quinta-feira, 31 de outubro de 2019

UM AZAR DO KRALJ


Um Azar do Kralj tem uma mensagem especial para Chiquinho: que saudades de ver um futebolista em campo. Tu não te lesiones, c#$%$%#!
O Benfica voltou às boas exibições, ao golear o Portimonense, e Vasco Mendonça rejubilou - quer dizer, depois de partir a televisão.
Vlachodimos
Exibiu grande segurança em dois lances que fizeram lembrar o jogo da época passada contra o Belenenses. Já eu soltei uma pinguinha.
André Almeida
Desta vez o ritual de atirar bolas para os adeptos começou quando o jogo ainda decorria. A primeira meia dúzia foi cortesia do nosso grande Almeidinhos, que depressa percebeu que a noite estava mais propícia a marcar golos do que a assistir. Daí arrancou para uma excelente exibição.
Rúben Dias
Há muito que nos conquistou, mas continua a marcar pontos no coração dos benfiquistas. Não é só o que faz a defender, quase sempre bem e com critério. É a gana de estar nos momentos capitais do jogo, como demonstrado em Moreira de Cónegos e novamente ontem, com um golo logo a abrir a segunda parte que devolveu o meu batimento cardíaco à condição de repouso no primeiro lugar da liga.
Jardel
Fez tudo o que lhe competia para garantir o sétimo jogo consecutivo sem sofrer golos na Liga, uma prestação meritória que ainda assim fez lembrar Alec Baldwin a atribuir o terceiro prémio em Glengarry Glen Ross. Vá, ninguém o vai despedir, mas é certinho que voltará a ceder o lugar ao Ferro. Não desanimes, capitão! Precisamos de adultos no balneário!
Grimaldo
Nada espelha melhor a harmonia de que fala Lage do que ver Grimaldo e Cervi de volta às transições ofensivas letais. Depois de rever algumas das suas combinações, sugiro que façam o mesmo ao som de "Two Become One" das Spice Girls. Não cometam o mesmo erro que eu e certifiquem-se que o bluetooth dos AirPods está ligado. Felizmente a minha masculinidade não é ameaçada por estes deslizes, caso contrário teria abandonado o local onde estou e continuado a escrever o texto noutro café.
Samaris
O Tino que me perdoe, mas depois do que vi em Tondela soube muito bem voltar a ver um jogador dos seniores nesta posição. Samaris ainda não afinou aquele passe para as costas da defesa, mas soube assassinar inúmeras tentativas de ataque dos algarvios. Terminou impávido e sereno, sem uma gota de sangue nas mãos.
Gabriel
Como se não lhe bastasse ser a unidade mais cerebral em campo, junta a isso uma enorme disponibilidade física que, aliada à inteligência e a um refinado sentido estético, fazem com que cada gesto técnico seu, até mesmo os que parecem reservados ao operariado, seja uma coisa maravilhosa de ver, como uma recuperação de bola ontem em que Gabriel aguarda pacientemente pelo timing certo para aniquilar os sonhos de criança de um avançado do Portimonense cujo nome não consigo recordar neste momento, tal como deve ser. São jogadores como Gabriel que ficam na história dos jogos.
Gedson
Em termos ofensivos, manifesta a vontade de quem se juntou a uma manifestação pela independência da Catalunha e a clarividência de quem não sabe onde fica a Catalunha. Muito trabalhador, mas este poderá ser um daqueles casos em que o trabalho não compensa. Não obstante a boa vontade, antecipo um regresso ao banco.
Cervi
99% de transpiração e 101% de inspiração. Não é bem isto, mas se há gajo que desafia a definição de percentagem é o nosso baixote argentino. Jogão.
Chiquinho
Maravilha. Que saudades de ver um futebolista em campo. Não, não me refiro a um daqueles produtos laboratoriais gerados por indivíduos de bata branca, nem tão pouco ao corolário de uma fórmula criada num software de estatísticas de bola. Estou a falar de um futebolista mesmo, com virtudes e defeitos, com aquela centelha dos jogos de rua nos pés, absolutamente sempre à procura da baliza, imperfeito como todos nós, ou seja, mesmo aquilo que estávamos a precisar. Tu não te lesiones, c#$%$%#!
Vinicius
Tem o melhor festejo de golo do futebol português, como quem pede satisfações a todos os que duvidam do seu valor ou aguarda que o speaker diga o seu nome. Chega a ser intimidante. Por momentos cheguei a pensar que se tinha lesionado no lance do primeiro golo, motivo pelo qual terei de me deslocar esta tarde ao Media Markt da Luz para adquirir um novo televisor. Felizmente vou ser aumentado aqui na Tribuna, por isso não há stress. Se jogar sempre assim, só por manifesto infortúnio não será vendido por 50 milhões no final desta época.
Pizzi
Os haters encontraram finalmente uma oportunidade para estabelecer um nexo de causalidade entre a ausência de Pizzi no onze titular e a capacidade de marcarmos mais golos. Só descansarão quando o homem chegar aos 30 golos esta temporada, lá para finais de dezembro. É urgente fazer alguma coisa. Esta gente está a mais no futebol.
Seferovic
Sabes que o plantel está forte quando o futuro suplente do Vinicius exibe um sorriso de felicidade genuína no momento de ocupar o seu lugar para um singelo quarto de hora a correr atrás da bola.
Jota
Cada presença sua em campo é uma oportunidade para os analistas do Goalpoint com um copo de CRF à frente explicarem com detalhe porque é que Jota é um jogador do caraças, independentemente de o futebol apresentado quase nunca o demonstrar. Ou muito me engano ou não vamos passar dos 30 milhões com esta venda.
Vinícius e Chiquinho, a sua nova dupla de bossa nova
Não foi um regresso das grandes exibições, mas terá sido um dos melhores jogos do Benfica nos últimos meses: em casa e com uma equipa cheia de novidades, os encarnados golearam o Portimonense por 4-0, com Vinícius e Chiquinho a estrearem uma prometedora sociedade no ataque.
Um Azar do Kralj, in Tribuna Expresso

BENFICA, ENTRE A ESTRATÉGIA E A IDENTIDADE


Por alguma razão se diz que os números falam por si. Pois os de Bruno Lage no Benfica não deixam margem para dúvidas: com a 13,ª vitória consecutiva em jogos fora para o campeonato, Lage bateu mais um recorde. É o técnico a alcançar mais depressa 25 vitórias (em 27 jogos) na principal competição como treinador do Glorioso - ultrapassando os números de Fernando Riera, que duravam desde 1966/67, quando o chileno precisou de 28 jogos para atingir o mesmo registo. Se dúvidas houvesse sobre o que caracteriza o Benfica de Lage a resposta é fácil: ganhar. Foi assim a temporada passada com uma conquista impensável e as condições para que a história se repita esta época continuam todas presentes. Mas, com o passar do tempo, a identidade do técnico do Benfica vai-se tornando também mais conhecida. As conferências de imprensa de Lage,são, aliás, um bom observatório da forma como o treinador do Benfica pensa o jogo da equipa. Há, a este propósito, uma declaração lapidar, proferida no rescaldo do jogo com o Lyon:"Em função do adversário, mudamos a estratégia e temos acertado mais vezes do que falhado e não vamos mudar porque foi assim que chegamos aqui." É óbvio que há sempre uma componente estratégica na forma como os treinadores abordam os jogos, mas com Lage fica-se com a sensação de que a estratégia desempenha mesmo um papel fulcral (veja-se as alterações radicais no onze e até em alguns princípios de jogo nas partidas europeias). O ponto é importante, pois encerra um dilema que se sente, em campo, quando vemos o Benfica a jogar. O enfoque na estratégia nas competições europeias é, afinal, um reconhecimento de que com a nossa identidade não temos hipóteses a um nível mais elevado. É, também, uma abordagem realista: o plantel não está dimensionado para o nível  Champions e a equipa não é capaz de se impor na Europa como futebol mais associativo e que privilegia o jogo interior, dominante nas competições domésticas. Não há como negá-lo, o fosso crescente entre a intensidade da Liga portuguesa e o que se passa nos maiores campeonatos europeus, a prazo, condena a capacidade competitiva dos clubes nacionais. A questão, contudo, é que também no campeonato nacional a estratégia se vem impondo à identidade da equipa. O Benfica, hoje, é um clube com um futebol menos personalizado e impositivo no ataque do que no ano passado. O jogo em Tondela foi, apenas, um último exemplo. Uma parte da explicação está na onda de lesões que, uma vez mais, assume contornos estruturais e obriga a uma explicação (por si só, os regressos da dupla Florentino/Gabriel e a recuperação de Chiquinho vão solucionar muitos dos problemas), mas com tanta variação na equipa e sem ninguém capaz de ligar o jogo atacante, o Benfica pode voltar a ser uma equipa descaracterizada e a depender apenas da estratégia. Ora, o sucesso recente tornou - felizmente - os adeptos mais exigentes.

Pedro Adão e Silva, in Record

"AL VENT DEL MÓN"


Doroteo Guamuch, teve de ser Mateo Flores; Josep Sunyol teve de ser José Suñol. É assim a soberba de Castela!

Os nomes atraem-me como magnetos. Quando o som de um lugar começa a rodar dentro da minha cabeça como se fosse uma canção distante, pego no saco e vou. Uma vez estava na Cidade da Guatemala, aluguei um carro e fui pela estrada de Chimaltenango e Patzún, em direcção a noroeste, San Antonio Palopó e Santa Catarina de Palopó, nas margens do lago de Atitlán. Fui à procura de Panajachel, pode lá haver nome que chame com mais intensidade do que Panajachel, só talvez Ougadougou ou Tirichurappally.
Panajachel desce em ruas de empedrado até à agua escura e tem uma vista larga sobre o vulcão e um mundo hippy que se recusa aceitar a passagem do tempo. E talvez o tempo tenha mesmo parado em Panajachel porque senti uma tranquilidade que costuma andar arredada dos lugares onde as pessoas vivem.
A poucos quilómetro da Cidade da Guatemala, em Mixco, mais precisamente na aldeia de Cotió, nasceu Doroteo Guamuch, um índio quíchua que gostava de correr, de correr muito, por entre as bananeiras que nasciam nos terrenos baldios que separavam as casitas de lata de Colonia Lomas de Portugal, entre a Tercera Calle e o Campo Altapetate. Guamuch corria de casa para o trabalho, logo de madrugada, para uma fábrica de texteis que se encaixava numa esquina entre a Segunda Avenida e a Pimera Calle, e os chefes não deixavam que lhe chamassem Guamuch e obrigavam-no a usar o nome castelhano de Flores. Doroteo gostava de Guamuch, tinha orgulho naquela sonoridade inca da língua que aprendera com a mãe. Sabia dizer de cor «Tukuy kay pachaman paqarimujkuna libres nasekuntu tukuypunitaj kikin obligacionesniycjllataj», a frase inicial da Declaração Universal dos Direitos do Homem, «Todos seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos», mas não sabia quais eram os seus direitos, só conhecia os seus deveres, e um desses deveres era que não se chamasse Guamuch e sim Flores.
Em 1946, Doroteo Guamuch, que para mim será sempre Doroteo Guamuch, foi chamado para representar a Guatemala nos Jogos Centro-Americanos. Inscrevê-lo como Guamuch estava fora de questão para o governo de Juan José Arévalo, por muitas reformas que tivesse prometido. O racismo impôs-se: passou a ser, oficialmente, Mateo Flores.
Guamuch participou nos Jogos Olímpicos de Helsínquia. Tinha 30 anos. Viu Emil Zatopek, a Locomotiva de Praga ganhar a medalha de ouro e ficou-se pelo 22º lugar. Poucos meses depois venceu a Maratona de Boston e tornou-se o maior desportista da história da Guatemala. Quando, em 1955, venceu a maratona dos Jogos Pan-Americanos da Cidade do México, o poder decidiu mudar o nome do Estadio Nacional da Cidade da Guatemala para Estádio Nacional Mateo Flores. Nem uma homenagem respeitava o nome com que nascera.
Porque a opressão me repugna, gosto de ouvir cantar Ramón Pelegero Sanchis:
«Al vent
la cara al vent
el cor al vent
les mans al vent
els ulls al vent
al vent del món».
Ramón nasceu em Valência e compôs Ao Vento do Mundo com apenas 19 anos.
Porque os fascismos me enojam, gosto de saber que essa canção se tornou, nos anos-60, um hino contra o franquismo, cantada por jovens saturados de um poder absurdo que se instalava num cadeirão de uma superioridade que nascia das raízes da raça:
«I tots
tots plens de nit
buscant la llum
buscant la pau
buscant a déu
al vent del món».
Todos, plenos de noite, procurando a luz, procurando a paz... A letra, Ramón escreveu-a em catalão porque o catalão passou a ser o pesadelo do castelhano. Manuel Fraga Iribarne, um canalha galego que foi Ministro da Informação da ditadura militar de Madrid, cuspiu, raivoso como um cão acicatado pelo dono: «No pasa nada porque haya una canción en catalán».Quando alguma coisa se passa, a soberba de Castela ordena: «No pasa nada!» Mesmo que haja gente que morre por exigir ter opinião; mesmo que haja prisioneiros porque não querem escrever de outra forma o nome com que nasceram; mesmo que uma raiva de impotência faça com que muitos queiram pegar fogo ao mundo. «Got Alânia»: a Terra dos Alanos. Catalunha. Josep Sunyol i Garriga teve de se transformar em José Suñol i Garriga. Foi membro da Esquerda Republicana da Catalunha e presidente do Barcelona em 1935. 
Em Agosto do ano seguinte viajava de automóvel pela Serra de Guadarrama, tentando entrar em contacto com a frente republicana. Foi apanhado pelos falangistas e fuzilado sem direito a julgamento. Al Vent foi composta mais de vinte anos após o assassinato de Sunyol que, para mim, será sempre Sunyol e não Suñol. Mas Josep, e não José, gostaria certamente de ter ouvido Ramon cantar:
«La vida ens dóna penes
ja el nèixer és un gran plor
la vida pot ser eixe plor
però nosaltres
al vent...»
Em catalão. E ao vento."



O FUTEBOL TEM MEMÓRIA CURTA


"É curioso, e nesta escala inédito, o debate em torno das exibições do Benfica no campeonato, num contexto em que, sob batuta de Bruno Lage, os encarnados venceram 25 jogos em 27 disputados, havendo ainda a contabilizar um empate.
Os adeptos não andam satisfeitos porque a equipa está longe do patamar exibicional da época passada, quando a máquina goleadora montada por Lage passou por cima de toda a folha na Liga. Embora tenham saído dois jogadores muito difíceis de substituir (mas que não jogavam normalmente em simultâneo, Jonas e Félix), será apenas por aí que encontraremos explicação para tão grande decréscimo na qualidade de jogo?
Bruno Lage deverá entender que terá margem de manobra para tentar dar com a tecla certa, enquanto os resultados não comprometerem. Vá o Benfica, bem ou mal, ganhando os jogos e o treinador pode ir experimentado este e aquele, uma ou outra fórmula. Mas deverá ter sempre presente que, no futebol, o que se fez no passado é respeitado, e aquilo que se projecta para o futuro é importante; mas a máquina voraz que faz e desfaz heróis alimenta-se única e exclusivamente do presente. É um mundo ingrato de memória curta, com o qual os profissionais do ofício devem saber viver.
Depois de ter sido a principal peça no milagre operado pelos encarnados há um ano, que culminou com a conquista do título número 37, Bruno Lage deverá dar nova resposta à altura, dinamizando uma equipa que anda estranhamente amorfa. E só o poderá fazer se aceitar uma realidade que se mete pelos olhos dentro, e der, uma vez mais, a volta por cima..."

José Manuel Delgado, in A Bola

PRIMEIRAS PÁGINAS: ÁGUIA ISOLADA


AS LANÇAS APONTADAS - BTV - 30 OUTUBRO 2019

                                           

quarta-feira, 30 de outubro de 2019

VOO PICADO PARA A LIDERANÇA ISOLADA


O Benfica goleou, esta quarta-feira, o Portimonense por 4-0 e saltou para a liderança isolada do campeonato à 9.ª jornada. 'Encarnados' aproveitaram da melhor forma o 'escorregão' do FC Porto nos Barreiros.
No regresso ao campeonato, a meio da semana, e com os ouvidos no final do jogo do FC Porto com o Marítimo, o Benfica procurava vencer de forma a poder colocar-se na liderança isolada do campeonato.
Depois de Bruno Lage, no final da partida com o Tondela, ter expressado o desejo de ver a sua equipa melhorar a qualidade exibicional, o técnico fez uma autêntica revolução no onze para a partida com o Portimonense.
O treinador dos encarnados trocou cinco jogadores: Saíram Ferro, Pizzi, Florentino, Taarabt e Seferovic para dar lugar a Jardel, Samaris, Gedson, Chiquinho e Vinícius. Já o Portimonense, com várias ausências, procurava reencontrar-se com o caminho dos bons resultados, dada a posição delicada na tabela: 16.º lugar no campeonato com seis pontos.
Uma das curiosidades da partida seria perceber qual seria a dinâmica no ataque encarnado com Chiquinho e Vinícius na frente de ataque.
Depois de ter entrado na segunda parte da partida frente ao Tondela, Chiquinho queria justificar a titularidade e logo ao minuto 3´esteve perto do golo. Rodopiou sobre um adversário e atirou com muita força, por cima da baliza.
Contudo, foi o Portimonense a dispor da primeira grande oportunidade da partida. O japonês Koki Anzai apareceu na grande área, após cruzamento de Tabata, e rematou para defesa de Vlachodimos.
Na resposta, Vinícius deu o aviso. O dianteiro passou pelo guarda-redes Ricardo Ferreira, mas o golo foi salvo em cima da linha por um defesa do Portimonense.
Na sequência do lance, num lance de bola parada, o Benfica chegou ao golo. Canto de Chiquinho, Gabrel desviou e no primeiro poste, André Almeida cabeceou para o fundo das redes. O Benfica chegava assim à vantagem ao minuto 17´, e poderia adoptar a matriz que parece ser a mais habitual nos últimos jogos, com a equipa mais expetante à espera do que faz o adversário.

No ataque tentava dar largura ao seu jogo, privilegiando o lado esquerdo, com Grimaldo e Cervi e com Vinícius como referência ofensiva.
Sempre superiores, os encarnados deixaram correr o jogo até ao final da primeira parte. O Portimonense tentava responder nas transições, explorando a velocidade dos seus atacantes, mas não conseguia criar perigo, com excepção da oportunidade de que dispôs logo a abrir.
Com o FC Porto a ceder pontos nos Barreiros, o Benfica tranquilizou-se logo no início do segundo tempo, ao fazer o segundo golo e novamente através de uma bola parada. Rúben Dias rematou certeiro com o pé direito após cruzamento de Grimaldo, depois de um pontapé de canto.
Com o jogo 'quase no bolso' e com a equipa de António Folha balanceada, os encarnados tinham tudo para explorar as transições.
Com o lado esquerdo a carburar, Grimaldo lançou Vinícius em velocidade para o dianteiro brasileiro passar pelo guardião Ricardo Ferreira e atirar para o terceiro. Era a 'pedra' na partida, para dois minutos volvidos, o avançado brasileiro voltar a fazer o gosto ao pé. Desta feita foi Chiquinho a servir o dianteiro de trivela para a finalização de pé esquerdo de Vínícius.
Era o 'KO técnico' para o Portimonense que poderia apenas tentar travar o ímpeto encarnado e o avolumar do resultado.
Ao minuto 81´, o Benfica ainda esteve perto do quinto. Gedson num bom trabalho individual rodou e rematou de pronto, mas valeu Ricardo Ferreira a evitar o pior.
Nos algarvios, só Tabata tentava remar contra o marasmo algarvio através de algumas iniciativas. O jogador ainda ganhou um livre próximo da baliza, mas Rômulo atirou muito por cima da baliza.
Trunfo mais do que justo do Benfica que controlou defensivamente a partida e nos contra-ataques acabou por ser letal. Com este triunfo, os encarnados saltam para a liderança isolada do campeonato. Já o Portimonense somou o sétimo jogo sem vencer.
Onze do Benfica: Vlachodimos; André Almeida, Rúben Dias, Jardel e Grimaldo; Samaris, Gabriel, Gedson e Cervi; Chiquinho e Vinícius.
Onze do Portimonense: Ricardo Ferreira; Koki Anzai, Hackman, Lucas, Jadson e Rodrigo Freitas; Pedro Sá e Lucas Fernandes; Tabata, Iury e Aylton.

PRIMEIRAS PÁGINAS


VITÓRIA NA CHAMPIONS


TALENTO, AMBIÇÃO E CLASSE CARIMBAM CONTINUIDADE NA CHAMPIONS
EQUIPA PRINCIPAL
Benfica vence o campeão bósnio e segue para a 2.ª fase de qualificação da competição onde vai encontrar o OK Budva de Montenegro.
Com uma vantagem de 0-3 trazida da Bósnia, o SL Benfica recebeu e venceu pelos mesmos números, no Pavilhão n.º 2, o Mladost BRCKO, em desafio da 2.ª mão da 1.ª ronda de qualificação da CEV Champions League. Em frente na prova!
Momento histórico, com o primeiro desafio para a Liga dos Campeões da modalidade a realizar-se nesta noite de terça-feira no Pavilhão da Luz, e o Benfica engalanou-se em quadra para o assinalar.

Depois de um início equilibrado, com os sucessivos empates a vingarem até ao 6-6, a formação comandada por Marcel Matz saltou para a frente do marcador, manteve distâncias e partiu para uma enorme exibição, fechando o 1.º set com um parcial de 25-18.
Vindo de uma longa viagem, seguido de uma ronda dupla, não houve qualquer vislumbre de desgaste na equipa, com os encarnados – pelo contrário –, a demonstrarem enorme vitalidade, fruto também da responsabilidade e da ambição.
Segundo set com começo com sinal mais do Benfica, com o adversário a lutar com brio por manter-se na luta. E assim foi! Empates sucessivos e foi preciso ir às vantagens… com os blocos em evidência. Momentos de enorme espetacularidade, com as águias a vencerem por 32-30, carimbando a passagem à 2.ª ronda!
Com a eliminatória decidida e, diga-se, perante um adversário que dignificou e valorizou muito o triunfo dos encarnados, este Benfica não permitiu veleidades, gerindo e dominando até ao 28-25 com que fechou o 3.º set e o jogo num convincente 3-0 final. Justo!
Com esta vitória (3-0), o Benfica segue em frente para a 2.ª ronda de qualificação da prova. A 1.ª mão está marcada para as 17h30 de dia 5 de novembro, terça-feira, no Pavilhão n.º 2 da Luz. Do outro lado da barricada as águias vão encontrar o OK Budva, formação de Montenegro.
Antes, já na sexta-feira, o Benfica regressa à 1.ª fase do Campeonato Nacional, com a disputa da 4.ª jornada da prova, frente ao Esmoriz. O desafio está aprazado para as 16h00, no Pavilhão do Esmoriz Ginásio Clube.
Benfica-Mladost BRCKO, 3-0
FICHA
Local Pavihão n.º 2
Formação do Benfica Rapha, André Lopes, Wohlfi, Ivo Casas, Hugo Gaspar, Marc Honoré e Tiago Violas
Suplentes Afonso Guerreiro, Théo Lopes, Zelão, Japa e Nuno Pinheiro
1.º set 25-18
2.º set 32-30
3.º set 25-18
Voleibol
Marcel Matz (treinador do Benfica): “A equipa esteve muito bem. No 2.º set estava 21-18, e perder essa vantagem era perigoso, para mais num jogo em que só precisávamos mais daquele set para garantir a qualificação, mas acabámos por cumprir bem o objetivo. Primeiro a vitória nos dois sets que nos davam a passagem para a 2.ª fase, depois no jogo. Estamos de parabéns! A equipa fez uma sequência dura de quatro jogos em seis dias, mas quer física, quer mentalmente, mostrou estar muito bem.”

terça-feira, 29 de outubro de 2019

O MAIOR CRIME DE SEMPRE EM PORTUGAL; PARTE V


"Assustador! Assustador! Assustador! Mas há muito mais, muito mais coisas assustadoras!
'Cantarei até que a voz me doa
Ao meu país, à minha terra, à minha gente
À saudade, à tristeza que magoa
Ao amor de que ama e morre ausente'

'290. Com efeito, no dia 12 de Dezembro de 2017, pelas 22:13:56h, o arguido Rui Pinto, fazendo uso do IP 128.31.0.13 através de formas de anonimização, criou o blogue mercadobenficapolvo.wordpress.com, acessível, à data, através do URL https://mercado-benficapolvo.wordpress.com no domínio Wordpress. 291. Aquando do registo indicou como nome de utilizador 'mercadobenficapolvo' e, como endereço electrónico, 'ose-mails-dopredroguerra@tutanota.com', tendo dinamizado o conteúdo do blogue desde a sua criação, com publicações alusivas ao mundo futebolístico, como correio para efeitos de contacto'.
Dúvidas então não existem de que foi Rui Pinto que publicou as caixas de correio electrónico de todas as pessoas do Benfica que por isso foram afectadas e todas e quaisquer pessoas que trocaram e-mails com todos estes benfiquistas, eu incluído!
Todos, mas mesmo todos, são lesados pela conduta de Rui Pinto.
Outra coisa bem diferente é a quem foram entregues estas caixas de e-mails? Quem tem a informação toda dos e-mails destas pessoas?

Rui Pinto
Três processos
Neste momento existe a correr três processos contra Rui Pinto.
Um respeita à acusação já conhecida e abrangeu todas as entidades que descrevi nos quatro artigos até aqui publicados.
Há cerca de um mês, foi extraída uma certidão do processo principal, para investigar centenas de intromissões em quase duas dezenas de entidades.
Diz a certidão o seguinte:
No âmbito da presente investigação, designadamente, da análise ao material informático apreendido ao arguido Rui Pinto, apurou-se indiciariamente que o arguido, para além dos acessos indevidos às entidades e caixas de correio constantes da acusação, acedeu igualmente a sistemas informáticos e caixas de correio de muitas outras entidades, públicas e privadas, designadamente: ao Ministério da Justiça, Rede Nacional de Segurança Interna, Liga Portuguesa de Futebol, Atlético de Madrid, Leixões Sport Clube, Urbinvest, Landscape, Fidequity, SIGA Sable, Grupo Fosun, a IURD, Vilarreal Clube de Fútbol, Futbolnly Klub ShaKhtar, FIFA, UEFA, Sport Lisboa e Benfica, Fútbol Clube Barcelona, Manchester City, Real Madrid, Inter de Milão, Juventus, Ajax, Clube Desportivo Nacional, Futebol Clube do Porto, bem como a caixas de correio dos jornais RecordCorreio da Manhã, escritórios de advogados RPS, Vieira de Almeida, Vaz Serra, Abreu Advogados e Carlos Osário Castro, etc.
Este é o segundo processo.
Entretanto, desde inícios de 2017 corre também um processo autónomo que investiga todas as intromissões e divulgações do que se designou por e-mails do Sport Lisboa e Benfica.
Este é o terceiro processo.

Perfil traçado
A fls. 397 do II volume do processo em que foi acusado, lê-se quanto ao que podemos designar por perfil do hacker, o seguinte:
Técnico brilhante responsável pelo acesso a contas bancárias sediadas nas Ilhas Caimão perfeitamente coincidente com os acessos conseguidos junto do Caledonian Bank.
Além da identificação civil completa do suspeito, foi ainda efectuada pesquisa junto do SPO verificando-se que o referido indivíduo foi interveniente no Proc. 7541/13.8TDLSB (que correu termos junto da Directoria do Norte) e que se reporta a factos em tudo coincidentes com os investigados nos presentes autos.
No referido processo, o Caledonian Bank Limited formaliza denúncia por burla informático e acesso ilegítimo ao sistema informático, intromissão que viabilizou duas operações fraudelentas: 34627€ (4685726$, consumada) e 229748,76€, devolvida) - esta última visando o património da ofendida NetJets - Transportes Aéreos, SA.
Formação académica superior (universitário, com boas capacidades de expressão escrita) compatível com a licenciatura em História (junto da Universidade do Porto - UP, com frequência de programa Erasmus em Budapeste, Hungria, junto da Eõtvos Leránd University);
Do mesmo Volume II a fls 401, consta a seguinte informação:
Em seguida deslocámo-nos ao DIAP do Porto (9.ª Secção) para realizar a consulta do Proc. 7541/13.8TDLSB (vide inf. a fls. 62 e seguintes) a fim de recolher mais elementos apurados em sede de investigação dos referidos autos. Neste sentido confirmou-se pela consulta física do processo que a operação fraudulenta em causa nos autos possui o seguinte IP completo com grupo data/hora (IP 193.137.39.10 às 10/10/2013, pelas 05h46 UTC) - a fls. 288 a 292. Neste sentido, confirma-se que o IP corresponde à range associada à Universidade do Porto, apenas não tendo sido possível definir um utilizador específico (atendendo a que o registo de utilizadores se limita a uma semana!).
A fls. 307 a 309 verificou-se o proc. individual do suspeito constando-se que o suspeito, nesse período, frequentava a licenciatura de História na Fac. de Letras da UP.

Processo Cível Contra o FC Porto
Movido pelo SL Benfica
Matéria Dada Como Provada
'29. O réu Francisco J. Marques acedeu a essas informações através de um contacto prévio via e-mail com pessoa desconhecida, que lhe enviou alguns e-mails para amostragem. Convencido do interesse e veracidade dos mesmos, pediu a remessa de mais e-mails, que recebeu inicialmente no seu e-mail oficial do FCP SAD e mais tarde num e-mails encriptado criado para o efeito.
48. O FCP clube e a FCP SAD divulgaram e-mails e demais correspondência relativa ao domínio @slbenfica.pt, bem como as comunicações (telefónicas e mensagens de texto) e detêm em seu poder informação comercial/segredos de negócio das autoras, ainda que o façam através do seu director de Comunicação e Informação  (Francisco J. Marques), no canal de televisão por si detido e controlado (i.e., o canal de televisão Porto Canal da ré Porto Canal).
56. Os réus sr. Jorge Nuno Pinto da Costa, dr. Caldeira e dr. Fernando Gomes, através da liderança do primeiro, e a concordância e a adesão solidária dos segundos, definiram e definem a estratégia de comunicação das rés FCP clube, FC Porto SAD, FC Media, Porto Canal, o seu posicionamento no caso dos e-mails, as relações institucionais e empresariais daqui decorrentes, incluindo designadamente todas as actividades e actos de divulgação, que seguiram a orientação e determinação (genérica) dos réus sr. Jorge Nuno Pinto da Costa, dr. Adelino Caldeira e dr. Fernando Gomes, sob liderança do primeiro.
67. No dia 8 de Agosto de 2017, Francisco J. Marques divulgou, no mesmo programa Universo Porto - Da Bancada, indicados novos e-mails e comunicações relacionado-os com as autoras e com a prática por estas de actos ilícitos e criminais, conforme resulta das notícias da imprensa escrita de 9 de Agosto de 2017, cfr. documento n.º 14 e a gravação em CD que se juntou como documento n.º 14 do requerimento inicial da providência cautelar.
69. Francisco J. Marques volta a divulgar novos e-mails, no programa Universo Porto - Da Bancada do dia 29/08/2017, conforme Documento n.º 7 que se junta. Denunciando uma troca de e-mails entre o antigo delegado da Liga Nuno Cabral e Paulo Gonçalves.
Durante este programa, além de implicar que o árbitro Bruno Paixão teria ligações ao Benfica, Francisco J. Marques diz (46:23) 'Acabamos de estabelecer mais um árbitro com uma ligação ao Benfica, através de um intermediário. A comunicação entre o senhor Bruno Paixão e o senhor Paulo Gonçalves era estabelecida através de um intermediário chamado Nuno Cabral, e o senhor Bruno Paixão utilizava um pseudónimo, um outro nome. (47:03) Cada cavadela, cada minhoca! Isto, volto a repetir, tem proporções bíblicas! E alguém tem de pôr mão nisto. As entidades desportivas têm de, de facto, se preocupar com isto de forma muito séria, porque qualquer dia eu não sei o que é que acontece. Mas isto é um polvo gigantesco! (48:15) Isto é um escândalo! É um escândalo! E alguém tem de fazer alguma coisa. Tem de se olhar para isto! O Futebol Clube do Porto está a fazer um papel em defesa do futebol português que tem de ser louvado, porque o Futebol Clube do Porto está a desmontar a falsidade que há! É uma falsidade gigantesca!'.
O sr. Francisco J. Marques tem toda a razão! É uma falsidade gigantesca, mas dele para os outros, e não dos outros para ele.
Assustador! Assustador! Assustador! Mas há muito mais, muito mais coisas assustadoras!"

Pragal Colaço, in O Benfica

CLAQUES E DESTAQUES


"As claques deste jaez medram no emocionalismo destemprado, ameaçam no poderio consentido e até partilhado

1. A Direcção do Sporting tomou uma decisão corajosa quanto às chamadas claques (na lei, eufemisticamente, «grupos organizados de adeptos», com a curiosidade da palavra organizados) e às condições materiais, logísticas e de acesso de que vinham beneficiando. Medida que merece ser ponderada pelos outros clubes, seja qual for o nome e invólucro que tais grupos de sócios e adeptos tomem. É que, neste contexto, não está, apenas, em causa o clube de Alvalade. Está toda a expressão desportiva que, entre muitas infecções oportunistas, acolhe e até alimenta vírus de diversas naturezas, assim se pondo em sobressalto a sustentação desta actividade por onde passa muito dinheiro. Ponhamos de parte o habitual maniqueísmo clubista: se é dos meus é bom, se é dos outros mal, mesmo que seja exactamente o mesmo que se está a qualificar. Umas vezes a benigna compreensão e a dúctil ou envergonhada crítica para quem, antes, vociferava sem contemplações. E vice-versa. No fim, todos perdem respeitabilidade. Perdemos todos.
Nada tenho contra apoios dirigidos a grupos de sócios e adeptos. Em tese, são uma expressão de vivacidade, energia e promoção de valores e afeições, mas que deveriam ser sempre congregadores e não redutores e divisionistas, seja na vitória, como no insucesso. Infelizmente, com o tempo e as circunstâncias, muitas (mais não todas) claques transformaram-se em escolas de deseducação, centros intoleráveis de pressão e abuso de posição, polos de fragmentação ética, geracional e institucional, focos de extremismos de toda a espécie, janelas para actividade extra-futebol ilegítimas e ilegais, desertos de valores básicos de senso comum e respeitabilidade, instâncias inimputáveis de hierarquizações perversas, e agregados beneficiários de mediatismo exponencial. Os excessos das claques são notícia repetida mil vezes e publicidade gratuita, analisada ad nauseam quanto mais passaram a barreira da civilidade. Há media que, permanentemente, andam à caça de rebuliço, palavrões e golpadas das claques - qual alimento apetitoso - para, mais tarde, carpirem lágrimas de crocodilo com o que, antes, haviam alimentado frenética e despudoradamente. Salvaguardadas as devidas distâncias, é dessa propaganda sem custos, mas infelizmente eficaz, que também se alimentam o terror e seus agentes.
As claques deste jaez medram no emocionalismo destemperado, ameaçam no poderio consentido e até partilhado, corroem na falta de respeito mínimo e de mínima noção de exemplaridade, multiplicam-se na divisão de facções, ampliam medos em momentos de crise, vivem num ambiente de fora-da-lei, induzem o afastamento de pessoas de bem e de famílias dos estádios, deixam germinar a insegurança, protegem-se na massificação.
São estados dentro dos estádios.

2. No Verão foi publicada uma nova lei (113/2019, de 11 de Setembro) que altera o regime jurídico previsto na Lei n.º 39/2009, de 30 de Julho, criando um novo e mais exigente quadro legal relativo a fenómenos de intolerância e de violência nos recintos desportivos. Ainda que possa ser criticada nalguns aspectos específicos (por exemplo, o Benfica fê-lo em alguns pontos que considerou «desnecessários, insuficientes e inconstitucionais», que talvez devessem ser mais discutidos e até acolhidos, e de que destaco a obrigatoriedade do registo individual de adeptos), a lei procura articular adequadamente as responsabilidades de todos, no respeito básico pelo princípio da subsidiaridade, pelo qual não se deve passar a um patamar superior (máxime o Estado) o que melhor e com mais proximidade se deve fazer em níveis mais abaixo. Dito de outro modo, os clubes, em primeiro lugar, as associações e federações desportivas, em segundo lugar e, no fim da linha, o Estado regulador, fiscalizador sancionatório e, se for o caso, judiciário. É tempo de se erradicar o proverbial estilo de passa culpas e de, no fim, se exigir aos outros o que não se é capaz de exigir a si próprio.
No fim de contas, o grande desafio que ora se coloca com a nova legislação é o da sua eficácia,pois de boas intenções está o Diário da República cheio. Assim haja vontade, competência e bom senso. Apesar do normativo só se aplicar a partir da próxima época(!), o que se vem passando no âmbito do Sporting é um primeiro repto, que se espera seja vencido, sob pena de as coisas começarem mal e jamais se endireitarem.
Pena é que uma lei tão recente tenha sido contemporânea de um acórdão de um Tribunal da Relação, que consagra, em modo de jurisprudência, o mundo do futebol como uma realidade à parte, que se pode resumir neste impensável raciocínio de que «um comportamento revelador de falta de educação e de baixeza moral e contra as regras de ética desportiva é de alguma forma tolerado nos bastidores de cena futebolística». Como bem resumiu o presidente do Comité Olímpico de Portugal, José Manuel Constantino, «na perspectiva daquele tribunal, um recinto desportivo é uma espécie de offshore onde, no seu interior, se pode praticar o que é criminalizado no exterior». Quer dizer, no futebol em vez de tolerância zero, há «sobeja tolerância à condição». Neste caso do acórdão, é no palavreado, quem sabe amanhã se na violência física e patrimonial.

3. Para atitudes radicais, medidas excepcionais. Foi assim que olhei, de fora, para a decisão leonina. Ao que li, parece haver um nexo de alguma causalidade entre os benefícios, sinecuras, excepções e prioridades que são concedidas a certas claques e as externalidades negativas, de consequências não imediatamente visíveis ou tangíveis, que provocam na instituição e nos seus stakeholders. Não esqueçamos que, no caso de futebol, não há apenas sócios e adeptos, mas também accionistas que arriscam capitais, financiadores, patrocinadores, detentores de activos, fisco, instâncias internacionais, etc. Ou será que temos de dividir os sócios de um clube entre os que pagam as suas quotas e ingressos e cumprem as sua regras estatutárias e éticas e os que se acham acima de qualquer exigência ou justificam os excessos sempre invocando artificiosamente serem monopolistas de um patológico amor ao clube? Por que razão, face a perturbações e desacatos criados por outros sócios e adeptos, deverão as quotas dos sócios cumpridores contribuir para as multas nacionais e internacionais com que os clubes são castigados, ou mesmo arcar com os prejuízos de restrições impostas por instâncias disciplinares?
Este combate não isenta nenhuma instituição, nenhum clube, nenhum dirigente do exercício de autoridade. A verdadeira liderança, aliás, advém do exemplo, e não do poder formal e efémero. Não nos deixemos toldar por um qualquer inciso adversativo, indulgente, indigente ou falacioso, tal como um «se», «mas», «talvez», «salvo se», «mais ou menos», que tudo desculpa na voragem do tempo e na erosão da memória.

4. Boas notícias da Europa. Muito provavelmente, em 2021/2022 voltaremos a duas (ou três) equipas na Champions, mais por demérito das equipas russas do que por mérito das portuguesas. Bom desempenho do SC Braga, até agora a única equipa invicta e líder no seu grupo. Boa exibição na Europa do Vitória de Guimarães em Londres, diante do Arsenal e com 2500 mil vitorianos a calar o Emirates.
Já dos grandes não se poderá dizer tanto: o Benfica alcança a sua primeira vitória bem sofrida, por sinal. O FC Porto perde 5 em 9 pontos, em tese bem atingíveis e o Sporting, jogando pouco, venceu sem convencer. Apesar de tudo, com diferenças entre eles: o Benfica na Champions contra um Lyon que, nesta competição, não perdia um jogo fora de casa há 3 anos (num total de 11 partidas). Já o FCP e o SCP, na mais acessível Liga Europa, jogaram contra uns escoceses sofríveis e uns noruegueses medíocres. Com esta sua 200.ª vitória nas competições europeias, o Benfica passou a fazer parte dos únicos oito emblemas que alcançaram esta marca. Uma nota final para o magnífico e inteligente golo do Pizzi, que alguns tentaram desvalorizar face ao erro do guardião da equipa francesa. Tivesse sido Cristiano Ronaldo a marcá-lo e seria, seguramente, «uma obra de pura arte». Enfim...

5. Voltou uma competição de que já não me lembrava: o nosso campeonato. O Benfica prossegue a senda de ganhar, jogando muito pouco. Um mistério por desvendar, apesar da onda de lesões... Em 8 jornadas, houve, na equipa benfiquista, um acumulado de 30 ausências de impedidos: Chiquinho, André Almeida, Florentino, Gabriel, Conti, Gedson, Vinícius e agora Rafa e RDT... Só azar? Como se explica um relvado tão lastimável e responsável pela maioria das lesões mais graves?
O Famalicão ofereceu um hat-trick de fífias ao Porto, assunto que, por certo, se tivesse acontecido com o Benfica, já teria proporcionado comunicados de Jotas insinuando coisas mefistofélicas diante de tal despudor!
O Boavista é agora a única equipa sem derrotas e o Vitória de Guimarães é o simétrico do Benfica, isto é joga bem e perde."

Bagão Félix, in A Bola

"TEMOS DE ESTAR NO NOSSO MELHOR"


EQUIPA PRINCIPAL
O treinador encarnado fez a antevisão ao Benfica-Portimonense da 9.ª jornada da Liga NOS.
Benfica e Portimonense defrontam-se às 20h15 de quarta-feira. No Estádio da Luz vai jogar-se para a 9.ª ronda da Liga NOS e Bruno Lage afirmou, em conferência de Imprensa, que a equipa encarnada tem de estar ao melhor nível para vencer.
Apesar de as exibições não estarem a corresponder na totalidade às expetativas, as águias estão inseridas num ciclo difícil de jogos que continua com o Portimonense. Como é que o Benfica vai encarar esta fase complicada?
Há as expetativas e há as exigências. Temos isso claro na nossa mente. Queríamos ter uma reentrada forte e há que dar continuidade a isso, sabendo que temos condições para jogar melhor, há essa exigência internamente, no entanto, o mais importante, quando as exibições não surgem com a qualidade que já surgiram esta época, é conquistar os três pontos. Com pontos é que se fazem os campeões e essa tem de ser sempre a nossa mentalidade. O Portimonense é uma equipa competente, que tem uma dinâmica muito interessante em termos ofensivos. Pode jogar em diversos sistemas, contra os grandes realizam sempre grandes exibições, basta ver o jogo que fizeram esta época perante o FC Porto, e o jogo que fizeram o ano passado contra nós, por isso, temos de estar no nosso melhor.
Na análise recente aos jogos parece haver uma maior preocupação em montar a equipa em função do adversário. Poderá ser isso um dos motivos da queda exibicional?
O que às vezes faço é ir explicando o que vai acontecendo ao longo do jogo e em função do momento quer do nosso ou do adversário. A forma de trabalhar é a mesma. Já falámos internamente que há determinadas situações que não nos estão a deixar ser tão fortes e que não nos estão a permitir ter o mesmo nível exibicional que foi apresentado no início da época. As lesões têm-nos retirado alguns jogadores importantes na equipa.
A série de quatro jogos em dez dias poderá obrigar a uma rotação do plantel?
Temos sempre séries complicadas de jogos. É fundamental as pessoas entenderem aquilo que é jogar com dois, três ou quatro dias de intervalo. Depois há que entender o real valor do jogador e o real valor de cada momento. Há jogadores que recuperam mais rápido que outros, por isso, o mais importante é a cada momento apresentar o melhor onze e a melhor estratégia para cada jogo. Não é só olhar para os jogos que se seguem, há que olhar também para a sequência de jogos que tem vindo a ser feita. Se fosse possível jogar sempre com três dias de intervalo, ou seja, de quatro em quatro dias, metade destes problemas, quer a nível de lesões, quer ao nível de recuperação, nem se colocavam, mas infelizmente, ou felizmente porque é aquilo que move a dimensão do espetáculo e do futebol, são os horários da televisão e a indústria cresceu muito com essa situação.
Agora que o Benfica já tem uma base mais sólida de jogos, que diferenças é que encontra entre este Benfica e o do ano passado?
Há uma ideia coletiva e depois as dinâmicas são trazidas pelos nossos jogadores. Com atletas diferentes, obviamente que as dinâmicas têm de ser outras. Não temos tido a possibilidade de jogar, principalmente no Campeonato, com o mesmo onze por isso as transições defensivas e as dinâmicas ofensivas acabam por ser diferentes. A nossa mentalidade é de ter os olhos sempre sobre a baliza adversária, em tentar desmontar a linha adversária e, como equipa grande e da maneira que queremos jogar, temos de correr certos riscos.
O Benfica está menos rematador do que no ano passado. Que explicações encontra para este decréscimo ao nível da quantidade de remates?

Em 27 jogos, fizemos 25 vitórias, um empate e uma derrota. As estatísticas valem o que valem e quer um recorde, quer outro, nós guardamos sempre na mesma gaveta e preparamos sempre o jogo seguinte da melhor maneira para o vencer. Não é para estatísticas, nem recordes, nem para situações pontuais que olho. A minha forma de estar é de vencer sempre o jogo seguinte.
Disse que há várias coisas que não estão a permitir à equipa ser tão forte. Um dos problemas que referiu publicamente foi o estado da relva do Estádio da Luz. O departamento médico vai ter algum cuidado especial para evitar lesões?
O problema foi detetado internamente, desde o jogo com o FC Porto e se percebeu que não haveria condições de colocar o relvado nas condições do da época passada e, como tal, começou-se a pensar em alterá-lo. Vai ser feito, brevemente, para que também seja outro fator a nosso favor. Vai trazer-nos outra qualidade ao nível da circulação da bola com certeza. Nesta profissão não temos tempo para pensar no que vai acontecendo, mas sim há que pensar nas soluções. Relativamente ao departamento médico e à equipa técnica não há nada a apontar. Temos de continuar a fazer o bom trabalho que temos realizado nessa área e recordo aquilo que foi a fantástica recuperação do Vinícius. A recuperação do Chiquinho foi quase um recorde relativamente àquilo que era a previsto. E fica o desafio, público, para o Rafa que, sendo mais rápido que o Chiquinho, se consiga recuperar mais rápido que ele.
Vai ficar na história do Clube por ter sido o mais rápido a atingir as 25 vitórias no Campeonato. O que sente por ter atingido este recorde?
Não tinha ideia do recorde. É um registo importante e interessante. Eventualmente daqui a uns anos, é olhar para trás e ver o caminho. Sinto que ainda estou a começar. É um começo muito bom a este nível, mas já levo 20 anos de carreira e isso deixa-me feliz por aquilo que tenho vindo a atingir, contudo, a nossa forma de estar é olhar e pensar sempre no próximo jogo. O que controlamos é a nossa tarefa e aquilo que fazemos em campo.
AGRADECIMENTO AOS ADEPTOS
Uma palavra final para os nossos adeptos que estiveram em Tondela. É essa a exigência e esse apoio que nós pretendemos. Lanço este agradecimento enquanto líder do grupo. Apoiar-nos do princípio ao fim, mesmo sabendo que a equipa ainda não está a jogar aquilo que nós pretendemos, mas do primeiro ao último minuto a apoiar, a dar-nos energia positiva e, no final, uma resposta certa. Sendo assim, seremos sempre mais fortes.

TENHO A VIDA CHEIA DE MORTOS


"Morreu o Rui. Rui Manuel Trindade Jordão. Conheci-o bem, vi-o jogar tantas e tantas vezes, mas não assisti à magia de Londres, contra o Fulham, a meias com Eusébio. Quem viu não acreditou. Não sei como dizer adeus ao Príncipe Negro da minha nostalgia.

Tenho a vida cheia de mortos. É da idade, dirão. Quanto mais velho fico, mais são os que partem.
Restam-me as memórias.
Tenho tantas memórias, que já nem sei o que fazer com elas. Algumas escrevo.
Escrevi nestas páginas sobre tantos mortos: Eusébio, Coluna, Artur, Bento, Vítor Baptista...
Na semana passada, disse-vos que ia escrever mais um artigo sobre o Eusébio, a propósito dos jogos da selecção.
Mas morreu o Rui: Rui Manuel Trindade Jordão.
Lembro-me de quando chegou ao Benfica, em 1971. Era um miúdo. E eu mais miúdo ainda. Falavam-se maravilhas de Jordão, a Gazela de Benguela.
Para mim foi o Príncipe Negro.
Passaram-se anos, e conheci-o. Fiz-lhe entrevistas, conversámos, chegámos a jogar futebol juntos, jogos de brincadeira, claro está.
Era um tipo calado, mas tão cheio por dentro. Havia nele a arte que depois pintou. Já havia nele a arte, quando jogava.
O Benfica dos golos atrás de golos: Eusébio e Simões, e Artur Jorge, Jordão, Nené e Vítor Baptista. Cabiam todos num onze. Jimmy Hagan encaixava-os, e eles varriam os campeonatos a golos.
Uma vez, em 1996, estava eu em Inglaterra a cobrir o Campeonato da Europa, conheci um velhote num pub. Foi em Coventry. Soube que eu era português.
Falou-me de uma noite, em Craven Cottage, campo do Fulham. Os olhos brilhavam-lhe de emoção. 'Wow! What I saw!', exclamou. Começou a descrever. No meio do campo, o Benfica com a bola. De repente, alguém a mete na cabeça de Eusébio. Este para Jordão, que a devolve, também de cabeça. E Eusébio para Jordão, e Jordão para Eusébio. Cinco, seis, sete vezes, sempre a correrem, um e outro lado. O público de pé, maravilhado, sem acreditar no que os seus olhos viram.
Verdade? Lenda?
Procurei nos jornais. Sim. Muitos falam desse momento.
Eusébio e Jordão trocando bolas de cabeça por entre a equipa do Fulham.
Eram mesmo assim, os sonhos: jogadores de sonho feitos realidade.
Depois Eusébio cansou-se, deixou que a bola viesse da cabeça de Jordão para o seu pé direito e chutou. Indefensável!

Nunca disse adeus
Tenho a vida cheia de mortos e não vou a funerais.
Faço a vida cheia de mortos e não vou a funerais.
Faço como Vinicius: 'Os funerais tirei-os da minha vida. Prefiro recordar vivos os meus mortos...'
Prefiro recordar vivo Rui Jordão, embora há tanto tempo não o visse.
Detestava eventos. Detestava conversa para deitar fora. O futebol perdera o encanto, para ele que encantou. Agora encantou-se, como dizia Guimarães Rosa.
Atleta autêntico, vi-o sofrer muito.
Pernas partidas. Uma vez pelo Alberto, que chorou no fim, outra pelo José Eduardo.
Fino, elegante.
Tinha fintas desconcertantes, em velocidade, um pontapé tremendo com o esquerdo. Mas, ao mesmo tempo, uma espécie de suavidade.
Esteve no Benfica e partiu para Saragoça. 9000 contos, falou-se.
Regressou, e o Benfica não o quis, falou-se.
Foi para o Sporting. Certa vez, em Alvalade, vi-o marcar um golo frente ao FC Porto com um toque de calcanhar de fora da grande área: a bola sobrevoando o guarda-redes infeliz, em eclipse perfeita, irretocável. Que coisa linda, Rui!
Outra vez, na Luz, desfez o Feyenoord a meias com o Nené.
E, também na Luz, marcou o penálti ao Dassaev que levou Portugal ao Europeu de 1984.
E aquilo que ele e o Chalana fizeram em Marselha, à França? Francamente! É preciso um descaramento divino!
Descaramento de Divino Negro, que Jordão foi um deles.
Tinha tantos episódios para contar e, agora, calou-se. Ele que sempre foi calado, ensimesmado, tímido. Mas de uma educação, de um cavalheirismo...
Volto ao pub de Coventry. Ao velhote de olhos arregalados, com um brilho de duende de Lorca.
A bola no alto.
Jordão toca de cabeça para Eusébio, e este devolve de cabeça para Jordão. Até aí tudo normal. Mas depois o gesto repete-se. Uma e outra e outra vez. Eusébio e Jordão vão devolvendo o adversário com toques de cabeça sucessivas, percorrendo assim o espaço até à grande área. Basta! A bola sai da cabeça de Jordão para o pé direito de Eusébio. Sublime!
Parece que consigo assistir a tudo, em slow motion.
Vocês não?
Dois gatos negros num campo de lama.
O público inglês levanta-se de supetão.
Era exactamente para isto que tinha saído de casa.
Os aplausos não param.
Uma  obra de arte assim nunca se vira desde que o Fulham fora fundado, em 1879. Eram trinta mil almas em redor de um relvado na margem esquerda do Tamisa.
'No modesto campo do Fulham assistiu-se ontem à colocação de um jogador português na rampa de lançamento para o estrelato internacional', escrevia Joaquim Letria. 'Esse jogador é Jordão! O jovem africano esteve em todas. Foi dele que partiu o primeiro golo, e o total mérito do segundo golo benfiquista fica a dever-se a ele e a Eusébio (...) Um verdadeiro golo de antologia que durante muito tempo perdurará na memória de quantos assistiram ao desafio'.
Perguntem ao Joaquim Letria. Ele estava lá. Eu não.
Vi tantas e tantas e tantas vezes jogar o Jordão, mas essa não.
Jordão continuou por muitos anos a ser Jordão, e o Estádio da Luz pôde vê-lo na plenitude da sua juventude e aplaudir o seu estilo desconcertante. Depois partiu.
Rapaz discreto, homem tranquilo.
Um príncipe.
Tenho a vida tão cheia de mortos: dispensavam mais um.
A última vez que estive com o Jordão ele parecia um fantasma, desvanecendo-se aos poucos.
Conseguia estar em todo o lado como se não estivesse.
Já em campo era assim: não estava e aparecia, de repente, e uma luz brilhava de paixão incontida.
Vejo-o sair pela porta clara dos que vivem para sempre. Encantados, não mortos.
Vejo que não olha para trás, o futebol ficou na relva, não nas palavras. Ele tinha jeito com as palavras, mas não as gastava. Devia dar-lhes um valor grande.
Quero acenar-lhe, mesmo à distância, alguns derradeiro.
Mas, agora que penso nisso, nunca o vi dizer adeus. Ia-se embora e nada mais.
Como agora, na frieza de um hospital, traído pelo coração.
Vai ficando cada vez mais longe, como uma sombra.
O Príncipe Negro da minha nostalgia..."

Afonso de Melo, in O Benfica