domingo, 17 de junho de 2018

DE OLHOS BEM ABERTOS


"O VAR, Ronaldo e BdC. Ou como se calhar devíamos olhar mais para fora e, talvez, perceber as figuras que fazemos cá dentro.

Às vezes precisamos de olhar para fora para perceber as alarvidades que dizemos quando teimamos em menosprezar o que temos dentro de casa. Vem isto a propósito do videoárbitro, por cá tão maltratado - nunca a FIFA se teria atrevido a estreá-lo no Mundial se passasse algum cartão ao que em Portugal se diz e escreve... - e que na Rússia também já dá que falar. É perfeito? Claro que não. Mas não é tão mau como alguns por cá querem fazer crer. É verdade que nos falhou logo a nós, naquele primeiro golo da Espanha - incrível como, pelo que diz a FIFA, não aconselhou, pelo menos, Gianluca Rocchi a ir ver o lance. Mas acertou em cheio no França - Austrália, descortinando um penálti que existindo, não era tão claro quanto isso. Ou no Peru - Dinamarca.
Não vale, portanto, embarcar em teorias da conspiração quando os nossos VAR tomam decisões que nos parecem incompreensíveis. Acontece em Portugal e acontece também em palcos tão maiores como um Campeonato do Mundo. Não é mais, perceba-se, que uma questão de competência. E é nisso que nos devemos concentrar: chamar os melhores para a função e formar a pensar no futuro. Tudo o resto é, só, alguém a tentar mandar areia para os olhos, numa tentativa - às vezes bem-sucedida, infelizmente - de nos fazer mais cegos do que pareceu o videoárbitro do nosso jogo com a Espanha.

Às vezes precisamos de olhar para fora para perceber as alarvidades que dizemos quando teimamos em menosprezar o que temos dentro de casa. Vem isto a propósito de Cristiano Ronaldo, que alguns por cá tão maltratam apenas porque cometeu o pecado de nascer português. A esses - aos que continuam a olhar para Cristiano, e para os nossos maiores, com a pequenez própria de quem nunca aspirará a ser grande - aconselho apenas uma consulta (e nem precisa de ser muito aprofundada) à imprensa internacional deste sábado. Talvez assim percebam que os que, por cá, destacam os feitos daquele que é o nosso melhor jogador de sempre não sofrem de qualquer complexo de saloiice aguda. É (muito) mais ao contrário...

Às vezes devíamos ser proibidos de olhar para dentro para não termos de ver as alarvidades que dizemos quando queremos defender o que não tem defesa. Vem isto a propósito de um dos últimos episódios da crise do Sporting - peço desculpa mas a novela desenrola-se a um ritmo tão elevado que se torna difícil acompanhá-los todos -, que parece não ter fim à vista. Começou por dizer Bruno Carvalho, numa das muitas (e infindáveis) conferências de imprensa para que chamou os jornalistas, que o juiz que suspendeu as duas assembleias gerais por si pensadas para legitimar o que, percebe-se, criou sem legitimidade não tinha feito considerações, tinha apenas decidido sem mais. Dois minutos depois estava a dizer que o mesmo juiz, na mesma decisão, tinha determinado que «os sócios do Sporting não eram mentalmente capazes de decidir o seu futuro». Isto não é uma consideração?
Mas foi, logo a seguir, mais longe o presidente do Sporting - embora ninguém consiga perceber bem se ainda o é. Disse Bruno de Carvalho que, não em nome dos «superiores interesses do Sporting» mas em respeito aos sportinguistas, iria permitir a Jaime Marta Soares consultar os cadernos eleitorais e, pasme-se, iria até suportar os custos da AG de destituição de dia 23. Estaria tudo bem, não se tivesse sabido no dia seguinte que tinha BdC sido, afinal, obrigado a isso em mais uma decisão de um tribunal. Como me dizia alguém que muito respeito há uns dias, chegámos a um estado em que a verdade já pouco interessa. O importante é, afinal, a realidade que se passa para o exterior, mesmo que toda truncada. E o mais ridículo é que estratégia funciona. Porque há sempre gente com uma incrível disposição para andar sempre de olhos fechados."

Ricardo Quaresma, in A Bola

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