sexta-feira, 28 de março de 2025

"EM NENHUM OUTRO CAMPEONATO SE VÊ AS RECEITAS TELEVISIVAS CONCENTRADAS EM TRÉS CLUBES"



 Presidente da empresa responsável pelos anuários do futebol profissional, Miguel Farinha, abordou a centralização dos direitos, o investimento em infraestruturas e a carga fiscal aplicada ao futebol profissional.

Investimento em infraestruturas, centralização dos direitos e carga fiscal com taxa especial para o futebol foram alguns dos temas abordados pelo presidente da EY, empresa responsável pelos anuários do futebol profissional, em parceria com a Liga. Miguel Farinha entende que o investimento nos estádios terá como consequência uma maior afluência de público-
«O investimento em infraestruturas é essencial e os clubes percebem isso. Mesmo tendo dificuldades financeiras, vão fazendo melhorias nos seus estádios. Isso pode ser feito de várias formas. Uma que faz todo sentido é olhar para as receitas das apostas desportivas, cuja maior parte não vai para os clubes, e fazer uma repartição diferenciada, que permita usá-las para aumentar e melhorar as infraestruturas», disse Miguel Farinha, em declarações aos jornalistas, à margem da apresentação do anuário do futebol profissional em Portugal.
Com Benfica, FC Porto e Sporting a conjugarem 62 por cento das assistências, Miguel Farinha defendeu a necessidade de os outros clubes atraírem adeptos das regiões onde estão.
«Depois, é preciso saber fazer e acho que os clubes têm estado a fazer esse trabalho de atrair os adeptos para o clube da sua terra. Em vez de invariavelmente sermos todos adeptos de três clubes em Portugal, apoiarmos cada vez mais os clubes locais», apontou.
A comercialização centralizada dos direitos audiovisuais dos jogos, cujo decreto-lei foi aprovado em 2021, permitirá ao futebol nacional estar em pé de igualdade com outros campeonatos europeus, argumentou o responsável da EY em Portugal.
«Não é centralizar por centralizar, mas porque irá seguramente melhorar o futebol e trará mais receitas, sobretudo para os clubes mais pequenos. Em nenhum outro campeonato europeu se vê as receitas televisivas concentradas em três clubes, pois estão muito mais repartidas. Se conseguirmos ter melhores clubes de forma global, e não só nos primeiros três ou quatro classificados, seguramente haverá melhor futebol», vincou.
Miguel Farinha entende que a centralização dos direitos audiovisuais e o aumento da competitividade conduzirão a um crescimento que irá ter reflexo no desempenho dos clubes nas competições internacionais.
«É preciso que todos percebam que só têm a ganhar se trabalharem juntos para aumentar este produto e a forma como o futebol é vendido. Mesmo assim, reparem que estarão três potentados económicos europeus [Alemanha, Espanha e França] e Portugal na ‘final four’ da Liga das Nações. Nós conseguimos jogar de igual para igual nesta indústria», avaliou.
À semelhança de Pedro Proença, ex-presidente da Liga, o presidente da EY defendeu uma «taxa particular para a indústria do futebol» no que respeita à carga fiscal - o setor pagou 268 milhões de euros em impostos em 2023/24.
«Tem muito a ver com o IRS, que é uma carga pesadíssima. O ideal seria haver uma taxa particular para a indústria do futebol. Por exemplo, temos de gastar o dobro em Portugal face ao que se paga em bruto pelo mesmo atleta em Itália para que este receba o mesmo valor líquido. Isso traz imediatamente uma desvantagem competitiva gigante. Dentro da Europa, há diferenças significativas e é preciso entendê-las e tentar corrigi-las», advertiu.
Helena Pires, presidente da Liga Portugal, sublinhou esta quinta-feira a importância de exigir junto do poder político a «implementação de medidas inadiáveis para travar os custos de contexto que condicionam fortemente» o setor. A ideia foi defendida no discurso da cerimónia de abertura das Jornadas Anuais 2025, no Arena Liga Portugal, que junta as 34 Sociedades Desportivas.
«Este é sempre um momento especial para o universo do futebol profissional, e hoje é particularmente gratificante estarmos todos reunidos na nossa nova casa: o Arena Liga Portugal. Trata-se do maior tributo ao espírito que aqui nos junta, nestas Jornadas Anuais: o tributo à resiliência do futebol profissional, à visão que temos para o futuro da nossa indústria; a capacidade de trabalharmos juntos para construir esse futuro, que desejamos à imagem deste edifício: sólido e de vanguarda», disse a dirigente.
«É isso mesmo que, ao longo da última década, fruto da visão do atual presidente da Federação Portuguesa de Futebol, Pedro Proença, sempre com o contributo das Sociedades Desportivas, temos vindo a fazer nos grupos de trabalho, onde, ao longo de meses, se discutem melhorias a introduzir em todas as áreas nas nossas competições», sublinhou.
E juntou: «Mais uma vez participaram neste fórum todas as nossas Sociedades Desportivas, o que demonstra bem o espírito de união e agregação que, desde a primeira edição, nos inspira na construção de um futebol cada vez mais profissional.»
«Devemos orgulhar-nos deste caminho, desta mentalidade, deste profissionalismo e desta exigência que nos colocamos, sempre com o contributo das Sociedades Desportivas, que só claramente demonstram que a única coisa que os separa são os 90 minutos dentro do campo. Estas Jornadas Anuais constituem, também nesse capítulo, uma evidência importantíssima da capacidade desta indústria na defesa da integridade e da estabilidade das competições profissionais de futebol», notou.
«O vosso contributo para a solidez da nossa indústria supera as conclusões dos grupos de trabalho que, hoje, aqui serão apresentadas: ele começa no profissionalismo e na união em defesa da nossa indústria. Portugal prepara-se para um novo ciclo governativo e é importante que o futebol tenha esta força para defender junto do poder político a implementação de medidas inadiáveis para travar os custos de contexto que condicionam fortemente este setor económico. Juntos, temos mais força para nos fazermos ouvir e respeitar por aquilo que valemos», frisou Helena Pires.
O futebol profissional ultrapassou pela primeira vez superou os 1.000 milhões de euros de receita na época 2023/24, de acordo com o mais recente Anuário do Futebol Profissional Português apresentado pela Liga de Clubes em parceria com a empresa EY.
Conforme ilustra a oitava edição do documento, conhecido esta quinta-feira, as Sociedades Desportivas alcançaram um total de 1.073 milhões de euros em volume de negócios, um aumento de 83 milhões de euros em comparação com o período homólogo .Já o contributo para o PIB português, de 662 milhões de euros, desceu em cinco milhões de euros face aos 667 milhões de euros na época anterior, representando 0,25 por cento da riqueza nacional.
As 34 sociedades desportivas atingiram também um recorde de 4.436 postos de trabalho, num aumento de 27 por cento. As 18 sociedades do primeiro escalão empregam 3.239 pessoas: 1.928 funcionários afetos às áreas de suporte, gestão e administração, 989 jogadores e 322 treinadores. Entre 2022/23 e 2023/24, as remunerações cresceram de 364 milhões de euros para 424 milhões de euros, com os atletas (294 ME) a auferirem mais do que os funcionários (75 ME) e os técnicos (55 ME).
Por sua vez, o futebol profissional pagou 268 milhões de euro em impostos ao Estado (desembolsou 228 milhões de euros em 2022/23), tendo a Liga concentrado 89 por cento desse impacto fiscal, o equivalente a 238 milhões de euros, enquanto o pagamento de IRS e as contribuições sociais foram de 216 milhões de euros, 81 por cento do total.
No que respeita às assistências, 4,2 milhões de adeptos marcaram presença nos estádios em jogos da Liga e da Liga II, o que representa uma subida de 10 por cento em comparação com o ano anterior.
Lucro de 774 mil euros
Pelo nono ano seguido, a Liga teve resultados operacionais positivos, registando cerca de 29 milhões de euros em receitas. As competições profissionais representaram 75 por cento deste valor e a Liga fechou a época com lucros de 774 mil euros, tendo distribuído mais de 9,8 milhões de euros às Sociedades Desportivas.
Em 2023/24, as competições profissionais representaram 75 por cento dos 29,1 milhões de euros de receitas apresentadas pela Liga, que teve ainda 26,5 milhões de euros de gastos e fechou com a época com lucros de 774 mil euros, tendo distribuído mais de 9,8 milhões de euros às sociedades desportivas.
O organismo vai a eleições a 11 de abril, com José Gomes Mendes e Reinaldo Teixeira a concorrerem à sucessão de Pedro Proença, que foi eleito como presidente da Federação Portuguesa de Futebol (FPF).
Vítor Maia, in a Bola

quinta-feira, 27 de março de 2025

DÉRBI VAI DECIDIR O TÍTULO

 


A Liga está de volta, após o interregno para os compromissos das seleções, com o Benfica a deslocar-se já esta sexta-feira a Barcelos para acertar o calendário. O jogo com o Gil Vicente é referente à 24.ª jornada, mas como o Sporting visita o E. Amadora logo no dia seguinte, a contabilidade do campeonato só ficará em dia na quarta-feira, quando os encarnados receberem o Farense. Aí, sim, será o momento mais indicado para começar a fazer prognósticos sobre o que sucederá na reta final, com ênfase, naturalmente, nas contas do primeiro lugar.

Diria que se tudo correr dentro da lógica, Sporting e Benfica, que considero os dois únicos candidatos ao título — FC Porto e SC Braga discutirão entre eles o último lugar no pódio —, entrarão para as últimas sete jornadas lado a lado. Favorito? Não arrisco.
Do meu ponto de vista, o Benfica conta com a vantagem de ter um melhor plantel. Mais extenso e com mais opções de qualidade para as várias posições, com exceção para a de lateral-direito, para a qual não se precaveu na reabertura do mercado e que se agravou com a lesão, grave, de Bah. Tomás Araújo tem resolvido bem a situação, mas não deixa de ser uma adaptação e o central poderá a qualquer momento ter de regressar ao eixo da defesa, na ausência de Otamendi ou António Silva. O mercado de inverno foi bem aproveitado, com Dahl, Bruma e Belotti a revelarem-se mais-valias — Manu Silva também o mostrou ser, mas uma lesão, também grave, traiu-o.
Já o Sporting continua a debater-se com muitas contrariedades, nomeadamente físicas. Mas mais do que as lesões, o problema do plantel dos leões é estrutural, uma vez que foi construído por e para Ruben Amorim, com excesso de opções para umas posições e défice para outras. A ideia era clara, mas apenas para o atual treinador do Manchester United... Com a saída deste para Inglaterra tudo, naturalmente, se complicou e Rui Borges, inteligentemente, tem tentado minimizar os estragos. Como na adaptação do central Debast ao meio-campo e, principalmente, ao ter abandonado o seu 4x3x3 e ter regressado ao 3x4x3 de Amorim, no qual, indiscutivelmente, os jogadores se sentem mais confortáveis.
A reabertura do mercado não foi aproveitada para equilibrar o plantel, acredito que por razões, sobretudo, financeiras. As contratações resumiram-se a Rui Silva, uma garantia de segurança para a baliza, e Biel, cuja contratação continuo sem perceber.
Os encarnados têm também a ser favor o maior tempo de trabalho de Bruno Lage, que substituiu Roger Schmidt à 5.ª jornada, e a fase ascendente da equipa. São já seis vitórias consecutivas para o campeonato. Já em Alvalade a época tem sido atípica. O que parecia um mar de rosas no início, num ápice se transformou em dias de tempestade, com João Pereira, o eleito pela Administração para manter a equipa em águas calmas, a não conseguir segurar o barco. Os leões caíram a pique no final do ano após a saída de Amorim e Rui Borges chegou no Natal para evitar que se afundassem. Isso conseguiu-o.
A qualidade do futebol está bem longe da apresentada nos primeiros meses da temporada, mas os resultados são aceitáveis, a nível interno, entenda-se. O ex-treinador do V. Guimarães estreou-se à 16.ª jornada e já cumpriu 11 jogos para o campeonato, com sete vitórias e quatro empates. A que soma um triunfo para a Taça de Portugal e uma vitória e um empate (com sabor a derrota, no desempate por penáltis com o Benfica) na Taça da Liga. Contas feitas, leva 18 jogos de leão ao peito e só foi derrotado na UEFA Champions League, na qual não venceu — dois desaires e dois empates.
Importante para as contas finais é também o calendário, com o Benfica a ter, em termos teóricos, uma ponta final mais complicada, com saídas, além de Barcelos, a Dragão, Guimarães, Estoril e Braga — Farense, Arouca e Aves SAD são os adversários em casa. Já o Sporting, depois da Reboleira, tem de visitar Santa Clara e Boavista, recebendo SC Braga, Moreirense, Gil Vicente e V. Guimarães. Os encarnados, contudo, têm neste capítulo a vantagem de defrontarem, nas meias-finais da Taça de Portugal, o Tirsense, o que permitirá gerir a equipa, com todo o respeito para a equipa do Campeonato de Portugal, enquanto os leões vão medir por duas ocasiões forças com o Rio Ave.
Fica a faltar um jogo, no qual, acredito, tudo vai decidir-se: o Benfica-Sporting, da penúltima jornada. Vantagem para as águias por jogarem na Luz e... vantagem para os leões — se, claro, até maio as atuais circunstâncias se mantiverem —, que poderão beneficiar de um eventual empate, já que na 1.ª volta venceram (1-0), em Alvalade, o dérbi.
Hugo do Carmo, in a Bola

O FATURAS...


NAS MEIAS-FINAIS DA TAÇA

 


Triunfo por 5-3 sobre o detentor do troféu, o SC Braga, após primeira parte de grande equilíbrio, colocou na agenda o encontro entre águias e Leões de Porto Salvo no jogo da próxima sexta-feira.

Jogo frenético em Matosinhos esta quarta-feira. Benfica e SC Braga entraram a todo o gás no jogo, determinados em carimbar o passaporte para as meias-finais da Taça de Portugal. A equipa de Cassiano Klein até entrou melhor em termos ofensivos, foi mais rematadora nos minutos iniciais, mas esbarrou numa muralha chamada Dudu na baliza dos bracarenses. Menos rematadores, os guerreiros do Minho, todavia, chegaram primeiro à vantagem, quando, aos 5 minutos, Ygor Mota assistiu Hemni, que rematou para o lado esquerdo de Léo Gugiel e desfez o nulo no marcador.
O Benfica correu atrás do prejuízo, mas a alta velocidade imprimida dos dois lados teve reflexos na eficácia de passe e foi preciso esperar praticamente até ao apito para o descanso para se voltar a gritar golo no Centro de Desportos e Congressos de Matosinhos. E que golo! Higor de Souza recebeu a bola de costas para a baliza, rodou e ludibriou tudo e todos ao picar a bola por cima de Dudu, fora do alcance do guarda-redes da equipa de Joel Rocha. O 1-1 ao intervalo espelhava bem o equilíbrio da primeira parte e a superioridade do acerto defensivo sobre o acerto ofensivo das duas equipas.




O Benfica voltou a entrar melhor no início da segunda parte, teve maior acerto no passe e também melhor pontaria, e operou a reviravolta no marcador aos 24', por intermédio de Jacaré, que, servido por Arthur, tirou Ricardo Lopes da frente e rematou para o 2-1. Quatro minutos depois, o SC Braga empatou, com Tiago Brito a aproveitar lance confuso à frente da baliza de Léo Gugiel para meter o pé à bola e devolver a igualdade ao marcador. No lance seguinte, porém, o Benfica voltou a colocar-se em vantagem, com Higor de Souza a bisar e a castigar os bracarenses após erro fatal de Ygor Mota, que perdeu a bola em zona proibida quando Dudu não estava na baliza e pagou caro, vendo os encarnados de novo na frente.
A partir daí, o Benfica foi quase sempre melhor que os guerreiros e chegou a vantagem de três golos no marcador. Primeiro, aos 30', Jacaré bisou, assistido por Arthur, que recebera a bola de Léo Gugiel; depois, aos 37', Arthur também fez o gosto ao pé, numa altura em que o SC Braga jogava em 5x4, com Tiago Brito como guarda-redes avançado. A perda de bola dos bracarenses foi fatídica e o brasileiro só teve de escoltar a bola até à linha de golo, fazendo o 5-2 a três minutos do fim. O Benfica estava com pé e meio nas meias-finais e, apesar do autogolo de Afonso Jesus aos 39', não deixou escapar o triunfo e marcou encontro com o Leões de Porto Salvo, também em Matosinhos, esta sexta-feira (20h30).

FAVORITISMO AFLITIVO

 


Um jogo vibrante aquele que se viu na Liga das Nações, frente a uma destemida Dinamarca. Impressionam os diferentes momentos que um mesmo jogo pode conhecer, balançando entre uma qualificação portuguesa prevista e uma realidade aflitiva. A eliminatória era incerta, tremida por uma derrota fora, que de positiva só teve mesmo a magreza do resultado adverso. Portugal entrou desta vez forte, mas rapidamente o cenário se equilibrou e complicou.

Trincão, já o jogo ia longo, depois de muitas emoções e condimentos vários, acabou por ser o elemento decisivo no duelo final. Com direito a pouco tempo, rentabilizou-o decisivamente, tornando-se o homem do jogo. Mesmo sabendo que hoje a Seleção é representada por um lote de jogadores cuja categoria é enorme e de difícil acesso, era de senso comum ver Trincão entre o lote regular dos eleitos.
Colega preferido de Gyokeres, o avançado português será neste momento dos dianteiros nacionais com maior dimensão. Não sendo fixo nem referência, é daqueles que aparecem para decidir, mas que nunca estão para serem marcados. Mostra-se pela agressividade da rápida progressão com bola, pelo drible e rara capacidade de remate que define resultados. Ele e Bernardo Silva, dois esquerdinos de exceção, foram os expoentes maiores deste triunfo mais suado do que o resultado. No caso do ex-jogador do Benfica, a distinção resulta do admirável labor e humildade coletiva que consegue juntar aos seus conhecidos recursos técnicos. Bernardo Silva é um excelente exemplo de maturidade de um atleta diferente.
Um dos jogadores portugueses em especial destaque foi também, na minha opinião, Rúben Dias. Implicado diretamente num golo adversário, a sua reação imediata foi a expressão imperturbável de um grande jogador. Sem mãos na cabeça ou semblante sofredor, olhou em frente e arrancou para um jogo de verdadeiro líder.
Opções e dúvidas
Antes do jogo, Ronaldo lembraria e bem, que as seleções e os jogadores se reúnem pontualmente e que tal não permite coordenações táticas como nos clubes. Esta questão leva-me para a escolha dos dois centrais que jogaram na Dinamarca. É aconselhável estrear uma dupla de centrais, base de qualquer defesa, num jogo fora e de previsível dificuldade?
Sobre o jogo destaco ainda os seguintes pontos:
— Juntar três médios de perfil marcadamente técnico, poderá ser arriscado, face a adversários fortes e que exigem poder físico e equilíbrio defensivo;
— O segundo poste nos cantos contra, foi alvo da Dinamarca. Um golo e uma oportunidade adversária, surgiram nessa zona, entregue somente a Bernardo Silva;
— A via aberta promovida por Martínez entre a bancada e a titularidade e vice-versa, de alguns jogadores, sendo legítima, é original mas estranha.
Eu ou eu
A pausa para as seleções trouxe a público o regresso de Courtois aos convocados belgas. Lembro que o mesmo tinha recusado integrar a sua seleção, por divergências com o anterior selecionador. Se esta podia ser uma boa notícia para os respetivos adeptos, não o foi para o guarda-redes que vinha sendo titular, Koen Casteels, que decidiu, agora ele, recusar ser convocado.
Concorrência é normal, mas este caso imagino que se explique também pela relação ou rivalidade pouco pacífica que já existia entre os dois. As seleções, como sabemos, vivem uma realidade específica. Os treinadores selecionam e decidem quem joga ou quem se senta à espera de uma oportunidade. Os escolhidos são normalmente titulares nos seus clubes e os estatutos respetivos são medidos pela grandeza dos clubes onde jogam. Notar que no seu regresso, Courtois ficou no banco, o que se compreende em função da sua ausência voluntária e do confronto com o anterior treinador.
A imperial vénia
António Simões, histórico do Benfica, aproveitando a justa homenagem que lhe foi feita na última gala Cosme Damião, recuperou a curiosa origem do ritual da vénia, única em Portugal, saudação habitual da equipa do Benfica aos seus adeptos.
No longínquo 1970, numa digressão ao Japão e para o espanto geral face ao rígido protocolo japonês, os Príncipes Herdeiros desceram ao relvado para cumprimentar os jogadores do Benfica. O normal era o inverso. Os atletas é que eram obrigados a ir venerar os herdeiros do Imperador! Tal rara consideração explica o porquê da adoção do costume oriental, seguido e respeitado até hoje.
A estreia da famosa vénia em Portugal, seria no mesmo ano, frente à CUF do Barreiro.
Inclinar o corpo é então, a forma de cumprimento mais tradicional do Japão desde o século VIII.
Foram muitas as vezes que fiz a vénia, sem saber a história invulgar que a iniciou, até agora. É, portanto, este especial gesto de respeito e humildade, que os atletas fazem aos adeptos benfiquistas, simbólico agradecimento do apoio que vem contribuindo para uma gloriosa história de sucesso.
Rui Águas, in a Bola

quarta-feira, 26 de março de 2025

39 27, OS NÚMEROS




"1. Campeonato e Taça de Portugal. São estes os objetivos da equipa de futebol do Benfica a pouco mais de dois meses do fecho da época de 2024/25. No que diz respeito ao Campeonato, o Benfica só de si depende. Quanto à Taça de Portugal, passa-se exactamente a mesma coisa, porque o Benfica depende apenas do seu esforço para a conquistar. O campeonato seria o 39.º, a Taça de Portugal, seria a 27.ª Impressionante, não?

2. Em Vila do Conde, sem favores de ninguém - e esta parte do 'sem favores de ninguém' é mesmo importante por ser uma grande verdade - , o Benfica fez o que lhe era suposto fazer, venceu o Rio Ave, somou os 3 pontos, regressou a casa com o seu dever cumprido e com o sabor extra de uma reação categórico e vitoriosa na parte final da partida quando, de repente, se viu empatado e soube 'desempatar-se' com muito querer e acerto. Rio Ave já está.

3. No sábado há dérbi feminino no palco principal da Luz. Quartos de final da Taça de Portugal. Benfica-Sporting, 18 horas. Vamos lá? Vamos, pois. Carrega, Benfica!

4. No Tribunal de São João Novo, na cidade do Porto, iniciou-se o julgamento dos arguidos da chamada Operação Pretoriano. Como é do conhecimento geral, esta operação do Ministério Público visa apurar responsabilidades criminais entre os protagonistas de uma noite da violência por ocasião de uma assembleia geral do FC Porto em Novembro de 2023. Foi, é e vai continuar a ser um assunto do FC Porto e, agora, um assunto dos tribunais, e não cabe dos benfiquistas opinar sobre essas matérias que, felizmente, não nos dizem minimamente respeito. Mas tem sido uma leitura educativa o noticiário sobre as perguntas levantadas pelos juízes e as respostas fornecidas pelos arguidos.

5. Não há necessidade de qualificar o teor e à qualidade do que se tem dito no Tribunal de São João Novo desde que o julgamento começou. E também não se vislumbra o menor interesse em estabelecer qualquer consideração ética sobre as lágrimas derramadas e os choros conclusivos na sala de audiências. Enquanto tiveram 'cobertura', foram todos uns grandes 'valentões' capazes das maiores 'proezas' que a imprensa regional e nacional cobriu durante décadas com palavras cautelosas em prol das curiosidades do 'tipicismo'.

6. Mas foi este bando de delinquentes que, objetivamente, mandou no futebol português durante décadas. Impôs uma ordem, intimidou muita gente e serviu um regime.

7. E foi esta gente que o ex-presidente da Federação Portuguesa de Futebol empossou como claque oficial da seleção nacional na Euro 2016. Foi esta matilha que andou por França a vender bilhetes no mercado negro. O ex-presidente da Federação Portuguesa de Futebol que assume agora a presidência do Comité Olímpico de Portugal. Será possível?"

Leonor Pinhão, in O Benfica 

MARIE ALIDOU DE SAÍDA DO BENFICA

 


Marie Alidou vai rumar aos Estados Unidos para representar o Portland Thorns. Águias ainda tinham opção de renovação por mais uma época, mas chegaram a acordo com o emblema norte-americano para a venda do passe da jogadora.

Marie Alidou está de saída do Benfica e vai reforçar o Portland Thorns (Estados Unidos da América).
De acordo com os dados apurados pelo nosso jornal, o emblema da Luz chegou a acordo com a formação norte-americana para a venda da avançada internacional canadiana - que no próximo dia 28 de abril completa 30 anos de idade - sendo que a transação irá deixar nos cofres da Luz uma quantia assinalável para a realidade do futebol feminino português.
Depois de ter passado por UQAM Citadins (Canadá), Marselha (França), Linkoping (Suécia), Huelva (Espanha), Klepp (Noruega) e Sturm Graz (Áustria), Marie Alidou chegou a Portugal na época 2022/2023, então para representar o Famalicão – clube que ajudou a ganhar a Taça de Portugal. Destacou-se no Minho, com 32 jogos, 12 golos e quatro assistências e rumou, no ano seguinte, ao Benfica, onde comprovou todo o seu valor: 72 jogos, 33 golos e 7 assistências.
De águia ao peito, Marie Alidou enriqueceu ainda mais o seu currículo e conquistou cinco títulos: Liga, Taça de Portugal, Supertaça e Taça da Liga (2). O futuro passará, então, pelos Estados Unidos – uma das ligas mais prestigiados do mundo -, país para onde, de resto, a internacional canadiana já viajou com o intuito de finalizar o processo burocrático inerente à transferência.
Este rol de troféus ganhos pela avançada desde que chegou à Luz pode ser ainda maior no final da presente temporada, já que, recorde-se, o Benfica caminha a passos largos para a revalidação do título nacional – algo que, a confirmar-se, significará o pentacampeonato -, estando ainda em prova na Taça de Portugal – jogará as meias-finais diante do Valadares Gaia, isto depois de ter eliminado o Sporting (3-2), nos quartos de final, naquele que foi o último jogo de Marie Alidou pela formação encarnada.

ENIGMAS!




🚨
 Perguntas que ficam no ar:

▶️ O que faz o Diretor da Polícia Judiciária, Luís Neves na apresentação do novo Presidente do COP?

▶️ A fazer fé no que disse Luís Neves, que esta investigação tem mais de um ano e os suspeitas estão bem identificados, porque esperou uma semana após a eleição de Fernando Gomes para o Comité Olimpico de Portugal (COP) e o dia da tomada de posse para anunciar esta operação?

▶️ Sendo Fernando Gomes o novo Presidente do COP, porque é que é Luís Neves que está a falar na conferência de imprensa, em frente aos painéis publicitários?

▶️ Será Luís Neves o nosso acessório de imprensa de Fernando Gomes? É que o novo Presidente do COP nem se quer falou...

▶️ Porque não se demitiu ainda Fernando Gomes, depois de se saber que um seu subordinado (Diretor Geral da FPF) é alegadamente suspeito de "desviar" sete milhões de euros?

▶️ Poderia o Diretor Geral da FPF ter-se alegadamente apropriado de sete milhões de euros sem o conhecimento do então Presidente?

▶️ Porque é que, ao contrário do que se tem verificado sempre que existem suspeitas de alguma coisa contra o SLBenfica, TODA (!!!)... repito TODA (!!!) a comunicação social portuguesa, se apressou a desmentir que Fernando Gomes e Tiago Craveiro estivessem sobre suspeita neste caso?

São perguntas que gostaria de ver respondido. Lembrando que recentemente, um Primeiro Ministro "caiu" porque o seu Chefe de Gabinete tinha 75 mil euros num cofre no seu gabinete.

Não foram 7 milhões de euros!! Foram 75 mil euros!! 

Alberto Mota, in Fcebook 

A PIOR MELHOR GERAÇÃO DE SEMPRE



 À falta de melhor futebol, voltei a ser feito refém na pausa das seleções. Eu e os jogadores da equipa portuguesa, que, regra geral, continuam a mostrar a sua pior versão. Seria ingénuo esperar uma análise imparcial, por isso direi, certo de que os bons entendedores entenderão, que a única nota positiva desta pausa é mesmo o facto de nenhum atleta do Benfica ter sido sujeitado à tortura de pisar o relvado durante estes jogos. As exibições chegam a ser um tanto ou quanto revoltantes, pelo menos até me lembrar que não estou a ver o Benfica, e só a qualidade individual da Seleção Nacional vai salvando a honra do convento, mas não muito. Roberto Martínez tem conseguido um feito extraordinário, por muitos julgado irrepetível, tal foi o trauma a que fomos expostos com os últimos anos de Fernando Santos à frente da equipa.

Há uns meses, a propósito de um áudio bastante embaraçoso gravado sem autorização na garagem do Estádio da Luz, alguém reagiu a quente e sentenciou com estrondo: Bruno Lage já não era treinador do Benfica, mas só ele parecia não saber. Já passou tempo suficiente para sabermos o paradeiro dessa bola atirada para o pinhal por alguns comentadores. Os rumores da morte de Bruno Lage foram manifestamente exagerados e o embaraço só não foi maior porque o desmentido viaja sempre menos do que a mentira. Ainda assim, encontrei ali alguma utilidade. O espírito da afirmação ficou comigo, primeiro porque espero que essas pessoas deem a mão à palmatória sensivelmente daqui a dois meses, quando o Benfica se sagrar campeão nacional e vencer a Taça de Portugal. Depois, porque esperava encontrar um caso a quem a figura de estilo assentasse.
Se a sentença é vagamente ofensiva para Bruno Lage, que continua a fazer um trabalho competente, o mesmo não se pode dizer de Roberto Martínez, que — agora é a minha vez — já não é bem o selecionador nacional. Acontece que ainda ninguém lhe comunicou o fatídico destino. Não sei se é um segredo mal guardado e não me chamo Fabrizio Romano. Sei apenas que a ideia de um projeto de médio ou longo prazo liderado por Roberto Martínez deve fazer o novo presidente da FPF soltar uma gargalhada para dentro. Só por manifesta ingenuidade se pode pensar que alguém com a ambição de Pedro Proença encontra no atual selecionador alguém à sua imagem. Encontrou, isso sim, um funcionário no payroll que importará deixar cair com graciosidade.
Se isto não for apaziguador, comecemos pela evidência estatística simples segundo a qual nenhuma seleção comandada por um treinador estrangeiro venceu grandes competições internacionais. Poderia ser apenas um acaso escavado por analistas, até perguntarmos honestamente se algum cidadão português na posse das suas faculdades pensa que Roberto Martínez é a exceção que vai confirmar esta regra. Temo que o corolário seja inverso, mas é mais grave do que isso. Martínez não se limitou a descobrir a pior versão de cada um dos atletas convocados, para depois serem salvos por um Trincão atirado lá para dentro em modo Ai Jesus.
É injusto dizer-se que esta equipa não tem uma identidade, uma imagem clara que permanece na cabeça de quem a vê jogar. O problema é que essa imagem é de uma fealdade tal que não se limita a contrariar a expectativa do adepto de bom futebol. É um crime de lesa-pátria. Nada tenho contra espanhóis, mas, aqui chegados, devemos questionar até a real motivação de Martínez. Será um agente enviado pelas autoridades espanholas para nos subjugar ao mau futebol? De portugalidade inscrita no jogo, sobrou pouco, mas merece louvor a única coisa proverbialmente portuguesa nestes jogos da Liga das Nações: a forma como nos desenrascámos apesar dos muitos passos em falso até lá chegarmos.
As nossas gerações futebolísticas avançam como a educação dos nossos jovens no relatório PISA. A medo, por desconhecimento real do futuro e profundo trauma provocado pelas inúmeras desilusões, lá encontramos coragem para afirmar pela enésima vez que estamos perante a geração mais qualificada de sempre. Fazemo-lo mais para manifestar um resultado, para dizer que isso vale algo por si só. Só quem não trabalhou depois de estudar pensará que os estudos valem mais do que a jornada de lavoura que lhe sucederá, regra geral, salvo umas raras exceções dignas de aparecer no telejornal — uma imensa carreira contributiva destinada a gorar as nossas desmedidas expectativas, as que traçámos para nós mesmos e as que alguém determinou por nós.
É assim com a melhor geração de sempre do futebol português, que, como todos saberão se tiverem visto futebol em Portugal nos últimos 40 anos, é sempre a que vem a seguir. Em Portugal não nos limitamos a jogar futebol. Há sempre um grupo de futebolistas que parece sinalizar um avanço da espécie. O nosso futebol tem tiques que fazem lembrar a evolução do índice S&P 500, uma das certezas inabaláveis dos investidores nas últimas décadas. Como sempre, tudo depende da perspetiva. Vista a uma distância suficiente para avaliar os últimos 5 ou 10 anos, o índice dispara rumo à lua, abençoando os mais pacientes com a generosidade dos juros compostos. Talvez a seleção portuguesa prossiga essa trajetória e eu esteja a ver mal. Visto à lupa do que aconteceu nos últimos sete dias, o S&P 500 parece uma decisão da qual nos iremos arrepender. Talvez o tempo e os juros compostos deem razão a quem acredita neste grupo de jogadores, mas quer-me parecer que esta analogia só terá retorno quando alguém mudar o gestor de conta que nos tem vendido Credit Default Swaps.
Assim sendo, talvez algum amor extremoso se imponha. A partir de agora, eu, que vi as gerações anteriores e por muitas tenho verdadeira gratidão, mesmo que pouco tenham ganho, vou repor alguma verdade. É que essas gerações me deram uma coisa que esta não dá: um certo orgulho pateta de ser português e reconhecer qualidades essenciais nossas sempre que onze concidadãos entram num relvado. Esta seleção parece estar, como outras tantas antes de si, à beira de algo, mas esse algo é, por enquanto, tudo menos Portugal. E por isso apelidarei esta de pior melhor geração de sempre. Ao presidente da FPF, que era árbitro mas agora tem de marcar golos, peço que encontre uma solução airosa para este problema de termos uma seleção de futebol, mas não termos um país lá dentro. E até vou mais longe: não precisamos de ganhar sempre e também não temos que jogar bem cada minuto de cada jogo. Mas era bom que tudo isto fosse mais divertido e dotado de alguma personalidade nossa, naquele eixo que nos leva do ganhar bem ao mau perder. Até os olés vindos de uma bancada tonta eu aceitarei. Não precisa de pensar mais, senhor presidente. Vá buscar o nosso homem à Turquia e, pelo caminho, deixe o Cristiano perseguir os 1000 golos lá na Arábia.
Vasco Mendonça, in a Bola

terça-feira, 25 de março de 2025

O FUTEBOL DÓI!



 O número de atletas que procura ajuda, nos nossos consultórios, está a crescer drasticamente! Percebem, cada vez melhor, que as abordagens superficiais, que visam resultados imediatos, à la longue, não funcionam. X, 23 anos, refere, numa das nossas primeiras sessões de Psicoterapia: «Estava sentado no balneário, os gritos dos meus colegas à volta. Um dos jogos mais importantes da temporada. Sentia a adrenalina disparar, mas a ansiedade comia-me. E se não conseguir jogar como espero? O peso das expectativas sufoca. A expectativa do treinador é alta. A do meu pai ainda maior. Querem que joguemos com garra, que mostremos uma performance que justifique as horas de treino. E nós também, claro! Quem não quer?! Sentia a pressão crescer a cada segundo. Um nó na garganta, o coração disparado... doía-me o peito. Quase não tinha pregado olho. O que acontece se não cumpro? O medo de desapontar a equipa e os adeptos rebenta comigo! Eles acreditam em mim... e se eu falhar? E se não renovo? A imagem do túnel, depois aquela gente toda a olhar para mim.... Tinha que me concentrar, mas os pensamentos intrusivos invadiam-me, a insegurança aumentava. A imagem de errar um passe crucial, falhar uma finalização perfeita, sempre a bater. Só a ideia de ser o motivo de uma derrota.... é absurdo como um mero erro destrói, nas redes sociais e na imprensa. Lembrei-me do que vamos falando, das nossas sessões. A importância da rigidez do meu pai, para mim... o quanto já consegui atingir... o colo da minha namorada... e o seu.... Lá fui acalmando, aos bocadinhos...»

Da nossa experiência, mais de metade das jovens esperanças falham o seu caminho por, como se diz no desporto, falta de força mental. Tudo começa com um desenraizamento do seu ambiente familiar, ainda criança, mudando todo o seu modus vivendi para ingressar nas escolas de formação dos grandes clubes. Longe do colo da mãe, da família (por vezes, ela própria, desestruturada) há um longo caminho a percorrer. Às exigências físicas da profissão soma-se a procura de figuras de identificação e lares provisórios que lhe sirvam de chão. Surgem muitos medos. Medo de uma má apresentação. Medo de uma lesão (outro grande bicho papão). Medo de não corresponder às expectativas. A ansiedade sobe, novo medo de diminuição da performance, ainda mais ansiedade sobre o desempenho futuro, e tudo de novo! Bolas de neve conduzem a avalanches!
O futebolista moderno vive sob uma pressão asfixiante. É um gladiador dos tempos modernos. Lida com expectativas não apenas em relação a si próprio, mas também por parte de treinadores, de familiares, de fãs, dos media, etc. Os verdadeiros exemplos de bullying estão nos comentários demolidores, nas redes sociais. Tudo isto enquanto treina cada vez mais, cada vez mais intensamente. Isolado no seu mundo de pressão constante, cai muitas vezes na solidão e, logo a seguir, na depressão.
A vida de futebolista é uma vida de nómada. Hoje aqui, amanhã acolá. Mudanças de clube, de país, de língua, de clima, de hábitos. Há que adaptar e não chorar. E a Família? O Natal? Treina-se. O aniversário do filho? Há jogo. A escola? Que se adapte o miúdo. O pai que está doente? Terá que esperar pelo fim da época. A avó morreu? Paciência; já estava velhinha! E a reforma, sempre precoce, nestas profissões, lá pelos 30?
Mario Gotze, o homem que deu o título mundial à Alemanha em 2014, sabe do que fala: «É um assunto que raramente é discutido, mas representa um problema sério. Muitas pessoas caem em depressão quando penduram as chuteiras. O mais importante ao se reformar é evitar cair no abismo, num buraco negro; esse deve ser o seu objetivo. E não me refiro apenas ao aspecto económico.»
A patologia mental espreita, mesmo em momentos altos. Andrés Iniesta foi campeão de tudo, mas isso não lhe serviu de muito: «Tinha todas as condições positivas que se possa imaginar, mas começamos a sentir-nos mal, a não sermos nós próprios, a sentir um vazio geral e não sabemos o que se passa porque os testes que fazemos são perfeitos.» Descreve o desalento, o sentimento de vazio e a anedonia, essa incapacidade de sentir prazer e aproveitar as coisas boas, tão comum, nos deprimidos: «Quando estava a lutar contra a depressão, a melhor hora do dia era quando ia para a cama. Perdi a vontade de viver. Abraçava a minha mulher, mas era como abraçar a almofada. Não sentia nada». Nessa altura, o jogador procurou ajuda, que mantém, até aos dias de hoje: «Continuo a ir à terapia porque preciso de me encontrar comigo mesmo.» Repete, insistentemente, que a Psicoterapia lhe salvou a vida.
São inúmeros os atletas com superpoderes, com surpreendentes testemunhos acerca das suas batalhas para se manterem sãos, mentalmente. Tantos, que não cabem neste texto. Atletas em início de carreira, veteranos ou aposentados. Parece quase milagre haver saúde mental, no futebol! É uma área sobre a qual todos — atletas, treinadores, clubes e os seus altos dirigentes, departamentos de formação, etc. — devem reflectir e investir.
Outro enorme perigo espreita! O futebol continua a ser abordado superficialmente, ignorando os processos profundos que determinam a personalidade e a patologia do jogador. Os clubes têm Gabinetes de Psicologia que parecem centrar-se no desempenho, o que é muito insuficiente!
O que sobressai é uma abordagem que se centra no consciente, no que é cognitivo e racional, na aprendizagem. Como se o desempenho se baseasse só na vontade! Não vale de nada dizer a um deprimido: «Anda, anima-te! Vê tudo o que tens de bom na vida e sorri!» Nem tão pouco, a um ansioso: «Visualiza o golo e vais ser capaz!» Proliferam as soluções instantâneas, mágicas e falaciosas, os coaches desportivos fabricados em whorkshops de fim-de-semana.
Vendem-se ilusões, em vez de soluções. Necessitamos de análises profundas que potenciem o crescimento holístico do atleta e do clube. Abordagens superficiais podem funcionar com arranhões. Quando há problemas mais graves, ou se quer potenciar os resultados, é imperioso explorar as motivações internas, traumas e ansiedades que influenciam o desempenho individual e a dinâmica da equipa, rumo a uma melhor coesão do grupo e resiliência emocional.
É enorme, o sucesso da Psicoterapia Psicanalítica/Psicodinâmica em atletas de alto desempenho. Mas é só para gente grande, forte. A Psicoterapia é para gente assim. Com problemas, mas também com capacidade de os ultrapassar! Os relatos dos grandes craques e a evidência clínica que observo no consultório confirmam-no.
O bem-estar que encontram não se limita ao âmbito desportivo, alastrando para todas as áreas das suas vidas. A Psicanálise permite um autoconhecimento que prepara para enfrentar toda e qualquer adversidade. No futebol e na vida. Possibilita a regulação emocional, durante a competição, tornando possível controlar os pensamentos negativos, inibidores de performance. Evita as situações em que o atleta manifesta, com sintomas físicos, a sua dor mental: as psicossomatizações.
As diarreias, as crises de ansiedade e faltas de ar, os vómitos, os ataques de choro, entre outros, desaparecem. Urge, então, a procura de métodos psicoterapêuticos que se foquem na etiologia, que vão à raiz dos problemas, em detrimento de meras operações de cosmética! Porque, sim, o futebol dói, mas não tem que doer para sempre.
Sónia Soares Coelho, in a Bola