Com títulos em Portugal, goleiro desiste de encerrar a carreira após o 7 a 1: “Às vezes, quando eu deito, não tem como não lembrar”. Ele volta a ganhar chances com saída de Ederson
Desde o dia oito de julho de 2014, foram poucas as vezes em que Júlio Cesar se dispôs a encarar uma entrevista. Depois da derrota por 7 a 1 para a Alemanha na semifinal da Copa do Mundo, o goleiro passou por momentos complicados. Lidar com as emoções da pior derrota da Seleção na história das Copas não foi fácil. Precisou se manter um pouco recluso para assimilar tudo isso. No pior dos momentos, pensou em até em parar.
- Após aquela partida contra a Alemanha, eu reuni a comissão técnica e os jogadores da Seleção e praticamente me despedi do futebol. Eu estava com a emotividade muito alterada e eu não conseguia nem raciocinar direito. Aí acabei falando isso. Minha família estava presente e achou uma loucura. Falaram que eu sou muito novo, ainda tinha muito futebol pela frente. Depois daquela tragédia, eu tinha decidido parar de jogar, mas graças a Deus não parei. Vim para um país maravilhoso, uma cidade maravilhosa, um time incrível com uma estrutura muito boa. Voltei a sorrir, voltei a ser alegre. Coisas que eram características minhas.
Julio não desistiu do futebol e encontrou no Benfica o refúgio que precisava. Ganhou títulos e teve o reconhecimento da torcida encarnada. E com a saída do titular Ederson, vendido por R$ 145 milhões ao Manchester City, deve ganhar mais chances. Tudo isso faz o brasileiro voltar a sonhar.
+ A caminho do City, Ederson se despede do Benfica
- Após aquela partida contra a Alemanha, eu reuni a comissão técnica e os jogadores da Seleção e praticamente me despedi do futebol. Eu estava com a emotividade muito alterada e eu não conseguia nem raciocinar direito. Aí acabei falando isso. Minha família estava presente e achou uma loucura. Falaram que eu sou muito novo, ainda tinha muito futebol pela frente. Depois daquela tragédia, eu tinha decidido parar de jogar, mas graças a Deus não parei. Vim para um país maravilhoso, uma cidade maravilhosa, um time incrível com uma estrutura muito boa. Voltei a sorrir, voltei a ser alegre. Coisas que eram características minhas.
Julio não desistiu do futebol e encontrou no Benfica o refúgio que precisava. Ganhou títulos e teve o reconhecimento da torcida encarnada. E com a saída do titular Ederson, vendido por R$ 145 milhões ao Manchester City, deve ganhar mais chances. Tudo isso faz o brasileiro voltar a sonhar.
+ A caminho do City, Ederson se despede do Benfica
- Eu ainda sonho com Seleção Brasileira. Você está falando de despedida, mas não sei. Eu estou aí. Hoje, nós temos grandes goleiros na Seleção Brasileira. Goleiros jovens que estão aparecendo e fazendo um bom trabalho. Mas não tem nada definido pelo que tenho visto. Hoje, eu estou jogando pouco pelo Benfica. Mas quem sabe o Ederson é vendido para outro clube e eu volto a poder ajudar aqui com mais frequência no Benfica? Falta um ano, um ano e meio ainda para a Copa do Mundo. Quem sabe o que pode acontecer no futuro? Eu nunca vou desistir de Seleção Brasileira, nunca vou desistir de jogar bola, não vou desistir de fazer aquilo que mais amo.
Júlio quer fazer um novo final de sua trajetória pela Seleção. Afinal, os 7 a 1 ainda são um pesadelo que o atormentam.
- Não vou mentir. Às vezes, quando eu deito, não tem como não lembrar.
Confira a entrevista completa com o goleiro:
Há muito tempo você não dá uma entrevista.
Talvez porque não tenha tido oportunidade (risos). Mas eu estou aqui em Portugal, quietinho, vivendo minha vida, num grandíssimo clube que é o Benfica. Depois da Copa do Mundo, assinei contrato com eles. Já estou aqui há dois anos e meio. Mas é uma situação tranquila, não sinto falta não.
Feliz no Benfica?
Nossa, muito! Eu cheguei até a falar que me sinto o cara mais feliz do mundo. Foi logo depois da gente ganhar títulos importantes aqui em Portugal. A cidade é maravilhosa. O povo português é carismático, caloroso, me recebeu super bem, recebeu minha família super bem, tem uma culinária maravilhosa. Melhor país para se viver, melhor cidade para se viver. Não poderia pedir outra.
E jogar no estádio da Luz?
A torcida do Benfica é fantástica. A do Flamengo é sensacional, mas a do Benfica eu comparo com a do Flamengo. É uma coisa de louco. É uma paixão, é uma relação enorme. Outro dia, peguei um táxi e o taxista era benfiquista. Ele começou a falar do time e desatou a chorar. Eu até me emocionei também. Aqui, onde a gente vai jogar 80% do estádio é benfiquista.
Foi bem a calhar depois de uma Copa do Mundo daquela, que se esperava tanto e acabou mal.
Foi uma situação muito complicada o pós-Copa do Mundo, porque eu abri mão de muita coisa para poder jogar aquela Copa e terminou do jeito que terminou. Não me arrependo. Faria tudo de novo. Porque a oportunidade que eu tive de jogar uma Copa do Mundo no seu país, é realmente uma coisa incrível. Nem nos nossos mais belos sonhos, você pode imaginar isso. Infelizmente, acabou do jeito que acabou, mas o que eu guardo para mim é o aprendizado e a felicidade de ter ajudado na Copa do Mundo no meu país. Após aquela partida contra a Alemanha, eu reuni a comissão técnica e os jogadores da Seleção e praticamente me despedi do futebol. Estava com a emotividade muito alterada e eu não conseguia nem raciocinar direito. Aí acabei falando isso. Minha família estava presente e achou uma loucura. Falaram que eu sou muito novo, ainda tinha muito futebol pela frente. Depois fui repensando, não queria voltar para o clube que estava que era o Queens Park Rangers, time que tinha me tratado no último ano muito mal. Faltaram um pouco de respeito comigo. Depois daquela tragédia, eu tinha decidido parar de jogar, mas graças a Deus não parei. Vim para um país maravilhoso, uma cidade maravilhosa, um time incrível com uma estrutura muito boa. Cheguei aqui conquistando títulos, títulos muito importantes. Voltei a sorrir, voltei a ser alegre. Coisas que eram características minhas.
Em relação aos gols do 7 a 1...houve alguma bola defensável?
Olha, complicado. Foi muito complicado. Foi um jogo que me senti muito impotente. É aquela coisa que realmente você fica se perguntando, perguntando e não encontra resposta. Se você me perguntar o que aconteceu, não sei te responder. Acho que qualquer jogador que teve a oportunidade de jogar aquele jogo não vai saber dizer o que aconteceu. Foi um jogo atípico, em que no primeiro tempo eles já estavam ganhando de cinco a zero. O mais difícil foi voltar para o segundo tempo, depois que estava tudo definido. Acho que foi a situação mais difícil que eu vivi. Por mim, tomava meu banho e ia pra casa. Foi muito sofrido.
Eles chegavam de tudo quanto era lado e eu não conseguia entender. Eu lembro de um gol, não sei se foi o terceiro ou quarto, que a gente tinha tomado um gol, a gente saiu, eles tomaram a bola e fizeram outro gol. Nem em pelada isso acontece.
A parte emocional ali afetou um pouco. Realmente, jogar uma Copa do Mundo do Brasil é muito forte. Eu acho que a gente não conseguiu enfrentar uma seleção que estava extremamente preparada para a gente. A gente não conseguiu expressar o nosso melhor e aconteceu o que aconteceu.
Isso ainda volta à sua mente?
Volta, volta. Não vou mentir. Às vezes, quando eu deito, não tem como não lembrar.
Você está fazendo 20 anos de carreira. Quando olha pra trás, o que vê?
Eu vejo uma carreira brilhante. Um cara para quem o futebol deu muito, não só de títulos e prestígio, mas também de ser humano. Acho que o futebol me ajudou a formar uma família linda, dar mais conforto pros meus pais, pros meus irmãos. O que mais me toca quando olho para trás é isso: tudo que conquistei e tudo que pude proporcionar para outras pessoas que me amam. Além dos amigos que fiz no futebol. No futebol, você fica muito tempo no seu clube. Às vezes, você fica mais tempo vivendo o futebol do que em casa.
Faltou um jogo de despedida, uma homenagem na Seleção?
Falta um ano, um ano e meio ainda para a Copa do Mundo. Quem sabe o que pode acontecer no futuro? Eu nunca vou desistir de Seleção Brasileira, nunca vou desistir de jogar bola, não vou desistir de fazer aquilo que mais amo. Não estou tão jovem, mas não estou tão velho.
E esse momento da Seleção? Te surpreendeu?
Não. Acho que após a Copa, realmente botar o trem de novo no trilho é complicado. A cobrança é muito grande. Mas eu acho que o Tite já é um treinador que vem fazendo um excelente trabalho no Brasil há muito tempo. Até a mídia vinha colocando ele como treinador da Seleção. Era uma situação natural. O que eu posso sentir de fora, e por conhecer bem o ambiente da Seleção Brasileira, é que os jogadores estão muito fechados. Acho que ele conseguiu transformar a seleção na família Tite. Acho que é um cara rigoroso, daqueles que mordem e assopram. Tem tudo para dar certo. Já está dando certo. Um treinador super competente.
Em termos de futuro, você enxerga alguma coisa?
Penso, sim, mas uma coisa muito vaga. Apesar dos 37 para os 38, acho que ainda tenho muita lenha para queimar no futebol. Me sinto bem nos treinamentos. Estou tendo poucas oportunidades de jogar, porque o Ederson está fazendo um lindo trabalho aqui. Mas eu boto na minha cabeça que assim que o treinador precisar, eu tenho que estar preparado. Minha cabeça está focada no futebol ainda.
Pensa em voltar a jogar no Brasil?
Não. Voltar pro Brasil, eu não penso. Penso em ir, visitar os amigos, a família. Mas, definitivamente, eu já decidi com a Suzana (Werner, esposa de Júlio) e com meus filhos, que nossa casa é aqui em Lisboa.
Você é Flamengo? Acompanha o time?
Sou Flamengo, não tenha dúvida. Acompanho.
Vê o time forte para o Brasileirão?
Vejo e acredito muito até porque eu acredito muito em projetos. O Flamengo já vem projetando se tornar estruturalmente o clube mais respeitado. O clube que paga em dia, que tem seu CT, que tem um estádio. O Flamengo hoje tem tudo para ser uma potência mundial, comparando com times como Real Madrid e Barcelona. Não é meu coração flamenguista que está falando, não. É o que tenho visto ano após ano.
Júlio quer fazer um novo final de sua trajetória pela Seleção. Afinal, os 7 a 1 ainda são um pesadelo que o atormentam.
- Não vou mentir. Às vezes, quando eu deito, não tem como não lembrar.
Confira a entrevista completa com o goleiro:
Há muito tempo você não dá uma entrevista.
Talvez porque não tenha tido oportunidade (risos). Mas eu estou aqui em Portugal, quietinho, vivendo minha vida, num grandíssimo clube que é o Benfica. Depois da Copa do Mundo, assinei contrato com eles. Já estou aqui há dois anos e meio. Mas é uma situação tranquila, não sinto falta não.
Feliz no Benfica?
Nossa, muito! Eu cheguei até a falar que me sinto o cara mais feliz do mundo. Foi logo depois da gente ganhar títulos importantes aqui em Portugal. A cidade é maravilhosa. O povo português é carismático, caloroso, me recebeu super bem, recebeu minha família super bem, tem uma culinária maravilhosa. Melhor país para se viver, melhor cidade para se viver. Não poderia pedir outra.
E jogar no estádio da Luz?
A torcida do Benfica é fantástica. A do Flamengo é sensacional, mas a do Benfica eu comparo com a do Flamengo. É uma coisa de louco. É uma paixão, é uma relação enorme. Outro dia, peguei um táxi e o taxista era benfiquista. Ele começou a falar do time e desatou a chorar. Eu até me emocionei também. Aqui, onde a gente vai jogar 80% do estádio é benfiquista.
Foi bem a calhar depois de uma Copa do Mundo daquela, que se esperava tanto e acabou mal.
Foi uma situação muito complicada o pós-Copa do Mundo, porque eu abri mão de muita coisa para poder jogar aquela Copa e terminou do jeito que terminou. Não me arrependo. Faria tudo de novo. Porque a oportunidade que eu tive de jogar uma Copa do Mundo no seu país, é realmente uma coisa incrível. Nem nos nossos mais belos sonhos, você pode imaginar isso. Infelizmente, acabou do jeito que acabou, mas o que eu guardo para mim é o aprendizado e a felicidade de ter ajudado na Copa do Mundo no meu país. Após aquela partida contra a Alemanha, eu reuni a comissão técnica e os jogadores da Seleção e praticamente me despedi do futebol. Estava com a emotividade muito alterada e eu não conseguia nem raciocinar direito. Aí acabei falando isso. Minha família estava presente e achou uma loucura. Falaram que eu sou muito novo, ainda tinha muito futebol pela frente. Depois fui repensando, não queria voltar para o clube que estava que era o Queens Park Rangers, time que tinha me tratado no último ano muito mal. Faltaram um pouco de respeito comigo. Depois daquela tragédia, eu tinha decidido parar de jogar, mas graças a Deus não parei. Vim para um país maravilhoso, uma cidade maravilhosa, um time incrível com uma estrutura muito boa. Cheguei aqui conquistando títulos, títulos muito importantes. Voltei a sorrir, voltei a ser alegre. Coisas que eram características minhas.
Em relação aos gols do 7 a 1...houve alguma bola defensável?
Olha, complicado. Foi muito complicado. Foi um jogo que me senti muito impotente. É aquela coisa que realmente você fica se perguntando, perguntando e não encontra resposta. Se você me perguntar o que aconteceu, não sei te responder. Acho que qualquer jogador que teve a oportunidade de jogar aquele jogo não vai saber dizer o que aconteceu. Foi um jogo atípico, em que no primeiro tempo eles já estavam ganhando de cinco a zero. O mais difícil foi voltar para o segundo tempo, depois que estava tudo definido. Acho que foi a situação mais difícil que eu vivi. Por mim, tomava meu banho e ia pra casa. Foi muito sofrido.
Eles chegavam de tudo quanto era lado e eu não conseguia entender. Eu lembro de um gol, não sei se foi o terceiro ou quarto, que a gente tinha tomado um gol, a gente saiu, eles tomaram a bola e fizeram outro gol. Nem em pelada isso acontece.
A parte emocional ali afetou um pouco. Realmente, jogar uma Copa do Mundo do Brasil é muito forte. Eu acho que a gente não conseguiu enfrentar uma seleção que estava extremamente preparada para a gente. A gente não conseguiu expressar o nosso melhor e aconteceu o que aconteceu.
Isso ainda volta à sua mente?
Volta, volta. Não vou mentir. Às vezes, quando eu deito, não tem como não lembrar.
Você está fazendo 20 anos de carreira. Quando olha pra trás, o que vê?
Eu vejo uma carreira brilhante. Um cara para quem o futebol deu muito, não só de títulos e prestígio, mas também de ser humano. Acho que o futebol me ajudou a formar uma família linda, dar mais conforto pros meus pais, pros meus irmãos. O que mais me toca quando olho para trás é isso: tudo que conquistei e tudo que pude proporcionar para outras pessoas que me amam. Além dos amigos que fiz no futebol. No futebol, você fica muito tempo no seu clube. Às vezes, você fica mais tempo vivendo o futebol do que em casa.
Faltou um jogo de despedida, uma homenagem na Seleção?
Falta um ano, um ano e meio ainda para a Copa do Mundo. Quem sabe o que pode acontecer no futuro? Eu nunca vou desistir de Seleção Brasileira, nunca vou desistir de jogar bola, não vou desistir de fazer aquilo que mais amo. Não estou tão jovem, mas não estou tão velho.
E esse momento da Seleção? Te surpreendeu?
Não. Acho que após a Copa, realmente botar o trem de novo no trilho é complicado. A cobrança é muito grande. Mas eu acho que o Tite já é um treinador que vem fazendo um excelente trabalho no Brasil há muito tempo. Até a mídia vinha colocando ele como treinador da Seleção. Era uma situação natural. O que eu posso sentir de fora, e por conhecer bem o ambiente da Seleção Brasileira, é que os jogadores estão muito fechados. Acho que ele conseguiu transformar a seleção na família Tite. Acho que é um cara rigoroso, daqueles que mordem e assopram. Tem tudo para dar certo. Já está dando certo. Um treinador super competente.
Em termos de futuro, você enxerga alguma coisa?
Penso, sim, mas uma coisa muito vaga. Apesar dos 37 para os 38, acho que ainda tenho muita lenha para queimar no futebol. Me sinto bem nos treinamentos. Estou tendo poucas oportunidades de jogar, porque o Ederson está fazendo um lindo trabalho aqui. Mas eu boto na minha cabeça que assim que o treinador precisar, eu tenho que estar preparado. Minha cabeça está focada no futebol ainda.
Pensa em voltar a jogar no Brasil?
Não. Voltar pro Brasil, eu não penso. Penso em ir, visitar os amigos, a família. Mas, definitivamente, eu já decidi com a Suzana (Werner, esposa de Júlio) e com meus filhos, que nossa casa é aqui em Lisboa.
Você é Flamengo? Acompanha o time?
Sou Flamengo, não tenha dúvida. Acompanho.
Vê o time forte para o Brasileirão?
Vejo e acredito muito até porque eu acredito muito em projetos. O Flamengo já vem projetando se tornar estruturalmente o clube mais respeitado. O clube que paga em dia, que tem seu CT, que tem um estádio. O Flamengo hoje tem tudo para ser uma potência mundial, comparando com times como Real Madrid e Barcelona. Não é meu coração flamenguista que está falando, não. É o que tenho visto ano após ano.
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