"Olha e ouço Rui Vitória e fico a pensar. Eu, que cheguei a considerá-lo demasiado low profile, fico a pensar Fui procurar compreender onde falhei por nunca ter antecipado em Rui Vitória mais do que a normalidade e, assim, dei por mim a pesquisar nos arquivos de A Bola a minha primeira conversa com ele - na verdade a única, ignorando as coisinhas de conferências de imprensa. Em algum momento da análise eu teria de ter errado.
Era 19 de Janeiro de 2004, perto da estátua do Campino, em Vila Franca de Xira. Rui Vitória tinha 33 anos (eu tinha 24), estava há anos e meio a treinar o Vilafranquense depois de 8 anos como jogador do clube. Ia jogar a casa do FC Porto dois dias depois, para a Taça. «É também professor de Educação Física na Escola Secundária Gago Coutinho, em Alverca, pelo que vai faltar às aulas para se deslocar ao Porto», escrevi. «Temos tudo contra nós, mas durante uma hora e meia só uma equipa do Mundo poderá ganhar ao FC Porto, nós, o Vilafranquense», disse ele. Não ganhou. Levou 4. Rui Vitória, então, lidava com problemas diferentes dos que tem hoje: «O avançado Mário Tomás, 20 anos, conhecido por Marinho, o melhor marcador da equipa de Vila Franca, não irá defrontar os azuis e brancos uma vez que está em semana de campo no Regimento de Infantaria n.º 8, em Elvas». O treinador desvalorizou a ausência, mesmo concordando que Marinho faria falta. Foi fotografado de braços cruzados ou mãos nos bolsos, incomodado com a exposição.
Tentei descobrir naquele encontro de Janeiro de 2004 indicações de que aquele Rui Vitória seria o Rui Vitória que é hoje, o que é recebido por vários jornalistas para entrevistas à hora do jantar em canais nacionais de televisão, contudo nada topei. Nada do que escrevi pressagiava aquilo em que ele se tornou. Parece exactamente a mesma pessoa. E se calhar foi exactamente por isso que lhe aconteceu tudo."
Miguel Cardoso Pereira, in a bola
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