terça-feira, 9 de janeiro de 2018

TRÊS NOTAS SOBRE O BENFICA


1. Resultados à parte, em Moreira de Cónegos, o Benfica consolidou duas opções estratégicas que deixam bons sinais para o futuro. A eleição de um meio-campo a três veio para ficar e a equipa está a reconstruir-se em torno de jovens jogadores, vindos da formação e/ou do scouting.
O 4x3x3 é o sistema mais equilibrado a atacar e a defender – e também o mais versátil e plástico. Contudo, mais importante, é aquele que melhor protege os jogadores: por um lado, não é fácil encontrar centro campistas com o perfil adequado para jogar na posição 8 num meio-campo a dois – e quando se afirmam, têm logo muito mercado; por outro, é o melhor sistema para integrar jovens talentos. Depois de termos perdido a possibilidade de vermos o Bernardo e o Cristante, para dar exemplos recentes, a jogar na equipa A, com o sistema que foi predominante dos últimos anos, a viabilidade de termos Krovinovic ou João Carvalho seria igualmente pequena. Sintomaticamente, contra o Moreirense acabámos a jogar com Keaton Parks, João Carvalho e Krovinovic. Com outro sistema, seria impossível.

2. Os momentos únicos acontecem quando menos se espera. No sábado, o Benfica vencia tranquilamente o Terceira Basket quando, a um minuto do fim, um jovem de 18 anos, dividido entre a ousadia e a timidez próprias da idade, pega na bola para, no espaço de trinta segundos, fazer três triplos consecutivos, com um estilo que parecia familiar. Para quem aprendeu a gostar de basket (e do Benfica), no final dos oitenta, a ver um cinco maravilha formado por Henrique Vieira, Mike Plowden, José Carlos Guimarães, Jean Jacques e um tal de Carlos Lisboa, o momento emocionou e devolveu sonhos de infância. O rapaz imberbe e de corpo frágil não vestia a mítica camisola 7, mas nas costas tinha gravado o mesmo apelido, Lisboa.
3. Morreu, no passado dia 5, Gastão Silva, antigo dirigente do Benfica, que se notabilizou pela contratação de Bella Guttmann, quando chefiava o futebol do clube. História menos conhecida foi-me relatada pelo meu amigo João Tomaz, conhecedor como poucos do passado do Glorioso. Em 1965, o Benfica estava a negociar dois jogos particulares com o Spartak de Moscovo. O episódio desagradou à PIDE, tendo Gastão Silva sido obrigado a explicar-se junto dos esbirros. Os jogos acabariam, de facto, por não se realizar, mas no jornal do clube ficaria a nota: "o Benfica continua interessado no intercâmbio desportivo com clubes de todo o mundo e não tem quaisquer razões para pensar que seja considerada impossível, pelas competentes autoridades portuguesas, a realização de um encontro de futebol entre a sua equipa e a de um clube russo". Enquanto outros clubes se entretinham em exercícios de fidelidade simbólica ao regime, inaugurando estádios em datas funestas ou denominando-os de acordo com a iconografia salazarenta, o Benfica não escondia a sua veia democrática.
Pedro Adão e Silva, in Record

Sem comentários:

Enviar um comentário