"No futebol são os resultados quem mais manda. Mandam, até, mais do que qualquer presidente Mesmo que se chame Luís Filipe Vieira
Não sei se a luz que Luís Filipe Vieira diz ter visto durante a madrugada de quinta-feira, na sua cama do Seixal, lhe disse que é Rui Vitória o homem certo no lugar certo. Ou se lhe disse apenas que, sem solução imediata, mais valia manter tudo como estava em vez de arriscar numa alternativa provisória que não garantiria, por si só, que as coisas melhorassem de imediato - guardando, assim, uma bala para gastar caso dela necessite. Nem isso é, tomada que está a decisão do presidente do Benfica, importante. O que importa, de facto, é que Vieira decidiu dar a mão a Vitória quando todos lhe exigiam o contrário. Teve a coragem de assumi-la assim mesmo: uma decisão exclusivamente sua, pela qual só ele terá de responder. Arriscou. Sim. De mais? O futuro dirá. Mas é por isso que Vieira é o presidente. Para decidir. E qualquer decisão envolve, sempre, uma dose de risco.
Rui Vitória ganhou, nessa aposta de Vieira, uma nova vida. Percebe-se. Admite-se que, na conversa que manteve com o presidente, também ele falou, admitindo - como assumiu na conferência de imprensa que antecedeu a recepção ao Feirense - a necessidade de mudar mas fazendo algumas exigências, em especial, decerto, o apoio que, nos últimos tempos, não teve de uma estrutura que até aqui se orgulhava de ser inabalável - e desde o Titanic se sabe que até essas abrem brechas. Esperemos para ver o que muda da parte de Vieira e da parte de Vitória para percebermos um pouco melhor o que muda realmente.
O primeiro teste - a Vitória e a Vieira - seria, sempre, o jogo de ontem, com o Feirense, no Estádio da Luz. Não se viram, ainda, muitas das mudanças prometidas pelo treinador, embora isso se perceba se tivermos em conta que só teve um treino entre a loucura que foi aquela quinta-feira e a partida de ontem. A verdade, ainda assim, é que correu bem. Nada melhor do que uma goleada para responder àquela que terá sido a semana mais agitada no Benfica em muitos anos. Os assobios, que ainda se chegaram a fazer ouvir bem ao intervalo, deram lugar aos aplausos e Vitória acabou, até, a dar autógrafos - se calhar num dos lenços brancos com que os adeptos têm exigido a sua demissão.
Significa isto que está tudo bem? Claro que não. Foi, afinal, apenas o primeiro de vários testes que Vitória terá este mês. E se os que antes o assobiavam ontem o aplaudiram graças a uma vitória, nada garante que amanhã, depois de um novo desaire, não lhe voltem a cair em cima. Porque é assim o futebol. Todos dependem dos resultados, que mandam mais do que qualquer presidente. Mesmo que este presidente seja Luís Vieira Vieira.
Bruno de Carvalho disse, no interrogatório a que foi submetido, precisar de ser uma pessoa muito desequilibrada para autorizar o ataque a Alcochete. Tem razão. E é, acrescento, também preciso que o vejam como pessoa francamente desequilibrada para acreditar que, como presidente do Sporting, mandasse ou, no mínimo, permitisse que um bando de malfeitores invadisse o balneário da equipa principal e desatasse a bater em jogadores e treinadores. É precisamente esse o grande problema de Bruno de Carvalho: olha-se para a loucura que foram os últimos meses da sua presidência em Alvalade e admite-se esse cenário. Isso, atenção, não faz dele culpado. Mas diz muito.
Ainda sobre Bruno de Carvalho: passa-se pelas redes sociais e parece que continua a ter 90 por cento dos sportinguistas e apoiá-lo. Chega-se à AG, para a qual se mobilizaram tantos brunistas, e percebe-se que não chegam para mais do que fazer barulho. Porque no meio de toda a confusão, a verdade é que na hora da verdade as contas passaram. Falam muito, falam muito alto, mas têm pouco (e cada vez menos) peso."
Ricardo Quaresma, in A Bola
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