEMOS


"Proponho um desafio: será incompetência, amnésia selectiva, critério editorial, falta de assunto, ou caça ao clique? Leia e decida (as hipóteses não são mutuamente exclusivas).
Vários órgãos de comunicação social, na sequência da publicação do prospecto de lançamento do Empréstimo Obrigacionista 2020-23, apressaram-se a 'revelar' que a Benfica, SAD já tinha adiantado metade das receitas de direitos televisivos. Propositadamente ou não, e aproveitando a emissão do empréstimo obrigacionista, tentaram passar a ideia de que a Benfica, SAD estará a atravessar supostas dificuldades financeiras, o que contrastaria com a realidade apresentada nos últimos anos. A alguns, tal o afã e entusiasmo notório, só lhes faltou escarrapacharem no título 'Afinal não é só o FC Porto e o Sporting'.
É verdade que a Benfica, SAD já adiantara metade dessa receita. Fê-lo em Fevereiro de 2018 e em Abril de 2019. Ambas as operações foram objecto de comunicados à CMVM e amplamente noticiadas, além de, obviamente, constarem em todos os relatórios e contas, anuais e semestrais, publicados pela Benfica, SAD desde então. As contas são públicas e auditadas, nada disto é novidade, já nem sequer é requentado.
E o novo empréstimo obrigacionista? Folgo, antes de mais, que notícias de empréstimos obrigacionistas envolvendo a Benfica, SAD versem unicamente emissões e reembolsos, há quem, pelo contrário, tenha de adiar pagamentos ou veja a emissão recusada. E a necessidade parece-me evidente: gestão de tesouraria cautelosa. Além da perda significativa de receitas devido à pandemia, alguém poderá garantir que, na próxima temporada, haja público nos estádios ou que as competições europeias sejam realizadas normalmente?"

João Tomaz, in O Benfica