sábado, 2 de junho de 2018

DIFÍCIL ACEITAR TÃO CLAMOROSA DISTRAÇÃO


O mais surpreendente é tudo isto ser uma surpresa para muita gente. É difícil aceitar tão clamorosa distração. Se, por absurdo, considerarmos a gerência do atual presidente como uma sucessão de cinco temporadas de um "reality show", são claros, desde os episódios iniciais da 1.ª temporada, os múltiplos indícios que haveriam de conduzir ao desfecho patente nestes derradeiros episódios da 5.ª temporada. Como diriam os americanos desta nobre indústria, utilizando o jargão do sector, este só pode ter sido o melhor "season final" de sempre na história do entretenimento em direto e "ao vivo". De tão bem iludido que estava, o público não se deu conta de nada. Só por isso se explica como ficou positivamente atónito com o evoluir dos acontecimentos. Agora, que está desfeito o mistério, a coisa irá lentamente deixando de ter interesse e dúvidas há se haverá sexta temporada. Mas nesta vida não se pode ter certezas.

Uma vez mais, durou pouco o mal-estar do Benfica nas manchetes dos jornais. A rescisão de contrato do capitão da equipa rival apoderou-se hegemonicamente dos dias. De facto, o caso não é de somenos. Embora para os benfiquistas fosse óbvio que todo aquele noticiário impiedosamente comprometedor sobre o tal jogo no Funchal não passava de uma manobra do inimigo para tentar abafar o que de verdadeiramente importante vinha a caminho. É esta a maneira de ser dos adeptos de futebol de todas as cores, acreditam em tudo que lhes conceda vantagem – qualquer espécie de vantagem – e não acreditam em nada que lhes seja desagradável ouvir. Chega de filosofias.
- O Benfica tem dois traumas, o Vale e Azevedo e o Jorge Jesus – disse o presidente rival (em exercício) na televisão há três temporadas atrás. Depois tentou desenvolver a sua ideia mas explanou-a com pouco detalhe.
Ora, uma coisa destas não vos deu logo que pensar? Não, aparentemente não.
Reveladas na carta de rescisão do capitão da equipa, as admoestações do presidente aos jogadores por desrespeitarem a claque chocaram a grande maioria do público porque, na realidade, não passa pela cabeça de ninguém que situações destas possam ocorrer mesmo num "reality show". Quando o presidente pergunta a um jogador "porque fizeste aquilo ao chefe da claque? Logo a ele, tenho um problema tremendo, estiveram a ligar-me a noite toda, todos os gajos da claque, a dizer que te queriam apanhar, que queriam a tua morada..." está-se logo a ver que quem tem um "problema tremendo" não é o presidente, é o clube. Mas ninguém viu problema algum quando, numa das primeiras temporadas, o presidente encabeçou uma marcha conduzindo os prosélitos em direção a um estabelecimento de comida rápida numa bomba de gasolina. Os motivos não foram apurados. Nem nunca mais se falou no assunto. Foi pena. Ter-se-ia poupado, talvez, o desesperado apelo "às autoridades públicas" com que ontem presidente da mesa da assembleia geral confessou, também ele, a sua estupefação.
Leonor Pinhão, in Record

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